Martina, uma jovem de 19 anos, natural e residente em Roma, está radiante. Acaba de concluir com êxito o 12º ano de Latim/Grego, e dá aulas de natação para crianças, num centro desportivo da capital italiana. Já tinha dado as mesmas aulas no anterior, com tanto entusiasmo que a voltaram a chamar, oferecendo-lhe um contrato para todo o verão. Foi assim que Martina descobriu a sua vocação e prepara agora o exame de admissão ao Instituto Superior de Educação Física. Algo inquieta, é verdade, mas sem angústia quanto ao seu futuro profissional.
Martina é uma excepção. Não faz parte do imenso exército de mais de dois milhões de jovens italianos, dos 15 aos 29 anos, que nem estudam, nem trabalham, nem adquirem qualquer formação profissional. Que não fazem nada, em suma. Pelo menos oficialmente. Em Inglaterra chamam-lhes os "Neet" (Not in education, employment or training). Os italianos preferem a designação "bamboccioni", os "bébés-adultos". Uma expressão lançada há dois anos por um ex-ministro da Economia, Tommaso Padoa-Schioppa, irritado com esta multitudinária camada de jovens que vivem com a mamã, aparentemente incapazes de voar com as suas próprias asas.
O fenómeno expande-se cada vez mais por toda a Europa. Mas a Itália é recordista. Um quinto dos jovens entre 15 e 29 anos, o dobro da média europeia, continuam na casa materna. E os que estudam ou trabalham, mas continuam a viver em casa dos pais, são ainda mais numerosos: 60% dos jovens entre os 18 e os 34 anos. Observa-se, porém, uma diferença em relação ao passado recente -A maior parte estão ansiosos para abandonar o ninho familiar, mas não têm meios materiais para isso.
Cláudio, por exemplo, sonha abandonar o alojamento de porteira, no qual vive com a sua mãe e um irmão mais novo, em 30 metros quadrados sombrios, onde pode ser visto com frequência à frente do computador. "Procuro trabalho na Internet!", disse-nos. Cláudio não é um bébé-adulto. Tem um emprego num "call-center", onde trabalha entre 4 e 6 horas diárias. "É difícil fazer mais. Torna-se extenuante. 180 contactos em 4 horas." Quando tudo corre bem e consegue um novo assinante para a empresa de telecomunicações onde trabalha, consegue arrecadar 500, ou mesmo 600 euros mensais. O custo da renda mensal de um quarto, em Roma.
Desde que conseguiu o certificado de contabilista, já lá vão 10 anos, Cláudio já teve muitos empregos: administrativo numa empresa de combustíveis, que foi privatizada e o despediu; vendedor num supermercado, que lhe pagava "por baixo da mesa"; durou pouco tempo, porque faliu e fechou; representante de máquinas de café. Obrigaram-no a pagar a máquina para usar nas demonstrações... e desapareceram. Era uma vigarice. "Não há qualquer esperança!", exclama resignado este bébé-adulto contra a sua vontade.
Em 2009, havia em Itália mais 126 mil jovens fora do sistema educativo, em relação ao ano anterior. Jovens sem emprego nem formação profissional. Mais preocupante ainda, enquanto que até agora os jovens desempregados eram mais numerosos no sul da Itália, agora é o norte, a parte mais rica e industrializada que conta maior percentagem de desempregados. Sobretudo jovens que já tiveram um emprego e que foram despedidos. Trata-se portanto de uma consequência directa da actual crise económica, que o governo tende a minimizar. De acordo com as estatísticas mais recentes, a crise atinge em primeiro lugar os jovens, com uma taxa de desemprego de 29,2%, quando a média nacional é de 8,7%.
