Enquanto muitos cidadãos se lastimam, apresentando os seus problemas nas consultas médicas especializadas, e outros se vão queixando junto de amigos conhecidos e familiares, a situação local continua a degradar-se a um ritmo cada vez mais vivo. Sente-se por todo o lado, pelo menos na cidade, um clima de desalento de descrença de ausência de perspectivas, tanto nas camadas mais idosos como entre os jovens. Ninguém parece perceber para onde vamos, como vamos, com quem vamos, nem porque vamos.
Numa situação tão triste e complexa, os nossos representantes poderiam ao menos favorecer o debate de ideias, tendo como objectivo conseguir encontrar soluções à altura do nosso passado de cidade com recursos e pergaminhos. Mas não. Procedem exactamente ao contrário. Adulteram constantemente a natureza da democracia, quiçá sem disso se darem conta, transformando-a numa linda embalagem sem qualquer conteúdo. Numa noz chocha, em suma. Temos assim a chamada democracia oca, na qual cada um dos felizes eleitos faz de conta que, mas nunca passa daí. Chutam todos sistematicamente para canto, em linguagem desportiva.
Nas reuniões do executivo, conforme já foi referido por quem a elas assiste, nunca acontece qualquer debate, ou sequer simples troca de ideias. Vai já tudo cozinhado de véspera e resta apenas, por assim dizer, aquecer cada prato no micro-ondas, votar, para fazer de conta que, e passar ao prato seguinte, que terá tratamento idêntico.
Os dois vereadores oposicionistas, quando não apresentam propostas, requerimentos ou declarações de voto, são forçados a fazer o papel de meros assistentes. Por seu lado, entre os cinco membros da ocasional e estranha coligação, tudo se passa como se estivéssemos naqueles pequenos reinos da Idade Média europeia. Há um rei, um duque, uma marquesa, três nobres de linhagem. Temos depois dois condes, um de linhagem, outro transitório. Restam os dois nobres sem feudo, que por isso mesmo são tolerados mas raramente ouvidos. Sangue azul é sangue azul, plebeus são plebeus. Nada de confusões.
Nas cortes do pequeno reino, o procurador-mor tem-se igualmente na conta de nobre de ilustre linhagem, mas está em acelerada perda de influência. Ninguém o mandou voltar-se sobretudo para o reino alfacinha e para o príncipe herdeiro que representa todos os reinos laranja. Mesmo assim, tal como sucede no executivo, os procuradores apenas são convocados para cumprir calendário, evitando-se ao máximo qualquer debate, qualquer divergência, qualquer discussão.
Os sucessivos requerimentos dos procuradores adversos nunca obtêm qualquer resposta; as várias intervenções orais são inconsequentes por vontade do procurador-mor.
Numa tal democracia oca, tanto os procuradores como os nobres do campo maioritário estão à espera de quê? De conseguir chegar às autárquicas de 2013? Infelizmente pode assim acontecer, sim senhor. Mas então podem desde já ir procurando novos campos de aterragem porque ao reino autárquica nabantino não voltarão tão cedo. Os eleitores tomarenses poderão não ser uns portentos de inteligência; poderão até continuar erradamente a tentar agradar em simultâneo a Deus e ao Diabo; mas não votarão outra vez naqueles que os enganaram e arrastaram para o desemprego, a decadência e a penúria. Pelo andar da carruagem, tanto os laranjas como os rosas, caso consigam chegar ao final do presente mandato, estarão nessa altura mais queimados que o carvão. E os eleitores podem nada dizer, vingando-se todavia na altura de botar o papel na urna. Pensem nisso. Em tempo útil. Uns e outros.
4 comentários:
E os que mandam raramente dão conhecimento aos adversos do andamento de cada processo.
Nas mais da vezes apresentam como facto consumado, umas vezes para mero conhecimento sem votação, outras para os tentar atrelar ao cozinhado!
E debate às vezes até há entre os opositores e o alcaide e, mais raramente, de forma lateral com o ferreira das farturas a tentar achincalhar ou a mandar bitaites!
Depois este mesmo ferreira aproveita o blogue dele (sem contraditório!) para ferroar o que não ferrou como queria.
E há uma coisa que o Dr. Rebleo não pode (nem deve) esquecer: o poder é dos cinco estarolas.
