ARROTA PELINTRA! FAZ-TE LORDE!

"Arrota pelintra! Faz-te lorde", é uma expressão que foi muito usada no século passado, na época da "miséria engravatada". Servia para caracterizar quem andava sempre a alardear aquilo que não tinha; quem comia sardinhas sarnentas, por não ter meios para melhor, mas arrotava a pregado ou rodovalho.

Agora usam-se outras expressões, como por exemplo "Armar aos cágados", "Armar ao pingarelho" ou "Armar-se em carapau de corrida". São os novos tempos. Mais agrestes, mais serveros, mais perigosos, mais escorregadios.

Prosseguindo a sua marcha desenfreada, rumo ao suicídio colectivo, a autarquia nabantina continua a esbanjar aquilo que não tem. 20 mil euros para o Sporting de Tomar, 20 mil euros para o Sabacheira, 20 mil euros para o Cem Soldos, 6 milhões para os museus da Levada, 2,5 milhões para o Flecheiro - 3ª fase, 2 milhões para a Cerrada dos Cães (rebaptizada para a circunstância como Terreiro Gualdim Pais, que sempre é mais fino...), e agora mais de 48 mil euros para a iluminação de Natal.

Olhando para tudo isto e meditando um pouco, não colocando em dúvida, de forma alguma, nem a sanidade mental, nem a honestidade dos senhores autarcas tomarenses, é-se ainda assim levado o pensar no recente desabafo de Pedro Ferraz da Costa, um homem da direita civilizada, ex-presidente da CIP: "O país é demasiado pequeno para se roubar tanto!"

Neste caso das iluminações de Natal, que no ano anterior se ficaram pelos 34 mil euros, manda a sinceridade dizer que a decisão ora tomada -que resulta de um ajuste directo- é algo escabrosa. No estado em que a cidade se encontra, faz lembrar aquelas raparigas muito bem maquilhadas, despidas e perfumadas, mas com os fios dentais rotos, os soutiens a pedir lavagem, as unhas por cortar e o corpo a necessitar de água, champô e sabonete.

Hoje em dia, os cidadãos que ainda dispõem de algum poder de compra -essencialmente reformados, aposentados e outros funcionários públicos- já não correm a foguetes, nem se deixam enganar por sinais exteriores de (falsa) riqueza. Escolhem cidades limpas, acolhedoras, com casas de banho em condições, estacionamento gratuito, sinalização eficaz, preços em conta, bom atendimento, boa qualidade e produtos originais. Temos alguma destas características em Tomar? Há muito que a resposta é triplamente negativa: Não! Não! e Não! Nem para lá caminhamos!

Conforme mostra a fotografia supra, em 2009 até o mercado municipal, já então cheio de mazelas, apareceu iluminado para o Natal. A coisa pareceu tão estranha que nos mereceu uma foto. Só seis meses mais tarde viemos a perceber que afinal todas aquelas lampadazinhas indicavam simplesmente que o mercado estava em câmara ardente antecipada: Morreu na primeira metade do ano corrente, vítima de doenças que não perdoam: desmazelo, desorientação, exibicionismo, eleitoralismo, incompetência, prioridades erradas...

Há fundados receios de que as anunciadas iluminações de 48 mil euros em 2010, possam vir a ser a câmara ardente da propriamente dita, das iluminações, do esbanjamento ou da cidade. Tudo tem um fim...