domingo, 15 de agosto de 2010

FRANÇA CONTINUA A EXPULSAR CIGANOS ROMENOS

Ciganos romenos expulsos de um acampamento ilegal há uma semana aguardam num parque de estacionamento de Saint-Étienne.

"GOVERNO FRANCÊS ACELERA EVACUAÇÃO DOS ACAMPAMENTOS ILEGAIS DE CIGANOS ROMENOS.
Cerca de 700 pessoas foram desalojadas pela força nos últimos quinze dias, mas o respectivo regresso à Roménia continua a ser incerto".

Desde o anúncio há quinze dias do endurecimento da política oficial contra os ciganos romenos, instalados em acampamentos ilegais, ou em casas ocupadas, as autoridades procederam a cerca de quarenta desmantelamentos, expulsando 700 adultos e crianças, segundo o primeiro balanço do ministério do interior, tornado público em 12 de Agosto. Esta estimativa foi confirmada pela ONG RomEuropa, que menciona um "incremento significativo" das evacuações nos últimos quinze dias.
Houve evacuações forçadas em Saint-Étienne, Lattes, Montpellier, Lesquin, Choisy-le-Roi... A ONG Médicos do Mundo menciona igualmente expulsões em Marselha, Lyon e Bordéus. Dezenas de outros desmantelamentos estão já previstos para as próximas semanas. Serão liderados pelos governos civis (prefeituras), aos quais o governo fixou como objectivo a destruição de 300 dos mais de 600 acampamentos ou ocupações ilegais, até ao fim de Outubro. Esta política resulta do plano de acção anunciado no passado dia 28 de Julho, após o ataque a um quartel da GNR (gendarmerie) por ciganos, em Saint-Aignan (Loir-et-Cher). "Dei instruções rigorosas aos governadores civis (prefeitos) para acabarem com essas situações intoleráveis", declarou na quinta-feira passada o ministro do interior, Brice-Hortefeux.
Tais evacuações ocorrem na sequência de decisões dos tribunais judiciais, pronunciadas após queixas apresentadas pelos proprietários dos edifícios ou terrenos ocupados ilegalmente. Em Montpellier, foi a Universidade que apresentou queixa, em relação a um dos seus edifícios. Em Lattes tratava-se de uma propriedade privada. Em Saint-Étienne é a câmara PS que apoia as evacuações invocando "problemas repetidos" de vizinhança, que resultaram em "numerosas queixas". Em Lesquin, o governo civil decidiu intervir logo que "teve conhecimento da ocupação ilegal de um baldio, condenada por uma decisão judicial. Alguns autarcas voluntariaram-se para beneficiar do plano governamental de expulsões. " Como eleito de esquerda e tendo em vista a salubridade e a segurança dos cidadãos, solicito a evaquação e expulsão dos ciganos romenos o mais rapidamente possível", explicou-nos o presidente da câmara (maire) de Carrières-sous-Poissy (arredores de Paris), Eddy Aït.
No seu comunicado inicial, a presidência da república indicava que as evacuações se referiam aos acampamentos ilegais dos "nómadas" ("gens du voyage"), de nacionalidade francesa, que têm o direito de utilizar os campos de acolhimento, e os ciganos romenos (Roms), de nacionalidade estrangeira, que estão proibidos de os utilizar. Na realidade, as recentes operações de evacuação e desmantelamento parecem dirigidas unicamente contra os ciganos romenos. Aquando da sua declaração de 12 de Agosto, o ministro do interior mencionou unicamente os "acampamentos de ciganos romenos instalados ilegalmente em território nacional".
O impacto concreto das expulsões é difícil de avaliar. O ministro do interior anunciou um número elevado de expulsões de ciganos para os seus países de origem (sobretudo para a Roménia, e uma minoria para a Bulgária). Ainda de acordo com o ministro, as 40 primeiras evacuações deveriam provocar 700 saídas do território francês nos próximos 30 dias. Tendo em conta o princípio da livre circulação na União Europeia, apenas dois procedimentos podem ser usados: a "ajuda ao retorno", de 300 euros por adulto e 100 por criança, ou a obrigatoriedade de abandonar o território francês, que diz respeito unicamente aos ciganos romenos, instalados em França há mais de três meses e que não disponham de "recursos suficientes".
A proporção de ciganos romenos que pedem a ajuda ao retorno é muito reduzida. Em Saint-Étienne, onde se efectuou a primeira operação de evacuação, em 6 de Agosto, só cerca de 40 pessoas, das 130 que habitavam o acampamento desmantelado, aceitaram os prémios e o retorno à Roménia ou à Bulgária. Em Choisy-le-Roi, cujo acampamento foi evacuado pela força em 12 de Agosto, apenas 9 dos 79 adultos aceitaram a ajuda ao retorno. De qualquer maneira, as famílias que receberam a ajuda ao retorno podem regressar a França sem qualquer impedimento, em virtude do princípio da livre circulação de pessoas e bens.
Por outro lado, nada garante que os ciganos romenos, intimados a abandonar o território francês
por decisão dos governadores civis, venham a cumprir essas determinações. Para já, a maior parte das famílias evacuadas instalou-se noutros acampamentos ilegais. "É o eterno recomeço, diz-nos com tristeza Michèle Mézard, dos Médicos do Mundo. "Não lhes dão qualquer alternativa, deixam-nas na rua, por isso se vão instalar logo noutros terrenos mais afastados."
As expulsões efectivas de ciganos romenos serão assim menos importantes que o previsto, o que não impedirá o ministro do interior de contabilizar o desmantelamento de acampamentos ilegais, quando estes afinal foram apenas deslocados pela força. "Trata-se do chamado "efeito de anúncio". A realidade não muda, desloca-se", resumiu Malik Salemkour, dirigente da ONG RomEurope."

Luc Bronner - Le Monde
Tradaptação de António Rebelo -Tomar a dianteira.blogspot.com

4 comentários:

Anónimo disse...

É...a economia, estúpidos. Quando começa a faltar para os indígenas, quem paga são os forasteiros...é a vidinha.

Anónimo disse...

Não podemos contratar o Sarkozy por um ano?

Anónimo disse...

Os romenos são cidadãos da U.E.
E os ciganos romenos?

Anónimo disse...

60 por cento da população romena é de etnia cigana. Daí o nome.
Não há muito tempo a cantora Madonna actuou na Roménia e deu-lhe uma de libertária da nação Rom e vai daí começou a defender a integração dos ciganos na sociedade romena. O concerto praticamente terminou aí e só não acabou em tumultos por milagre...
Por aqui se vê a aceitação que a etnia cigana tem por aquelas bandas.