José António Saraiva, arquitecto, ex-director do Expresso e actual director do SOL, é para muitos o melhor analista político português. Melhor mesmo do que Rebelo de Sousa, porque mais sereno e liberto da "canga partidária". Numa altura em que as pessoas se revoltam contra o anunciado encerramento de postos médicos, mas ao mesmo tempo participam com enorme alegria nos tradicionais e "gratuitos" passeios/comezainas/bailaricos/bebedeiras, sempre acompanhados pelo "senhor vereador que é tão simpático, tão dado e tão próximo do povo", vem a talhe de foice transcrever a maior parte do comentário de Saraiva, publicado no SOL de ontem, na página três. Os leitores terão a bondade de efectuar as adaptações que julgarem indispensáveis.
... ... ..."É evidente que as medidas sociais, em princípio, são todas boas. É bom haver saúde gratuita para todos, escolas gratuitas para todos, subsídio de doença e desemprego, rendimento mínimo garantido, férias pagas a dobrar, reformas por inteiro, etc. Só que isso tem um custo.
E o problema está sempre em saber até que ponto um país produz o suficiente para pagar essa factura.Ora já se percebeu que Portugal não tem condições para continuar a viver com tem vivido até aqui.
Em Portugal -e julgo que em toda a Europa- os salários vão baixar nos próximos anos. Quanto aos despedimentos, torna-se evidente que vamos ter de os flexibilizar mais tarde ou mais cedo.
... ... ...Quanto ao Serviço Nacional de Saúde, sendo muito bom haver um sistema de saúde gratuito e universal, o custo que isso tem começa a ser incomportável. E não falo em custo para o Estado, mas em custo para as pessoas. Quando um lençol é curto, se o puxamos para tapar o peito destapamos os pés.
O que não pagamos nos hospitais e nas farmácias pagamos depois em descontos nos salários para Segurança Social e em impostos directos e indirectos. E não pagamos só nós. Pagam também as empresas para as quais trabalhamos.
E isto depois traduz-se em piores ordenados, em mais desemprego, porque as empresas reduzem os trabalhadores ao mínimo, em cortes nos investimentos e por aí fora.
Se perguntarmos na rua a un transeunte se quer a saúde gratuita e o emprego certo, ele responde naturalmente que sim. Só que não lhe é explicado o que isso custa: os descontos que vai ter no ordenado, as dificuldades que os filhos vão ter para encontrar o primeiro emprego, o problema que ele próprio terá em voltar a empregrar-se, se ficar sem trabalho depois dos 40 anos, etc., etc., etc.
Quando os políticos fazem promessas ao povo, não dizem o que o povo vai er de pagar por elas. É impressionante constatar que, apesar dos debates que enxameiam os canais de TV, as pessoas ainda não perceberam qe não há políticos "bonzinhos" e políticos "mauzinhos", políticos que querem o bem das pessoas e políticos que querem o mal das pessoas, príncipes perfeitos e vilões. O que há são opções políticas.
O que os políticos "dão" ao povo não vem do seu bolso. Vem dos bolsos de todos.. Se não pagamos um serviço de uma maneira, temos de pagá-lo de outra. O tão celebrado Obama não é "bom" por querer criar um sistema de saúde universa, nem os seus antecessores eram "maus" por não o quererem. Ele fez uma opção política, que tem custos e benefícios, e cujo baanço ainda é cedo para fazer.
Em Portugal, vamos ser obrigados rapidamente a perceber que não se pode ter tudo. Que as novas condições competitivas resultantes do mercado aberto e da globalização nos obrigam a mudar de vida: os salários vão ter de baixar, o emprego terá de se tornar mais flexível e será preciso gastar muito menos com a saúde. E isto não significa que passemos a viver pior. Até podemos viver melhor, numa sociedade com maior mobilidade, menos fantasmas, mais liberta de encargos e de impostos, com outro dinamismo.
A verdade é que, apesar de lutarmos tanto pelas leis que temos, os portugueses não parecem hoje muito felizes.
Tenhamos, então, coragem para mudar."
E para não esquecer que Tomar faz parte da metade mais petrificada e caquéctica do País, dizemos nós que cá vamos vivendo mais ou menos.
(O negrito é de Tomar a dianteira)
28 comentários:
Ter coragem para mudar exigiria que este Concelho não estivesse entregue a gente sem visão nem coragem.
Pensem só o que se podia esperar de pessoas como Corvelo, Becerra ou Marques. É conhecido algum acto corajoso de qualquer deles, que tivesse promovido a mudança do que quer que fosse?
São pessoas ultrapassadas sem visão, das quais nada de novo se pode esperar.
