segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Caracóis e comemorações

Foi ontem. Chovia a cântaros. Ali na Calçada de S. Tiago, encontrámos este caracol, um dos que foram eleitos nas últimas autárquicas, para nos governarem a nível local. Aproveitando o ensejo, indagámos o que andava a fazer. Disse-nos que ia para os lados da Praça da República, e que se preparava para preparar a preparação dos tópicos do rascunho do primeiro anteprojecto, a submeter à discussão no executivo, tendo em vista preparar a preparação do projecto final, a debater e a submeter à votação da assembleia municipal, para escolha da comissão que preparará a preparação da organização das comemorações... Não quisemos ouvir mais. Continuamos iguais a nós próprios. A tradição ainda é o que era. Infelizmente, neste caso.

ASSIM É QUE QUEREM AVANÇAR ?

Quem nasceu pra lagartixa, nunca chega a jacaré.
Ditado popular brasileiro

Noticiou a comunicação social nacional que a câmara de Óbidos investiu 600 mil euros (120 mil contos) para atrair visitantes de 1 de Dezembro a 2 de Janeiro. Em declarações à televisão, o presidente da autarquia disse que esperam 150 mil visitantes. Tantos como os que visitam o Convento de Cristo durante um ano. E Óbidos, sendo muito bonita, não é Património da Humanidade. Nem tem monumentos administrados pelo IGESPAR.
Fazendo as rudimentares contas de merceeiro, 150.ooo visitantes x 5 euros, que é quanto se costuma desembolsar logo à entrada, dá a bonita soma de 750.ooo euros. Mais 150 mil que o investimento inicial. Nada mau para um mês. Belíssimo empate de capital, por conseguinte.
Entretanto, aqui por Tomar temos a habitual iluminaçãozinha, este ano um bocadinho mais vistosa, a também usual música ambiente, uns fracos divertimentos para crianças na Corredoura, para os quais a autarquia avançou com o fabuloso subsídio de 6250 euros, salvo erro...e viva o velho ! Os tempos estão complicados e o dia de amanhã ainda ninguém o viu. Pobretes mas alegretes, em suma ! Grande terra é Tomar. Para quem vem de fora, como para quem cá é obrigado a morar.

CONTINUAMOS DE VENTO EM POPA...

No seu blogue Tomaractual, Leonel Vicente publicou um oportuno trabalho sobre o poder de compra dos tomarenses, comparando-o com os outros concelhos do Médio Tejo. Ficamos assim a saber que ocupamos a 91ª posição a nível nacional, mas já estamos a meio da tabela na nossa zona geográfica. Entroncamento, Torres Novas, Abrantes e Constância, por esta ordem, estão à nossa frente. Atrás de nós e da nossa dimensão populacional, só Ourém. Mas Ourém não tem militares, não tem Politécnico, não tem PSP, não tem Tribunal de Círculo, não tem caminho de ferro à porta, não tem hospital regional. Tem, todavia, o que falta aos tomarenses -empreendedores, visão de futuro e apetência pela mudança. E Fátima.
Continuamos de vento em popa. Só não sabemos é para onde vamos.

domingo, 29 de novembro de 2009

MAIS MONUMENTOS A AGUARDAR LAVAGEM...




Pois é. Indeciso e angustiado (ver post de ontem), resolvi continuar a busca de monumentos classificados como Património da Humanidade, com a finalidade de verificar se já foram limpos/lavados, a jacto de areia. Uma vez que tal moda surgiu em França, nos anos 6o do século passado, quando De Gaulle criou, pela primeira vez na Europa, um Ministério da Cultura, expressamente para o seu amigo de sempre André Malraux, intelectual, escritor, resistente durante a segunda guerra mundial, combatente nas brigadas internacionais, na guerra civil de Espanha (1936/39), quis verificar se afinal decidiram lavar tudo a eito, ou quase, como se pretende fazer agora em Portugal.
Constatei com satisfação que, pelo menos no sudoeste da antiga Gália, está tudo como dantes. Com a natural pátina dos séculos. As fotos mostram três construções monumentais romanas, do primeiro século da nossa era. Contam portanto mil e novecentos anos, pelo menos. A foto de cima é da Ponte sobre o rio Gard (Pont du Gard) e nela são bem visíveis as marcas do tempo. Felizmente ainda não passou pela cabeça de nenhum responsável, fazer desaparecer o testemunho de 19 séculos de existência.
A ilustração seguinte mostra um detalhe do coliseu de Arles (Arènes d'Arles), que os responsáveis locais utilizam para os mais variados espectáculos, incluindo corridas de toiros. Também aqui, a tal sujidade dos séculos, apesar de bem evidente, não parece incomodar os responsáveis pela conservação do património.
Finalmente, a foto de baixo permite ver um panorama do coliseu de Nîmes (Arènes de Nîmes), igualmente local de diversas manifestações culturais e de corridas de toiros. A cor negra da pedra, provocada pelo aquecimento doméstico, antigamente a carvão de pedra, agora a gasóleo, e pela circulação automóvel, é idêntica à de muitos monumentos franceses, designadamente parisienses, que entretanto foram lavados com areia projectada. Houve porém o cuidado de não experimentar sequer no riquíssimo legado romano na antiga Gália.
Temos assim que, pelo menos até agora, só em Portugal é que o organismo estatal encarregado da conservação e restauro do nosso relativamente pobre património, se mostra incomodado com os sinais do tempo no legado arquitectónico dos nossos maiores. Será a tal comichão provocada pelos abundantes fundos europeus, agora prestes a dar o berro ? Aqui fica a pergunta inocente.

MENTIRA ROMÂNTICA E VERDADE ROMANCEADA

Nos anos setenta do século passado, um ensaio do filósofo René Girard, francês a residir e ensinar na Califórnia, fez algum "barulho" em França. Tinha por título "Mentira romântica e verdade romanceada". Ao longo de mais de 200 páginas o autor analisava algumas das grandes obras da literatura universal, de D. Quixote aos Irmãos Karamazov. Concluía, avançando dois aspectos fundamentais da literatura: 1 - Em todas as obras-primas a personagem principal arrepende-se sempre no fim; 2 - Cada autor literário tem inteira liberdade para compôr as personagens (mentira romântica), mas depois é sempre constrangido a escrever de acordo com a realidade, mesmo a ficcionada, em virtude da necessidade de verosimilhança (verdade romanceada), para que haja coerência.
Lembrei-me disto durante uma recente troca de impressões com um autarca da região, de quem sou amigo há muitos anos. Não interessa o seu nome, pois não se trata de acusar. Apenas de tentar levar a pensar, a encarar outras hipóteses, outras formas de actuação, outros caminhos com mais futuro.
Dizia-me ele que as coisas estão estruturadas de tal forma, que praticamente forçam os responsáveis autárquicos a empolar as receitas. De outro modo, nunca viriam a ter capacidade legal para candidatar os projectos mais importantes. Nunca haveria "cabimentação orçamental", para usar o jargão autárquico. Temos portanto que praticamente todos os autarcas mentem, e sabem que mentem, em prol do futuro concelhio. É a mentira romântica. Que esteve na origem da queda da União Soviética e dos regimes dos países dela dependentes. (E segundo parece a China vai pelo mesmo caminho. Uma vez que os responsáveis pelos diferentes sectores nacionais e regionais são avaliados em função dos resultados conseguidos, já há casos de quatro auto-estradas paralelas, podendo todos os resultados estatísticos reflectir apenas a vontade do partido comunista e não a realidade económica).
Neste momento, de acordo com as melhores fontes, a dívida total da autarquia tomarense estará entre os 38 e os 39 milhões de euros, números redondos. Os cidadãos ouvem ou lêem isto e passam adiante, ou limitam-se a encolher os ombros. Contudo, se escrevermos que 39 milhões de euros representam uma dívida de um pouco mais de mil euros por cada eleitor; se acrescentarmos que um em cada três eleitores não paga impostos; se esclarecermos que as despesas permanentes da autarquia têm tendência para aumentar fortemente, enquanto os eleitores, e logo as receitas, têm tendência a diminuir fortemente, as coisas mudam de figura. É a verdade romanceada.
Entre mentira romântica e verdade romanceada, é meu entendimento que, mais tarde ou mais cedo, os nossos autarcas e todos os outros vão ter de regressar à verdade societal, à ordem inicial das coisas, à hoje desdenhada "contabilidade de merceeiro". Serão mesmo obrigados a isso. Por Lisboa ou por Bruxelas. Ou por ambos. Veja-se o caso João Jardim, que já esperneia por todos os lados, em vão. O dinheiro não estica.
A verdade societal e a ordem inicial das coisas implicavam que os fundos da União Europeia viriam ajudar-nos a realizar os nossos projectos de interesse comunitário, eventualmente "nas gavetas" por falta de recursos.
Com o tempo, foram alteradas as prioridades. Desde há anos que já não se trata de adjuvantes para projectos existentes, mas de projectos elaborados "em cima do joelho" e sobre-avaliados, para conseguir sacar os fundos europeus, que oficialmente apenas cobrem uma determinada percentagem do custo total, mas acabam pagando tudo, em virtude da tal sobre-avaliação. Bruxelas sabe isto, mas cala-se. Aguarda a sua hora.
Não espanta portanto que já haja em Portugal duas auto-estradas paralelas (A 1 e A 8), e que se encare já a conbstrução de uma terceira ( IC 3)...ou a limpeza/lavagem da Janela do Capítulo e anexos a jacto de areia. O importante, para autarcas, empreiteiros e forças partidárias no poder, não são as obras nem a sua eventual utilidade social. O IMPORTANTE SÃO OS FUNDOS EUROPEUS, NESTE MOMENTO NO QREN, BEM COMO OS COMPROMISSOS QUE NÃO CONSTAM DE NENHUM DOCUMENTO. "Et pour cause...", diriam os franceses, que continuam a ser os pais da diplomacia.
Resta aos autarcas tomarenses (que com as asneiras dos outros passamos nós muito bem) arranjar coragem para encarar e aceitar a realidade local e nacional como ela é. O que implica encontrar maneira de aumentar as receitas e diminuir as despesas. Não é nada fácil, mas também não é impossível. Quanto mais tarde, pior maré !

