sexta-feira, 11 de março de 2011

CÃO DE ESQUERDA



Foi uma tarefa insana. Acusado por vários leitores de me ter vendido ao PSD e à "direita reaccionária", tive de concordar que havia motivo para tal. Em poucas semanas dialoguei em público, via rádio, com Miguel Relvas, Corvêlo de Sousa, José Lebre e José Delgado. Enquanto isso, no blogue aconselhei a leitura de obras de Vítor Bento, Carrapatoso e Nogueira Leite. É certo que também conversei com Hugo Cristóvão, Pedro Marques, Custódio Ferreira e Paulo Reis.Mas não aconselhei nenhum livro de autor de esquerda. Fui por isso às livrarias locais, como um daqueles antigos condenados às galés. A tal tarefa insana. Insana e ingrata, que não se consegue encontrar nada de novo. Com a crise a agravar-se e o governo em queda livre, embora parecendo que não, é só doutrina liberal ou neoliberal. O que se compreende. Dado que ninguém entende já o que pretende o chefe Sócrates, ninguém se arrisca a sofrer o castigo dos deuses. O silêncio é de oiro e ao preço a que ele está!
Após laboriosa busca, lá encontrei "O cão de Sócrates", que suponho deva ser de esquerda. Do PS, no mínimo. São 190 páginas por 14 euros, na livraria do Modelo, agora rebaptizado Continente. Eis a respectiva abertura e a competente fechadura:
"Sou um cão deprimido. Sou um cão a comprimidos.
Há seis anos que sou o cão do sr. Primeiro-ministro e o seu maior e mais fiel amigo de quatro patas apesar de, nos últimos meses, andar militantemente às procura de novo dono. Pode parecer estranho afirmar que sou o último grande amigo do sr. Primeiro-ministro e, logo de seguida, revelar que estou a tentar angariar, por todos os meios possíveis, um novo dono. A verdade é que estou muito desiludido com ele. Eu sei que dez milhões de portugueses também estão desiludidos com o meu dono e muito provavelmente também eles estão a tentar encontrar um novo "dono" para governar o país, mas o meu caso é especial."
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"Eu sou exactamente igual ao resto do Governo e dos deputados do partido do sr. Primeiro-ministro. Apoiamo-lo a 100 por cento. Sabe que pode sempre contar comigo como se fosse um ministro, secretário de Estado ou deputado da sua bancada parlamentar. Neste momento em que tanto se fala em afastar o meu dono do poder e que a oposição e os comentadores inventam lutas pela sucessão, eu, primeiro-cão do país, estou ao seu lado incondicionalmente... o que não me impede de ir amanhã passear com um importante gestor de uma grande empresa pública. Estou com o sr. Primeiro-ministro, mas também não deve ser mau ser cão numa empresa pública... para mim, até era bem porreiro, pá!"
E pronto! Agora que já têm, devidamente citada, uma obra de esquerda, socratina para mais, desejo-vos muito boa leitura. E fazem o favor de não largar o osso senão quando já devidamente roído! Valeu?

1 comentário:

Anónimo disse...

Olha este...!
Anda com as mãos e as palmilhas baralhadas.
E as meninges também.
Há dias teorizava que já não havia direita nem esquerda na política.
Agora passou-se e vem dizer que o Sócretino é de esquerda.

E esta hein?