quarta-feira, 30 de março de 2011

A INFORMAÇÃO E A MANIA DO SEGREDO

Continuam os tomarenses, ou pelo menos a maioria deles, acomodados com os autarcas que temos, os quais em vez de informarem adequadamente quem os elegeu, procuram pelo contrário ocultar tudo o que podem. Chegou-se à lamentável situação actual em que nem respondem aos requerimentos e outras solicitações da oposição, nem cumprem sequer as determinações da Comissão de Acesso aos Dados Administrativos, composta por deputados e presidida por um juiz-conselheiro do Supremo Tribunal Administrativo. Por este caminho, vão acabar por até ignorar sentenças dos tribunais, antes do final deste mandato. Vai uma aposta?
Face a tais desmandos, que são uma negação da democracia, continuam a reinar em Tomar a passividade e a paz dos cemitérios. E ai de quem ousar pensar diferente, erguendo a sua voz para reclamar mudança de hábitos. É logo apodado de todos os nomes possíveis, pouco importando que sejam pertinentes ou não. Somos assim. Falta-nos mundo, mas ficamos muito ofendidos quando no-lo dizem, porque nesta terra a verdade continua a magoar. 37 anos após nos terem dado a democracia de bandeja. Ou pelo menos os seus contornos...
Sobretudo para quem esteja convencido de que fazemos parte da Europa, somos um país desenvolvido e cavalgamos a onda do progresso, pelo menos meia hora à frente do futuro, aqui vai uma pequena crónica sobre informação e actuação dos eleitos...estrangeiros, claro!

"No site da Casa Branca, um atalho permite aceder à transcrição integral dos encontros com a imprensa. Trata-se de uma tradição tão antiga quanto a democracia americana. Todos os dias, o porta-voz presidencial, um conselheiro ou o próprio presidente, submetem-se a uma sessão de perguntas e respostas perante os jornalistas acreditados. Tudo o que é dito durante esses encontros, que têm lugar na sala de imprensa, é "on", portanto imediatamente transmitido ao público leitor, espectador ou ouvinte. Cada palavra dita é fielmente reproduzida na Internet, de forma a que os internautas do mundo inteiro dela possam tomar conhecimento, se assim o entenderem.
Em Inglaterra, o mesmo tipo de encontro tem lugar duas vezes por dia, perante os jornalistas acreditados junto do "10 Downing Street" (sede oficial do governo britânico).
Em França, não existe nada semelhante -diz-nos a nossa colega encarregada das questões diplomáticas do Le Monde, Natalie Nougayrède, na sua emissão de decifração dos media "Paragem na Imagem", difundida no site homónimo e animada por Daniel Schneidermann. De tal maneira que, explica ela, durante o conflito líbio, no qual a França tem uma importância preponderante, os jornalistas apenas têm acesso a ocasionais encontros para informação técnica, no ministério dos negócios estrangeiros ou no da defesa. Uma vez que o lugar de porta-voz da presidência da República foi suprimido em 2008, é virtualmente impossível recolher na hora o imediatamente publicável, o "on" da Casa Branca, sobre as operações militares em curso.
Ainda a semana passada, durante o encontro de imprensa no Quai d'Orsay (sede do ministério dos negócios estrangeiros francês), um jornalista interrogou o porta-voz sobre uma questão essencial -quem comanda a operação militar conjunta actualmente em curso? A resposta foi singular: "Estamos a trabalhar activamente nessa questão com os nossos parceiros." É no fundo, implicitamente, um comportamento idêntico aos dos polícias, quando intimam os cidadãos-mirones: Vamos a circular daqui para fora! Não há nada para ver!
Voltando ao site da Casa Branca, constata-se que o porta-voz, Jay Carney, é obrigado a enfrentar diariamente um verdadeiro bombardeamento de perguntas. "É importante, explica Natalie Nougayrède, que o poder seja responsabilizado pelo que diz e obrigado a explicar-se sobre as decisões que anuncia."
Igualmente presente no estúdio de "Paragem na Imagem", o jornalista David Pujadas vê na disparidade comportamental entre Londres e Washington por um lado, e Paris pelo outro, "uma diferença de mentalidade, de cultura entre os ditos países. E mesmo uma outra atitude perante a verdade e a mentira." Quer isso dizer que em França os políticos "dão música" aos jornalistas e, através deles, aos eleitores?, perguntou-lhe Daniel Schneidermann. "Dão música e não só! -respondeu-lhe o apresentador do Jornal das 20 no 2º canal. Em França, um político que mente, não é assim muito grave. Nos Estados Unidos ou em Inglaterra é uma coisa inimaginável."
"Temos em França uma tradição de não-informação, opinou Philippe Chaffajon, director de FranceInfo. "Basta perguntar aos correspondentes estrangeiros com base em Paris. Estão permanentemente alucinados perante a maneira como tudo funciona."
Resta-nos, por conseguinte, o recurso ao "off" para tentar perceber o que se esconde por detrás do paleio oficial dos porta-vozes franceses. Quando há!"


Franck Nouchi, Le Monde, 29/03/11, página 34


Comentário final de Tomar a dianteira


Afinal trata-se de uma tradição francesa. Tal como sucede em relação aos que morrem, que em "tomarês" "vão para o Maneta", por causa do general Loison, que era maneta e durante a última invasão francesa esteve aquartelado em Carregueiros, aí mandando matar quantos porisioneiros lhe apareciam, com a célebre frase "fusiller já!", a única que sabia usar em "português", também a informação autárquica foi "para o maneta".  Só interessa a propaganda. Enquanto houver eleições. Haja paciência!

1 comentário:

Anónimo disse...

Excelentíssimo Senhor Professor:
O que escreve sobre Tomar, aplica-se ao País. Têm andado a dizer-nos, repetidamente, que não precisamos de ajuda externa. Quem governa o País há seis anos e governou mais uns tantos anteriormente, acusa, agora, a oposição de ser responsável pela situação em que nos encontramos. Quem escondeu a verdade? Sejamos coerentes.
Dizem que a Grécia é o berço da Democracia, mas os bons exemplos, a par de muitos outros menos recomendáveis, é certo, fazem daquele País, Nação ou conjunto de Estados, um modelo de que os próprios americanos se orgulham e muitos estrangeiros admiram.
Portugal – e Tomar, por arrasto – só mudará quando nos falarem verdade, quando formos capazes de colocar o interesse nacional acima dos interesses pessoais e partidários. É preciso que Portugal se transforme num país a sério e deixe de ser uma feira de vaidades!
Só não percebe isto quem não quer. Entretanto, continuaremos a fundar-nos.
Cordialmente,
Visconde da Aldeia