sábado, 28 de novembro de 2009

ESTOU ANGUSTIADO E INDECISO



Perante estas três fotografias, de monumentos do país de nuestros hermanos, estou angustiado e indeciso. Angustiado, dado que não gosto mesmo nada de ser injusto, ou de faltar à verdade factual. Indeciso, ao não conseguir optar entre duas hipóteses comportamentais dos eleitos espanhóis. Tenho muito fortes suspeitas de que haverá aqui algo que não bate certo, que não joga.
Em Tomar, cujo Convento de Cristo é Património da Humanidade desde 1982, há indícios importantes de que o IGESPAR, que tutela o monumento, se prepara para mandar lavar a jacto de areia a Janela do Capítulo e toda a parte exterior do coro manuelino. Excepto talvez, mas falta ainda confirmar, o Portal da Virgem.Preocupado com as previsíveis consequências irremediáveis de tal acto, para mim bárbaro e desnecesário, fui indagar alhures.
Como o método de lavagem com jacto de areia foi desenvolvido em França, nos anos 60 do século passado, para corresponder à encomenda do então ministro da cultura, André Malraux, deduzi que em Espanha, dada a vizinhança e os muitos contactos, também já utilizariam essa técnica para tornar os monumentos mais apresentáveis, em conformidade com a visão pseudo-higiénica de alguns responsáveis.
Pois não senhor ! Em Córdoba, (Foto de cima -Vista exterior de um trecho da fachada da antiga mesquita, agora catedral), em Salamanca (Foto do meio -Portal plateresco da Universidade) e em Santiago de Compostela (Foto de baixo - A catedral vista de frente), os monumentos mais importantes, que são igualmente Património da Humanidade, tal como o nosso Convento, continuam a ostentar a pátina que lhes corresponde. Ainda não foram lavados a jacto de areia, de acordo com as fotos, que são actuais. Donde a minha indecisão e a minha angústia. Será que os nossos vizinhos ibéricos são tão "tapados" que nem sequer conseguem sacar fundos em Bruxelas para limpar os monumentos ? Ou, pelo contrário, logram na verdade obter fundos bem superiores aos nossos, mas decidem aplicá-los em obras mais úteis e prioritárias para toda a população ? Haveria igualmente a hipótese de delapidação das comparticipações comunitárias. Todavia, se tal fosse o caso, já se saberia, tratando-se de milhões e milhões de euros.
Em conclusão -Na ausência de adequadas informações oficiais, tudo aponta neste momento para mais uma empreitada em Tomar com demasiadas zonas de sombra. Haverá coragem para esclarecer cabalmente os cidadãos ? Pela minha parte, não tenciono calar-me. Irei até onde a legalidade permitir. E estou persuadido de que muitos outros eleitores me apoiarão. A partir de quarta-feira à noite logo veremos.

LAMENTÁVEL CEGUEIRA POLÍTICA

Nunca, até agora, aqui se comentou a política nacional. Entre outros motivos, por entendermos que o nosso sistema eleitoral transforma os representantes eleitos em simples membros do rebanho, incondicionalmente obedientes aos pastores respectivos. Pouco ou nada adianta por isso criticá-los, uma vez que apenas respondem perante o partido e não aos eleitores. Desta vez, contudo, abre-se uma excepção, dada a gravidade dos acontecimentos. Uma convergência de circunstância, unindo no voto forças partidárias tão próximas como o CDS e o Bloco de Esquerda, passando pelo PCP, derrotou a maioria relativa do PS em sucessivas votações na Assembleia da República. Aconteceu ontem e, ou muito nos enganamos, ou há-de ficar na história parlamentar como o princípio do fim deste governo Sócrates. É só dar tempo ao tempo...
Alheios à coerência política, à gravidade económica da conjuntura e à manifesta ausência de soluções alternativas, tanto de governo como de ultrapassagem da nossa crónica crise, Paulo Portas, Ferreira Leite, Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã votaram unidos para retirar ao governo avultadas verbas, sem as quais os vários défices só poderão agravar-se. Isto enquanto vão acusando o mesmo governo de ser despesista e de nada fazer para reduzir o exagerado défice de 8%. Lindo ! Sobretudo para Ferreira Leite e Francisco Louçã, conhecidos economistas da nossa sociedade. É, por assim dizer, se nos permitem a comparação, o mesmo que acusar alguém de estar cheio de nódoas negras, depois de lhe ter dado uma valente sova.
Perante tão óbvia e lamentável cegueira política, pois ninguém estará a ver um governo CDS/PSD/PCP/BE como solução alternativa, somos forçados a constatar que tinha razão Miguel de Unamuno, ao escrever que "os portugueses são um povo de suicidas." Disse-o na primeira metade do século passado, mas continua muito actual, a julgar por exemplos deste tipo. Tudo indica que estamos confrontados com uma facécia de carnaval antecipado, levada a cabo por um bando de criaturas politicamente imaturas. Que somos forçados a remunerar como se fossem de primeira qualidade. Triste sina a nossa !

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

AS ACÇÕES, AS INTENÇÕES E AS CONSEQUÊNCIAS

Semanário SOL de 27/11/09

Nunca fiz parte do maioritário grupo de eleitores para os quais os eleitos agem sempre e deliberadamente no sentido de prejudicar os cidadãos, apenas pensando em manter o poder a todo o custo. Conheço um pouco alguns dos nossos autarcas. Sei que são pessoas sérias, educadas, atentas e bem intencionadas. Concedo que alguns possam agir mais em função da futura reeleição do que para prestar serviço aos munícipes. Em contrapartida, recuso liminarmente que possam alimentar sequer a ideia de ir de propósito contra os interesses do eleitorado local.
O que desde o início desta nossa democracia, que nos foi ofertada de bandeja, me parece estar a ocorrer com frequência, é que, ou os nossos representantes não conseguem alinhavar consequentes modelos de desenvolvimento, nitidamente por falta de ideias; ou vão tomando decisões sem se dar conta das suas previsíveis consequências nefastas.
Tomar constitui de resto, desde há anos a esta parte, um excelente exemplo de planos com sectores antagónicos uns em relação aos outros, sem que o membros do executivo ou da assembleia municipal disso se dêem conta. Pelo menos aparentemente. Para não recuar demasiado, o que tornaria este texto excessivamente longo, temos neste momento dois casos paradigmáticos -os arranjos junto ao convento e os moínhos da Levada.
Reconhecendo desde há tempos que um dos problemas do nosso comércio reside no facto de os turistas que vão ao convento não descerem à cidade em grande parte dos casos, fará algum sentido melhorar as condições de acolhimento e estacionamento lá em cima, sem cuidar previamente de arranjar soluções cá em baixo ? Na mesma linha, num período em que a autarquia vai ter de reduzir despesas e/ou aumentar receitas, como justificar um investimento de vários milhões de euros, que obviamente apenas vai originar ainda mais despesas futuras ?
Andava nestas considerações, buscando em vão uma resposta satisfatória para tais incoerências, quando me deparei com a ilustração acima. Afinal a nosso problema, e o de muitas outras terras por esse país fora, provém de uma das zonas do nosso cérebro, chamada "Giro cíngulo" (texto inferior do lado esquerdo). a área que processa a capacidade do ser humano de ter flexibilidade e adaptar-se às mudanças, influenciando o pensamento orientado para o futuro." Ora aí está ! Somos nitidamente sudesenvolvidos nessa área. Com pouca ou nenhuma flexibilidade, muito escassa adaptação às mudanças e nada orientados para o futuro. Pelo contrário. Estamos sempre convencidos de que o passado é que era bom.
Dirão os habituais cépticos que poderá não ser verdade, uma vez que consumimos, havendo por conseguinte um uso razoável dessa área cerebral. Trata-se de uma visão demasiado superficial. Se aprofundarmos um pouco, constatamos que se trata quase exclusivamente da trilogia alimentação/vestuário/calçado, o chamado consumo primário. Olhando ainda mais atentamente, chegaremos facilmente à conclusão que em termos de alimentação até estamos a consumir demasiado. Basta anotar a cada vez maior percentagem de obesos, satisfeitos ou não.
Sobre consumos mais elaborados, designadamente na área cultural, o melhor é ficarmos por aqui. Num país em que os jornais de maior circulação são os desportivos; num país onde todos os jornais de informação geral têm um suplemento desportivo, ou pelo menos uma secção; num país onde, em contrapartida, os jornais desportivos não incluem qualquer secção ou suplemento de informação geral; num país, enfim, em que as televisões... espantará assim tanto que os eleitos não tenham ideias operativas, que sejamos como somos e que estejamos como estamos ? A mim não ! Só não sei é quanto tempo vamos poder continuar a viver assim. E gostava tanto de saber !

