terça-feira, 15 de dezembro de 2009

MONUMENTOS E OBRAS - 3 - APÓS

Aqui temos a obra de que falou o senhor presidente do IGESPAR ao senhor presidente Corvêlo de Sousa. Antes de mais, mandam a verdade e a justiça dizer que o telhado está impecável. Telha de canudo, como manda a tradição. Enganchada, como mandam a segurança e a prudência. O pior é o resto.
Salta à vista de qualquer curioso, minimamente apetrechado culturalmente, que estamos perante mais um desastre. As arestas já foram à vida, as superfícies lisas encontram-se irremediavelmente degradadas. Mais uns anos e começarão a desfazer-se, quer em lascas pequenas, quer em pó. Tudo por causa do líquido decapante que lhes foi aplicado, antes da lavagem por projecção mista água/areia.
Tentar convencer alguém de que o aspecto geral do calcário resulta de simples escovagem, não é de modo algum digno de um diálogo entre pessoas inteligentes e bem formadas.

Quanto à costumeira explicação esfarrapada de que já estava assim, carece totalmente de credibilidade. Com efeito, sabendo-se como a vida quotidiana era difícil e laboriosa antes do advento do chamado modelo social europeu, quem teria tempo livre para se entreter a partir quase todas as arestas ? Com que utensílios ? Com que intenção ? E os guardas do monumento ? Não davam por nada ? Resta portanto a velha rábula "correu mal, porque..." A morte tem sempre uma desculpa. Por isso morremos todos, mais tarde ou mais cedo.

Neste caso documentado na foto, o irrealismo da referida desculpa é ainda mais gritante. Sendo o lugar inacessível ao público, a menos que os visitantes decidissem andar por cima dos telhados, o que implicaria a conivência dos guardas, quem poderá ter danificado todas as arestas, os pináculos e uma grande parte das gárgulas ?
Porque se obstinam os responsáveis do IGESPAR a tentar camuflar uma realidade tão óbvia e inquietante ?
Aqui há dias, um dos seus quadros superiores lastimou-se publicamente de que os jornalistas locais não respeitavam o contraditório. Equivocou-se. Na verdade, o IGESPAR é que nunca responde às perguntas dos jornalistas.
Para que não haja quaisquer dúvidas, aqui fica o convite: Publicaremos todas a respostas com que os responsáveis "igesparianos" nos queiram honrar. Mais ainda, solicitamos que nos indiquem, em tempo útil, qual ou quais as empresas especializadas que limparam os Jerónimos, a Torre de Belém, o Convento de Jesus, a fachada do Convento de Mafra, a Ermida da Conceição e o exterior do Corredor do Cruzeiro, no Convento de Cristo de Tomar.
Aqui ficam os nossos antecipados agradecimentos.


1 comentário:

Anónimo disse...

De facto é de louvar todo o trabalho de denuncia de destruição do património edificado, que V. exa. está a desenvolver, contudo para lhe dar um pouco mais de credibilidade e honestidade, o que levará provavelmente os responsaveis do IGESPAR a prestar mais atenção ao que escreve, deveria-se documentar um pouco melhor, quem sabe com registos antes das referidas intervenções, durante e após, em relação ao referido procedimento é demasiado abrasivo para rocha/pedra calcária e não aplicavel nesta situação nem na maior parte dos monumentos nacionais.
Preocupa-me um pouco que uma pessoa com tão bom poder de observação, lhe custe a entender quais as motivações que levariam alguém a partir as arestas, dou-lhe uma ajuda, talvez as mesmas pessoas que escrevem em cantarias nos monumentos, deitam piriscas e papeis para o chão, está na natureza de falta de educação e cultura do nosso povo, num país em que toda a gente diz e faz o que pensa sem ter o cuidado de ter a certeza em relação às suas acções, não me admiro de nada o que se possa fazer no nossos monumentos.