segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O ANTES, O IGESPAR E O DEPOIS...

Ao princípio era o verbo. Neste caso não era o verbo, era uma bela ermida renascentista, de gramática paladiana, projectada e iniciada pelo seu discípulo Diogo de Torralva (mais tarde genro de João de Castilho). Destinada presuntivamente a capela funerária de D. João III, a construção, começada em 1549, foi interrompida em 1557, devido ao falecimento do rei e à decisão de sua esposa, Dª Catarina, irmã de Carlos V, de que seria sepultado no Mosteiro dos Jerónimos, como de facto veio a acontecer. Deixada mais ou menos ao abandono, só no século XIX a ermida veio a ser concluída.
Os tomarenses habituaram-se à sua silhueta elegante, com as marcas da idade, a tal inimitável patine, ou pátina, em português, bem como ao seu telhado de telhas romanas, vidradas a verde garrafa, que vieram até a servir de modelo para a cobertura do Palácio da Justiça, nos idos de 50 do século passado.
Isto foi o antes. Quando ainda havia alguma compostura.

Entretanto aderimos à Europa, apareceu o Ministério da Cultura, o IPPAR, mais tarde IGESPAR, e sobretudo os fundos europeus e os deslumbramentosdesmedidos que têm provocado e continuam a desencadear por esse país fora. Os tais especialistas olharam para a multicentenária ermida e coincluíram que estava carecida de um adequado tratamento de beleza. Assim tipo limpeza da pele, seguida de peeling e coloração. Tudo garantidamente supervisionado por reputadíssimos especialistas, auxiliados por mão-de-obra altamente experiente. Custou a coisa, ao que nos foi dito, à roda de 800 mil euros, cerca de 160 mil contos, a preços de 2003.
Foi carote, oh se foi! Mas temos de concordar que ficou excelente. Conseguiram transformar uma velha capela cheia de rugas numa moderna vivenda estilo Paládio, de telhado vermelho e paredes asseadas. Para quem não tenha a consciência assim muito limpa, nada mais compensador que monumentos ultralimpos.



A respeito dos mencionados técnicos, especialistas e operários altamente qualificados, tomar a dianteira falou com um conceituado operacional em restauro de pedra, que nos garantiu ser tudo uma grande balela. A pessoa que dirige a empresa autora do trabalho não goza de grande reputação nos meios da requalificação de monumentos, foi efectivamente usada a técnica do jacto de água, com mais ou menos areia à mistura, e foram cometidos graves erros técnicos, a exemplo do acontecido noutros monumentos, antes e depois deste. Mais precisamente, procedeu-se à aplicação de um produto decapante antes da lavagem e usaram-se silicatos nesta pedra que é carbonatada. O resultado salta agora à vista e será cada vez mais visível. O calcário rejeita os silicatos, que formam aquela matéria negra das escorrências.
Na pedra lisa por cima do frontão da janela, são visíveis vários blocos já a "descamarem", o que acabará por ocorrer no conjunto do edifício em pedra.
Mais alarmante ainda, a empresa que está a proceder aos testes-piloto para posterior lavagem/limpeza da Janela do Capítulo e de toda a parte exterior do Coro Manuelino, é a mesma que já danificou gravemente pelo menos a fachada exterior do Corredor do Cruzeiro, que dá para o Claustro da Micha.
Cúmulo dos cúmulos, de acordo com o referido técnico, a empresa em causa foi contratada por ajuste directo, sem prévio concurso público.
Assim se apresenta o depois, 800 mil euros e alguns anos mais tarde...


1 comentário:

Anónimo disse...

Pedido de esclarecimento:
quem é ?: "tomar a dianteira falou com um conceituado operacional em restauro de pedra"
depois: nome da empresa que fez o restauro da Capela?
3º: conhece a pessoa para afirmar "A pessoa que dirige a empresa autora do trabalho não goza de grande reputação nos meios da requalificação de monumentos"?
São acusações graves...
Agradecia a sua resposta.
Obrigado.
Um tomarense atento