quarta-feira, 9 de março de 2011

A CIGARRA E A FORMIGA

(Jean de La Fontaine, 1621/1695)

A CIGARRA E O FORMIGA - VERSÃO TOMARENSE MODERNA

Antoine de La Chaussée

Era uma vez na borda da estrada, entre Tomar e o IC3. Num MERCEDES Série S, a jovem cigarra parou a observar a formiga, levando para o toca algum alimento. Chovia a cântaros, mas como tinham andado ambas na mesma turma da escola da Várzea Grande, achou conveniente parar e meter conversa. -Então rapariga! Mesmo com este dilúvio, continuas na tua labuta?! Não te acauteles, não! Se continuas assim, ainda apanhas alguma pneumonia e vais desta para melhor! -Pois é, mas vem aí o inverno, o frio, e ai de quem não tenha algumas reservas e alguma poupança! E tu, como tens passado? -Tudo na maior. O meu pai tem uma empresa de obras públicas, dessas que adjudicam rotundas a meio milhão de euros, caminhos pedonais a 200 mil e envolventes a dois milhões e meio. Aqui há tempos até arrecadou mais de cinco milhões para transformar um estádio num campo de treinos, vê lá tu bem! É dinheiro a rodos. Olha vou agora até ao casino, divertir-me e estoirar umas massas... -Faz boa viagem e obrigada por te teres lembrado de mim.
-Desgraçada, um dia destes acaba-se a mama, só sabes é estragar e vais fica na miséria, pensava a formiga enquanto continuava a arrastar a comida rumo à toca.
Anos mais tarde, a cena repetiu-se, desta vez com a cigarra pilotando um magnífico FERRARI, mas vindo em sentido inverso. -Bom dia! Não anda por aí a minha companheira de escola? -Não senhora. É minha prima. Adoeceu sabe! Está no hospital com uma pneumonia. Apanhou muita chuva durante a sua labuta diária. Tem perguntado por si. -Nesse caso, os meus votos de melhoras rápidas. Diga-lhe que tudo me corre bem e que vou para Paris, durante uns tempos largos. -Fique descansada. Serão entregues! E já agora que vai viver para Paris, se por acaso encontrar esse tal La Fontaine, diga-lhe que se vá lixar e mais as suas fábulas da treta! -Está bem! Se o vir, não me esqueço! -Tenha uma boa viagem!
Passaram mais anos e certo dia a cigarra apareceu à beira da estrada, frente à toca da formiga. Vinha a pé, com cara de pouca saúde e andrajosamente vestida. Aproximou-se da entrada e perguntou a uma formiga do carreiro pela sua amiga de escola. -Morreu! Não aguentou aquela pneumonia causada pelas muitas molhas durante a faina. Mas eu vou chamar a prima. É só um bocadinho.
-Ora viva, sou a prima da sua falecida amiga. Diga lá então. -Não estou nada bem. Lá em Paris sempre encontrei o La Fontaine... -Deu-lhe o meu recado? -Dei, dei; disse-me só "Espera-lhe pela volta!" Na altura não percebi, mas depois a situação complicou-se de tal forma que agora já compreendo. Vivo na miséria. Até passo fome! -Então e a construtora do seu pai? Ia tudo tão bem, era só grandes negócios... -Pois era, mas depois faliu e os patrões fugiram para o Brasil. Ficaram a dever por todo o lado. Até os empregados, coitados, estão a arder com vários meses de salário. Uma desgraça! Por acaso não me pode ajudar ? Só que fosse um pratito de sopa... -Dar de comer a quem tem fome, é um preceito que sempre aqui foi respeitado. Entre e sente-se.
Terminada a austera refeição, a prima da cigarra arriscou: -Enquanto não arranja mais nada, se quiser temos ai uma roupa para passar a ferro. Pagamos dois euros e meio à hora, mais almoço e jantar. Se lhe interessa...
-Então mas para passar a ferro não era a seis euros à hora?  -Tem razão! Era sim senhora! Mas isso foi no tempo dos fundos europeus. Agora são dois euros e meio. E é pegar ou largar, que interessadas não faltam... Não há fome que não dê em fartura, nem fartura que não dê em fome.


3 comentários:

Anónimo disse...

Ui.........
Vejo tantas cigarras para tão poucas formigas...
As formigas,coitadinhas,a abster-se ou a votar nas cigarras...
E interrogo-me:
Quantas formigas miseráveis custa cada cigarra a tempo inteiro,com carro dos bons,ajudas de custo,combustível,telemóvel,tudo "àvara larga" ?
Haverá um dia a Revolta das Formigas?
E o que farão as cigarras?
E os grilos?
E os pirilampos?
Como será essa noite?
E o dia seguinte?
É das cigarras ou das formigas?
Dos vereadores ou dos eleitores?

Anónimo disse...

Isto está é infestado de lacraus...

Anónimo disse...

Olhe que não... olhe que não...
O Lacrau do Nabão