sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

A CRISE DA IFM/PLATEX

Foto O Templário

Esclarecimento prévio:
Nunca fui, não sou, nem pretendo vir a ser economista profissional, gestor ou patrão, salvo de mim próprio. Fiquem portanto descansados os habituais especialistas de ideias gerais, bicas baixas e copos cheios . Não vou falar de cátedra e procurarei não ser arrogante. Dito isto, também não sou propriamente um analfabeto ou um palonço, e julgo ter uma cabeça que funciona satisfatoriamente, para as minhas necessidades. Assim sendo, não contem comigo para me armar em trôpego mental, só para evitar as eventuais picadas venenosas de alguns, menos dotados e sem poder de encaixe.
Falta acrescentar que, durante uma já longa vida bem vivida, conheci a miséria, a fome, o frio, a doença, o desemprego, a solidão, a guerra, a prisão, a angústia, a indiferença; mas também o carinho, a fraternidade, a amizade sincera, a camaradagem, o amor, a paixão e a alegria de viver. O que me leva a considerar que estou assaz artilhado, em termos de experiência, para tentar perceber os problemas alheios. Não me vanglorio, como também não me calo.

2AVC/IFM

O grande problema de todos os trabalhadores e patrões do sector privado, diga-se o que se disser, pode ser resumido na fórmula acima, que significa Alojamento+Alimentação+Vestuário+ Calçado/Incerteza do Final do Mês. Com estes elementos, convém a seguir ter sempre em conta que o funcionamento de qualquer empresa, sujeita às leis do mercado aberto, corresponde geralmente a um jogo de bilhar, em que a bola vermelha é o mercado, a preta o patrão, e a branca os trabalhadores.
Acontece que na longa crise da IFM/PLATEX já houve tantas carambolas imprevistas e por explicar, que o público em geral, presumo, deve estar mais ou menos como eu -não consigo perceber o que desencadeou o longo calvário, que ainda continua. De acordo com os jornais, a empresa deve 1 milhão há EDP, 6 meses de salários aos trabalhadores, não sei quantos milhões à banca e somas avultadas, por esclarecer, aos outros fornecedores. A uma dada altura, falou-se numa ajuda do Estado, da ordem dos 6 milhões de euros, para permitir recomeçar a laboração. Tudo indica que tal hipótese não foi concretizada, entre outros motivos por falta de garantias reais. Chegados aqui, será útil colocar a questão: Que se passou afinal, desde o início das dificuldades? Porque aí reside o problema.
Não adianta escamotear ou tentar maquilhar alguns aspectos menos agradáveis da realidade. Só conhecendo os reais sintomas se pode chegar ao diagnóstico da doença, condição prévia para prescrever uma terapêutica e tentar assim conseguir a cura. Neste momento, em termos de opinião pública, ninguém entende como se consentiu que as coisas chegassem ao ponto em que estão. Porém, dado a realidade nunca andar para trás, é com aquilo que temos que devemos tentar encontrar uma saída. Para aí chegar, muitas perguntas são indispensáveis. Estas, para começar: A empresa tinha e tem mercado ? Aquilo que produzia era e é competitivo em termos de preços e de qualidade ? Tanto no mercado interno como externo ? A tecnologia utilizada não está ultrapassada ? A gestão sempre foi honesta, eficaz, ágil e competente ? Os trabalhadores eram assíduos ? A produtividade era mais alta, mais baixa ou praticamente equivalente à das outras empresas do sector ? De todos estes aspectos, qual ou quais falharam sistematicamente ?
Escreveu-se que a empresa tinha bastantes clientes, que era praticamente a única no mercado e que exportava cerca de 60% da produção. A ser verdade tudo isto, algo falhou estrondosamente e durante algum tempo, sem que fossem tomadas as adequadas providências. Porque não cabe na cabeça de ninguém que uma empresa a produzir normalmente, com boa carteira de clientes e exportando mais de metade da sua produção, possa ter acumulado pela calada um tal rol de dívidas, que agora impelem os credores a provocar a sua falência. Em termos primários, só duas hipóteses são plausíveis -ou a produção era escoada a preços que não cobriam nem de perto nem de longe os respectivos custos; ou os gestores não foram suficientemente prudentes ao deixarem acumular débitos muito superiores ao "fôlego" da empresa.
Agora, tendo em conta o estado a que as coisas chegaram, torna-se mais necessário do que nunca apurar quais foram os erros cometidos, de forma a não os repetir no futuro. Ficar à espera de ajudas do Estado a fundo perdido, ou com juros bonificados, já deixou de ser solução. Urge encontrar alternativas. E isso só com ideias claras e operativas. O tempo das desculpas tautológicas já passou.
Não sabe o que são desculpas tautológicas ? Vou dar-lhe um exemplo. Uma senhora tinha uma filha, que a dada altura deixou de falar. Andou de médico em médico e melhoras nenhumas. Após aturados exames, não conseguiam saber o que se passava. Já algo desesperada, a pobre mãe levou a filha a um curandeiro. Este ouviu-a com muita atenção e no final disse-lhe -Já sei porque é que a sua filha não fala ! -Então porque é ? -Porque é muda. -Mas isso já eu sabia. -E é muda porquê ? - Ora, porque não fala, minha senhora !
Neste caso da IFM/PLATEX, assim à primeira vista, parece que estamos na mesma: - Porque é que estão em crise tão profunda que até o Estado vos recusou auxílio ? -Por causa das dívidas que são muito elevadas. E porque é que as dívidas atingiram tais níveis ? Por causa da crise.
Com raciocínios destes, que não andarão muito longe dos feitos pelos senhores autarcas nabantinos, em relação a outros assuntos, nunca mais vamos conseguir saír da cepa torta. E é pena, qua cidade é muito agradável. Não consegue é proporcionar condições de vida aos seus filhos, que vão sendo forçados a votar com os pés, pondo-se a andar para paragens mais acolhedoras e menos atraídas pelos bolsos dos contribuintes.

