quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Principais temas da semana



Tanto O TEMPLÁRIO como CIDADE DE TOMAR publicam esta semana peças que no meu entender virão a constituir marcos importantes na história da urbe e das suas gentes. Recomendo por isso a sua urgente leitura.
No periódico dirigido por José Gaio, refiro-me à excelente peça das páginas 16 e 17, cujo título é já de si algo de excepcional na paisagem informativa nabantina: "2º aniversário do executivo municipal de Tomar em balanço - DOIS ANOS A "ENCANAR A PERNA À RÃ". Leitura que aconselhada com alegria, pois  me liberta enfim do complexo de D. Quixote que começava a assaltar-me o espírito, quanto mais não seja porque até me apelida de "Medina Carreira cá do burgo". Agradeço, naturalmente, mas não mereço. Nunca fui ministro nem isso ambiciono. Procuro apenas lutar pela minha terra e pelas minhas gentes, na medidas das minhas modestas capacidades.
Num estilo solto, limpo, sereno e incisivo, a autora ou o autor elenca as principais misérias do executivo que ocupa os cadeirões dos Paços do Concelho desde Outubro de 2009. Cito apenas um parágrafo, à laia de acepipe. Ou de "mise en bouche", que sempre é muito mais requintado: "Exemplo da estratégia de sucessivos executivos do PSD de se armar ao pingarelho traduziu-se, ainda se traduz, no investimento nas instalações do Núcleo de Arte Contemporânea e exposições de artistas de nomeada nas galerias do edifício da câmara. Caso fosse feita a relação do custo de cada visitante a estas exposições, certamente a troika daria saltos na cadeira."
Alegarão alguns leitores mais cépticos que o facto de estarmos perante um texto praticamente não identificado lhe retira alguma credibilidade. É um ponto de vista. Outro será pensar que, sem autor explícito, estamos face a uma genuína participação cidadã, de alguém que não tenciona participar como candidato nas futuras autárquicas. Atitude que, numa cidade como a nossa, onde reina o penacho, só pode ser realçada como exemplo cívico a seguir. Para que os senhores autarcas não possam continuar impunemente a fingir que acreditam estar a prestar um excelente serviço aos seus conterrâneos pagadores de impostos.
A outra peça, a de CIDADE DE TOMAR, pode ser considerada uma agradável surpresa, excepto para os defensores de pseudo-tradições locais. Está na página 12, com a assinatura de Luís Ribeiro, ilustre parceiro nas lides da blogosfera tomarense. O título, conquanto muito adequado, não dá grandes pistas ao leitor: "Festa dos Tabuleiros - A tradição ainda é o que era?" O conteúdo, porém, pode considerar-se uma "bomba" na pasmaceira tomarense. Indo por partes.
Já o escrevi variadíssimas vezes nos últimos 20 anos e muitos tomarenses me manifestaram já a sua concordância: -O actual modelo organizativo da Festa Grande de Tomar esgotou as suas virtualidades e está agora irremediavelmente ultrapassado, dado que em tempo de crise não passa pela cabeça de ninguém minimamente sensato gastar dinheiros públicos em festividades, quando falta para tarefas essenciais. Posto que qualquer rentabilização da festa implicará a sua realização anual e noutros moldes, é isso que tenho avançado como solução. Sem sucesso até agora, pois os membros das várias entidades que integram a organização dos Tabuleiros avançam dois argumentos de peso: 1 - Temos de respeitar a tradição; 2 - Não é possível organizar a festa todos os anos, nem mesmo ano sim, ano não.
É neste "empate técnico" que aparece o oportuníssimo texto de Luís Ribeiro. Citando a revista OCCIDENTE - Revista ilustrada de Portugal e do Estrangeiro, de 1 de Julho de 1887, lança uma violenta pedrada no charco da tradição tomarense: "Naquela época, todos os anos após o término  da Festa, era nomeada uma comissão para a realização do ano seguinte. Chegado o Domingo de Páscoa, sai esta comissão, com a bandeira do Espírito Santo e três coroas de prata, levadas cada uma por um mordomo, atrás de uma filarmónica percorrendo as ruas da cidade, indo por fim assistir à missa numa das igrejas de Tomar."
Temos assim, de acordo com a fonte citada, cuja fotocópia figura no artigo em questão, que há 124 anos, 124! mesmo sem energia eléctrica nem gambiarras, sem automóveis, sem população alfabetizada, sem subsídios do turismo de Portugal ou da autarquia, sem ajuda dos hipermercados locais, sem o terrado dos vendedores de churros e outros, sem electrónica nem informática, já era possível realizar a festa anualmente. Sem os participantes aplaudindo-se a si próprios durante o cortejo! 
Mais de um século depois, tornou-se impossível. Ainda por cima para respeitar a tradição. Mas qual tradição afinal? A autêntica, porque secular? Ou a de João Simões e Fernando Ferreira, iniciada em 1950?
Mais uma vez se constata que estamos realmente muito bem servidos, tanto de eleitos como de eleitores. Descendentes dos navegadores de antanho, não é?! Ou não será antes dos que por cá ficaram na retranca, cheios de medo da mudança e do futuro, como agora os seus dignos herdeiros? 
Este país e esta terra não são para medrosos!

1 comentário:

Anónimo disse...

Após a manifestação junto ao alambor, deixei aqui um comentário em que realçava a forte presença da imprensa local, e deixei a prognose de que, com cautela e paciência, essa imprensa iria assumir o papel que lhe incumbe no concelho e na interpretação dos interesses das comunidades.

Parece que não me enganei.

A situação política e económica de Portugal, da base ao topo, implora por esta assunção de responsabilidades por parte da imprensa local, já que a nacional...

Bem haja!