segunda-feira, 23 de agosto de 2010

UMA MENTALIDADE CRIPTOCOMUNISTA

Vai ser um texto árduo. Adiá-lo seria, porém, ainda mais difícil. E susceptível de me perturbar o sono tranquilo. Vamos portanto ao inevitável.
1 - Há tempos que tenho a intenção de abordar o espinhoso e ingrato problema da mentalidade tomarense. Faltava-me, todavia, o pretexto. Que finalmente apareceu. Repare-se no seu conteúdo, repleto de axiomas, desde a primeira frase: "A Festa dos Tabuleiros tem um carácter não comparável com o Festival Bons Sons." Tal como, no último parágrafo, a frase que o abre é igualmente do tipo não discutível: "O Festival Bons Sons é completamente diferente."
A crónica falta de mundivivência dos portugueses em geral, e dos tomarenses em particular, origina semelhantes tomadas de posição, cuja natureza dogmática seria supérfluo realçar. Na verdade, é hoje um dado universal, pelo menos no universo ocidental, que o tempo, o pensamento e as coisas em geral, são aquilo que deles fazemos. Nada me impede de usar uma gabardine como roupão de banho, ou uns calções como esfregão; uma hora para me divertir, seguida de 15 minutos para chorar; ou transformar em ídolo uma das árvores do meu quintal. Nesta ordem de ideias, classificar assim ou assado a Festa dos Tabuleiros ou o Festival Bons Sons, é inevitavelmente de ordem ideológica. Não tem qualquer outra base.
2 - Em todos os países da chamada Europa do Sul, os tais PIGS, no pouco abonatório acrónimo, inventado pelos tecnocratas de Bruxelas para designar Portugal, Itália, Grécia and Spain, as populações do sul vivem em geral à custa dos habitantes do norte, por intermédio do orçamento do estado. Portugal não é excepção, salvo talvez no que concerne ao Algarve. Como é óbvio, tal dependência cria uma determinada mentalidade -a do estado que tudo pode e tudo deve: saúde, educação, cultura, divertimento, transportes, alojamento, emprego, pensões...
3 - No caso de Tomar, como em Alcobaça, em Avis ou na Flor da Rosa, a situação é ainda mais nítida, devido a um particular aspecto histórico: Foram, durante muitos séculos, sedes e feudos de mais ou menos poderosas ordens religiosas, ou de cavalaria, só a partir de D. João III definitivamente anexadas pela coroa. O que significa que durante múltiplas gerações justiça, impostos, emprego, liberdade forâneas, dependiam do mestre local, não do rei ou do governo central.
A dissolução oficial da Ordem de Cristo, em 1834, foi criando pouco a pouco uma nova relação de poder, em que este foi sendo assumido por alguma pequena burguesia rural, que se assenhoreou das propriedades da Ordem, mas sobretudo pelos militares e pelos funcionários. De tal forma que, até ao 25 de Abril -e mesmo até 1980, que os maus hábitos custam a perder- o Café Paraíso foi, por assim dizer, a Assembleia Municipal que não havia.
4 - Creio ser daí que nos vem a triste mentalidade tomarense que, sem que os nabantinos de tal se dêem conta, e de forma paradoxal, é uma mentalidade criptocomunista. Isso mesmo. Um modo de ser, de estar e de pensar, praticamente idêntico ao que existia antes da queda do Muro de Berlim, em 1989, nos chamados países do Leste e na ex-URSS. Já lá vão 21 anos, as coisas mudaram muito por aqueles lados, mas em Tomar nem tanto. Continua-se a pensar que o governo, directamente ou através da autarquia, deve providenciar tudo ou quase tudo: estradas, escolas, professores, cinemas, teatros, espectáculos, passeios, empregos, subsídios, pensões, segurança, transportes, melhoramentos, alojamento, etc.etc.
Os senhores autarcas, que salvo raras excepções, nunca ganharam nas sua vida privada tanto como auferem enquanto políticos a tempo inteiro, congratulam-se com tal estado de coisas, uma vez que lhes possibilita a descarada compra de votos.
5 - Infelizmente para tais políticos e felizmente para os cidadãos ciosos dos seus direitos, liberdades e garantias, consignados na constituição que nos rege, não há mal que sempre dure, nem bem que não se acabe. A maldita crise que nos assola contribuiu para nos aproximar muito rapidamente do momento fatal. Aquele em que tanto o estado como as autarquias, se vêem forçados a abandonar competências por falta de verbas disponíveis. E lá se vai o estado-papá e a autarquia-mamã. É chegada a vez da sociedade civil. Dos empreendedores sem rede de protecção.
6 - Na nova situação assim criada, contra a vontade dos políticos locais e nacionais, chegou a hora de os tomarense todos juntos aprenderem a tocar de forma harmónica os instrumentos de que dispõem. Na minha maneira de ver, esses instrumentos são 4, a saber: 1 - O conjunto monumental Castelo/Convento/Pegões/Mata; 2 - O conjunto de manifestações Festa dos Tabuleiros/Congresso da Sopa/Grandes eventos de envergadura nacional; 3 - O rio Nabão/terrenos anexos; 4 - A Albufeira do Castelo do Bode.
Agora só falta saber se temos ou não músicos à altura e, sobretudo, maestros ou candidatos a tal, para começar a tocar quanto mais depressa melhor.
Não repeti com frequência que tinha e tenho um plano devidamente estruturado para Tomar?
Por agora, julgo ser melhor ficar por aqui.