4 comentários:

Anónimo disse...

A insolvência da IFM/Platex já era esperada, por aqueles que, com algum esforço, conseguiram raciocinar e não ficaram obnibulados pelo choque do encerramento da Empresa. Verdadeiramente a IFM/Platex, encerrou a produção em Fevereiro/Março quando os madeireiros recusaram colocar a madeira na fábrica.
A Empresa, contudo, ilusoriamente, não fechou as portas. E iniciou-se um processo de mentiras para aguentar os trabalhadores, a que chamaram o lay off, mas que nunca o foi.
Não houve coragem (em linguagem vernácula dir-se-ia tomates) para assumir o encerramento. Nem do empresário Themudo Barata,nem das autoridades que deviam regular as relações laborais. Salários em atraso, não permitem o recurso ao lay-off. Mas à IFM ele foi autorizado. Entrava-se em períodos eleitorais sucessivos, não interessava nada aumentar os desempregados do concelho. Foi aí que surgiram as tretas dos apoios governamentais.Os sindicalistas, nada podendo fazer, alimentaram a ilusão, marcando manifs e reuniões, que eles também sabiam não dar em nada. Mas gente na rua a protestar injustiças, desmarcaram o governo, e esse era um dos seus objectivos. Interessava à CGTP mantê-los em actividade.
E foi assim, que com a conivência de todos, estratégia aplicada foi a de criar uma agonia quase criminosa,aos trabalhadores, levando-os a auto-suspenderem-se e ir "voluntariamente "para o desemprego, evitando o ónus do DESPEDIMENTO. Que não existiu.
Entretanto os credores vão esgadanhar-se pelo que resta - se restar alguma coisa -, e os trabalhadores ficam sem nada.
A cidade fica mais pobre, porque mais pobres estão as suas gentes, e os contribuintes hão-de ter de pagar milhões ,para resolver o problema das águas residuais acumuladas naquelas lagoas situadas atrás da fábrica, que ninguém vai querer herdar.Mas que estão no Município de Tomar.
Para além do problema social, temos um problema ambiental, para minimizar. Ambos graves e sem solução à vista.
Acho que a autarquia deveria poder ser constituida como credora com direito preferencial,porque vai ser a herdeira daquele problema no concelho. Mesmo que diga que é ao poder Central que respeita,é ao Rio Nabão que hão-de ir parar, mais tarde ou maiscedo.

Anónimo disse...

