Uma ideia a propósito da Corredoura
Com perplexidade, assisto a que progressivamente as lojas têm mesmo vindo a desaparecer da Corredoura. Mesmo a inovação, de louvar, da implementação de comércio de cariz mais actual, como a UFF, Store, Matreco, Trilhos urbanos ou a pizzaria, não devolveram à Corredoura a importância comercial que já teve. Penso, portanto, que realmente a abertura da Corredoura ao trânsito, de forma condicionada, deveria ser equacionada.
A largura da Corredoura permitia antigamente, no sentido ascendente, passeio do lado esquerdo-faixa de rodagem-estacionamento-passeio do lado direito. A minha sugestão desde há muito seria de considerar, também no sentido ascendente, largo passeio com possibilidade de promenade e esplanadas do lado esquerdo-faixa de rodagem-passeio do lado direito.
Assim, o percurso pedonal com possibilidade de fruição, faria a articulação desde uma zona mais larga da Praceta de Olivença, que se prolongaria até à Praça da República. O trânsito automóvel, sem estacionamento, viraria obrigatoriamente à direita, para a Rua Silva Magalhães.
Quem nos visita, poderia assim visualizar a Praça da República e, caso a pretendesse mesmo visitar com mais vagar, iria estacionar no respectivo parque, subindo a Rua Alexandre Herculano.
Considero que o acesso ao Centro Histórico feito pela Rua do Pé da Costa, como hoje acontece maioritariamente, é pouco digno e "entusiasmante".
Nuno Madureira 15/03/11
Não estando de modo algum em causa a honestidade intelectual, a sinceridade ou a boa-fé dos protagonistas, a verdade é que estamos perante uma convergência de pontos de vista, entre os arquitectos Costa Rosa e Nuno Madureira. Goste-se ou não, concorde-se ou discorde-se, é um facto. Ambos propugnam, numa curta frase, "Ó tempo volta para trás". Sem qualquer conotação político/partidária.
Outro tanto sucedeu com as gigantescas e impressionantes manifestações não partidárias da "geração à rasca" em Lisboa e no Porto. Que pretendem os seus organizadores e a generalidade dos manifestantes? "Ó tempo volta para trás". Com variadas conotações políticas não partidárias.
Óbvio que nem os dois tomarenses referidos, nem os manifestantes, expressam claramente os objectivos finais que pretendem alcançar com as suas propostas, ou simples queixas. É tudo implícito. Não-dito. Contudo, qualquer sociólogo mais metido nestas coisas terá detectado o desejo largamente partilhado de um rápido regresso a uma agora quase mitológica "idade de ouro".
Em Tomar, àquela época em que a numerosa guarnição militar (regimento, hospital militar, quartel-general, farmácia militar, banda de música, fanfarra, duas recrutas anuais, serviço militar obrigatório), as más estradas e a falta de meios de transporte individuais, tornavam o comércio local num verdadeiro maná, uma vez que os consumidores eram obrigados a abastecer-se na cidade.
À escala nacional, ao tempo dos empregos limpos, leves, bem pagos, seguros e para toda a vida laboral, dando direito a aposentações confortáves, bem como às formações universitárias, enquanto avenidas de acesso a esses mesmos empregos, que agora ou já não há, ou são extremamente raros (medicina. magistratura, diplomatas, forças de segurança e pouco mais).
Afinal, tanto em Tomar como em Lisboa, tanto os comerciantes locais como os manifestantes, se queixam do mesmo -Tudo é cada vez mais precário (clientela de uns, empregos de outros) e todos estão cada vez mais à rasca. E o problema tende a agravar-se, pois no meu entender, a solução não está nem nunca estará numa regressão, aliás impossível, mas sim em deixar de olhar doentiamente para o que já foi, passando a congeminar o que poderá vir a ser, adaptando-se sem cessar.
