"Há as declarações oficiais. As do governo português afirmando que o programa de consolidação orçamental prossegue e que o país não necessita de ajuda internacional.
As da chancelerina Merkel, que garantiu na quarta-feira passada, 2 de Março, não exercer qualquer pressão sobre Lisboa, para que Portugal solicite a assistência financeira do FMI e da UE.
E depois temos a realidade dos mercados e das estatísticas económicas. Sob forte pressão por parte dos investidores, Portugal encontra-se agora numa situação mais precária do que nunca. Há mais de um mês que a dívida pública é negociada nos mercados acima dos 7%, para os empréstimos a dez anos. Um nível que todos os analistas consideram insustentável. E o país está ainda longe de suprir as suas necessidades de financiamento para 2011. Até ao fim deste ano ainda tem de conseguir empréstimos da ordem dos 16 mil milhões de euros, para poder honrar as necessidades de reembolso.
Estes problemas levaram a agência de notação financeira Standard & Poor's a manter o país sob vigilância negativa, na quarta-feira passada. A citada agência pensa que Portugal poderá ser "constrangido" a pedir ajuda externa, como já fizeram a Grécia e a Irlanda, via Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), adoptado em Maio de 2010 pelos Estados da zona euro. "Nos fundamentais, a situação é péssima. O crescimento económico, o sector bancário, o endividamento, e mesmo a configuração política, nada está bem", opina Gilles Moëc, analista económico no Deutsche Bank.
Na verdade, numa altura em que a retoma começa a notar-se na Europa, o PIB português mergulhou no vermelho no quarto trimestre de 2010 a -0,3%. Enquanto isto, o endividamento do sector privado já atinge 245% do PIB.
O governo socialista minoritário está numa luta infindável com a oposição no parlamento, sobre os detalhes do plano de austeridade. Os especialistas duvidam que consiga reduzir, conforme acordado, o défice orçamental abaixo dos 3% em 2012, contra 7,3% actualmente.
A Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o governo português estão aliás a negociar uma nova série de economias e de reformas. Bruxelas aguarda um anúncio público sobre o assunto antes da cimeira europeia de 11 de Março.
A ideia é conseguir ganhar mais algum tempo, na esperança de evitar, ou pelo menos adiar, um pedido de ajuda. "Mas parece inevitável que Portugal acabe, mais cedo ou mais tarde, por pedir ajuda financeira. De livre vontade ou forçado pelas circunstâncias", opinou Gilles Moëc. Por enquanto, Lisboa continua a resistir. O governo não quer avançar enquanto as condições do FEEF não forem modificadas. Tem esperança, entre outras coisas, que as taxas de juro exigidas em troca dos empréstimos europeus -julgadas "punitivas" pela Irlanda- sejam reduzidas.
"Os nossos esforços têm de ser acompanhados por um esforço europeu. Esperamos decisões importantes em Março. Tenho esperança de que a Europa seja capaz de dar os passos decisivos indispensáveis", declarou o ministro das finanças Teixeira dos Santos.
Marie de Vergès, LE MONDE, 06/03/11, página 11 - Economia
Os sublinhados são do tradutor.
Nota final de Tomar a dianteira:
Continua a "Dona Branca". Pedir emprestado a uns para pagar a outros. Exactamente como vem sucedendo aqui em Tomar, naturalmente em escala muito mais reduzida. Mas a prática quotidiana é a mesma em ambos os casos. Em vez de medidas corajosas, simples passes de ilusionismo. Ou discursos bonitos de Sócrates e silêncios sepulcrais de Corvêlo. Até quando vão e vamos aguentar?
5 comentários:
Não é só Portugal. A Grécia e a Irlanda continuam com a corda na garganta, mesmo depois da entra da do FMI e após o "resgate de Portugal" outros países entrarão em crise, até sobrar apenas a Alemanha.
Os Homens da Luta é que têm razão: - Vamos mostrar à Alemanha que a Europa não pode ser o que eles querem, mas o que as nações europeias querem.
Proibam-se as importações de Mercedes, Audis e BMW.
A Luta continua!
As medidas são simples e estão enunciadas há muito:
- despedir 200 000 a 300 000 funcionários públicos;
- baixar os ordenados dos funcionáros públicos para metade, ou menos;
- reduzir as pensões da Caixa Geral de Aposentaçõe para um terço;
- reformar o Serviçi Nacional de Saúde;
- reduzir o Ministério da Educação ao mínimo, e autonomizar as escolas colocando à sua frente um Administrador que contrata e despede;
- encerrar Universidades e Politécnicos;
-reduzir as empresas pública, como as de transportes (fechar ramais da CP);
- reduzir a dependência dos combustíveis importados, o que exige ferrovia e TGV;
- colocar as autarquias a depender de si próprias, se não têm receitas fecham as portas;
- reestruturar todo o país, com encerramento da maior parte das empresas obsoletas, o que levará ao aumento do desmprego e aos salários para níveis do Terceiro Mundo;
- aumentar o IVA para 25%, como na Escandinávia, ou mais.
etc.
Ou isto ou a falência colectiva, que está garantida.
Que o país vai ao fundo ninguém tem dúvidas.