UMA VERGONHA É A FALTA DE MANUTENÇÃO !

Numa altura em que já se fazem testes, naturalmente pagos principescamente, soit disant para determinar a melhor forma de lavar/limpar a Janela do Capítulo, choca tanta insensibilidade, tanta ganância, tanta inércia. Mesmo ao lado, na mesmíssima nave manuelina, este arbusto está ali há anos. E continua a medrar sem entraves. Compreende-se. Dizer a dois funcionários para pegarem numa escada e resolverem a situação anómala num quarto de hora, não dá prestígio, não dá dinheiro, nem eventuais benesses por baixo da mesa. Mas era bonito e mostraria empenhamento e dedicação pelo serviço público, uma causa nobre, custeada por todos nós, os que pagamos impostos e tão mal servidos somos.
Quanto à Janela, deixa-na em sossego. Limitem-se a retirar-lhe as ervitas e alguns detritos trazidos ou provenientes das aves.O resto é reles pretensão de tecnocratas, mal formados em humanidades. Quem gostaria que lhe limpassem/lavassem o rosto, de modo a perder a cor e as marcas da provecta idade ? São apreciadores da Dona Lili Caneças ? Nós não. Gostamos mais do que é natural... Recordam-se da velha publicidade televisiva "Um preto de cabeleira loira não é natural" ? Outros tempos. Outros costumes.

ANÁLISE DA IMPRENSA NACIONAL

A actualidade, sempre a fluir, tem coisas assim. O "Diário de Notícias" publicou ontem esta local, dando conta de que a oposição PSD pede uma auditoria financeira externa às contas da autarquia lisboeta. Pois também ontem, por mero acaso, a câmara tomarense debatia e votava uma proposta de auditoria, apresentada pelos Independentes por Tomar. Dado que, nas terras nabantinas a oposição lisboeta é poder, se acaso tivessem recusado a referida proposta, ficariam um bocadinho tremidos na fotografia, visto que propor em Lisboa e recusar aqui, cheira logo a incoerência. Mesmo com a velha e estafada desculpa de que "cada caso é um caso". A opinião pública aprecia pouco ou mesmo nada tais subtilezas. E então quando se trata de frases feitas, pior ainda.
Felizmente para Tomar, não foi o que aconteceu. A proposta dos IpT não foi aprovada, por ser demasiado vaga, ao não indicar coisas básicas, como por exemplo tipo de auditoria, entidade auditora, datas possíveis, duração e âmbito, serviços a auditar. Em sua substituição foi apresentada, debatida e aprovada uma proposta da maioria para uma auditoria ao Departamente de Gestão Urbanística, para apurar as causas do seu funcionamento demasiado moroso, propondo hipóteses de solução.
O mais curioso reside no facto de os IpT terem resolvido avançar com uma proposta deliberadamente vaga, partindo do princípio que assim facilitariam a sua discussão e aprovação. Afinal sucedeu o inverso. A facilidade transformou-se em obstáculo intransponível. A política tem ocorrências assim. DE mútua incompreensão, real ou simulada. Por isso é tão apaixonante para os especialistas na matéria.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

ANÁLISE DA IMPRENSA LOCAL E REGIONAL- 2

COLABORAÇÃO PAPELARIA CLIPNETO
O Natal não tarda e com ele o tradicional período de tréguas na luta política, que se prolongará quase até meados de Janeiro. Dado que, ainda por cima, as eleições foram há pouco, a imprensa local e regional parece ter posto de lado a política e/ou os temas polémicos, salvo uma ou outra excepção. É o caso d'O MIRANTE que faz manchete com "Sete candidaturas à Câmara Municipal de Tomar deram muita parra e pouca uva". Lida a respectiva reportagem, a oeste nada de novo. Ficou-nos a ideia de uma peça "para encher chouriços", que nem sequer teve em conta o facto de na política local as consequências de determinadas situações poderem aparecer muito mais tarde. Ainda no mesmo semanário, na secção "Cavaleiro andante" e com fotografia, o carro que ficou sem rodas na Nabância, sob o título "O crime perfeito".
Já O TEMPLÁRIO apresenta uma primeira página muito mais variada e interessante para os tomarenses: "Presidente de junta no banco dos réus", "Mega-operação da polícia no mercado", "Antiga "casa de meninas" vai ser demolida" e "Mulher com gripe A ainda em coma". Trocando por miúdos, o presidente de junta em questão é Custódio Ferreira, de Paialvo. A mega-operação policial era só para impressionar ("sobretudo pedagógica" refere o jornal). A antiga "casa das meninas" é aquele prédio arruinado da Rua de Pedro Dias, onde por acaso nunca houve meninas. Apenas meretrizes legalmente autorizadas, que ali exerciam a sua profissão, sob as ordens de uma patroa, geralmente mais velha. Tal actividade passou a ser proibida a partir de Janeiro de 1963. Resta a senhora com gripe A, que afinal está realmente em coma, mas induzido pelos médicos, o que dá outro entendimento sobre o seu estado.
CIDADE de TOMAR, como habitualmente mais circunspecto, apenas colocou dois grandes títulos na primeira página: "Guaritas asfixiadas de silvas" e "Envolvente do Convento de Cristo degradada" As duas com fotografias a cores. As guaritas são as da popularmente chamada Estrada de Paialvo, edificadas na época em que por ali esteve aquartelado o Regimento de Infantaria 15, no antigo Convento de S. Francisco. Curiosa sem dúvida a lenta mas inexorável mudança da língua portuguesa. Aqui há mais de dez anos escrevia-se "asfixiadas pelas silvas", ou "asfixiadas com silvas". Mas já Camões escreveu, há mais de 400 anos, "todo o mundo é feito de mudança/tomando sempre novas qualidades".
Sobre a envolvente ao Convento, que ocupa toda a página 3, com algum texto e 5 fotografias bastante objectivas, trata-se da Calçada de S. Tiago, da Calçada dos Cavaleiros e do Parque de Estacionamento da Cerrada dos Cães. Vai tudo ser requalificado, para usar um vocábulo muito do agrado dos senhores arquitectos, devendo as obras começar em breve, uma vez que já foi feita a respectiva adjudicação. O mais curioso é que o projecto prevê, além das referidas requalificações, dois novos parques de estacionamento. Um na parte norte do Convento, para autocarros; outro do lado esquerdo de quem sobe, imediatamente antes do desvio para a Senhora da conceição, para 32 veículos ligeiros. Perante isto, é imperioso perguntar -Então querem que os turistas venham cá abaixo e melhoram as condições de acolhimento lá em cima ?! Não será contraproducente ?
Igualmente em CIDADE DE TOMAR, a habitual "Crónica de Campanha", assinada por Mário Cobra, desta vez com um título bem expressivo -"Padre dá à sola para Espanha". Só faltou mesmo acrescentar "com uma paroquiana de 18 anos, depois de os pais adoptivos terem recusado o seu pedido de casamento", para a verdade ser total. O mundo está cada vez mais escorregadio e ai de quem não tenha pé marítimo !