Na terra gualdina será até fácil fazer a demonstração de que estão equivocados. Basta abrir novamente a Corredoura ao trânsito e ao estacionamento, durante seis meses ou um ano, no máximo. Logo verão que o efeito será praticamente nulo, pois o que já foi, não volta nunca. E mesmo que voltasse, nunca seria a mesma coisa, devido à nova envolvência (onde estão agora as centenas e centenas de sargentos e de oficiais, relativamente bem pagos para a época, mas desprovidos de automóveis?) Até uma manicura conhecida já percebeu isso. Ainda um dia destes me confidenciou: -"No tempo das senhoras dos senhores oficiais é que era bom; agora é tudo uma miséria".
A nível nacional o problema é ainda mais grave. Desde logo porque os manifestantes não conseguem situar-se com relativa precisão no complicado tabuleiro da sociedade actual. Consideram-se a geração à rasca, o que é verdade, mas são também, na sua maioria, enrascados, enganados e iludidos, sem disso se teren dado ainda conta.A Prova é que até afirmaram, convictos, "Somos a geração mais preparada de sempre neste país", o que não corresponde de forma alguma à realidade envolvente. Têm diplomas, é verdade. Mas em termos de força laboral sabem e estão dispostos a fazer o quê? Já no século XVI Garcia da Horta dizia que "A experiência é a madre das cousas". Que experiência têm os nossos "à rasca/enrascados/enganados"? A do facilitismo do ensino, das noitadas, das cervejas, do copianço descarado, do corte e cola e das aulas/professores que são uma seca? Fome, sede, frio, miséria, horror, penúria, falta de liberdade, intolerância, tenacidade, coragem, perseverança, ler bem, escrever escorreito, pensar a sério, raciocinar de forma articulada, imaginar, criar, idealizar, projectar, sabem o que é? Estamos numa sociedade cada vez mais de "Saber fazer e saber dizer". Sabem fazer o quê? Conseguem dizer o quê?
A culpa não é vossa é de quem vos intrujou durante anos e anos, concedendo-vos facilidades em tudo e mais alguma coisa. Sobretudo no ensino, na maior parte dos casos uma vergonha. Para agora sofrerem o embate de uma sociedade cada vez mais agreste, na qual tudo tende a tornar-se cada vez mais complexo e difícil. Imaginem futebolistas, sem qualquer treino prévio, para além de uns ocasionais pontapés por aqui e por ali, a terem de defrontar o Real, o Barcelona ou o Manchester United. Havia de ser bonito! Pois é exactamente a mesma situação dos tomarenses e da geração à rasca perante o futuro.
Com uma agravante para os tomarenses: Os "à rasca" já arranjaram maneira de se manifestar. Não resolveu nada mas permitiu desopilar e tomar consciência da sua força enquanto grupo. Os tomarenses, nem isso. Continuam a aguardar um salvador, munido da cornucópia da abundância... Nem vale a pena aconselhar que é melhor esperarem sentados. Para dizer a verdade, nunca se conseguiram erguer, porque dá muito trabalho e não vale a pena. Pois!
4 comentários:
Da geração à rasca aos pais desta geração, também à rasca.
Pais e mães que durante anos, acreditaram estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já
que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.
Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A
vaquinha emagreceu, feneceu, secou.
Foi então que os pais ficaram à rasca.
Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à
borla nem se consome fiado.
Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.
São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração.
São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram
que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!
Um pai enrascado
Para o anónimo das 13:09,
Parabéns pela lucidez.
Não são as lojas que têm de "devolver" vivacidade às ruas. As lojas servem de chamariz quando vendem produtos apelativos, como em alguns casos, mas quando não há dinheiro não há volta a dar-lhe. E depois, convenhamos, o comércio em Tomar é completamente periférico relativamente ao existente quer em Leiria, quer em Torres Novas.
Abrir de novo a Corredoura ao trânsito é um desvario infantil com pitadas de saudosismo.
Porque não uma ciclo-via?...
P.M.
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