O Sócrates, que só sabe que nada sabe, já não fará nada.
O PSD de Passos Coelho/Miguel Relvas anda brincar à escolinha dos malucos do riso. Vejam o jornal "I" de hoje, onde o PSD e aquela dupla são arrazados. Até o Nogueira Leite, um dos patronos do Coelho, diz que o partido é frouxo.
O Santana Lopes volta a dizer que está a pensar em criar um partido de centro-direita, com o CDS? Venha ele. Como seria em Tomar ?
A realidade nacional
Este texto de Moisés Espírito Santo merece ser difundido, pois reflecte bem o povo que somos - tomarenses, ribatejanos, enfim portugueses - e está adequado ao periodo pós eleitoral.
Dinheiros públicos (e miséria privada)
A grande massa dos portugueses, que vota nos governantes esbanjadores e apoia obras públicas caras e ostentatórias, não tem, no quotidiano, a noção reflectida donde procedem os «dinheiros públicos». Essa massa de ignorantes não pensa nisso; fica-se com a ideia de um cofre inesgotável, dum banco anónimo, dum tesouro mágico. É como se fossem dinheiros alheios ou de «ninguém» que se podem esbanjar e que não carecem de controle popular (nem de prestação de contas).
Será necessário dizer, incessantemente, que os «dinheiros públicos» provêm exclusivamente dos impostos, das licenças, matrículas, multas e outras cobranças, ou extorsões, aos cidadãos. Não são um tesouro mágico. São como a tesouraria duma colectividade.
Se os dinheiros partem em auto-estradas, TGVs, aeroportos, submarinos, automóveis de serviço, jantaradas oficiais, compra de bancos falidos, estádios, piscinas, polidesportivos, rotundas e arranjos urbanos para-saloio-ver (isto é, para o currículo dos políticos), e em pensões milionárias (duplicadas e triplicadas) dos gestores públicos e dos políticos, vai faltar dinheiro para os salários, os incentivos ao trabalho e à produção, para os subsídios de desemprego, a saúde, a educação, as pensões, a assistência aos pobres e os abonos de família. Tão verdade como eu estar aqui.
Esta ignorância, irreflexão ou distracção alimenta a corrupção e a fraude.
«Dinheiros públicos» são como dinheiros de «ninguém», como os caminhos de que cada um se pode servir desde que tenha acesso a eles. Podem ser vistos como «dinheiros do Estado».
Ora, como a grande massa de gente confunde o Estado com o Governo, e como o Governo se pode assemelhar a uma camarilha de malfeitores, «ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão».
Fraudar até pode ser uma garantia de reeleição democrática («Ele rouba mas faz»,
(2ªparte)
«É esperto...»). Esta tolerância popular com a corrupção e a fraude aumentou com a democracia. Constituiu um traço do parasitismo,uma forte componente da mentalidade portuguesa.
O Correio da Manhã lançou uma petição para a discussão no Parlamento duma proposta de lei nesta matéria. Louvável. O problema é que as leis, para serem praticadas, necessitam dos governos enquanto os governos democráticos,como os que conhecemos desde há trinta anos, são cúmplices dos corruptos.
A democracia chega a confundir-se com uma fraude. Um autarca que esbanja milhões em luxos públicos - para o seu próprio currículo político - que instaura uma piscina ou um polidesdeportivo em cada freguesia de mil habitantes, que abre rotundas, estradas,
infraestruturas pelos campos fora para servir uma vivenda isolada, diz que essas obras foram pagas «com dinheiros públicos». Nunca diz: «fruto dos sacrifícios dos contribuintes».
Se os cidadãos reflectissem que esses empreendimentos (construídos para o currículo pessoal dos políticos) estão aí em prejuízo dos gozos da saúde e da educação gratuitas, do subsídio de desemprego, dos abonos de família, das reformas, da assistência aos mais pobres e da alimentação doméstica, isto é, o que se gastou aí vai faltar para a equidade social... eu podia jurar-vos que, aquando das respectivas inaugurações, esses governantes gastadores dos dinheiros colectivos (se não apropriadores dos mesmos), deveriam ser recebidos não com aplausos mas com vaias, palavrões e, até, com gestos menos próprios como, por exemplo, à tomatada e à pedrada [«Esta sua obra contribuiu para a nossa pobreza! O seu projecto de currículo pessoal produz miséria geral!»].
O problema é que são as culturas quem engendra as respectivas elites, daí que os povos têm as economias que merecem.
Já a maior parte dos «dinheiros de Bruxelas» (a nova visão dum D.Sebastião) se foi em carros topo-de-gama, casas luxuosas e paraísos fiscais. Os ministros de há 20 anos vangloriavam-se de que entravam em Portugal, de Bruxelas, «tantos milhões de contos por dia». Inúmeras siglas públicas e privadas chuparam esses
milhões, sem controle.
A decadência em que entramos também é o resultado desses parasitários «dinheiros de Bruxelas». Eles criaram a subsídio-dependência, afastaram os jovens do gosto do trabalho e deram cabo da agricultura e da pesca, passando nós a importar o que comemos. Quer dizer, acentuaram o tradicional parasitismo da mentalidade portuguesa.
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