ANÁLISE DA IMPRENSA LOCAL E REGIONAL - 1

FALSO ALARME SOBRE PÓPÓS NOVOS...
Com este bólide a preto e branco, publica O TEMPLÁRIO desta semana, na secção PELOURINHO, o texto seguinte: "O nosso dedo que adivinha diz que a Câmara de Tomar vai comprar um carro igual a este para os vereadores. Trata-se de um Opel Insígnia e custa cerca de 40 mil euros. Será verdade ou o dedo não tem poderes divinatórios ?"
Perante tal insinuação, seguida de interrogação, numa página que deve sempre ser lida com alguma condescendência, Tomar a dianteira resolveu aprofundar a questão. Tanto mais que os actuais detentores do poder local na urbe nabantina têm os seus defeitos, como cada um de nós, não constando porém que sejam temerários. E resolver comprar bombas numa altura destas, seria arriscadíssimo em termos de opinião pública.
Feitos os necessários contactos e ouvidas as fontes, podemos afirmar que a insinuação é isso mesmo -uma "invenformação". No domínio das aquisições de veículos, a autarquia tomarense vai realmente adquirir um novo autocarro, um novo veículo para o presidente e, eventualmente, um Opel Astra para um dos vereadores
em regime de permanência.
Uma das nossas fontes, particularmente bem colocada, acrescentou que: 1 - A aquisição de novo autocarro é necessária porque o actual atingiu o limite de idade imposto pelas normas europeias, apenas podendo servir doravante para pequenos percursos; 2 - A nova viatura para o presidente é precisa porque o BMW existente tem 400 mil quilómetros. A viatura a adquirir não será de certeza da mesma marca; 3 - A viatura antes distribuída ao vereador Ivo Santos, vai passar para o vereador Vitorino; 4 - O vereador Luís Ferreira ficará eventualmente com a Renault Espace já existente; 5 - Poderá haver necessidade de comprar uma viatura para substituir uma outra já bastante usada; 6 - Qualquer que seja o tipo de aquisição (compra, leasing ou renting), as respectivas operações serão sempre feitas no âmbito da Central de Compras do Estado, o que faculta reduções de custos da ordem dos 20 por cento; 7 - É um simples disparate o custo avançado para a viatura em questão.
Aqui fica a resposta da parte visada no texto acima reproduzido. Falso alarme, portanto. Antes isso. Ficamos todos mais serenos.

BOAS NOTÍCIAS DO CONVENTO - 2

Sabedor de que a quase totalidade dos tomarenses adora o S. Não Te Rales, Tomar a dianteira subiu novamente à antiga Casa da Ordem, desta vez para dar parte da sua extrema preocupação com a eventual limpeza/lavagem da Janela do Capítulo, que a deixaria "toda branca como os sanitários", conforme aqui escreveu uma leitora. Fomos conversar com uma veneranda figura nossa conhecida, que habita no convento desde os anos trinta do século XVI. Conhece, portanto, muito bem a Janela, desde os tempos em que ela ainda era uma donzela, como pouco mais de vinte anos de idade.
Ao ouvir-nos contar o que se pretende fazer àquela obra-prima do manuelino, em termos de melhoramentos, a sua expressão foi a que a foto mostra e que dispensa qualquer comentário, julgamos nós.
Agradecemos a atenção, saímos e descemos a Calçada de S. Tiago muito mais serenos e reconciliados com os nossos conterrâneos. Afinal, os mais velhos ainda se apoquentam com os grandes problemas comunitários. Como por exemplo com o projectado atentado contra a integridade da Janela do Capítulo. Os outros é que continuam amorfos. Como costuma dizer um nosso conterrâneo, "Nunca vi um porco a tocar flauta, nem um pessegueiro a dar nêsperas."

BOAS NOTÍCIAS DO CONVENTO - 1

Há por aí conterrâneos bem intencionados que não se cansam de repetir que Tomar a dianteira "só diz mal, é só má-língua". Têm razão, se esquecermos que não seria nada honesto afirmar que está um sol radioso, quando toda a gente vê que chove a cântaros. Ou não será assim ? Acham melhor tentar adormecer os eleitores com notícias falsas, ou com silêncios cúmplices e comprados ?
Hoje, só para contrariar tais arautos, resolvemos dizer bem do Convento de Cristo. Assim, a magnífica Sala dos Cavaleiros, no ex-Hospital Militar Regional 3 (1927/199o), de finais do século XVII (1688), fechada ao público há décadas, está de boa saúde. Aqui temos um aspecto do tecto octogonal de madeira policromada, ainda em bom estado de conservação, apesar da notória falta de manutenção adequada. E até temos tido muita sorte -ainda não roubaram a lanterna. Ao preço a que estão as antiguidades, vá lá, vá lá ! Continuamos a ser um país de brandos costumes. Oxalá por muito mais tempo !


Outro aspecto da antiga enfermaria conventual, mais tarde adaptada a hospital militar. Diga-se em abono da verdade que os militares, apesar de terem alterado bastante, também se esforçaram na conservação das instalações. A dada altura até fizeram escavações na fachada norte, tendo encontrado vestígios importantes da parte desaparecida da cerca de muralhas templárias, do século XII.




Finalmente, uma outra boa notícia, que constitui simultaneamente um esclarecimento importante. Aqui há meses, foram os tomarenses defensores do património sacudidos com uma notícia alarmista do semanário EXPRESSO. Titulava aquele conceituado hebdomadário "O Convento de Cristo está a caír", ilustrando a notícia a duas colunas com uma fotografia de dois artesãos (arcos de abóbada) do Claustro da Hospedaria. Escrevemos na altura que não havia matéria factual para tanto alarme, no que fomos apoiados pela directora do monumento. Era apenas um detalhe, normal num claustro com mais de quatrocentos anos. A demonstrar que tínhamos razão, aqui está o aspecto actual da mesma arcaria de abóbada, já devidamente restaurada. E que bem que ficou ! Quem não tenha acompanhado o referido incidente, nem repara que houve restauro. Para usar uma linguagem jovem, muito ao gosto de certo vereador local -Boa !



quarta-feira, 25 de novembro de 2009

SERÁ SÓ IMPRESSÃO ?

Poderá ser apenas impressão. É porém uma ideia que persiste, que se arrasta. Há uma fractura nítida na comunidade tomarense. Recorrendo à terminologia geográfica, no vale nabantino, os eleitos consideram-se lá em cima, na linha de alturas, no planalto do poder. A população em geral está cá em baixo, na planície. Onde sempre deve estar a arraia-miúda, pensam os de cima. Entre os dois grupos, os que mandam ou julgam mandar, lá em cima; os mandados, ou nem tanto, cá em baixo, o fosso é grande. Tão grande que raramente os de cima prestam atenção ao que se vai dizendo, por vezes até gritando, cá em baixo.
Muito provavelmente, pensarão os temporários ocupantes das cadeiras do poder, que oposicionistas e outros eleitores críticos são apenas os animais da velha e popular alegoria "Os cães ladram mas a caravana passa."
Pois se assim vêem as coisas, nada indicando que seja de outro modo, estão gravemente equivocados. E poderão vir a ter graves dissabores daí resultantes.
Os ditos fustigadores das deficientes (ou mesmo inexistentes) políticas locais, poderão de facto não passar de simples animais, ou até de meros ornamentos desta democracia que fingimos ter. O mais grave, todavia, é que a caravana também não passa. E não passa porque não anda. Há décadas que deixou de andar. Ficou atida às benesses do Estado. À vaca do orçamento da Nação. Agora, que os recursos disponíveis de Lisboa são quase nulos, com forte tendência para o encolhimento irreversível, ou a caravana nabantina recomeça a andar, que o mesmo é dizer a criar riqueza a bom ritmo, ou o melhor será ir procurando poiso mais acolhedor. Para todos. Incluindo os transitoriamente instalados no planalto do poder local. Com o incremento do governo electrónico, uma boa Loja do Cidadão é quanto basta aqui na zona, em termos administrativos. E lá se vão os 500 empregos autárquicos. Como já aconteceu com o quartel general, a banda de música, a fanfarra militar, a farmácia militar, o hospital militar, o tribunal militar, a estatística, a polícia judiciária, o CDOS...
Continuem à espera que a situação melhore, ou que apareça o nosso salvador numa manhã de nevoeiro, e depois queixem-se ! Tal como ocorre com algumas enfermidades mais graves, que se começarem a ser tratadas demasiado tarde são fatais, também a velha urbe gualdina está em risco de vida. Infelizmente !

A JANELA EXPLICADA AOS VINDOUROS - 3

Ontem mostrámos-lhe o cão e o gato, eventuais companheiros dos navegadores (ver " A janela explicada aos vindouros 2"). É agora a vez de lhe mostrar por que razão havia pelo menos um gato a bordo de cada caravela. Do lado oposto ao cão e ao gato, no ângulo superior esquerdo da janela, adossado ao pináculo, entre a corda e o feto, aí temos o nosso hóspede indesejado -um rato ! Meio dissimulado, como convém. Geralmente estes roedores entravam a bordo sem convite, usando as cordas de amarração como vias de acesso. Por isso estas cordas (a que os marinheiros chamam cabos) tinham uma série de bóias de cortiça assaz largas para impedir que os ratos as conseguissem ultrapassar. Mas mesmo assim... (Ver na mensagem anterior e na foto da janela, as ligação desta a cada um dos contrafortes (botaréus).
É claro que a esmagadora maioria dos visitantes ignora estes detalhes. Porque são minúsculos, mas também -e sobretudo- porque não há quem lhos mostre, numa evidente falta de respeito pelas obrigações do serviço público, e por todos os contribuintes, que depois ainda têm de desembolsar mais cinco euros por pessoa, para visitar aquilo que afinal é de todos. O costume -muito blábláblá, mas quanto a obras, está quieto ! Dá muito trabalho e o estado paga mal. Mas lixa-se que também é mal servido, pensarão muitos funcionários. O pior é que quem se lixa realmente são sempre os do costume... Há séculos que assim acontece.

