sábado, 19 de setembro de 2009

DIA 27 CONTRA A CRISE VOTAR ! VOTAR !


António Rebelo

Quando ainda estava convencido de que, com o agravar da crise, os tomarenses começariam a "dar o corpo à curva", prometi aqui mesmo que, no momento oportuno, revelaria o meu sentido de voto. Chegou a altura de cumprir o prometido, embora já esteja persuadido de que a esmagadora maioria dos tomarenses nada vai ligar ao que agora escrevo, pois como habitualmente são especialistas seja de que assunto for. E então em matéria de política, nem vale a pena tecer mais comentários. Vamos portanto ao âmago da questão.
No próximo dia 27, como em qualquer outra eleição, são múltiplas as hipóteses para os cidadãos responsáveis e respeitadores, que não se refugiam na pseudocomodidade da abstenção, na realidade uma forma encapotada de cobardia. Mais uma. Antes de mais, o cidadão eleitor deve ponderar bem o que pretende fazer e escolher uma de duas possibilidades basilares -Escolher ou protestar. Se optar pela escolha, terá depois de começar por caracterizar melhor o que deseja escolher -O seu partido habitual? O partido que na sua opinião vai vencer? O partido que quanto a si apresentou o melhor projecto para o país, que somos todos?
Se, pelo contrário, optou pelo protesto, então terá de escolher entre o voto branco, nulo, ou num dos pequenos partidos que você considere mais agressivos. O voto branco conta como voto para o apuramento das percentagens finais (o que não sucede com as abstenções), mas se desconfia que alguém poderá acrescentar-lhe depois uma cruz onde mais convier, não arrisque; vote nulo, inutilizando o seu boletim como melhor entender (uma cruz a todo o tamanho do papel, uma cruz em cada quadradinho, para ninguém ficar zangado, ou uma frase curta e saborosa à sua escolha). Além do voto branco e do voto nulo, há o voto nos chamados partidos de protesto ou partidos dos extremos.
Com implantação a nível nacional, há três partidos de protesto, dois na extrema esquerda -CDU e Bloco de Esquerda- e um na extrema direira -o CDS.
Tanto a CDU como o BE são excelentes para protestar e para obstar a que o governo, seja ele qual for, cometa demasiados abusos. Não têm, no entanto, qualquer hipótese de vir a formar governo. Nem essa é a sua intenção. Por isso mantêm nos seus programas respectivos, de forma directa ou subentendida, a nacionalização da banca e das principais empresas nacionais. Dado que o país não teria dinheiro para liquidar indemnizações justas, tal acto seria considerado uma confiscação, o que implicaria a nossa expulsão imediata da União Europeia, com a consequente retirada da zona euro e o inevitável regresso ao escudo, para já não falar da fuga de capitais e de pessoas de posses, como sucedeu em 1974/75/76.
É certamente por isso que o PCP -Partido Comunista de Chipre, está no governo daquela ilha há mais de dois anos, mas limita-se a praticar uma política moderada.
Outra hipótese de protesto consiste em votar à direita, no CDS. Paulo Portas é sem sombra de dúvida um homem inteligente, mas as suas constantes referências à segurança, às forças da ordem, às forças armadas e à necesidade de rever as condições de atribuição do Rendimento Mínimo de Inserção, são algo inquietantes para alguns que ainda não esquecram o passado sombrio. Por volta de 1930, um professor universitário ex-seminarista chegou ao governo para manter a ordem, restabelecer a segurança e equilibrar as contas públicas. Disse então a célebre frase "Sei muito bem o que quero e para onde vou." Tinha razão. Só abandonou a cadeira do poder quando esta se partiu, 38 anos mais tarde.
É claro que Paulo Portas nunca faria uma coisa dessas, acho eu. Em todo o caso, o outro andou no seminário e Portas concluiu a sua formação nos jesuítas, em Paris.
Restam-nos os dois grandes candidatos à liderança do próximo governo: o PS e o PSD. Para muitos eleitores, os socialistas cometeram muitos erros e devem por isso ser punidos. Não partilho de tal opinião, pois nunca conheci um governo que não cometesse erros graves e, também, porque quem está no poder tem quase sempre mais experiência do que a oposição. Houve e há a questão dos professores, mas trata-se de um conflito bem mais amplo do que parece e caracterizado por excessiva hipocrisia de parte a parte. Da parte do ministério, porque pretende avaliar os professores com algum rigor, mas não consente que estes façam outro tanto com os alunos. Da parte dos docentes, porque dizem sempre que querem ser avaliados, mas não ousam acrescentar "nas mesmas condições dos nossos alunos", o que significaria uma avaliação praticamente sem grandes consequências. Acontece que o governo não está, nem nunca estará, de acordo com tais pontos de vista, por duas razões fundamentais: 1 - Porque não quer desagradar aos pais e encarregados de educação; 2 - Porque não tem recursos que lhe permitam pagar a todos os professores mais tarde ou mais cedo no topo da carreira, de acordo com o anterior ECD, pelo que terá sempre de haver barreiras à progressão.
Pelas bandas do PSD, ainda não apresentaram qualquer alternativa credível. Têm-se limitado até agora o dizer que, se vierem a formar governo, anulam isto, rasgam aquilo, modificam assim, corrigem assado. Em pouco tempo, a sua presidente falou em suspender a democracia por seis meses, gabou a actuação do bronco Jardim e hostilizou escusadamente os espanhóis. São demasiadas asneiras em tão curto espaço. Para mais, vindas de quem, quando foi ministra da educação, instituiu o exame obrigatório de acesso ao 8º escalão (mais tarde anulado por Guterres) e proibiu os professores de falarem à comunicação social.
Usando uma linguagem de cariz burocrático, finalizo dizendo que, tudo visto e devidamente ponderado, não posso deixar de votar PS, no próximo dia 27. Que cada eleitor saiba assumir as suas responsabilidades, são os meus votos.

Nota final: "Tomar a dianteira" continuará à inteira disposição dos habituais leitores, mas interrompe aqui as suas publicações diárias. Tencionamos recomeçar no dia 27 de Setembro, ao fim da tarde. Muito obrigado pela vossa atenção.

2 comentários:

templario disse...

Uma decisão sensata, madura e responsável para o Portugal de hoje.

Eu também vou votar José Sócrates.

Peço-lhe que reveja a questão dos anónimos, que isto sem eles não tem piada nenhuma.

Se analisar bem, e tirando alguns casos pontuais (que pode resolver facilmente), a maior parte dos que se metiam consigo deixavam transparecer especial simpatia, carinho e consideração por si.

Sebastião Barros disse...

Respondendo ao seu pedido de revisão, com o qual concordo inteiramente, é bem possível que logo a seguir às autárquicas Tomar a dianteira volte a ser um blogue aberto a tudo, disparates incluídos. Porque é também com eles que se irá edificando o futuro.