Pois, só que ainda está por provar que uma maior flexibilização, a redução de salários e menos benefícios na saúde nos vá libertar de impostos e encargos...pela amostra e o alto desempenho financeiro dos hospitais empresa, com prejuízos de milhões, podemos ver o que vem a seguir. Não concordo nem um pouco que se trate apenas de opções políticas e vamos tendo provas disso. O que se poupa nos serviços vai sempre parar aos bolsos dos defensores do regime, quer sejam assessores, gestores ex qualquer coisa, financiadores das campanhas, provedores amigos, leis que não servem coisa nenhuma...Se o sistema de saúde americano era tão bom, porque morriam anualmente milhares de pessoas às portas dos hospitais por falta de seguros de saúde que não conseguiam pagar.O nosso mal é sermos absolutamente incapazes de aprender com os erros dos outros e copiarmos medidas mais que gastas, com mais de 20 anos de existência, como se fossem novidades sebastiânicas. O que temos são políticos ansiosos por protagonismo e por meter a mão na massa, como é evidente. Se os salários baixos conduzissem a uma melhor distribuição da riqueza e ao combate à pobreza, a China e a Índia não seriam países onde se morre de fome nas ruas e a resposta às catástrofes naturais impediria a morte de milhões de pessoas por falta de auxílio. Mas como "as opções políticas" enterram o dinheiro em projectos nucleares e a engordar meia dúzia, a miséria é o que sabemos...a flexibilização e os salários de 25 euros por mês, têm feito muito por alguém...não por quem trabalha. É tudo uma questão de opção política. Esquecer as pessoas é o que está a dar, como se o mundo apenas fosse feito para as castas de iliterados políticos. Assim nunca se pode culpar ninguém, não é...culpam-se as políticas e as crises, arquivam-se os processos. São todos ininputáveis com pedigree. É tudo a bem do serviço público abenegado e altruísta...vão dar banho ao cão.
Laura Rocha
E já agora Luís Ferreira e Carrão, não? Se calhar não, o futuro de Tomar passa por estas duas abéculas, armadas ao pingarelho...confesse que acordou com um ataque de humor, esta tirada, ou como diria o MMP "ESTIRADA", é para rir, não é?
Só se lamenta é que se tenham esquecido desta problemática por ocasião de divulgação do Programa de Governo.
É que o assunto tal como o encerramento do Mercado, por ex.)da racionalização e diminuição da Despesa píblica, é de há muito conhecido.
Pena que o António rebelo tambem não se tenha lembrado do assunto quando leu o Programa Eleitoral do PS, e o Programa deste Governo.
Não queira o caro António passar esponjas e fazer de nóa parvos...ele, que é tudo menios isso.
Para 12:28
Deve haver por aí um mal entendido qualquer.Realmente não li nem podia ler o "Programa Eleitoral do PS", pois dois motivos. Por um lado porque apenas me preocupo com aquilo que posso influenciar minimamente -a política local. Por outro lado visto que, no meu entender pelo nenos, o PS local não tinha nem tem qualquer programa. E os outros idem idem.
Sobre o programa do governo, peço licença para relembrar que a política nacional nunca foi nem é um dos eixos de Tomar a dianteira.
Cordialmente
António Rebelo
A respeitável cidadã Laura Rocha, no uso da sua liberdade de expressão, com a qual nos sentimos muito honrados, poderá ter alguma razão, mas apenas em termos de "dúvida metódica". Quanto ao essencial, já há certezas: O fulcro do problema não consiste em saber se as reformas que aí vêm, por imposição de Bruxelas, são ou não melhores do que a actual situação. Consiste, isso sim, em reconhecer que o país não tem recursos para continuar a viver como o tem vindo a fazer nos tempos mais recentes. E os cidadãos também não. Por conseguinte, boas ou más, as mudanças são inevitáveis. Quaisquer que possam vir a ser os argumentos contra. Os gregos até já fizeram 7 greves gerais, só este ano. Sem qualquer resultado positivo. Pressionado pela UE, pelo BCE e pelo FMI, o governo não recuou nem um milímetro. Porque estava e está entalado entre a crise e as greves, por um lado, e a parede por outro. Realismo, precisa-se. Daquele que nada tem a ver com a realeza, entenda-se...
Cordialmente,
António Rebelo
A Laura Rocha tem toda a razão, e está certíssima, caro prof.Rebelo.
Faço minhas as palavras do seu texto, com a devida vénia.
