segunda-feira, 21 de março de 2011

DESCOLAR SEM ASAS

Para descolar, os aviões têm de atingir uma determinada velocidade. Depois é só usar os flaps e, graças às asas, descolam imediatamente, começando a ganhar altura. Embora sem asas nem flaps, que os anjinhos são raríssimos na carreira, os políticos têm tendência para descolar, não após atingirem  velocidade adequada, mas ao fim de certo tempo nos cargos. Veja-se o caso de Sócrates e do seu governo. Observe-se a situação da câmara nabantina.
Entusiasmado com os sucessivos PECS, o nosso primeiro-ministro visivelmente descolou. Ao comprometer-se perante a senhora Merkel e restantes parceiros europeus, com medidas que antes considerou desnecessário negociar com a oposição, debater com os parceiros sociais, ou delas dar conhecimento ao senhor Presidente da República (não pela pessoa, mas pelo cargo), mostrou ao País estar já a viver numa espécie de realidade paralela. Um mundo fantasmático onde o que conta são as sucessivas vitórias sobre os adversários. Mesmo que tais triunfos sejam do tipo pírrico, como lhe está finalmente a acontecer com este derradeiro êxito em Bruxelas, que o vai liquidar enquanto primeiro-ministro. Tenho para mim que, ou foi tudo muito bem agenciado, ou vai-lhe sair o tiro pela culatra. Esqueceu um princípio elementar, enunciado por Nicolau Maquiavel, há mais de cinco séculos: "Faz todo o mal de uma só vez e o bem a pouco e pouco."
Porque uma coisa é indesmentível: Desde há largos meses que o governo deixou de governar. Tem-se limitado a uma espécie de luta corpo a corpo com um adversário cada vez mais pesado. A dívida pública que não tem parado de aumentar. De tal forma que as agências especializadas já vaticinaram que só estabilizará entre 2018 e 2020, nas actuais condições de crescimento e de mercado financeiro. Mas isso Sócrates nunca disse aos portugueses. Só boas notícias, tanto quanto possível.
Embrenhado na citada realidade paralela, resolveu apostar a dada altura (vá-se lá saber porquê) numa ajuda externa exclusivamente europeia. Sem a participação do FMI. Por saber que é mais fácil iludir os europeus? Por simples birra? Certo, certo, é que já declarou não estar disponível para governar com aquele fundo, de que Portugal também é sócio. A ementa não lhe deve assentar bem no estômago. Ao que os líderes europeus responderam, dizendo que qualquer ajuda externa implicará sempre a participação do FMI.
Outro tanto tem vindo a acontecer com os senhores autarcas locais que vamos tendo. A maioria relativa já demonstrou não ter quaisquer projectos consequentes e adequados, ou sequer capacidade ou vontade para os elaborar ou mandar fazer. Limitou-se a adjudicar a destempo obras estapafúrdias, para cuja factura não sabe ainda muito bem onde irá conseguir os fundos necessários para honrar a obrigatória participação do município. Aproveitou também para contratar mais funcionários. 13 de uma assentada, mais 23 pouco depois, entre os quais 4 quadros superiores. Um deles para uma área tão prioritária e de tão elevado retorno como é o desporto local. Tanto realismo económico chega a causar dó.
Obrigado a liquidar à ParqT a bagatela de 7 milhões de euros mais alcavalas, em vez de esclarecer os eleitores concelhios sobre o que aí vem, o efectivo do PSD tem-se mantido mudo como uma carpa sobre tal assunto. Decerto não por mero acaso, constou nos últimos dias, nos chamados meios bem informados, que afinal Corvêlo devia sair em Abril, mas só sairá em Agosto. Por causa da Festa dos Tabuleiros e do seu (dele, Corvêlo) 64º aniversário, em Julho. Projectos? Táctica? Estratégia? Ideias novas? Nem indícios. Só os finais de mês é que contam?
Por seu lado, os dois eleitos socialistas, após terem renegado alegremente tudo aquilo que, enquanto geração Tomar, prometeram aos eleitores, insistem no desempenho simultâneo de políticos da maioria e da oposição. Maneira que julgam discreta de irem culpando o PSD por tudo aquilo que corre mal ou não anda sequer, ao mesmo tempo que se outorgam sucessos que ninguém vê. Apesar de maioritários em conjunto com os IpT, após 15 meses no poder ainda nunca conseguiram articular o que quer que fosse com eles, consentindo assim que os PSD vão fazendo o que bem lhes apetece, dentro das suas limitadíssimas capacidades. É o que se pode caracterizar como uma vivência política nas altas camadas da atmosfera, onde não chegam os problemas do mundo real.
Com uma experiência prévia de 8 anos na presídência, mais 5 como vereador, Pedro Marques nunca conseguiu descer mentalmente do pedestal da cadeira do poder, à qual tinha acedido praticamente "pela janela", mercê de um evidente bambúrrio. Mesmo depois de o eleitorado, já por duas vezes, lhe ter indicado que agora os tempos são outros e que o que lá vai, lá vai. Estará à espera de quê? Que os cidadãos reconheçam que se enganaram?
Temos portanto a situação costumeira. Em Lisboa, tudo aponta agora no sentido de submeter ao eleitorado a actual problemática, agindo depois em função da resposta obtida. Em Tomar, pacatamente, tudo como dantes, quartel general em Abrantes. Em finais de 2013 logo se vê. Oxalá não seja já demasiado tarde. Ou estão convencidos de que o país e o mundo pararam, ou vão parar,  à nossa espera?