As visitas guiadas fazem tanta falta, que até coisas à vista de todos escapam aos visitantes, naturalmente desorientados num para eles labirinto, que ignoram completamente. É o caso deste monstro, com guizos a encimar-lhe a cabeça, um focinho horrendo, olhos e dentes enormes, a vomitar agitação marítima. Exactamente ! Acertou ! O nosso conhecido Gigante Adamastor, terror dos nossos navegadores de antanho, do qual falam os Lusíadas. Não lhe parece ? Então tenha a bondade de ver a foto seguinte, que é a mesma, mas numa outra posição.


Repare na extraordinária beleza plástica (é uma opinião apenas) do duplo enrolar das vagas, que depois vêm morrer na praia, do lado direito. Este friso gigantesco, esculpido com uma extraordinária sensibilidade há cinco séculos, cercava originariamente toda a construção manuelina. Posteriormente foi muito mutilado sendo agora apenas visível nos botaréus da fachada poente e do lado esquerdo do portal sul, da Virgem (ou castilhiano, para usar o jargão pseudo-erudito de certa gente...). E quase ninguém dá por ele ! É pena, sobretudo para as crianças, que gostam tanto do Harry Potter, mas se calhar nem nunca ouviram falar do Adamastor. É por estas e por outras, que somos como somos e estamos como estamos. E com forte tendência para piorar. Haja saúde ! E pachorra, já agora...



terça-feira, 24 de novembro de 2009

A JANELA EXPLICADA AOS VINDOUROS - 2

Numa de defesa do património, que pode estar em sério perigo, caso não impere o bom senso, escrevemos anteriormente sobre a ornamentação da Janela do Capítulo. Publicámos também uma fotografia, tirada na posição em que a maioria dos turistas a vê, que está longe de ser a mais favorável.
Desta vez, mostramos a ilustração mais frequente nos desdobráveis turísticos -a fotografia frontal- que tem dois grandes óbices: 1 - Não se indicando as dimensões reais, a janela parece bem mais pequena a quem nunca a viu directamente ou na TV; 2 - À falta de esclarecimentos adequados, muitos visitantes percorrem a parte exterior do convento e do castelo, naturalmente à procura da janela. Nada mais lógico, visto que as janelas dão sempre para o exterior. Só que neste caso...
Se, após a leitura da explicação do poste anterior, alguém ficou convencido de que agora já sabe tudo sobre a ornamentação da Janela do Capítulo -desengane-se ! Nunca se consegue saber tudo sobre um tema, seja ele qual for. O autor destas linhas, por exemplo, conhece e observa regularmente a principal atracção do Convento de Cristo há mais de 50 anos. Mesmo assim ainda descobre coisas novas de cada vez que a visita de forma mais detalhada. Quer um exemplo prático ?


Na realidade, a representação da água do mar, que referimos no escrito anterior, e que se vê por cima das salinas, forma afinal um rectângulo, cujos lados maiores são paralelos aos pináculos, passando o inferior por trás da parte superior do tronco suportado pelo vulto humano. Uma espécie de moldura líquida, a separar a ornamentação marítima da terrestre. Outro exemplo ?
Repare nesta fotografia do anglo superior direito da anterior. Concentre-se no espaço entre a base da esfera armilar e o espaço do pináculo entre a corda e o feto. Já viu ? Estão lá representados, em alto relevo, dois pequenos animais de companhia. Ainda tem dúvidas ?

Pois aqui os temos, todos catitas, apesar de festejarem 500 anos em 2010. A prova evidente e indesmentível de que afinal os líquenes e outros musgos não danificam, antes protegem o calcário contra as chuvas ácidas. Ambos de cabeça para baixo, temos à direita o gato Gualdim, com a cauda para a direita, e à esquerda o cão Nabão, com o rabo aparente entre as patas traseiras. Convivem sem problemas, dado que foram criados juntos e assim estão há centenas de anos. E esta hein ??!!, exclamaria o saudoso Fernando Pessa, do alto das suas oitenta e tantas primaveras. E agora, julga que já sabe finalmente tudo sobre a decoração da janela ? Pois nem pensar. Tenha santa paciência e aguarde o próximo texto, se fizer o favor de nos continuar a ler. Para tudo é preciso cada vez mais pachorra...


A JANELA EXPLICADA AOS VINDOUROS

Eis a Janela do Capítulo, tal como a vêem quase todos os visitantes da Casa da Ordem de Cristo. A partir de um pequeno terraço, que alguns julgarão ter sido feito exclusivamente para apreciar a fachada poente do coro manuelino. Na verdade, trata-se apenas da cobertura da escada de ligação entre o 1º piso do claustro de Santa Bárbara e o piso térreo do claustro de D. João III. Tudo isto começou a ser edificado 25 anos após a conclusão da Janela.
Olhando com mais atenção, apercebemo-nos de que os sinais do tempo, os líquenes, os musgos, a patine, as diversas tonalidades, lhe dão outro relevo, outras perspectivas, outra visão dos volumes que a constituem. Custa até imaginar o que virá a ser após uma eventual lavagem limpeza, que a deixaria toda com o mesma tonalidade monocromática, como já acontece na Torre de Belém e nos Jerónimos, alvo de desastradas operações de lavagem/limpeza, certamente muito lucrativas mas verdadeiros atentados à integridade dos monumentos que são património da humanidade.
Ao longo dos seus quase 5 séculos (completá-los-á o ano que vem) já sofreu vários atentados. Roubaram-lhe as duas imagens, que ignoramos a quem representariam, e até a entaiparam. Agora, porém, é muito mais grave. Se as nossas suspeitas são fundadas, pode bem estar em curso um processo bem intencionado, como todos, capaz no entanto de a vir a mutilar irremediavelmente. Estamos a falar da sua eventual lavagem/limpeza, que destapando os poros do calcário, até agora protegidos pelos tais musgos e/ou líquenes, a deixararia à mercê da infiltração de chuvas ácidas e consequente destruição lenta. Oxalá seja só uma suspeita nossa, sem qualquer fundamento. Oxalá !
Em todo o caso, como vale mais mais prevenir que remediar, faça o favor de imprimir a fotografia, depois de com dois cliques a ter ampliado, e segure-a ou ponha-a ao seu lado. Depois vá lendo o que seque e olhando para a fotografia, alternadamente. Assim poderá ficar em condições de descrever, de forma sumária, a janela aos seus amigos, aos seus filhos, ou aos seus netos. Enquanto os arautos do progresso ainda não lhe deitaram a mão. Depois poderá ser demasiado tarde, porque sem remédio.
Temos então, de cima para baixo, para a direita e para a esquerda, a cruz da Ordem de Cristo, logo abaixo o escudo nacional, de ambos os lados as salinas (os quadradinhos), com a água do mar que se vê muito bem no lado de cima, dois pináculos com alcachofras e fetos, um de cada lado, que servem de amarração para corais em forma de cinco invertido, aos quais estão ligados por correntes. Na parte superior de cada um dos ditos corais, a esfera armilar, emblema do rei D. Manuel, mestre da Ordem de Cristo antes de ter subido ao trono.
Logo abaixo do escudo nacional, dois corais ampliados, em forma de âncora. De ambos os lados mais fetos, pedaços de cortiça e cabos de amarração com grandes bóias de cortiça, que amarram a janela aos contrafortes da fachada, chamados botaréus.
Mais abaixo, do lado de fora dos pináculos em forma de plantas exóticas, dois troncos de coral. O da direita está amarrado com uma corrente, o da esquerda com uma guizeira. São os baldaquinos de duas imagens que entretanto desapareceram. Ignora-se quem ou o que representavam. Ainda nos pináculos, na direcção dos vazios onde estiveram as ditas imagens, um nó gigante da cada lado e logo abaixo alcachofras. Segue-se o motivo que fecha toda a estrutura ornamental. Uma árvore com as raízes à vista, suportada por uma figura humana, da qual se vê a cabeça e os braços. De ambos os lados, uma corda monumental, a ligar a parte inferior aos botaréus, tal como já descrito mais acima.
Assim é a obra-prima do manuelino, a Janela da Sala do Capítulo do Convento de Cristo de Tomar. O resto são opiniões. Perfeitamente legítimas, mas com as quais se poderá concordar ou não.
Continuaremos na mensagem seguinte. Mais logo, para evitar indigestões de manuelino, que é uma arte bastante complexa. Como os portugueses afinal...

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

MAIS OBRAS NO CONVENTO, TODAVIA...