E apenas me permito opinar (neste espaço de liberdade que o prof nos proporciona, e que agradeço)
que o poder de governar os países se transferiu dos políticos para os Financeiros. Meia dúzia no mundo, conduzem esta aldeia global. Para isso terá contribuído a liberalização económico-financeira, e fraqueza da classe de políticos dos últimos vinte anos, que se lhes renderam. Venderam as ideologias e ideais. Compraram benesses e garantiram interesses pessoais. Em troca das vidas dos povos.O poder financeiro impôs regras que todos aceitaram, (até a USA)os Estados ficaram reféns de jogadores capitalistas, que manobram a vida das pessoas, ao sabor da forma de ganharem mais dinheiro. O prof.Rebelo fala muito dos Gregos. Mas que leitura podemos fazer do facto da Grécia estar falida (e assim como outros Estados) e ter havido uma corrida à compra da sua dívida pública???O senhor comprava títulos de empresas falidas??? Ora não acha que esta é apenas mais uma estratégia para se encherem os bolsos dos capitalistas financeiros à conta dos Estados e das suas populações??? Quem na realidade llhes enche os bolsos???
Os políticos não mandam nada. Simplesmente obedecem. E a política são hoje interesses.
As pessoas não contam.
E que dizer das verdadeiras razões da subida do preço dos cereais?? ( e do pão?)...A seca da Rússia??? Não. A redução dos stocks aumenta os preços, com a procura. E os especuladores aumentam o "investimento" na bolsa de mercadorias. Mesmo que isso signifique a fome para muita gente. E ganham milhões. Sem riqueza produzida.
Haverá forma de abrandar a ferocidade do capitalismo selvagem que aí temos a governar-nos se os homens do dinheiro perceberem que "se não tratarem dos pobres, estes tratarão dos ricos". Por meios violentos.Claro. Com revoltas sociais. Voltaremos aos finais do século XIX.
Não se negou que a senhora (e agora o senhor) não tenham razão. A questão é outra, como já foi dito. Como é sabido, temos o péssimo hábito da logomaquia e de tomarmos os nossos desejos por realidades. Se nos agrada, é verdadeiro. Se não nos convém, é falso. E se nos resolvêssemos finalmente a ser adultos e racionais? Por exemplo no caso da dívida soberana grega, que acaba de apresentar no seu comentário, se tivesse tido a coragem de prossseguir o raciocínio, concluiria que não dá o pé com a chinela. Se o essencial é ganhar dinheiro, então não ajudando a Grécia, as taxas de juro subiriam muito mais...com os consequentes lucros. Assim sendo, qual a razão da ajuda conjunta UE, BCE, FMI, a taxa reduzida ? Vai provocar a queda dos juros...
Na mesma ordem de ideias, sabido como é que temos a maior dívida externa global da Europa dos 27, não adianta tecer considerações mais ou menos plausíveis, mais ou menos do domínio da logorreia. Ou mudamos de vida ou fecham-nos a torneira. Tudo o resto é apenas conversa de embalar.
Laura Rocha estará certíssima e você igualmente. Porém só ao nível da oralidade. Quanto aos pobres tomarem conta dos ricos, era o que pensava o Carlos Marques, há mais de um século, só para assustar a maralha... Se agora até os comunistas chineses e vietanamitas já são capitalistas... tendo sido um operário metarlúrgico a pagar a colossal dívida do Brasil ao FMI, emprestando-lhes depois 14 mil milhões de dólares, ainda acha que a classe operária e o governo dos trabalhadores têm algum futuro?
Em Portugal, infelizmente para todos nós, estamos naquela posição do condenado a quem perguntaram se preferia ser enforcado ou fuzilado. Quando retorquiu que não queria morrer, disseram-lhe, em tom seco -Não está a responder à pergunta!
Os senhores estão na mesma. A fugir da questão essencial: Temos de passar a produzir mais e a gastar menos.Doa a quem doer, leve o tempo que levar, custe o que custar. O estado banqueiro do povo, era bom mas cabou-se.
O Expresso há algumas semanas falava em contra-revolução laboral, que tem por objectivo lançar as populações na pobreza.
O Diário Económico admitia que qualquer dia virá a público que esta crise terá sido planeada por qualquer grupo de Bilderberg, ou outro.
Os políticos sempre andaram de braço dado com os capitalistas. Foram os capitalistas alemães quem enviou Lenine num vagão selado para a Rússia para que ele fizesse a revolução comunista. Leiam o livro "Vodcka-Cola" para entenderem da cumplicidade entre o mundo comunista e o capitalista.
A Cuba do Fidel anunciou que vai despedir milhares de funcionários públicos, que pode ir até um milhão. Aqui ninguém tem coragem de reorganizar os serviços públicos. Em todo o mundo está-se a reduzir o esforço que é causado pela função pública.
A Eslováquia saiu do grupo que apoia a Grécia e defende a falência da Grécia, da Espanha e de Portugal. E se tal acontecer ?
As pessoas não contam. Mas contaram alguma vez ? Ou nunca passaram de meios produtivos enquanto não houver máquinas que as substituam ?
Os pobre vão combater os ricos. Ilusão. Em nenhuma parte do mundo tal acontecerá e muito menos em Portugal, país de brandos costumes. Estes significam dobrar a espinha aos fortes e tratar mal os fracos.