"A crise existe e de que maneira! Não há trabalho! Os restaurantes não contratam; despedem pessoal!" Constata, desiludida, Lina, 20 anos, diplomada de uma escola de cozinha desde o ano passado. Após voltas e mais voltas, tudo para nada, vai-se contentando com algumas horas de guarda de crianças. Quando há! Mas não perde a esperança. Uma amiga talvez tenha encontrado uma oportunidade de trabalho para ambas, na Alemanha. "É a única solução, sabe?! Abandonar este país!" Ela pelo menos está convencida disso, e dá exemplos de amigos e conhecidos mais velhos. "Um belo dia o Giulio foi-se para Londres, com um dicionário de inglês. Encontrou logo emprego e alojamento. Regressou a Roma só para levar outro dicionário, e marchou para Espanha. Mas para ir-se embora é preciso dinheiro, que eu não tenho", afirma Lina, consciente da necessidade de continuar a sua formação profissional, ainda insuficiente. O problema é que os cursos de formação profissional são caros e os pais não podem continuar a desembolsar mil euros mensais. Está sem horizonte. Sem estudos (avançados, de preferência), não há trabalho. Sem trabalho não há dinheiro. Sem dinheiro não há estudos. Que fazer então? "Vou para a Alemanha!".
Sem o saber, Lina repete o discurso dos sociólogos italianos. Franco Ferrarotti, por exemplo, constata que "A única esperança para a juventude italiana, com ou sem diploma, é a emigração." Como já fizeram numerosos universiários de alto nível, que agora ensinam e investigam em universidades estrangeiras. Segundo Giorgio Quadrini, que dirige um centro desportivo para jovens, em Roma, num bairro da classe média, a actual crise não é a única causa. "Entre os jovens que frequentam este centro, há muitos que continuam a viver em casa dos pais porque, sabendo como é difícil enfrentar o mundo do trabalho, vão adiando o mais possível esse momento fatídico. É por isso que se vão inscrevendo na universidade, e não porque os estudos lhes interessem realmente. Aliás, acabam por nem sequer ir às aulas." Mas porquê tanto desinteresse? "Provavelmente porque não foram educados como deve ser, nem em casa, nem na escola. Os pais têm medo de os repreender, as famílias há muito que abdicaram dos seus valores. Os professores não tiveram formação adequada, nem se apaixonam por aquilo que fazem. Quanto ao ensino em geral, está completamente desligado do mundo laboral."
Um estudo recente da OCDE revela realmente que em Itália os alunos se situam nitidamente abaixo da média europeia, em termos de aproveitamento escolar. "E no entanto é tão fácil motivar os jovens, que não pedem outra coisa", assevera-nos Giorgio, que organiza cursos de formação para monitores de crianças. Este ano, entre os 80 jovens dos 16 aos 25 anos que os frequentaram, alguns descobriram uma vocação e compreenderam que podiam continuar a estudar, na área desportiva ou pedagógica. Exactamente o que aconteceu com a Martina.
É claro que nem todos os jovens italianos são bébés-adultos. Mas a própria justiça parece encorajá-los nessa direcção. Ainda recentemente o tribunal de Bérgamo (Lombardia), condenou um artesão de 60 anos a pagar uma mensalidade à filha, de 32 anos, inscrita na universidade, mas que não frequenta as aulas desde há anos...
Vanja Luksic/L'Express
Tradaptação A. Rebelo/Tomar a dianteira
4 comentários:
BOA CÓPIA REBELO.
ITÁLIA, GRÉCIA E PORTUGAL SÃO O ESPELHO DA POLÍTICA - UM NOJO. SÓ A ESPANHA SE SAFA POIS TÊM OS REIS QUE DÃO ELEVAÇÃO E NOBREZA À POLÍTICA E SOCIEDADE.
MEGA MASSA PRO!
Esta é a realidade de uma geração que está "tapada" por varias outras que não lhes permitem desenvolverem-se.
Alguem acha normal que um licenciado ou mestre actual, com 25 anos por exemplo, só consiga um trabalho, mesmo na sua área de formação a ganhar 700€ por mês, quando temos muitos com 40-50 anos, com muito pouco mais do que o 9 ano, em profissões com menor complexidade técnico a ganhar 1000-1200€ por mês?
Esta é a realidade hoje em dia, em Portugal e que naturalmente cria uma verdadeira revolta social.
Geração dos licenciados Continente/Modelo/Belmiro ou call center.
Apesar de tudo ainda lhes arranjam algum trabalhito (a baixo soldo) e gabam-se disso.
Mas há uma alternativa, difícil é certo, o estrangeiro!!!!
Os novos emigrantes muitíssimo mais letrados que os da década de 60 do século passado.
Portugal sempre madrasto para os seus!!!!!!
Por cá também começamos a ter destes "filhos mandriões". E se não são mais é pelo facto de ainda não terem percebido que o futuro deles será mesmo uma grande "merd...".
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