Conforme escrevemos anteriormente, há neste momento quatro obras diferentes em curso no Convento de Cristo. Bom sinal. Significa que afinal sempre há verbas quando é preciso. E que em Lisboa se preocupam com a conservação da Casa da Ordem. Antes assim !

Neste caso, preparam-se para operar alguns melhoramentos nos antigos Paços do Infante D. Henrique, depois Paços de D. Manuel, de D. João III e de Dª Catarina. Finalmente designados por Convento Velho e abandonados à sua sorte. Na ausência de informação escrita no local, o que contraria as instruções usuais da União Europeia, Tomar a dianteira indagou, mas pouco conseguiu apurar. Trata-se ao que nos foi dito, de fazer uma passagem para visitantes com dificuldades de locomoção, entre o antigo hospital militar e o claustro da lavagem. Dadas as características da zona, não estamos a ver o que dali poderá saír. Aguardemos pois.


Sendo certo que um dos grandes problemas actuais para quem visita o Convento é aquela ridícula entrada improvisada, sobretudo quando se é obeso, se usam canadianas, ou se anda em cadeira de rodas, há outro e de igual importância. Falamos da falta que fazem as visitas guiadas para todos os visitantes, salvo quando pretendessem andar sozinhos.
Como habitualmente, os responsáveis pelo monumento vão alegar que não têm guias oficiais no quadro de pessoal, que o sindicato dos guias não permite que pessoal não sindicalizado guie visitas (o que é redondamente falso), e que todo o percurso está devidamente explicado em vários painéis descritivos colocados nos locais mais adequados.
Que tais indicações existem, não temos quaisquer dúvidas. A fotografia acima documenta um deles -o da Janela do Capítulo. Que sirvam realmente para alguma coisa, temos as maiores reservas. Na nossa pobre opinião, o autor ou autores de tais textos nunca devem ter estudado pragmática línguística, nem noções de comunicação, nem tipos ou níveis de língua. Se estudaram já se esqueceram. Ou então agiram deliberadamente em conformidade com aquela norma universitária portuguesa, que embora nã escrita muita gente segue -o importante é dizer coisas simples com uma linguagem rebuscada, de forma a alardear erudição. Quanto menos os destinatários das mensagens perceberem, melhor !
Temos assim uma série de textos curtos, numa linguagem que valha-nos Nossa Senhora da Agrela, que não há santa como ela ! Os visitantes que deles precisariam para perceberem o que vêem, não os entendem de todo. Os raros outros que os entendem, esses não precisam de os ler, pois já perceberam o que viram.
Estamos portanto perante mais um caso em que o comum dos mortais será levado a murmurar de si para si -"está muito bem escrito mas não percebi patavina !" E você, com toda a franqueza, que ninguém mais o ouve -Percebe o texto ? Então aqui vai outra proposta para o mesmo local, que nos parece mais de acordo com a generalidade dos visitantes: "A janela do capítulo é a obra prima de Diogo de Arruda e do manuelino, um estilo unicamente português. Foi feita entre 1510 e 1513. A sua ornamentação é composta de elementos naturalistas ligados à epopeia dos descobrimentos. Vêem-se igualmente, em cima, a cruz da Ordem de Cristo, o escudo nacional e as esferas armilares, emblemas do rei D. Manuel.
Na parte de baixo está um marinheiro com uma árvore às costas.
Os contrafortes dos dois lados da fachada, chamados botaréus, representam em parte troncos de árvores. Até vemos as raízes. O da direita está amarrado com um cinto, que é o símbolo da Ordem da Jarreteira. No da esquerda vê-se a cadeia da Ordem do Velo de Ouro."
Que lhe parece a si, que habitualmente lê este blogue ? A sua opinião é importante para nos ajudar a aferir critérios de compreensão do português, como meio de comunicação eficaz entre os portugueses e outros lusófonos.



OLÁ JORGE !


Repara que, por respeito, uso o mesmo estilo da tua última resposta para este modesto blogue, no passado domingo, dia 15. Uma semana antes de nos deixares para sempre neste pântano tomarense, simultaneamente tão acolhedor e tão repelente, que nunca mais será exactamente o mesmo na tua ausência involuntária. Só quando soube da tua última viagem consegui perceber cabalmente a tua derradeira mensagem no Nabantia, horas antes do teu apagamento final. Outro tanto aconteceu com o teu bem humorado texto "Olá Odete!", onde a dada altura dizias que "Já uma vez o Nabantia teve de esclarecer quem NÃO era, até para evitar aborrecimentos injustificados a terceiros." Como eu te entendo agora !
Afinal o Nabantia sempre eras tu e o teu estilo inconfundível, mas não podias admiti-lo, pois a casa onde ganhavas o teu pão não parece apreciar mesmo nada a transparência nem a frontalidade, exactamente as tuas grandes qualidades de homem da direita civilizada.
Entalado entre os teus desejos e as vontades dos outros, a vida terá sido bem dura e demasiado injusta para ti, mas podes agora estar descansado por essas bandas, pois cumpriste plenamente a tua parte e viveste intensamente as tuas quarenta e oito primaveras.

Um grande abraço de muita saudade e até ao nosso reencontro,


Sebastião Barros, Odete das Farturas, António Rebelo

INSÓLITOS TOMARENSES - 11

Tanta tralha para tão pouco coisa. Uma simples grade metálica a vedar a rua, com um só sinal de sentido proibido, não seria mais simples e mais eficaz ? Muito gostam os tomarenses do estilo manuelino ! Quanto mais ornamentação, melhor fica !

INSÓLITO INTERNACIONAL - 1

Os nossos amigos espanhóis têm cada palavra ! Neste recorte do El País de ontem, por exemplo, ficamos a conhecer uma outra categoria de conflitos -"os conflitos mais enconados". Perante isto, uma pessoa não pode deixar de fazer a pergunta óbvia: Onde será que eles foram desenconar tal palavra tão traiçoeira ? Então não se está mesmo a ver, coño, que complicados era muito melhor para qualificar os conflitos europeus ? Manias...

OBRAS HÁ, COORDENAÇÃO É QUE NÃO

Goste-se ou não do governo, goste-se ou não de Sócrates, temos de concordar que procura combater a crise o melhor que pode e sabe. Neste caso, ordenou que se executassem por todo o país OBRAS ÚTEIS em edifícios públicos, como forma de ajudar as empresas a manterem o emprego. É assim que só no Convento há neste momento quatro empreitadas diferentes, a cargo de empresas diferentes. Na fotografia pode ver-se um aspecto das casas de banho públicas, situadas à esquerda, ao fundo e em baixo, de quem entra no terreiro da Porta do Sol. Edificadas nos anos 30 do século passado, estavam fechadas desde 1974. Devido, entre outras causas, a sucessivos actos de vandalismo.

Dado que o conjunto Convento Castelo pertence ao estado desde a sua nacionalização, em 1834, a sua gestão é assegurada a partir de Lisboa pelo IGESPAR-Ministério da Cultura, através de um director residente. Neste momento a direcção é assegurada pela tomarense Iria Caetano, licenciada em germânicas. A autarquia não tem, portanto, nada a ver com o que quer que seja das muralhas para dentro. E com a Mata também não, apesar de ter resolvido, não se sabe a que título, custear parcialmente as obras supérfluas que lá vão ser feitas. A tal ligação cidade- castelo, que já existe há mais de 500 anos, mas que ninguém usa.
Manda a verdade acrescentar que também nunca os nossos autarcas procuraram conseguir a gestão camarária da velha Casa da Ordem ou da sua Cerca Conventual.
Foi nestas condições bizarras, com património da humanidade a ser gerido a 120 quilómetros de distância, quando há representantes legitimados pelo voto livre do povo a 120 metros, que se resolveu proceder ao restauro dos velhos sanitários. Não espantará por isso que haja erros crassos. Acontecer-nos-ia o mesmo se fôssemos nós tomarenses a gerir as obras do Terreiro do Paço.
Na fotografia são visíveis os remendos nas velhas portas. Pergunta singela: Para evitar actos de vandalismo, e outros usos indevidos, não teria sido melhor colocar portas blindadas, com abertura unicamente por cartão magnético, à venda ao lado, numa máquina automática, naturalmente bem protegida e com câmara de vigilância ?


