terça-feira, 10 de agosto de 2010

OS BONS VELHOS TEMPOS ?!

Apoiando uma afirmação deste vosso humilde escriba de serviço, um leitor enviou-nos um comentário com este começo: "Essa é que é a verdade meus caros e por isso Rebelo chegou onde chegou -agora não existem oportunidades dignas como no tempo dele." (Tomar a dianteira, 09/08/10, 14:23 "Ciganos expulsos...")
Dado que tal afirmação cheira a saudade dos bons velhos tempos, que afinal não foram nada bons, seguem-se algumas fotos, em primeira publicação, e considerações rápidas sobre os ditos tempos.
Mpala o Novo, (60 Kms a sul de Nóqui), Norte de Angola, 1964. Em operações, nem os sargentos nem os oficiais usavam qualquer sinal que os identificasse, por razões óbvias.

Em pleno capim, durante a ida para uma operação. Este vosso servidor é aquele palito em cima à esquerda, com a mão direita no quadril.

O aquartelamento de Mpala, ainda em construção. À esquerda as barracas de lona, ou cobertas de zinco,onde dormíamos. Ao meio uma caserna de madeira, em construção. À direita o duche, com escada para abastecimento de água...e para ver se havia, antes de começar!

Em pleno capim, cuidar das sepulturas dos camaradas de armas que foram ceifados. Para que mais tarde outros nos façam o mesmo, se for necessário...

Em linguagem rápida, para não massacrar, os "bons velhos tempos" foram os da fome, do frio e da falta de conforto. A época da "miséria envergonhada" e da "miséria engravatada". Passava-se mal, mas tentava-se disfarçar. Não adiantava -nem era bem visto- queixar-se. Alojamentos sem casa de banho, não havia jardins de infância. Ia-se para a escola primária aos 7 anos. Meninos para uma escola, meninas para a outra. Meninos remediados de bata branca, como o professor; meninos necessitados, de bata azul e branca, aos quadadrinhos. Quem é que murmurou aí "discriminação"? Pedagogia da reguada. Nos ditados, por cada erro três "bolachas".
Depois da escola, ia-se apanhar azeitona do chão, que depois se vendia no ferro-velho do Largo do Pelourinho. 2 escudos (1 cêntimo) o quilo! Uma fortuna, quando um par de botas de atanado e pneu por baixo se comprava no mercado semanal, nos degraus da Câmara, por 60 escudos (30 cêntimos). E um copo de leite + uma sandes de fiambre, no Café Trasmontano, ao fundo da Rua da Graça, custava 4 escudos, com manteiga, ou 3 e meio sem. (2 cêntimos, ou 1,75 êntimos)
À tarde, as empregadas domésticas, com os seus aventais de peitilho, iam à escola, durante o recreio, levar umas sandes aos meninos "da alta", que ficavam logo sem elas, levadas pelos necessitados. Eram uma delícia! Fiambre com manteiga e pão fino, imaginem!
Bichas para o racionamento, a partir das 5 da manhã, para "apanhar a vez", na Praça da República: Batatas, arroz, feijão, grão, azeite, massa, açúcar, etc, só por senhas de racionamento, e enquanto havia.
Após a quarta classe, exames de admissão: Meninos remediados iam para o Colégio, que era pago, onde podiam seguir os estudos secundários, indo depois fazer os exames nacionais a Santarém. Os meninos necessitados mais "espevitados" iam para cursos técnicos, na Jácome Ratton (carpinteiros, marceneiros, serralheiros, electricistas, comércio), ali ao fundo da Rua dos Arcos. A maior parte ia logo trabalhar, "aprender um ofício". Quem escreve estas linhas foi para o comércio. À noite, porque de dia trabalhava na Comissão de Turismo, como moço de recados.
Censura, PIDE, filmes para 13 e para 18 anos. Só mais tarde apareceu a televisão a preto e branco, que íamos ver aos cafés. Em casa praticamente ninguém tinha. Era demasiado cara (cerca de 13 contos = 65 euros). Havia bailaricos e namoricos, da rua para a janela do 1º andar. E as "meninas", na Rua de Pedro Dias, o alcouce da cidade. Eram umas doze. 20 escudos (10 cêntimos), a despachar. 10 escudos à tarde, na Adelaide Barca d'Água, que fazia três em um: abria as pernas, ia comendo tremoços e ouvia o romance do Tide na rádio. Tudo em simultâneo. Tinham as melhores casas de banho da cidade, porque foram obrigadas a isso.
Fronteira rigorosamente guardada. Passaportes só para alguns, mediante uma prática infalível. Em Santarém: "Não temos qualquer problema em conceder-lhe o passaporte, desde que nos traga uma licença militar." Em Leiria, no quartel: "Para lhe concedermos uma licença militar, tem que nos trazer o seu passaporte." Por isso, centenas de milhares de cidadãos passaram para Espanha "a salto" e daí para França, Luxemburgo, Bélgica, Alemanha, Suécia. Votaram com os pés. Fizeram das botas passaporte. As senhoras não tinham direito a passaporte, só podiam figurar no do marido, carecendo da autorização deste para poderem sair do país sozinhas.
Realmente, nos bons velhos tempos, eram só facilidades... Não eram? Nem se percebe porque é que os capitães fizeram o 25 de Abril...

