segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

LIDERANÇA E PUSILANIMIDADE



Uma notícia do EL PAÍS de sábado e um comentário enviado a tomar a dianteira ontem, servem-nos de detonador para a questão tomarense actual. Não está em causa a honestidade dos membros da actual maioria 3+2, no âmbito daquilo que podemos designar por "meter a mão na gaveta". O que aqui se contesta é a nítida falta de liderança, a gestão algo caótica, a ausência de projectos realmente fecundos e mobilizadores, a evidente falta de uma linha de rumo -tudo afinal aspectos do mesmo problema fulcral: a inexistência de envergadura intelectual para o cabal desempenho dos cargos, que no entanto juraram em público "desempenhar com lealdade". Tentar esconder aos cidadãos de todo o concelho a gravíssima situação actual do município, será uma prova de lealdade ? Não cumprir a palavra dada, aquilo que foi publicamente jurado, será honesto ?
O caso do Estado da Califórnia, o mais populoso e rico dos USA, é paradigmático. Após importantes cortes orçamentais, aumentos de impostos e reduções drásticas de pessoal, o problema mantém-se, com o défice a agravar-se de modo insustentável. Neste momento atinge já os 1.462 milhões de euros. No último ano do seu mandato, o governador passou pela dupla vergonha, que qualquer cidadão americano procura evitar a todo o custo: pedir ajuda ao governo federal e a um presidente adversário político. Mas, para grandes males, grandes remédios, e como refere o jornalista espanhol "A Califórnia é a Grécia da zona euro ou o Dubai do próximo oriente, ou pior ainda... um problema cuja resolução vai demorar anos e implicar mais aumentos de impostos e reduções de despesas."
O outro texto é um corajoso, lúcido e bem escrito comentário, que nos foi enviado por alguém que viveu a longa crise da IFM/Platex por dentro. Vale a pena lê-lo com todo o vagar, pois enquanto o governador americano teve a coragem de liderar e fazer o que devia, mesmo não sendo nada popular, na Platex sabemos agora que se escondeu a real situação pouco consensual da empresa durante pelo menos dez anos. Daqui resultou que os trabalhadores, mal informados e mal liderados pelos sindicatos, têm afinal e sem querer andado a fazer figura de palhaços. O próprio presidente da câmara, em vez de se informar previamente e de forma exaustiva sobre os múltiplos aspectos da situação, deixou-se ir na onde populista e lá foi a Lisboa, pedir auxílios que ninguém vai conceder, pois não vislumbram quaisquer hipóteses de retorno.
Outro tanto está a acontecer na própria autarquia, como aqui temos vindo a referir desde há meses. Tal como na Califórnia e na Platex, as receitas do município diminuem de dia para dia, ao mesmo tempo que as despesas vão sempre aumentando. Há obras paradas por falta de verbas (o Largo do Pelourinho, por exemplo, ou a Rua Infante D. Fernando e adjacentes), enquanto noutras se continua a actuar como se fôssemos um concelho a nadar em dinheiro. Este ano as iluminações de Natal foram ainda mais caras que o ano passado, enquanto que o custo daquelas estranhas lajes que andam a colocar ao meio de cada rua, dava para concluir todas as outras artérias que ainda faltam (parte da Rua Nova, Rua Aurora Macedo, Largo de Quental, Rua do Teatro, Rua do Pé da Costa de Baixo e de Cima e Estrada do Convento).
Dêem-lhe as voltas que derem, tal como a Califórnia ou a Platex, a autarquia tem demasiada sede para a água disponível. Gasta demasiado para aquilo que recebe. Se aumentar as taxas que dela despendem, passará a receber ainda menos, pois a sangria da população aumentará. Da parte do governo vai receber cada vez menos, uma vez que Lisboa padece do mesmo mal e só poderá transferir uma parte daquilo que recebe. Como aqui no concelho recebe cada vez menos... Resta portanto ousar liderar e ter a coragem de explicar à população o buraco onde estamos a afundar-nos em cada dia que passa. Depois, procurar ainda mais coragem para começar a cortar nos gastos permanentes. Eleitos a tempo inteiro, assessores, adjuntos, secretárias, chefes de gabinete, automóveis, telemóveis, gabinetes, consumíveis, rendas, promoções, técnicos superiores, despesas de comunicção, custos de consultoria, combustíveis, electricidade...
Quanto mais tarde, pior maré, e ontem já não era nada cedo. Continuar mudo e quedo poderá ser tudo. Honesto não é de certeza.

1 comentário:

Pensamentos soltos disse...

Havia uma galinha dos "ovos de oiro", venderam-na e receberam tutimeia pela venda. Com esse dinheiro fizeram e esbanjaram até crer, agora a tal "galinha dava jeito, mas parece que só pode voltar(e se voltar)ao fim de 25 anos.A fonte de rendimento vaza-se a cada dia que passa, e agora nem com penas nem pano se tapa aquilo que outros que (alguns ainda la estão)deixaram para outros taparem, cuidem-se!