Outro aspecto curioso do projecto de recuperação é a construção de uma espécie de mini-ETAR, para tratar os efluentes dos sanitários. Por outras palavras, umas fossas, como se estivéssemos no campo, longe da rede de esgotos. Acontece que, a pouco mais de 50 metros dali, nas tais obras da ligação cidade-castelo, vão instalar um emissário de esgotos (um colector, se preferem) exactamente para drenar os efluentes conventuais. Porém, dado que as obras do colector são de responsabilidade camarária, enquanto que as destes sanitários são por conta do governo de Lisboa, nem Pedro sabe o que faz Paulo, nem Paulo sabe o que vai fazer Pedro. O que vale é que, por vezes, o acaso resolve muita coisa. Nestas obras das casas de banho, quando se procedia às escavações para a construção das fossas sanitárias, apareceram algumas ruínas, bem visíveis na fotografia.
Agora seguir-se-á, como habitualmente, o desfile de arqueólogos. Uns dirão que são restos do fórum augustano, outros opinarão que não senhor, que são restos de construções da época da ocupação serracena. Com um bocado de sorte até poderá aparecer um especialista a garantir que se trata do "boudoir" de Dª Catarina, mulher de D. João III, irmã da Carlos V e tia de Filipe II de Espanha, Filipe I de Portugal, neto de D. Manuel I...
Quando finalmente se chegar à conclusão lógica de que tudo aquilo não vale um caracol, pelo que se pode continuar a escavar, talvez a autarquia e o IGESPAR já tenham tido tempo para decidir ligar aqueles sanitários ao emissário dos esgotos conventuais, o que dispensará as projectadas fossas. Mas entretanto terá havido patrões e operários beneficiados. Aqueles com lucros, estes com salários, o que é bem bom em tempo de crise.
Sempre fomos assim, pelo que não há muito a fazer enquanto não resolvermos mudar, acompanhando a evolução do mundo. Quando será ?



domingo, 22 de novembro de 2009

VAI SER O PIJAMA-SOLUÇÃO ?

Já aqui foi referido, mas ganha em ser repetido. Em política e em economia, não basta aos eleitos dormir com a história. Têm de a engravidar, sob pena de não cumprirem de forma muito eficiente a sua obrigação. Sucede que, tanto no país como -sobretudo- aqui em Tomar, é o que se sabe. Os anos passam, as eleições sucedem-se, mas a decadência continua, sendo cada vez mais evidente e grave. De tal forma assim é, que em tascas, cafés, casas de pasto e restaurantes do vale nabantino, tornou-se cada vez mais comum ouvir o desabafo amargo "Tanta coisa, tanta promessa, tanta conversa, e afinal não coiso, nem saem de cima". (O vocabulário não é bem este, mas o significado é o mesmo).
Seriamente preocupado com tal estado de coisas, como não podia deixar de ser, Tomar a dianteira tanto procurou que julga ter achado. Um pijama fálico. Feito à mão, obviamente. 100% pura lã virgem, pois claro. Queriam o quê ? Material já usado ? Era o que faltava ! Haja respeito ! E vergonha na cara !
Temos o endereço da rapariga que os faz, desde que a visitem ou lhe enviem as medidas. E não fica nada caro, dada a qualidade do trabalho. Pode ser que com tal ajuda as coisas mudem finalmente para melhor. Mais a mais agora com as temperaturas invernais, o melhor é tomar precauções enquanto é tempo. Os acidentes acontecem quando menos se espera.
Podem crer que não se pretende introduzir a venda do produto, mas antes propiciar posteriores (salvo seja) introduções, resultantes da sua compra e uso. Depois não venham acusar-nos de excesso de críticas e falta de soluções. Não queremos que vos falte nada. Só esperamos não ter de vos substituir um dia, que a idade já não permite. E daí...logo se verá ! O comer e o coçar, o que custa é começar.

AOS ALUNOS DE JORGE FERREIRA NO POLITÉCNICO

Relatam os jornais diários de hoje, (PÚBLICO e DIÁRIO DE NOTÍCIAS), que Jorge Ferreira enviou uma carta de despedida aos seus alunos do IPT. Para recordar a sua memória e o muito que procurou fazer por uma terra que não era a sua, designadamente através do blogue nabantia, pedimos que nos façam chegar o original ou uma reprodução da referida carta. Podem entrar em contacto connosco pelo email lidiarrebelo@gmail.com
Aceitem os nossos antecipados agradecimentos.

António Rebelo

NUMA MANHÃ DE NEVOEIRO...

Neste domingo tipicamente outonal, que acordou baço, como é próprio da estação, Tomar a dianteira resolveu subir uma vez mais a velhinha Calçada de S. Tiago (ou Santiago, na versão espanhola). Rumo ao Castelo e ao Convento. Como mostram as duas fotos, é um espectáculo diferente. Mostra exactamente aquilo que os nossos políticos, tanto locais como nacionais, não querem que saibamos. A maneira como vêem não só a velha Casa da Ordem, mas igualmente tudo o resto, incluindo a actual crise. Tão escondido no nevoeiro mental/conceptual, que nem sequer lhe adivinham os contornos, quanto mais agora a solução.


Daí a grande moda actual em Tomar. Ir proclamando que o nosso futuro está no turismo. Naturalmente com o Convento à cabeça. Pois bem; tal como os sebastianistas, e outros arautos do 5º império, que aguardam a chegada do nosso Salvador, montado num cavalo branco e numa manhã de nevoeiro, aqui temos o maior e melhor património tomarense coberto de nevoeiro. E agora ? Quais são as vossas verdadeiras intenções ? Começar finalmente a ser dignos daquilo que herdaram ? Iniciar agora a nossa cavalgada rumo ao progresso ? Ou continuar a simular o real exercício do poder ? Avançar, inovar, empreender ? Ou aguardar, retardar, dificultar, desculpar, emperrar ? Dormir com a história e engravidá-la ? Ou sair desse leito e dar lugar a outros ? Os tempos não estão para feitios de caracol, ou de tartaruga. Se é que alguma vez estiveram.
Os eleitores nada dizem publicamente, mas sente-se que aguardam obras, pois estão fartos de palavras. E não vão continuar a esperar durante muito mais tempo. Infelizmente, para quem vive da ocupação estática do poder.

sábado, 21 de novembro de 2009

AUTARQUIA SOMA E SEGUE


Já havia o litígio entre a autarquia e a ParqT, por causa do parque e do estacionamento. Já havia o litígio com a construtora espanhola San José, por causa do pavilhão desportivo do ex-estádio. Agora é o litígio com a empresa dos arranjos junto a Santa Maria. O empreiteiro alega que as escavações arqueológicas não estavam incluídas no projecto inicial; a câmara diz o contrário, como é costume da casa. Mais advogados, mais tribunais, mais comissões arbitrais, mais despesas a pagar. Sempre pelos mesmos -todos os que pontualmente pagamos impostos.
Entretanto em Ourém, a autarquia chegou a acordo, em relação a um processo por licenciamento ilegal desencadeado em 1995, pela bagatela de 950 mil euros. Pagos pelos contribuintes, e não pelos autarcas que praticaram a ilegalidade, como devia ser. Mas pelo menos neste caso, o novo presidente da autarquia foi franco. Segundo relata O MIRANTE ON LINE, "Paulo Fonseca não adianta para já uma data para a efectivação do acordo, devido ao "actual momento de completa asfixia financeira da autarquia..." Sendo do conhecimento geral que tanto a autarquia de Ourém como a de Tomar estão a pagar aos fornecedores dez meses após a entrega das mercadorias ou serviços, impõe-se a pergunta -a autarquia nabantina ainda respira bem, ou está a ficar asfixiada como a de Ourém ? É que, como dizia o outro, as mesmas causas, nas mesmas condições exteriores, produzem sempre os mesmos efeitos, e a câmara de Ourém também foi gerida anos a fio pelo PSD. Como a de Tomar. Portanto...

INSÓLITOS TOMARENSES - 10

Três ilustrações à primeira vista sem qualquer relação. No entanto, pensando um bocadinho mais, conclui-se que estão estreitamente ligadas. No nosso entender, claro.
Esta primeira é um exemplo do visceral desprezo pelas leis e pelos outros, que muitos tomarenses gostam de praticar pela calada. Alguns até disso fazem ostentação. Apesar do sinal bem visível de estacionamento proibido, são muitos os veículos ali parados. Os seus proprietários e/ou condutores estão seguros da sua impunidade total. A polícia é pouca, nem sempre bem enquadrada e como se sabe bastante mal paga. Nestas condições, queriam que fossem diligentes e eficazes naquilo que lhes compete ?


