sexta-feira, 6 de agosto de 2010

CIGANOS E GACHÓS: OLHAR PARA AMBAS AS PARTES

Este comentário, que nos foi oportunamente enviado, usa uma linguagem polida, escorreita, e bem urdida, respeitando estritamente o contexto. Por isso foi publicado, apesar de não concordarmos com as suas posições subjacentes. Se, porém, fôssemos a publicar unicamente as opiniões com as quais temos afinidades, então mais valia não ter blogue.
O principal óbice desta tomada de posição, parece-nos, é que parte de um apriorismo, que depois procura justificar com alguns factos reais, e outras tantas suposições. O apriorismo, salvo melhor e mais fundamentada opinião é este: "Os ciganos não prestam, são irrecuperáveis porque não se querem integrar, pelo que só nos resta correr com eles quanto antes." Por isso aparece a interrogação final, extremamente perigosa, sobretudo nestes tempos de crise, propícios para designar bodes expiatórios: "Aliás, temos ou não o direito ao repúdio quando há motivo para isso?"
A nossa resposta é categórica e definitiva: Não; não temos. A constituição não reconhece tal direito, o código civil ou penal tão pouco. Acresce que, em conformidade com as normas europeias, somos todos iguais perante a lei e com idênticos direitos e deveres de cidadania nos respectivos países, não estando previsto seja onde for que possa ser privado dos seus direitos quem não cumprir os seus deveres. Porque se fôssemos por aí...
Num espírito aberto e dialogante, tendo em vista o melhor para todos os membros da comunidade tomarense, vamos agora às respostas que o comentário infra merece.

1 - "É um mal endémico de Tomar: falar sem absoluto conhecimento de causa."
Parece-nos que há realmente esse mal endémico, que tem até uma outra faceta -A presunção de que se é capaz de fazer seja o que for, incluindo dominar qualquer assunto ou solucionar qualquer problema, por mais complexo que seja. A nossa câmara tem sido e vai continuar a ser um excelente mostruário, mas não o único, do que se acaba de afirmar. Meteram-se e metem-se amiúde em camisas de onze varas, quando nem para as de metade têm capacidade, como está à vista de todos. Dito isto, "absoluto conhecimento de causa" é um evidente excesso de linguagem, com algo de extremista. Porque não nos parece que exista tal coisa. Tudo é relativo, como disse o outro. Em termos de conhecimento então, nem vale a pena termos ilusões. Quanto mais aprendemos, mais há sempre para aprender.
2 - "Compreendo e desculpo as opiniões do António Rebelo." Fico-lhe muito agradecido, não podendo todavia deixar de lhe retorquir o seguinte: É livre de compreender = perceber + aceitar as opiniões alheias, nos limites da sua capacidade intelectual. Não pode, porém, arrogar-se o direito de desculpar, que implica a ideia implícita de haver culpa prévia. Sucede que não há, de forma alguma. A Constituição e a Lei concedem a cada cidadão liberdade de pensamento e liberdade de expressão, pelo que no seu exercício só pode haver culpa quando se recorra à mentira, com intuito de daí retirar benefício, prejudicando intencionalmente alguém. Não é, manifestamente, o caso, pelo que não tem que me desculpar ou não, nem tão pouco arrogar-se um direito que nada nem ninguém lhe concedeu.
3 - "Será que estamos todos errados na maneira como vemos a comunidade cigana? Ou será que eles não perdem uma oportunidade para se fazerem repudiar?"
Lamento dizer-lho assim de chofre, mas estão errados sim senhor, todos os que eventualmente pensam como você. Do meu ponto de vista claro. Estão errados porque vêem a comunidade cigana como um todo e do ponto de vista da exclusão quanto mais rápida melhor. Desculpar-me-á o exagero, mas parece-me haver alguma parecença com a solução iniciada pelo Hitler, a qual, como deve saber, começou com os judeus, prosseguiu com os homossexuais, avançou para os deficientes e já ia nos comunistas. A experiência ensina-nos que é sempre preciso muito cuidado quando se começa a ouvir o barulho das botas altas... Tanto da extrema-direita, quanto do extremo oposto. Em geral, sabe-se como começa, mas ignora-se como acaba...
Numa outra vertente, é obvio que nas comunidades ciganas há um pouco de tudo, em maior ou menor percentagem, como em qualquer outro grupo humano. Tentar meter todos no mesmo saco, não passa de um raciocínio primitivo, indigno de quem partilha os valores europeus. Quanto a suspeitar que os ciganos procuram fazer-se repudiar pela provocação é uma ideia inaceitável porque absurda. A ser assim, todos os dissidentes, todos os que actualmente não concordam com o governo ou com a autarquia, e manifestam os seus sentimentos, tanto por escrito com em desfiles, procuram também ser repudiados? Francamente...
4 - Quanto às acusações concretas que faz a diferentes comunidades ciganas, a propósito da água, da luz, da iluminação pública ou do alojamento, dê-me licença p.f. para lhe fazer duas perguntas: Em quarenta anos de permanência em Tomar, o que é que a população ou a autarquia já fizeram em prol da melhoria das condições de vida dos ciganos? Se nada lhes ensinam, como esperam que possam aprender?
Naturalmente que qualquer tentativa de solução terá de ser muito corajosa, longa, morosa, complexa, cara e cheia de insucessos. Mas não há outro caminho, porque eles são portugueses como nós perante as leis do país. O que nos obriga a olhar para ambas as partes -os ciganos e os gachós = gajos, que é como eles nos designam em calé ou caló, o seu dialecto. E já perdemos demasiado tempo, na esperança vã de que as coisas se resolvam por si próprias. Estamos em Portugal e em Tomar. Não há quaisquer dúvidas. O D. Sebastião é que não há meio de aparecer. Deve ser por falta de nevoeiro...

1 comentário:

Joaquim disse...

Atentem a isto, em Abrantes:

http://ocidadaoabt.blogspot.com/2010/08/sao-macario-de-tubucci.html