O editorial de hoje do jornal i pareceu-me de grande interesse para Tomar, dado que, se a situação política e económica a nível nacional está muito longe de ser brilhante, no que diz respeito a Tomar é mesmo uma verdadeira desgraça. Com uma agravante: enquanto o governo já vai no terceiro plano de austeridade, a relativa maioria tomarense continua a fazer de conta que vai tudo bem no melhor dos mundos possíveis. E a população tão pouco se mostra minimamente incomodada, dando a ideia de ainda não ter compreendido que está metida num valente sarilho, cuja eventual solução está por encontrar.
No intuito de facultar informação susceptível de alertar os eleitos e os eleitores das margens nabantinas, a seguir se transcreve o citado editorial, subscrito por Manuel Queiroz.
"O compromisso histórico para Isabel Alçada"
A ministra não consegue fazer a sua reforma. Bagão Félix até admite um governo PSD/CDS/PCP. Estamos num beco sem saída?"
"Nesta edição do i, numa oportuna entrevista, Bagão Félix, antigo ministro de várias pastas, admite até um compromisso histórico provocador: porque não um governo PSD/CDS/PCP?
O que é que isto quer dizer? O próprio Bagão Félix apresenta-o como exercício teórico, porque de outra maneira não pode ser. Mas isto diz muito de como hoje é complexo o quadro parlamentar e político em geral, por escassez de soluções viáveis. Vê-se isso ainda agora na coligação negativa que se formou para impedir a reforma curricular do ensino básico, que o governo decretou. Em linguagem constitucional chama-se cessação de vigência de diploma. Que levanta, aliás, alguns problemas de constitucionalidade por si só.
O que diz Bagão e o que diz a ministra da Educação -que a oposição quer que o governo corte despesa, mas depois não quer mudar o financiamento do ensino, nem reorganizações curriculares, nem menos professores- são duas faces da mesma moeda. Claro que no caso da reforma do ensino básico, os partidos terão de chegar a um acordo, mas só depois da ministra admitir que havia ponderosas razões orçamentais para o fazer.
A questão é, de facto, mais profunda que a simples mudança de um governo para outro. Nesse aspecto, compreendo o esforço da Bagão Félix de arranjar uma solução razoável do ponto de vista do ordenamento das instituições. O PCP é fiável, mediante o desenho de um quadro largo de opções.
Um estado que precisa de reduzir despesa enfrenta sempre uma oposição muito forte quando apresenta medidas para o fazer. Como resolver isto?
Aquilo que ficou conhecido como compromisso histórico -a tentativa do Partido Comunista Italiano entrar num governo com a Democracia Cristã, nos anos 70- acabou em tragédia (o rapto e assassínio do primeiro-ministro Aldo Moro).
Mas estamos, diz por cá Bagão Félix, a chegar a um momento em que já não servem os quadros normais. Estamos num momento de urgência, sem soluções claras, e em que é preciso cada um ter a largueza de espírito de encontrar soluções novas, mesmo que pareçam impossíveis à primeira vista. Como esta de uma coligação entre a direita e a esquerda marxista.
O caminho estreita-se e pede outras soluções.
Para Isabel Alçada, por agora, o caminho mais certo é que terá de haver uma negociação com a oposição para conseguir a sua reforma. Que é justa em muitos pontos (a cadeira de Área de Projecto está completamente desacreditada; os dois professores de Educação Visual e Tecnológica são uma aberração). Mas este é apenas um dos problemas da ministra. A avaliação dos professores volta a ser contestada de norte a sul do país, porque continua a não responder às necessidades das escolas e dos professores e, pelo contrário, cria outra vez um ambiente de confronto e de desconfiança. E as instruções que o ministério vai dando são contraditórias entre si, e criam mais problemas do que resolvem.
Há um clima de desconfiança entre governo e oposição que gera coligações negativas. E vai ser preciso um qualquer compromisso histórico nesta fase da crise nacional, para que se possa dar resposta aos problemas que temos até no quadro europeu. Nenhuma Isabel Alçada, do PS ou do PSD, será capaz de fazer as mudanças sem um acordo partidário alargado. A política não é só o défice do Estado mas, nos dias de hoje, tudo se reduz a contas e a despesas."
Os dois parágrafos a negrito e a azul são da minha exclusiva responsabilidade. Trata-se de aspectos comuns com a situação da autarquia tomarense. Coligações negativas, como a da moção de censura; afirmações inesperadas de alguns autarcas, como a de Carlos Carrão em Alviobeira, dizendo que a autarquia deve continuar a apostar nas colectividades, mesmo na situação actual; uma coligação que só funciona no aspecto "alimentar"; o imbróglio PARQT; a dívida global. Tudo isto vai exigir muita coragem e muita audácia política, que os actuais membros do executivo manifestamente não têm. Uma união local com um programa preciso e sucinto, ou eleições intercalares, eis as duas melhores soluções para todos nós tomarenses. Em 2013 pode já ser tarde demais para salvar a casa e os móveis. Ou os anéis e os dedos. Fica este modesto aviso, como sempre para memória futura, que ninguém gosta de falar para as paredes.
Sem comentários:
Enviar um comentário