Tudo leva a crer que se prepara uma guerra, para enriquecimento dos ricos e matança dos pobres. O povo não acredita que possa haver guerra, porque julga que elas acabaram.
A fome é uma arma mais importante que o nuclear. Especulação ? E o povo não especula quando se endivida junto da banca para comprar duas ou três casa na esprança de que elas subam e venha a ganhar uma mais-valia. O Karl Marx, o Bakunine, o Lenine, o Trotsky, o Che, e outros não dizem que a mais-valia é um arma do capitalismo selvagem ?
Há quantos anos os fogos são um problema em Portugal ? E o povo preocupa-se ? Ou prefere as viagens e os almoços à conta das autarquias ? Orientar os meios entre o combate aos fogos e as passeatas não é uma opção política ?
Tudo isto é humano, demasiado humano.
Lancelot du Temple
Lancelot du Temple:
"...A fome é uma arma mais importante que o nuclear."
Os pobres não têm mais nada a não ser a fome. As convulsões sociais e a constituição de grupos violentos desestabilizam os países, as economias e o resto...virá a seguir.
..."Os pobres vão combater os ricos. Ilusão."...
Sabe bem que não. A História e as guerras que ocorreram e algumas até recentes contradizem-no.
A minha análise não se circunscreve ao nosso rectângulo, mas á aldeia global que hojé o Mundo é.
Os grupos da Finança, escolhem os governantes e controlam-nos a vida.
Como saír deste imbróglio? Só com uma guerra...
Até lá vamo-nos iludindo, acreditando que o governo seguinte, melhorará alguma coisa... E entretanto votamos....neles...O voto é a arma do POVO (dizem eles)
Caro Rebelo, diz que o país não tem recursos para continuar a viver como tem vivido. Coloco-lhe então uma verdadeira "dúvida metódica" A QUE PARTE DO PAÍS SE REFERE? aos que recebem 200 euros de reforma, ou aos que recebem 8 milhões de prémios de desempenho? Aos desempregados, ou aqueles que acumulam reformas, estão no activo e vêm apregoar moralidade e o aperto do cinto para as televisões?
É evidente que Bruxelas vai fechar a torneira. Talvez estejm fartos de despejar biliões para coisa nenhuma...a requalificação do país conduziu a quê? Á destruição da Indústria, das pescas e da agricultura. Fizeram-se muitas estradas e autoestradas para os outros poderem continuar a produzir e virem cá vender...nós exportamos Magalhães e moinhos de vento, os outros ficaram com o D. Quixote. Somos, por isso, um país modernaço. Gastamos milhões com políticos e campanhas...à espera de D. Sebastião. Não interessa se achamos que queremos mudar ou não, vamos ter que o fazer, pelos maus motivos e da pior forma...é justo para a maioria de nós? Não me parece. Aos outros, que anseiam por este tipo de mudanças, saiu-lhes outra vez a sorte grande. Devemos ficar sentados a assistir? Vamos lá com manifestações? Com greves? São muitas as dúvidas metódicas, e ainda bem.
Laura Rocha
Inteiramente de acordo consigo, Laura Rocha (poderá não ser muito "educado", porém, como ignoro se "menina", se "senhora", achei que não devia pôr antes o sacrossanto "Dª"). Inteiramente de acordo, portanto, salvo num pequeno detalhe que, para mim, faz toda a diferença. Refiro-me ao facto de ter amalgamado reformas múltiplas com reformas de 200 euros e prémios de desempenho de 8 milhões.
É matéria que daria para umas boas dúzias de páginas, mas que terei de condensar o mais possível. Caso contrário a "blogger" não me aceita o comentário.
Como decerto sabe, Max Weber explicou, de forma ainda hoje não ultrapassada, o que separa a ética católica da ética protestante. Genericamente o fosso norte/sul.
Uma das principais marcas dessa ética católica é a relação com o dinheiro, uma coisa porca, vergonhosa, que se deve esconder. Para os católicos, ganhar dinheiro é, por assim dizer, algo de imoral. Para os protestantes, lato senso, ganhar dinheiro é honrar a Deus. Daqui resulta uma das principais características dos portugueses,sempre indecisos entre o querer e o gostar. Por um lado cobiçam tudo aquilo que os outros ostentam -é o desejo mimético, definido por Girard. Por outro lado, em vez de fazerem por isso, assumem-se como invejosos, acalentando o secreto desejo de sacar aos ricos aquilo que roubaram ao "povo". A consequência adveniente é lógica: Coitadinhos dos miseráveis que só recebem 200 euros por mês; malandros daqueles cabrões que arrecadam balúrdios. Quanto a mim está mal. Quem recebe pouco mais de duzentos euros, não os ganhou, dão-lhos, pois na maior parte dos casos nem para isso descontou. Se fosse aqui há 50 anos não recebiam nada e tinham de sobreviver na mesma. Os outros, os tais "cabrões dos balúrdios", fizeram pela vida, governaram-se e são apenas uns poucos milhares, a maior parte com reformas que não vêm do orçamento de Estado. A ideia segundo a qual aquilo que eles sacaram já nós não podemos sacar é por conseguinte nefasta e um puro produto do catolicismo retrógrado, que já nem os espanhóis partilham connosco.
