sexta-feira, 11 de março de 2011

A IFM A AUTARQUIA E A CRISE

Este escrito é passado ao papel sem ter havido ocasião de ouvir os trabalhadores e patrões da IFM/PLATEX. Pode portanto suceder que acidentalmente haja factos/detalhes que não correspondam ao efectivamente sucedido. A verificar-se tal ocorrência, agradeço antecipadamente todos os esclarecimentos bem intencionados.

Foi bem longa a agonia de FMG, cujo universo integrava a agora IFM. Posteriormente, a empresa veio a ser adquirida e operada por outra sociedade, que passado algum se viu forçada a interromper a produção e encerrar a fábrica. Seguiu-se uma longa, corajosa e persistente acção reivindicativa dos trabalhadores, sempre nos limites da estrita legalidade e da compostura cívica. Ao cabo de muitos meses de angústia e de encontros com as autoridades e com representantes dos patrões, foi possível chegar a um acordo, recebendo os trabalhadores parte dos salários em atraso e indemnizações de despedimento. 
Muitos meses depois foi retomada a produção, mas só com menos de metade dos trabalhadores antes ao serviço da empresa. Aquando da selecção a que se procedeu para escolha dos que agora continuam a produzir, os delegados sindicais, que lideraram a pacífica acção reivindicativa, ficaram de fora. Foi pena, pois qualquer que tenha sido a justificação, a verdade é que em circunstâncias análogas são sempre os sindicalistas os primeiros a ter de calçar os patins, para rumar a outros postos de trabalho.
Apesar deste incidente, o líder da CGTP Carvalho da Silva, o mais culto, experiente e diplomado dos dirigentes sindicais portugueses, esteve há pouco tempo em Tomar, num encontro/repasto com todos os antigos trabalhadores, para comemorar a vitória alcançada. A vinda do ilustre sindicalista diz bem da real importância a nível nacional da solução alcançada na IFM/PLATEX. Regra geral, no nosso país as empresas morrem e passam ao esquecimento, como aqui aconteceu com a Fiação, a Matrena, Porto Cavaleiros, serrações e etc. Ao invés, na IFM, graças à acção cordata mas firme dos trabalhadores e ao bom senso dos patrões, a empresa ressuscitou e já produz novamente. Com menos de metade do efectivo antes ao serviço, é verdade. Mas com tempo, coragem e determinação, a produção aumentará pouco a pouco, permitindo readmitir mais colaboradores. Oxalá. Apenas é indispensável que o produto final seja competitivo em preço e em qualidade, tanto no mercado nacional como no agora global. Sem isso, tudo será provisório e votado ao insucesso.
Por analogia, temos a situação sócio-económica da cidade e do concelho a esvaír-se pouco pouco a pouco dos seus recursos humanos. Com efeito, forçados pela ausência de perspectivas, pela cada vez  mais fraca qualidade de vida e pelos custos nítidamente superiores aos de outros concelhos próximos, os habitantes de há pouco ou de há várias gerações ainda em idade activa, são cada vez mais numerosos a procurar residência e emprego em concelhos mais amigos dos seus cidadãos/eleitores/contribuintes. Tal como o célebre algodão do anúncio, os dados estatísticos também não enganam. Outrora 2º concelho do distrito, em termos populacionais, logo a seguir a Santarém, agora até já fomos ultrapassados por Ourém, em tempos uma vilória perdida. E estou convencido de que os resultados do censo agora em curso vão causar um choque violento em Tomar. Vamos aguardar.
O princípio da solução para semelhante tragédia colectiva é assaz simples:  só diminuindo previamente e de modo severo as despesas de funcionamento da autarquia, a tal "despesa corrente primária", será depois possível baixar os impostos locais, as taxas e os preços, condição sine qua non por sua vez, para tornar o custo de vida mais convidativo, susceptível de atrair empresários e de criar empregos produtivos de mercadorias transaccionáveis. Enquanto não houver coragem para se trilhar esse caminho, como foi feito designadamente na IFM, a autarquia não será parte da solução mas, pelo contrário, O PROBLEMA. E quanto mais tarde pior maré, dizem os velhos pescadores... Alhear-se dos problemas -de forma deliberada ou por mera ignorância- apenas pode contribuir para os agravar.

Sem comentários: