Escreveu-se aqui anteriormente sobre o relógio da torre sineira do Convento, que nos anos 30 do século passado foi retirado, para permitir a consolidação daquela parte do monumento, tendo todavia ficado o mostrador. Só muito mais tarde, outros técnicos que não cuidaram de ouvir a opinião dos tomarenses, resolveram mandar retirar o mostrador, alegando que não era de época.Após um reinado exeburante e de grande liberdade e euforia para a época, com um rei (D. Manuel I) que despachava ao som da música, e enviava embaixadas ao Papa com animais exóticos, o período sob a égide de D. João III foi de ultramontanismo, inquisição, tristeza, repressão, tudo numa envolvência a que mais tarde se chamou "sentimento trágico da existência", o qual implicava considerar esta vida como simples preparação e passagem para uma outra, eterna e muito melhor, se aqui não cometêssemos pecados imperdoáveis.
É o que está bem representado nos ângulos do mostrador, para lembrança de todos os que para ele olhavam apenas para saber as horas. Em cima os soberanos -D. João III e Dª Catarina. Em baixo os mesmos, alguns anos após o fim desta vida. É pois natural que os frades não tenham simpatizado muito com o tema, tanto mais que naquela época... e o mostrador teve uma via útil bem curta. Se chegou a ter...
E vejam lá o que pode fazer a idade. Homem piedoso, austero, duro, de vontade férrea, com o passar dos séculos D. João III acabou por perder metade da cabeça. Decididamente, os anos não perdoam nem aos reis. Mesmo quando conseguem escapar a uma boa limpeza "unicamente por escovagem".

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