6 comentários:

Anónimo disse...

PARA MEMÓRIA FUTURA :


"Sábado, 19 de Setembro de 2009
DIA 27 CONTRA A CRISE VOTAR ! VOTAR !

António Rebelo

Quando ainda estava convencido de que, com o agravar da crise, os tomarenses começariam a "dar o corpo à curva", prometi aqui mesmo que, no momento oportuno, revelaria o meu sentido de voto. Chegou a altura de cumprir o prometido, embora já esteja persuadido de que a esmagadora maioria dos tomarenses nada vai ligar ao que agora escrevo, pois como habitualmente são especialistas seja de que assunto for. E então em matéria de política, nem vale a pena tecer mais comentários. Vamos portanto ao âmago da questão."

.../...

"Usando uma linguagem de cariz burocrático, finalizo dizendo que, tudo visto e devidamente ponderado, não posso deixar de votar PS, no próximo dia 27. Que cada eleitor saiba assumir as suas responsabilidades, são os meus votos.

Nota final: "Tomar a dianteira" continuará à inteira disposição dos habituais leitores, mas interrompe aqui as suas publicações diárias. Tencionamos recomeçar no dia 27 de Setembro, ao fim da tarde. Muito obrigado pela vossa atenção."

Anónimo disse...

Nossa senhora professor... nem um comentário. Isto anda fraco.

Anónimo disse...

Não diga que o país e o mundo vão parar à "nossa" espera. Já ficou por demais evidente que o país e o mundo estão à "sua" espera !

Le Pen do Nabão.

Unknown disse...

Para anónimo em 23:06

Se não erro, é já a 2ª vez que resolve citar-me. Tem todo o direito. Mas já me ouviu dizer o contrário? Será capaz de me explicar qual era a alternativa em 2009? Não em termos de pessoas, na questão dos programas...
Já que estou a responder-lhe, diga-me uma coisa, se puder: Na sua óptica é proibido mudar de opinião? Mesmo perante factos novos?

Anónimo disse...

Para António Rebelo,

Proibido mudar de opinião?

Jamais!!!!!!!

Respeitar a opinião dos outros e o contraditório,mesmo que nos desagrade ou aos nossos amigões?

Sempre!!!!!!!

Duplicidade de critérios,consoante as conveniências?

Não!!!!!!!

Entendidos,António Rebelo?

Anónimo disse...

Tal como ninguém quer dar dinheiro ao "drogadito" para alimentar o vício, tão pouco os contribuintes europeus (e não só) querem continuar a sustentar os "vícios" dos políticos portugueses, habituados a obras públicas sem necessidade, a uma máquina pública insustentável.
O Lacrau do Nabão