Eles manobram tudo, mandam em tudo e estão a borrifar-se para os dois out siders e mais ainda para a malta de Tomar.
É assim uma espécie de diálogo a três laranjas, a dois rosas pálidos, depois aqueles com estes e finalmente nas reuniões executivas fala o chefe, os quatro escutam, os dois out refilam e o chefe diz-lhes que tenham calma e que vai resolver o assunto - logo amanhã, está visto. Xuta para o lado e para trás.
Assim se vai enrolando a governação e deixando Tomar mais pobre e pior!
E o povo?
Que se lixe, porque o poder é fiche!!!!!!!!!!!!!!
A propósito da tremenda necessidade, segundo o Presidente da Junta de SMO, de mesas e cadeiras para pique-nics e de retretes, em espaço público, para as consequências, noticia-se hoje que o Turismo Espanhol vai por em prática um plano de conversão, em 5 anos, da quase totalidade dos hotéis de 2 estrelas de Palma de Maiorca, para 4 estrelas. Objectivo: rentabilidade turística.
Dispensam-se omparações.
Pedro Miguel
"Desalento e ausência de perspectivas...os representantes poderiam favorecer o debate...".
Tem razão mas sejamos realistas:
Os representantes procuram o subsídio vitalício, ou algo parecido, à semelhança do sr. Paiva. Nem que desejassem "negociatas", quais Isaltinos ou Valentins, em Tomar já nem negócios há.
Os func. públicos ou já se reformaram ou vão-se tentando segurar até aos 65 anos. O comercio vai-lhes vendendo qualquer coisa para aguentar as despesas.
Os funcionários de empresas privadas trabalham para o Estado; um ou outro que sobra do grupo, ou espera "aguentar-se" até à reforma ou já procurou outras paragens (mesmo que venha dormir a Tomar). Investimentos não há. Novos postos de trabalho também não!
É um suicídio lento, embora assistido.
Pedro Miguel
ACERTOU...é o retrato mais fiel do que se passa, que já tive oportunidade de ler. Confesso que tenho muito pouca experiência política e que, talvez ingenuamente, ou não, estivesse à espera de...nem sei que diga. Este retrato poderia ser fidedignamente aplicado à AM. Para além de uns discursos iniciais que apenas servem para desanuviar o espírito de quem os faz e que, pelo ar dos visados, do tipo "O(a) maluquinho(a) já desanuviou, vamos lá aprovar a papelada". O que é certo é o sentimento de completo desperdício, porque ninguém se predispõe para ouvir ninguém, muito menos "ouvir com olhos de ver". Sou, por isso, frequentemente assaltada por algumas dúvidas, desta feita mesmo metódicas:
1- Será que é assim em todos os municípios?
2- Podiamos evitar vir cá e votar pela internet? Poupavam-se toneladas de papel e selos, para além do espaço caseiro para arquivar tanto doc.
3- A maior parte dos doc não podiam ser fonecidos em CD ou penn? Não saía mais barato?
4- Não seria possível produzir um descodificador de conteúdos e linguagem, para a maior parte deles? (Iliteracia minha, sem dúvida)
5- Vale a pena fazer declarações de voto e recomendações que nunca são consideradas a não ser para efeito das actas?
6- Vale a pena passar horas a discutir o sexo do anjos, já que tudo vai mais que aprovado e decidido?
7- A AM serve para quê, para fingir que temos uma democracia participativa e para cumprir calendário?
Pode ser que no fim do mandato já consiga responder a estas questões, por hora, continuam dúvidas.
Para ilustar mais um pouco do que se passa, Graça Costa, na penúltima reunião do executivo, contestou o que se está a passar com o mercado municipal, informando acerca de um processo semelhante ocorrido no Município do Barreiro e que permitiu a esta autarquia uma solução milhares de euros mais barata e infinitamente mais rápida. A sua declaração foi lavrada em 4 pagínas e meia na acta, mas apenas e só. Somos infinitamente mais ricos que o Barreiro. Ou, então, o que nos falta em dinheiro sobra-nos em arrogância e desconsideração pelo trabalho desenvolvido pelos autarcas que não fazem parte do séquito. É pena.
Laura Rocha
Enviar um comentário