Na salganhada política nacional, particularmente densa a partir da derrota de Sócrates, é cada vez mais difícil perceber quais as grandes opções em jogo. Dado que todos jogavam numa crise passageira, que afinal está a parecer-se cada vez mais com a japonesa, que já dura há mais de vinte anos, agora são obrigados a constantes adaptações de recurso, ditadas por circunstâncias cada vez mais adversas. Como por essa Europa fora...
As esquerdas (BE, PCP, PS) estão visivelmente k.o. Uns porque as suas opções tiveram o seu tempo, que já passou; o PS porque ainda atordoado com o que lhe aconteceu. Perante isto, a moderada direita que temos, venceu mas não convenceu, governa mas não agrada. O que se comprende. Está obrigada a aplicar medidas em doses cavalares, que poderão ser tudo menos agradáveis. Serão ao menos adequadas e eficazes?
Face a esta esquerda triunfante, os cérebros "de esquerda", oriundos em parte do parisiense Bairro Latino, hesitam entre a teoria do complot para instalar um governo tipo Pinochet e o velho lema da direita "uma maioria, um governo, um presidente", enquanto precursor de todos os perigos "para o povo e para os trabalhadores". Sobre o propalado "golpe de Estado" escrevi no texto anterior e julgo ser redundante voltar ao assunto. Ninguém imagina semelhante aventura em Portugal, em 2011. Julgo eu!
Já no que se refere ao pleno da actual maioria de direita, convém esmiuçar um pouco. Quem tenha a pachorra necessária para "descascar" os discursos do poder já terá notado uma importante divergência de fundo: Cavaco Silva é um economista keynesiano, logo em divergência permanente com o governo (Gaspar, Pereira e Coelho) que é nitidamente monetarista. Donde as evidentes fricções entre cavaquistas e Chicago-boys, dilectos discípulos de Milton Friedmann.
Cavaco continua persuadido, como o seu mentor Keynes, que sem ajuda do Estado não é possível iniciar a retoma, aumentar as exportações, diminuir o desemprego e começar a superar a crise. Os monetaristas, pelo contrário, atiram logo com a falta de verbas e aduzem que foram justamente as larguezas do Estado que nos arrastaram para o abismo, ao consentirem um nível de vida e de preços, que tornaram os nossos produtos praticamente inexportáveis, porque não competitivos. E estamos nisto.
Os cavaquistas acabam de ganhar uma cartada, uma vez que P.P. Coelho já anunciou uma renegociação com a troika, tendo em vista o auxílio à banca, para esta por sua vez facultar crédito às empresas... O hábito é mesmo uma segunda natureza. Em Portugal, desde sempre que sem o papá Estado nada se faz, nem ninguém consegue ir longe...
Já a nível local, na capital templária aparentemente reina a paz celestial. No executivo municipal praticamente nunca há divergências de fundo, pois todos afinam pela mesma pauta. Não sabem para onde vamos, ou como acabaremos, mas isso também não lhes interessa. Vão durando e recebendo. É quanto lhes basta. São o "executivo Duracell" -e duram e duram e duram! Os tomarenses têm alguma sorte?
1 comentário:
BONITO...BONITO...
Era Portugal e a Irlanda juntarem-se à Grécia, a exemplo do que já tinha feito a Islândia,para ver como os Davides podem pôr os Golias de cócoras e com uma esgotante diarreia.
Atente-se no que hoje aconteceu ao Bank of America, ao J.P.Morgan,à Societé Générale, ao Credit Agricole, ao BNP-Paribas, ao Deutsh Bank, ao Commerzebank e muitos outros que desmoronaram entre 10 e 15% em bolsa.
Atente-se na ultrapassagem da ECONOMIA REAL CASEIRA à Economia escritural e virtual :
BCP deixou ser o maior banco privado português, passando a valer pouco mais de metade do BES.
E, verdadeiramente relevante, BES+BCP+BPI+BANIF passaram a valer menos que a CIMPOR.
A economia do DINHEIRO FALSO, VIRTUAL, ESCRITURAL, ESPECULADORA, está em agonia.
Em Portugal, na Grécia, na Irlanda, na Islândia, na Bélgica, na Espanha, na Itália,foram certamente cometidos muitos erros, mesmo alguns configurando crimes de variada natureza.
Mas daí a dizer-se (genéricamente e em abstacto) que a situação económica e financeira desses países resulta de os seus Povos terem vivido acima das possibilidades,é uma MENTIRA GIGANTESCA.
Sem dúvida que houve uma parte que viveu à "grande e à francesa".
Mas trata-se de MINORIAS PRIVILEGIADAS.
Basta, no caso de Portugal, ir ao insuspeito portal PORDATA, estudar a repartição da riqueza e do rendimento, e a realidade escancara-se cristalina.
Mas, apesar de todos os dramas e tragédias sociais, não deixamos de estar a viver um período históricamente exaltante.
Ninguém sabe o que está para acontecer, em qualidade, orientação e intensidade - mas estamos na ante-câmara de grandes transformações e de uma NOVA ORDEM ECONÓMICA E SOCIAL MUNDIAL, com contornos, pricípios e regras que ninguém consegue adivinhar.
E, nesse aspecto, é verdade que todos os campos ideológicos estão a perder o pé, incluindo a esquerda.
Se Karl Marx pudesse olhar para os que se dizem seus seguidores e verificasse o confrangedor dogmatismo, imobilismo e ausência de nova produção ideológica que responda aos novos e complexos problemas do mundo actual,
não deixaria de ficar chocado e revoltado.
O "desabafo" já vai longo e...nos "entretantos"...enquanto não teclo mais uns pensamentos, vou-me quedando na expectativa de assistir a algo de histórico.
Espero que, no sentido do progresso, da justiça social,de uma cidadania em que os direitos só podem decorrer do cumprimento dos DEVERES, do desenvolvimento sustentável, da liberdade, da democracia verdadeira e não apenas formal, do primado da política sobre a economia e o capital, da igualdade entre os Povos, da solidariedade, da paz mundial.
E, como diz o Jorge Palma:
Com todo o respeito,
Virgílio Lopes
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