O comentador anterior está muito bem informado sobre a situação da IFM. Tudo o que escreveu está conforme a realidade.
O afundamento da Platex tem a ver com causas endógenas, nomeadamente com a administração criminosa de Themudo Barata, acolitado por meia dúzia de seguidores a quem pagava principescamente a troco de fidelidade e "olhos fechados". Cometeram-se naquela empresa verdadeiros crimes financeiros como foi o caso da aquisição em Itália de uma terceira linha de produção, destinada à sucata naquele país, mas "recuperada" para "produzir" em Tomar. Só os custos de transporte da maquinaria foram de arrepiar. Resultado disso? Podem apreciá-lo passando em frente à entrada da fábrica. Aquele monte de sucata que se avista é parte dessa maquinaria.
O processo de demolição da empresa começou há quase uma década, quando a IFM começou a faltar aos pagamentos a fornecedores, numa altura em que havia liquidez suficiente para não exceder prazos de pagamento nem um dia que fosse. O processo de desvio de fundos estava em marcha, e continuou até agora, como bola de neve, alcançando números astronómicos.
Por outro lado os custos administrativos eram desproporcionados relativamente ao poder da empresa. O parque automóvel faria a inveja de alguns ministérios governamentais, as mordomias extra-salariais apenas comparáveis às de gestores de bancos, fazendo a empresa lembrar um "sempre-em-pé" em que a cabeça é mais pesada que a base. O tombo era inevitável.
A viabilidade da empresa nunca esteve em causa. Era detentora única do mercado nacional e a que produzia a melhor placa de fibras de madeira na Europa. Muito tempo depois da laboração estar parada continuavam a chover encomendas, quer de Portugal, quer do resto da Europa.
Agora torna-se inviável arrancar a laboração. Os custos de manutenção seriam demasiado elevados. Depois há ainda que afinar toda a linha de modo a produzir placa de 1ª qualidade. Haveria que recuperar a confiança de fornecedores e da banca, isto, claro está, depois de resolver a situação dos credores actuais. Há alguns dias atrás a EDP fez o que lhe competia. Cortou definitivamente o fornecimento de energia por falta de cumprimento do acordo estabelecido por parte da IFM de pagamento faseado de cerca de 1 milhão de euros.
Penso que no final do corrente ano a notícia que já todos adivinham chegará: o encerramento.

Sei do que falo. Sou um dos trabalhadores da IFM que em Setembro pediu a suspensão do contrato de trabalho.
Trabalhei quase 4 décadas naquela empresa.

Anónimo disse...

Boa tarde António Rebelo,

É bom que coloque questões como esta no seu blogue para dar oportunidade de intervir a quem com elas possa estar relacionado. É uma forma de informar as pessoas e sensibilizá-las para problemas que por norma lhes escapam, de tão absorvidas que estão com a política mundana e outros assuntos mais ou menos fúteis.
OBRIGADO

Anónimo disse...

Em Novembro de 2001, devidamente mandatado tentei adquirir a IFM/Platex para o maior grupo de aglomerados de madeira do pais, fui recebido pelo Sr.Barata que me manifestou o seu desinteresse na venda devido á solida estrutura apresentada pela empresa.
Já nessa altura existiam atrasos nos pagamentos quer de materias primas quer de outros produtos, mas a saúde da empresa estava "excelente". Testemunhou este encontro um advogado de Tomar. Escusado será dizer que o grupo em questão, acreditava na empresa após restruturada, no entanto queria, como é lógico, analisar as suas contas antes da aquisição.
Já anteriormente,tinha tido que intervir pessoalmente para a revogação da falencia da Mendes Godinho, pois a ser decretada e transitada em julgado, arrastaria a IFM e restantes satelites.
O pedido na epoca foi-me feito pelos Sr. João Novais e Monteiro Carvalho e nessa altura tivemos sucesso, se conferirem os jornais da epoca está lá mencionado.

Não acreditei, eu e outros na gestão da IFM, prova disso que atempadamente a empresa que dirigia lhe suspendeu as vendas a crédito, a PLATEX era um monopolio, fabricava um produto com bastante venda e custo/beneficio tinha capacidade de continuar se fosse devidamente gerida, como quem queria comprar queria fazer. Agora a reativação será muito mais complexa, mas não me admiraria nada que os mesmos que anteriormente usufruiram das verbas que a condenaram a fechar, venham de novo a facturar com o negocio. Enfim uma nova novela, muito parecida com aquela que se passou na falecida Fabrica de Fiação.