Como bem diz o povo, "Nunca o invejoso medrou, nem quem à sua beira morou." Por isso estamos como estamos. Sobretudo aqui em Tomar.
Confesso que nem acredito no seu comentário que, no essencial, é do mais reaccionário que ouvi nos últimos tempos. Os meus pais trabalharam toda a vida e fizeram os descontos que podiam, para o que ganhavam...recebem 240 euros de reforma. O que fazer? matá-los porque não descontaram mais, porque tinham três filhos para criar? Porque se comportaram como parasitas da sociedade? Acha mesmo que alguém merece 8 milhões de prémio de desempenho, porque se esforçou? Acha mesmo que o meu comentário tem que ver com inveja católica... eu, que nem sequer vou à missa, nem tenho religião? É esta a pessoa que defende as minorias e os desfavorecidos? Só se for por questões de dúvida metódica, estou a ver.
Laura Rocha
Membro da Assembleia Municipal, pelo grupo Independentes por Tomar, casada e com 53 anos de idade, por via das dúvidas
Para terminar este assunto, digo-lhe ainda que tem razão, há 40 anos haviam muita senhora com 70 e 80 anos a lavar roupa para fora, ao meu lado, nos tanques...estavam a fazer pela vida como diz. Comiam sopas de café de manhã à noite e morriam na maior das misérias sem auxílio, nem alegria...de lá para cá diz-se que evoluímos. Os meus pais têm 80 e 85 anos...e já não fazem pela vida, faço eu por eles.
Pois...Se eu tivesse menos idade, menos mundo e/ou estivesse na política activa, suponho que essa "do mais reaccionário que ouvi...", deixar-me-ia certamente abananado e quiçá combalido. Com não é o caso, vai-me desculpar, mas aproveito para dizer mais duas verdades inconvenientes: 1 - Não faço este blogue para agradar, ou para estar na moda, ou para dizer coisas agradáveis, mas apenas para escrever o que me parece correcto e justo. Se desagrada paciência. Demonstrem-me que estou enganado e darei de bom grado a mão à palmatória. 2 - O facto de dizer que não é católica praticante, nem tem religião, não significa que não partilhe dessa tal inveja visceral, uma vez que, como todos nós, é um produto da história, embora possa fazer parcialmente a sua própria história. Pode não (desejar?) reconhecer esse tal sentimento nada nobre. Porém, o facto de insistir no prémio de desempenho de 8 milhões, revela bem o que lhe vai no íntimo.
A este propósito permita-me uma pergunta: Foi algum funcionário do Estado que recebeu esse tal prémio? Não?! Então que temos nós a ver com isso? Fora dos orçamentos que englobem dinheiro dos contribuintes, que somos todos nós, cada qual faz o que melhor entende. Ou não estamos num país livre ?
Para terminar: O Mexia da EDP recebeu 4 milhões de prémio e toda a gente protestou. Erradamente. Assim ganhou o Mexia e todos os pensionistas, uma vez que ele pagou 42% de IRS. Se os 4 milhões têm ficado como lucros na EDP, teriam pago apenas 22% de IRC, ou seja quase metade. Só ganhava a EDP. A sociedade actual tem destas coisas e a ignorância nunca foi uma virtude.
Cordialmente,
António Rebelo
Um segundo comentário, dado que a "blogger" não me deixa ultrapassar determinado número de linhas.
Julgo que todos concordam ser muito desumano haver cidadãos a receberem 240 euros mensais. É o caso da minha sogra. E daí? Que fazer? Aumentar para o dobro, pelo menos? E o dinheiro para isso vem de onde? O Estado/Governo não tem nehuma máquina de fazer notas, nem pode confiscar as fortunas que por aí há, sob pena de darem todos corda aos vitorinos. De forma que posições morais compadecidas, não passam disso mesmo: a tal caridadezinha cristã, que leva as pessoas a cuidarem que o estado lhes deve tudo e que têm todos os direitos. Mesmo, nalguns casos, o de viverem à custa dos outros.