12 comentários:

Anónimo disse...

Permita-me dizer que há por aí algumas generalizações apressadas. Que a Itália do sul é subsídio dependente ninguem duvida. E a Itália política "do meio" também o será.Talvez como quase toda a Andaluzia. Mas serão a Catalunha e a região Basca, as regiões centradas em Turim e Milão dependentes das "ajudas" do norte da Europa? Curiosamente, ou talvez não, essas as zonas mais populosas dos respectivos países.
Em Portugal será só o Algarve com autonomia económica? E as regiões de Setúbal, Aveiro e Braga/Guimarães?
Acontece que há muita actividade para além do turismo! No caso da Grécia, respira-se turismo por todos os lados e não foi suficiente!
Pedro Miguel

Anónimo disse...

Ó Rebelo, você é um palerma!

Anónimo disse...

Para anónimo em 01:25

Obrigado pelo elogio! Há muito que estou consciente disso, mas que quer?! Tenho de me ocupar.
Dado o adiantado da hora a que escreveu, suponho que o seu corajoso desabafo, ao abrigo do confortável anonimato, o/a terá ajudado a dormir melhor. Se não foi o caso, a culpa não terá sido minha. Mude de marca de pomada escocesa, que talvez ajude. E não se fique por frases lacónicas. Exemplifique, justifique, contraponha, desmonte, desminta. Estamos num país livre, onde cabem todos.
Cordialmente,

António Rebelo

Anónimo disse...

Para Pedro Miguel:

Tenho o ultrapassado hábito de só escrever sobre aquilo que observei/estudei com cuidado. Creio que a sua leitura terá sido apressada. Caso contrário teria entendido que me referia não à dicotomia Europa do Norte/Europa do Sul, mas sim ao desfazamento interno de cada um dos citados países. Da mesma forma, quem lhe disse que, por exemplo, a Catalunha, Navarra ou o País Basco, integram o sul de Espanha?

Cordialmente,

António Rebelo

Anónimo disse...

...mas não é o único. Muitos outros estão por aí todos os dias a decidir a nossa vida, na presidência da câmara e noutras presidencias, de associações do Concelho e outras instituições, como por exemplo nos centros de saúde.

Este pelo menos tem uma vantagem: dá a cara, a opinião, assina-a e apesar de tudo não prejudica nada.

Anónimo disse...

Ó Rebelo
se tens um plano partilha-o!
Deixa a malta ver o que vale!

Estás a guardá-lo para quê? Para os netos?
Ou ainda acreditas que alguma vez vais ser presidente de câmara?

Anónimo disse...

Cantas bem, mas não é música que me agrade. Uma das coisas que aprendi na política foi que nunca é conveniente responder a provocações.

Anónimo disse...

Antes criptocomunista, que cleptosocialista ou cleptosocialdemocrata!!!!!!!!!!!!!!!!
Não é verdade insigne Rebelo?

Anónimo disse...

Além disso, ó velhadas, eu não gosto de whisky escocês. Isso é para gulosos que o bebem gelado e com aguinha às bolhas. Prefiro o americano Bourbon ou Sour Mash, e bebido como deve ser: em shots, sem aditivos e à temperatura ambiente.

Anónimo disse...

E não tens de agradecer o elogio. Se quiseres posso presentear-te com muitos mais. O meu léxico é vasto.

Anónimo disse...

Para o anónimo de entre as 5 e as 6 da tarde, que deve ser o mesmo a alcunhar-me tão gentilmente de palerma. Julgo eu. Se me engano, as minhas desculpas. Em qualquer caso, segue o que tenho a dizer:

1 - Insultar sem dar a cara, é demasiado fácil. O mais correcto é fazê-lo frontalmente. Assinando por baixo.
2 - É inútil insistir nos insultos gratuitos, que a si lhe dão trabalho e a mim não me causam qualquer mossa. Além de que, se continuar por essa via, ficará a falar sozinho, uma vez que serei levado a accionar o detector de spam, após o que os seus escritos nem sequer cá chegarão, sendo eliminados automaticamente pelo servidor, qualquer que seja o conteúdo. Seria uma perda para ambas as partes...
3 - Não apodei de bêbado quem quer que seja. Limitei-me a dizer que mudar de pomada escocesa TALVEZ ajudasse. No meu tempo de escola, talvez era uma hipótese dubitativa. Pelos vistos ter-se-á entretanto transformado em afirmação categórica. Paciência. Ninguém pára o progresso. Nem os progressistas.

Cordialmente,

António Rebelo

Anónimo disse...

Por imperativo técnico, eis um segundo comentário sobre o mesmo assunto: o seu estilo epistolar, por vezes lamentável.

É sempre muito deselegante apodar outrem daquilo que não pode deixar de ser: cachopo, velhadas, imbecil,etc. etc. No seu caso apodou-me de velhadas, esquecendo-se do conhecido rifão "Filho és, pai serás, conforme fizeres, assim acharás."
Além de que, salvo nos casos de evidente senilidade, a idade é quase sempre uma vantagem e não um inconveniente. E depois, todos os asnos são burros desde que nascem. Não tem nada a ver com a idade. Da mesma forma que, dizem os brasileiros, "quem nasceu para lagartixa, nunca chega a jacaré."

Cordialmente,