sábado, 26 de março de 2011

PIOR A EMENDA QUE O SONETO...


Li e reli esta manchete do EXPRESSO de hoje, pois nem queria acreditar. Fez-me até relembrar um episódio ocorrido há largos anos, na estrada entre Alexandria e o Cairo (Egipto). Com o autocarro cheio de turistas e a fazer alguns SS, houve quem chamasse a atenção da guia para esse facto. A resposta foi pronta e "tranquilizadora": -Peço muita desculpa a todos, mas de facto o motorista não dormiu nada esta noite, devido a uma horrível dor de dentes. O que levou imediatamente alguns passageiros a solicitar a paragem do autocarro, seguida de algum descanso para o condutor.
Assim estamos agora, perante este insólito caso, relatado na manchete do semanário citado. Com efeito, escreve-se na página 3 "Segundo o Expresso apurou, Cavaco deu voz à preocupação (sua e das autoridades europeias) de que a descoberta de novos buracos nas contas ponha Portugal ainda mais em cheque, mas também a UE, que teria falhado pela segunda vez no acompanhamento de outro Estado membro. O pior cenário seria a repetição do que se passou na Grécia: a revelação de despesas escondidas e a evidência do falhanço dos mecanismos de controlo europeus. Para Passos -que tem dúvidas sobre o real estado das finanças- este travão em nome da salvação nacional, pode significar a perda de um poderoso trunfo eleitoral."
No meu entendimento, estamos perante um caso em que manifestamente é pior a emenda que o soneto. Isto porque "os mercados", ao lerem semelhante coisa, se antes já tinham dúvidas, passam a estar alarmados. Tal como sucedeu no relatado caso do autocarro egípcio.
A demonstrar que assim é, Daniel Bessa, ex-ministro da finanças, escreve nomeadamente o seguinte, no Expresso-Economia, sob o título FALÊNCIA: "O Estado português está há muito em processo de falência. A culpa é de todos nós, a começar por mim, que nunca o disse, de forma audível, com esta clareza. A recusa em encarar a situação agravou-a neste último ciclo político, de forma dramática, a partir do momento em que se alteraram os mercados do crédito (tornados muito mais avessos ao risco) e os credores, em concreto, foram deixando de confiar no devedor. Não podendo fugir aos grandes credores internacionais, únicos que poderão continuar a financiá-lo, impondo, naturalmente, as suas condições ... ... ...o Estado português deixou de cumprir os seus compromissos para com os credores internos, perante os quais tem poderes de soberania: reduziu pagamentos por salários, reduziu pagamentos por pensões, deixou de pagar a fornecedores, confiscou rendimentos, de forma por vezes arbitrária.
Pior, muito pior, é que, pela importância dos seus compromissos, o Estado português ameaça arrastar, se é que não arrastou já, no seu processo de falência, a falência de uma grande parte da economia privada do país. E mais não digo sobre este assunto.
Não vejo outra solução que não seja falar verdade. ... ... Saber do que falamos e de quando falamos (municípios e regiões autónomas, empresas públicas, BPN, PPP, avales prestados) e tentar um recomeço. Não vai ser fácil. E sem verdade, será impossível. 
É a maior de todas as mudanças que espero de um novo ciclo político."
Será por isso que sobre as finanças autárquicas nabantinas paira um estranho, longo, persistente, pesado e inquietante silêncio? Ou estarão apenas a tentar ganhar tempo e coragem para revelar a triste realidade?

O vermelho e o azul são da responsabilidade de Tomar a dianteira, sendo a escrita de Daniel Bessa, conforme indicado pelas aspas.

2 comentários:

Anónimo disse...

"E mais não digo sobre este assunto"

Esta é a atitude habitual entre os portugueses, e depois choram.
Aquando do debate sobre o estado do Concelho, organizado em Setembro último pela rádio Hertz, o então presidente do Politécnico disse o mesmo sobre a situação deste.
O mesmo se diz em Tomar sobre a crise que há dezenas de anos vem corroendo a terra do Nabão, e que está a destruír todas as instituições. Quando não houver nada produtivo quem é que vai dar esmolas às instituições de Economia Social, também elas em dificuldades ?
A democracia pressupõe debate público de tudo quanto é do interesse público. Tal exigência é ainda maior em época de Economia do Conhecimento.
Daniel Bessa, como os políticos e outros, e o povo, o grande responsável pela situação a que chegámos, porque a soberania, o poder supremo está no povo, evitam falar dos assuntos, daí esta miséria em que vivemos, que vai piorar, E MUITO!!!
Como ser humano pensante e que está vivo, como cidadão e como economista "não vou por aí".
SÉRGIO MARTINS

Anónimo disse...

Já diz o povo:
"Quem tem cu,
tem medo!"

Cavaco também...