Erra se considera que o que escreve me desagrada. Talvez lhe fosse mais fácil se todos concordassemos. Se discordo é mesmo por questões de dúvidas metódicas, porque o mundo não é a preto e branco e não existem verdades absolutas. Apenas pontos de vista. O seu, que compreendo que defenda e o meu que, podendo não ser tão intelectualmente fundamentado ou inteligente, é o meu e estamos em democracia. Acho que toda a gente tem o direito de ganhar o que pode e o que lhe deixam, de forma justa, injusta, ou antes pelo contrário. A decisão de não ir à missa, nem professar qualquer religião é uma decisão reflectida, consciente e deliberada. No seu entender nos países protestantes não devem existir pobres, todos procuram ganhar muito para honrar a Deus...sorte a deles é porque podem e os deixam. O salário mínimo lá não deve ser 500 euros, digo eu que sou pouco entendida na matéria. Ainda que possa ser sensível a muitos argumentos a realidade ultrapassa muitos deles, a não ser que olhemos apenas para o nosso umbigo. Tenho uma dúvida metodológica que me leva a ter dificuldade em entender que alguns tenham torneiras e tampos de sanita de ouro e outros tenham que se alimentar em lixeiras e caixotes do lixo. Inveja, não me parece. Todos têm o direito de ganhar e ter o que quiserem, mas somos todos seres humanos. Estamos a falar de pessoas e da importância que uma distribuição mais equitativa da riqueza teria na vida de muita gente. É a Economia, estúpidos, morram para aí que eu vou ali fazer surf e já volto... porque posso, quero e mereço, cambada de invejosos.
Laura Rocha
Exagerar também não! Apenas pretendi dizer algo muito simples, sem ser demasiado brutal, como agora sou obrigado a proceder: É muito fácil ser generoso com o dinheiro dos outros. Infelizmente, as verbas começam a faltar. Eis o âmago da questão.
A deputada municipal tomarense Laura Rocha propõe uma melhor distribuição da riqueza em Portugal.
Mas qual riqueza ? Os portugueses não criam riqueza, vivem à custa dos outros.
O viver à custa dos outros é feito pelo endividamento ao estrangeiro, o que implica saída de rendimento nacional para amortizar a dívida externa que não pára de aumentar. Ao que temos de adicionar a saída dos lucros das empresas privatizadas.
Os que receberam prémios de desempenho, mesmo que exagerados, receberam-no porque aumentaram o valos dos accionistas das empresas que lideram. È o capitalismo em Portugal, que tem de acompanhar o que se passa no mundo. Os accionistas de grandes empresas portuguesas, de bancos em Portugal, etc. são em grande número, ou na sua maioria, estrangeiros, pelo que têm de ter dividendos (que saiem do País), e compensar quem lhos aumente.
As pensões de reforma e os salários são baixos, muito baixos entre nós, mas ainda vão baixar mais, muio mais.
No século XIX, Antero de Quental, Oliveira Martins e outros diziam que os portugueses precisavam de uma grande crise para ganharem consciência da sua desgraça. Eça de Queirós, com o seu realismo contestava, afirmando que nem mesmo assim os portugueses ganhariam consciência do que quer que fosse.
A situação é justa para a maioria de nós ? pergunta a deputada municipal. Cada povo tem o que merece. Olhe para Tomar. Este Concelho está em crise há dezenas de anos. Os tomarenses já aprenderam alguma coisa ? Não, porque continuam na mesma incapacidade e a cometer os mesmos erros. O que é que os tomarenses têm feito para aumentar a riqueza do Concelho e a Nacional ? Nada. Só têm esbanjado, como todos os portugueses.
Para ganhar eleições em Tomar basta dizer : que a cidade é muito linda, que tem o Mouchão, que tem a Janela do Capítulo, e que vai ser capital de qualquer coisa.
Não desanime que provávelmente iremos organizar um Mundial de Futebol que trará mais endividamento ao País, que viverá a felicidade dos tolos.
Lancelot du Temple
Meu caro António Rebelo,
Tenho acompanhado com muito interesse o contraditório teórico entre o meu amigo e a minha amiga Laura Rocha. Após ler o que um escreve e a réplica do outro, assiste-me uma dúvida: "Ganhar prémios de milhões numa empresa que goza de monopólio é legítimo?", quando se pedem sacrifícios à generalidade dos contribuintes e particularmente àqueles que mais descontam?
Estar contra a atribuição de prémios aos chamados gestores de empresas públicas que já são exacerbadamente bem pagos (e não têm de ter mérito, basta um cartão partidário ou estar com...) não nos dá o direito à indignação? Ou será esta um sinal de inveja?
Ainda há pouco tempo ouvi alguns cidadãos com responsabilidades políticas, no caso insuspeito Mário Soares e Cavaco Silva, a manifestarem-se contra tais discrepâncias salariais, já para não falar dos muitos teóricos mundiais que vêm nesta ganância de alguns um problema muiito sério para a paz no mundo.
Veja-se o que fez Obama relativamente aos gestores financeiros e banqueiros..., seria por inveja???
No último ano Portugal foi contemplado com um aumento de mais de 600 milionários enquanto que a pobreza aumentou substancialmente. Isto em temps de crise! Não se trata de inveja mas de ESCÂNDALO!!!