11 comentários:

Anónimo disse...

Ó Sr. Dr. Rebelo ex-camarada de armas na guerra colonial (em colónias e datas diferentes) esta mocidade nova (como dizia o ouro!) não sabe da missa a metade.
Já conheceram um outro País, que foi equilibrado nos anos após o 25 de Abril, mais europeu, mais moderno, com mais facilidades.
Infelizmente estes últimos governos dos socialeiros e dos laranjeiros deram cabo disto e, na realidade os jovens têm poucas oportunidades de trabalho compatível.
Escalpelizar as razões demorava imenso e levava-nos muito longe.
No que se refere ao ensino (principalmente até à universidade) as diferenças são radicais, para muitissimo melhor e pior!
É oportuno referir que na aldeia mesmo os mais abastados (ou menos carentes) não tinham as facilidades dos meninos das cidades.
Iam a pé para a escola com a sacola, comiam na escola e repartiam com os carentes, não tinham fardamento - tinham a roupa que os pais, uns e a caridade outros, lhe davam.
Havia bastante fraternidade e solidariedade entre esses meninos.
Depois os mais abastados tinham de ir para a cidade -uns para o liceu, outros para a escola comercial e industrial - porque os estudos acabavam ali na 4ª classe.
Muitos iam de camionete, levantavam-se de madrugada e seguiam para a cidade. Alguns ficavam lá em quartos alugados e só voltavam a casa no fim da semana e outros andavam para um lado e para o outro.
Era difícil a vida no campo, mas saudáveis os ares e as gentesl
Hoje os modernaços querem acabar de vez com a vida rural e colocar as pessoas em grandes espaços urbanos.
Mas note, quando "fechar" o campo a cidade não fica melhor e entra em decadência.

Anónimo disse...

Que saudades... da revolução de abril!

Anónimo disse...

VOU A BANHOS E SOL MAS VOLTO E SE NÃO VOLTAR ESTOU FELIZ POIS SERVI O PAÍS, A MINHA TERRA E A MIM PRÓPRIO.
É UM ATÉ JÁ. ESPERO QUE NADA ME ACONTEÇA DE RUIM. AOS MEUS FANS E ADMIRADORES BOAS FÉRIAS E SAUDAÇÕES BLOGUISTAS.

MEGA MASSA PRO!

Anónimo disse...

Esta malta sempre presa ao passado, não vive o presente e condiciona o futuro! :) Aconselho a todos a fazer umas ferias pedagógicas e antropológicas na Idanha a nova de 18 a 26 de Agosto de modo a expandir os horizontes e as mentalidades.

Abraços e Bjinhos

Anónimo disse...

Pf leve o MMP para a Idanha.
Talvez os ares campestres serranos lhe façam bem aos ovários e aprenda alguma coisa.
Mas, não o deixem regressar, porque já há muita poluição!!!!!!!!!!

Anónimo disse...

Eu considero-me uma pessoa ainda muito jovem (30 anos) e ás vezes irrita-me a apatia das pessoas, o "deixar andar", o desleixo, que olhando para a vida que o meu pai ou o meu avô tiveram, fico apreeensivo. Hoje em dia tudo é muito mais facilitado, a nossa qualidade de vida é muito superior, somos livres, temos casa, carro, não temos guerra e alguns de nós até têm emprego:-).
Os problemas que a malta da minha geração têm são mesmo a falta de emprego e de organizar a vida! Agora bons tempos axo k são mesmo estes em que vivemos, no entanto penso k a pouco e pouco tudo parece piorar!!! Espero não ter que passar necessidades como havia nos "velhos tempos"

Anónimo disse...

Então e onde é que faziam as necessidades?

Unknown disse...

Havia umas latrinas do outro lado da picada/estrada. Uma vala com cerca de 10 metros de comprido, um de fundo e meio de largura, com tábuas a atravessar, para pôr os pés. Quando começava a cheirar demasiado mal, tapava-se e abria-se outra. A chamada latrina colectiva, como no tempo dos romanos.

Anónimo disse...

Uma conversa ao nível... Sim senhor!

Unknown disse...

Para 23:43

Está equivocado: Mpala fica num planalto, a cerda de 400 metros de altitude. Portanto, as latrinas estavam muito acima do nível geral do vale do Nabâo!

Anónimo disse...

...e no entanto os tempos de antanho até tinham coisas boas. Havia lá fedelho de doze anos a espancar a professora na sala de aula? Ou a maezinha dele a invadir a escola e a desatar à estalada a tudo o que mexesse? Ou o vadiola a dedicar a noite ao vandalismo sobre os bens da comunidade? Havia lá autarca que fizesse dos jardins públicos lixeira? Era logo corrido pelo governador civil!
E os ciganos? Mal viam o rabo do cavalo do GNR a matar moscas atrantava logo tudo para cima da carroça e ála que se faz tarde!
E a cidade...sim, cidade de Tomar, conhecida pelo perfume das suas flores e jardins, que era conhecida também pela limpeza das suas ruas! E nesse tempo não havia CE, nem euro, nem QREN, nem PDM, nem essa panóplia de organizações com siglas muito pomposas que só servem para dar tachos a imbecis e incompetentes...
Ah, mas esses tempos eram um atraso de vida! Agora é que é bom, tudo modernaço, à moda do Mega Mass Pro...