Outro aspecto do usual desmazelo tomarense, que neste caso foi secundado pela falta de organização e por actos de vandalismo. Para a requalificação da envolvência da igreja de Santa Maria, o projecto inicial foi, quase de certeza, elaborado "à tomarense", que o mesmo é dizer "em cima do joelho". E aprovado por quem nem sequer o analisou devidamente. Ou nem sequer sabe "ler projectos". Também há autarcas assim. Seja como for, aconteceu que, já para o final das obras, os nossos ilustres representantes (ou pelo menos alguns deles), uma vez substituído o grande Paiva, o infalível, começaram a achar que o terreiro junto a Santa Maria não ficava bem todo coberto de gravilha. Seguiu-se a usual algaraviada, com uns a defenderem a gravilha, outros a calçada de pedra miúda, outros a calçada de paralelos, outros a calçada de cubos, outros ainda lajedo. Tudo "porque sim", como argumentação. O costume por estas bandas. Venceram os do lajedo. Encomendaram-se as lajes, que a câmara ficou de mandar assentar, porque não faziam parte do projecto adjudicado. Vieram as lajes, foram deixadas ao ar livre, junto à velha torre sineira, que já viu muita coisa mas é muda. Os habituais vândalos de serviço terão esfregado as mãos de contentes e partiram a maior parte delas. Nova encomenda de lajes e entrega das mesmas. Concluíu-se então, ali nos Paços do Concelho, que para o transporte e assentamento era necessário uma máquina, que a autarquia não tinha (ou a que tinha estava avariada). Coidados dos construtores do castelo e do convento. Foram forçados a edificar tudo aquilo sem máquinas. Apenas com carros de bois, para o transporte. Finalmente lá apareceu a máquina nova. Começou o assentamento, com aquele problema das juntas de dilatação, entretanto resolvido com a compra de uns centos de "cruzetas", como convinha. Agora parece ir tudo bem, até que surjam novos episódios da saga tomarense. Que não vão tardar. Os responsáveis pelo POLIS, decorrido tão pouco tempo, já se lastimam que os tais vândalos de serviço (ou outros, pouco importa) destruíram ou avariaram até agora cerca de 150 "bicos de rega". Em tão pouco tempo, até causa admiração como tiveram coragem para tanto trabalho, em prol da comunidade à qual pertencem. São umas máquinas, alguns jovens actuais.

É no viveiro de sumidades e raridades cívicas que temos vindo a procurar caraterizar, que apareceu este comentário. Embora anónimo, não é difícil identificar a sua autoria. O estilo é 100% tomarense e as ideias alinhadas são como aquele algodão do anúncio televisivo -não enganam ninguém. Trata-se naturalmente de um eleito, agastado com os palermas dos analistas e críticos locais. Se nós, os eleitos, não lhes ligamos importância nenhuma, porque será que continuam a perder tempo com coisas que não lhes dizem respeito ?!
Donde a frase "É uma pena que percam tempo com disparates", maneira encapotada e polida de solicitar aos visados que façam o favor de deixar de tentar arranhar as partes baixas de quem procura cumprir o seu mandato com um mínimo de sobressaltos.
Segue-se o habitual estilo tomarense de politicar: "A Festa dos Tabuleiros e as evocações históricas do Concelho podem não ser a principal questão, mas que o seu desenvolvimento é de grande relevo para o futuro de todos nós, disso ninguém duvide." Resumidamente: ainda que pudessem ter alguma razão, não vos adianta, porque eu afirmo que é assim e assim será. Porque sim !
Ganda povo ! Gandas políticos ! Por isso estamos como estamos. E com evidente tendência para acelerar o descalabro. Até quando ?

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

AFINAL QUE OBRAS VÃO FAZER ALI ?




As ilustrações mostram três aspectos da fachada norte do coro manuelino do Convento de Cristo, com andaimes e a identificação de uma empresa de restauro do património. Vai haver obras ? Quais ? Qual a sua justificação e o seu valor ? Os contribuintes tomarenses não têm o direito de saber o que se vai ali passar ? A autarquia, que é a autoridade local, sabe algo sobre esta matéria ? O IGESPAR não poderia emitir um comunicado a esclarecer os muitos admiradores e defensores da velha Casa da Ordem ? Afinal estamos na Europa, ou numa qualquer savana africana ?


INSÓLITOS TOMARENSES 9

Mais uma ida pedestre para os lados do Convento, proporcionou esta magnífica imagem. Numa altura em que a autarquia adjudicou as obras de melhoramento da ligação cidade/castelo através da Mata, praticamente desconhecida dos turistas, a multicentenária Calçada de S. Tiago, muito utilizada pelos ditos, está belíssima. Agora até já tem espaços verdes. É o progresso.
Cabe recordar que, quer queiramos ou não, a referida calçada integra a rede europeia dos caminhos de Santiago. Depois admiram-se quando Bruxelas demonstra não ter grande consideração por nós. Com estes exemplos, não admira.

Com aquela maneira muito portuguesa de apreciar os detalhes mas nunca o conjunto, enquanto há mais de cem anos que ninguém se preocupa com a Calçada de S. Tiago, o principal e mais curto acesso pedonal ao Convento, desde finais dos anos oitenta do século passado que começou a circular a ideia de lavar a Janela do Capítulo (eles dizem limpar, mas é de lavar que se trata realmente). Quem gosta sinceramente da janela e a conhece bem desde há mais de 50 anos, nunca percebeu porquê, embora perceba muito bem para quê. Estas tarefas extremamente delicadas são sempre lautamente pagas.
Acontece todavia que, tal como está, a obra-prima de Diogo de Arruda já durou 500 anos. Com os poros do calcário tapados por musgos e líquenes, que a têm protegido das chuvas ácidas. Será prudente remover essa pretensa "sujidade" ? Por outro lado, a obra é mais autêntica e expressiva ostentando a "patine" de cinco séculos, ou com aspecto de concluída há duas semanas ? Cuidado com as imprudências, que poderemos vir a pagar com língua de palmo, como diz o povo. O óptimo sempre foi inimigo do bom e nunca por aqui se ouviu algum turista a queixar-se da "sujidade" da janela. Eles lá sabem porquê.

Capazes de prever o futuro, mesmo a muito longo prazo, foram os arquitectos de D. Manuel primeiro, enquanto mestre da Ordem de Cristo. Entre 1509 e 1515 projectaram e executaram o expoente máximo da arte manuelina, rematado em baixo por este conjunto. Farto de arcar com o peso dos impostos, aqui representados pela árvore do poder, cujas raízes são cada vez mais vorazes, o nosso compatriota marinheiro olha para o largo, à procura de céu mais clemente. Mais precisamente para noroeste. Como ele sabia que a então desconhecida América do Norte era naquela direcção. Ele há coisas...

IPT:UMA MENSAGEM CORAJOSA MAS TARDIA

Foto O Mirante
Foi uma intervenção corajosa, a de Pires da Silva na abertura do ano lectivo do IPT. Infelizmente para todos, foi igualmente demasiado tardia. O actual presidente do politécnico tomarense tem razão. O mundo está em mudança constante e o ritmo da mudança aumenta de dia para dia. O que implica uma adaptação permanente, sob pena de se ficar irremediavelmente para trás. Darwin foi explícito -na constante selecção das espécies, só os mais aptos em cada momento conseguem sobreviver.
Afirmar, por exemplo, que os professores "terão que voltar a aprender, a aprender a ensinar, e terão de ensinar matérias que hoje nem sequer conhecem", fica muito bem num discurso em ambiente académico. Mas é só fogo de vista numa instituição que teve todas as condições para singrar, no tempo das vacas gordas, e as desperdiçou uma a uma.
O recrutamento, tanto de professores como de funcionários, sobretudo aquele, sempre foi opaco e pouco ou nada respeitador da igualdade de oportunidades. Raramente ou nunca as reais e documentas competências académicas foram o factor decisivo, ou sequer importante. Sempre contaram mais a família, os amigos, a orientação política implícita, o conformismo. Resultado: o IPT tem hoje um corpo docente cuja competência ou sequer adaptação ao mundo actual não são seguramente as principais características. A maioria nunca foi além da licenciatura, a começar pelo próprio Pires da Silva. Nunca teve qualquer preparação pedagógica. Em muitos casos nunca tinha leccionado antes de ser contratado pelo IPT. Há até situações conhecidas de docentes, agora com lugares de coordenação de nomeação definitiva, que nunca conseguiram "alinhar" uma aula capaz no ensino básico. Já para não falar na falta que fazem mestres e/doutores, graduados por universidades dignas dessa designação.
Quanto às "formações" que o IPT procura assegurar, é evidente que não basta agrupar anualmente disciplinas de acordo com as disponibilidades da casa, leccionadas por docentes impreparados. Os alunos "sentem" isso mesmo e vão transmitindo uns aos outros a sua insatisfação, de tal modo que apenas vai ficando aquilo que um deles classificou com uma expressão certeira -"o refugo do refugo". Os outros, uma vez assimilado "o que a casa gasta", procuram pôr-se a milhas o mais rapidamente possível.
É neste quadro que Pires da Silva diz pretender agora instalar hábitos sãos de modernidade. Como, porém, inculcar hábitos de mudança permanente em gente mal preparada academicamente, que por isso mesmo nunca sequer aprendeu a aprender, que é uma tarefa árdua e permanente ? Quando se guindou à presidência daquela instituição, agora seriamente corroída pelo descrédito, o autor do discurso já citado devia ter parafraseado a célebre tirada de Groucho Marx - "Eu nunca aceitaria presidir a uma instituição que me aceitasse como presidente". Agora é bem capaz de já ser demasiado tarde. Oxalá que não, mas os hábitos são obstinados. Quando se tentam abandonar, regressam logo a galope.