O problema é que há muitos Rui Pedro Soares por aí à solta e sem qualquer controlo. Viva a alternância de poder entre os partidos responsáveis por este regabofe!!! Viva a República que tem possibilitado tão ilustres governantes que em nome da ética republicana a vão desacreditando e destruindo.
Estaremos cá para ver.
José Soares
Para o comentador das 12:49.
Diz que a História e as guerras que ocorreram recentememte contradizem-me, e provam que os pobres combatem os ricos.
Então porque é que os pobres estão cada vez mais pobres, e vão continuar a empobrecer ?
Por que é que se fala em nações proletárias ?
Olhemos para o 25 de Abril de 1974. A história de que foi feita por heróicos Capitães é conversa romântica. Ele foi feito para enriquecer os ricos estrangeiros. Tudo foi parar à mâo destes. Apesar de quem fez o golpe de Estado acreditar em algo diferente.
Por que é que a neo-escravatura está avançar no mundo e entre nós ? As novas formas de domínio garantem que os pobres nada farão, e terão menos que a sua fome, porque perderão a alma e a diginidade.
Veja as campanhas por esse mundo fora em defesa da liberalização da prostituição. Olhe para o conteúdo das séries televisivas e dos filmes, onde se inculca no espírito humano a valorização da degradação humana, o que tem o aplauso dos consumidores-consumidos.
A ilusão é uma arma política e económica.
Lancelot du Temple
Viu portanto Rebelo a filosofia e o nível da vogal da Assembleia Municipal e professora, imagine-se, Laura Rocha.
Por aí tem uma amostra do refugo em que o dito grupo de amigos do Dr.Pedro Marques se converteu: o Ze do pífaro para viver à conta e sacar na musicada e arcaico-sindicalistas do estilo da Prof.Laura para defender a republica popular de Tomar.
Lembre-se que ao duo podia ainda juntar a grande estrela social-democrata e seguidora fiel do Eng.Paiva, a vereadora graça, que hoje diz exactamente o contrário sobre tudo o que ainda há um ano votava com um sorriso nos lábios.
Tem aqui realmente um bom trio Odemira. Ó se mira.
Para anónimo em 08:48
Defeitos todos nós temos. Laura Rocha não é excepção. Tem, porém, algumas qualidades que merecem realce. É frontal,intelectualmente honesta, tem a coragem das suas opiniões, participa activamente na vida política local, não tem medo de divergir, nem do saudável debate de ideias...e identifica-se, tal como fazem José Soares, Luís Ferreira...e quem mais?!
Para Lancelot du Temple. O senhor afirma que os portugueses não criam riqueza e vivem à custa dos outros. Lá saberá as linhas com que se cose. Eu vivo do meu trabalho e pago os impostos que me estipularam. Está om pena da União Europeia, faz bem. Mas então ela não foi "concebida" exactamente para ajudar os países menos desenvolvidos e para criar maior igualdade entre os países, com a livre circulação e o comércio global. Não era suposto termos ficado mais evoluídos e mais ricos. Não ficámos, pelos vistos existiram sempre bolsos sem fundo à espera, com a conivência de opções políticas deliberadas de não regulação, nem controlo da aplicação dos dinheiros de todos. Tanto por parte da UE, quanto dos sucessivos governos portugueses. Foi o que se chamou "gastar tudo em vinho". Foram opções políticas de mestre e megalomania. A UE não pagou, e bem, para desmantelar o que havia de indústria, pescas e agricultura? Para favorecer quem? E agora queixam-se de quê? E nós temos que aplaudir e achar que merecemos ser chicoteados na praça pública?
Para o anónimo das 8:48. Compreendo o seu comentário, ralmente a dor de cotovêlo é um bocadito pior que a de dentes, temos pena. Quanto às suas dúvidas sobre a minha profissão e competência profissional, garanto-lhe que nenhum dos diplomas que possuo foi tirado ao domingo, nem por fax. Como exerço a minha profissão numa instituição pública pode fazer uma de duas coisas, ou as duas em simultâneo, como lhe aprouver. Uma delas, será fazer queixa da minha incompetência e da falta de habilitações ao Ministério da Educação. A outra, como se arma em avaliador externo, dirige-se à unidade para alunos com Autismo, do agrupamento D. Nuno Álvares Pereia e terei muito gosto em permitir-lhe que avalie o trabalho que desenvolvo. Depois conversaremos.
Por último, e como a educação que me deram não me permite comentários rascas, lembro-lhe que estou sempre disponível para aprender com o debate de ideias e de pontos de vista, mas não lhe reconheço capacidade intelectual, nem educação para me ensinar seja o que fôr. Há realmente gente neste mundo que anda em pé porque se usa... rascas anónimos armados em defensores da pátria.
Por lapso, o post anterior deveria ter sido assinado, com é meu hábito, com o meu nome:
Laura Rocha
DIGAM A LAURA:
Que a sua atitude interventiva é louvável, corajosa, produtiva e merece respeito.
Mas que a sua posição em relação à União Europeia(UE) é inocente. A UE, antes CEE, não foi constituída para beneficiar a vida das populações ou ajudar a desenvolver os países mais fracos. Ela foi constituída para formar grandes empórios económicos e reforçar o poder das maiores potências.
A UE obrigou à destruição de parte da nossa base económica porque os portugueses, ao contrário dos espanhóis, não se sabem defender.
Lá por trabalhar e pagar os seus impostos não quer dizer que crie riqueza ou gere rendimento. A profissão de professora é muito louvável, eu também fui professor, mas, como outras categorias sociais, apenas se apropria de parte excedente económico, não cria excedente.
Que o drama nacional é não produzir bens transáccionáveis geradores de riqueza e de rendimento, e que este sai para fora do País em virtude do elevado número de importações, porque em Portugal nada se produz e tudo se importa.
Que o povo sancionou, pelo voto, todas as políticas erradas ao longo dos anos, e que vai continuar votar nas políticas desajustadas da realidade que por aí virão.
Que o povo acreditou no Dr. Mário Soares quando este disse: "que iríamos para a Europa de tamancos e viríamos de Mercedes". O povo queria ser europeu no consumo mas não na responsabilidade.
Que o povo escolheu como grande português Salazar, que foi quem mais mal disse dos portugueses, classificando-os de inferiores, basta ler os seus textos.
Digam a Laura que continue.
Lancelot du Temple
Sempre temos uma evolução: a Laura em lugar de andar a destilar inveja e veneno como anônima, decidiu dar a cara e a voz.
Deve estar a "preparar a transferência" para grupo político que mais lhe convenha, a exemplo de José Soares e Graça Costa. Agita-se o vespeiro e saem todas...
Não há fumo sem fogo e não há soltura que não exemplifique alterações em substancia no "pântano independente".
Finalmente se denota o que aquilo sempre foi: uma amalgama sem norte ideológico ou qualquer visão de futuro para Tomar. Apenas vaidades e interesses pessoais mal disfarçados.
E ainda se admiram que Tomar baixe nos rankings.
Para Lancelot du Temple. Obrigada pelos seus conselhos e pela sua análise lúcida da nossa infeliz situação. Tem completa razão em muito do que escreve. Confesso e reconheço a minha inocência. Na realidade nós fomos muito bons aprendizes de Salazar que, de acordo com o que diz, foi quem mais mal disse dos portugueses, Aprendemos muito bem a lição. De tal forma que continuamos a ser quem mais mal diz de nós próprios e quem menos acredita nas nossas capacidades...provavelmente com alguma razão. Precisamos constantemente de sair do País para que nos reconheçam o valor e aquilo que os outros têm é sempre melhor do que o que temos. Como se os outros fossem intrínsecamente bons e vivessem no paraíso e nós o penico da Europa e do mundo. Um bando de indigentes mentecaptos...Pelos vistos só a nós podemos imputar culpas, é a vidinha. Salazar é mesmo difícil de descolar da pele, é uma espécie de crença católica milenar. Mas, sobreviveremos, por certo. Quanto à nossa profissão também reconheço que quando entramos na escola não nos exigem produção de notas, (apenas as que têm que constar das pautas) não trabalhamos na Casa da Moeda, mas temos uma função a desempenhar, que ainda considero um pilar do desenvolvimento das nações. Se temos produzido bons pensadores ou gente capaz, a realidade é capaz de não nos favorecer muito. Será porque não aprenderam? Ou porque valores mais altos se levantaram? Agradeço sinceramente os seus ensinamentos e o seu contributo para a minha informação/formação como cidadã.
Quanto ao anónimo (é assim que se escreve)das 6:47, sossegue que não estou em época de transferência, nem aspiro a qualquer protagonismo. Apenas decidi aproveitar o único espaço tomarense que nos permite livremente debater e confrontar ideias, sobre questões que a todos deviam dizer respeito, para "destilar" algumas das minhas e sem veneno. Se isso o incomóda, paciência. Quanto aos meu amigos poderá sempre perguntar-lhes, estou certa que terão todo o gosto em o esclarecer. Quanto à minha ideologia, deverá dizer antes ideologias, são feitas de muitas coisas que nem sempre são compatíveis, por isso me considero uma cidadã independente. Gosto pouco de cangas no pescoço e tenho por hábito até discordar dos amigos, quando é caso disso. Não tenho, portanto, óculos ideológicos substantivos, nem aspirações pessois que possam pôr em risco as suas. Sossegue, portanto.
Laura Rocha
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