Em geral, os tomarenses sabem muito de política, de economia e sobretudo de economia política. Há contudo alguns seguidores habituais deste blogue que se confessam algo confusos com a evolução da crise política e económica, tendo solicitado alguns esclarecimentos. Este escrito é para eles. Os restantes estão dispensados, uma vez que não se trata de análises para especialistas, mas simplesmente de coisas rudimentares, para meros curiosos.
1 - A brusca mudança de Sócrates, ao declarar que caso a oposição não aprove o PEC IV, apresentará a demissão, nada mais é que a sequência lógica da sua manobras, iniciada com o anúncio em Bruxelas daquele plano, sem prévio conhecimento do Presidente da República ou do Parlamento, exactamente para provocar eleições antecipadas.
2 - Foi a saída airosa escolhida pelo actual primeiro-ministro, ao intuir que na actual situação nada ganharia em se obstinar, uma vez que a eventual ajuda europeia da FEEF reforçado, nomeadamente a compra de dívida, só entrará em vigor no Verão e a gravidade da nossa situação não permite aguentar até lá. O que implica a vinda do FMI.
3 - A demonstrar que assim é, Sócrates até foi adiantando, na entrevista de ontem à SIC, que a entrada do FMI significaria o corte do 13º mês, a redução do salário mínimo e despedimentos na função pública. Admitiu assim que as medidas já tomadas, incluindo as do PEC IV, são insuficientes para iniciar a estabilização da dívida pública, sem a qual não poderá iniciar-se a recuperação.
4 - Os sucessivos empréstimos a juros proibitivos e insustentáveis a prazo, têm como fim honrar parte do serviço da dívida, ou seja pagar apenas os juros do cada vez mais volumoso compromisso soberano. De acordo com os cálculos dos analistas internacionais, na melhor das hipóteses, a divida soberana portuguesa só deverá estabilizar a partir de 2018/2020. Mesmo que a futura ajuda externa nos seja concedida a uma taxa de 4,3%. Uma vez que actualmente as taxas a 5 e a 10 anos ultrapassam os 7%, o nosso futuro é bem sombrio.
5 - De acordo com o Relatório Nomura, citado por Martin Wolf no serviço para França do Finantial Times, "Em relação à Alemanha, o custo unitário da mão de obra entre 1999 e 2007, aumentou 31% na Irlanda, 27% na Grécia e em Espanha, 24% em Portugal. Estes países vão, por conseguinte, levar muito tempo a reencontrar a sua anterior competitividade." Donde a necessidade de recorrer à "dose cavalar", referida no ponto 3.
6 - Neste momento, e já desde há algumas semanas, tornou-se claro para os analistas dos mercados que a crise portuguesa apenas tem semelhança com a grega. Com efeito, enquanto que em Espanha foi o rebentamento prematuro da bolha imobiliária, provocado pela crise internacional dos subprimes, na Irlanda aconteceu algo semelhante, com a necessidade para o estado de socorrer de urgência os maiores bancos do país, o que elevou o défice para valores na ordem dos 40%. Por outras palavras em nenhum daqueles países a crise resulta do excesso de despesa pública. Em Portugal, ao invés, não se verificou o rebentamento de qualquer bolha ou a urgência de acudir aos principais bancos do país, excepto no BPN e no BP do Rendeiro. O nosso problema reside fundamentalmente no aumento galopante da dívida soberana, na incapacidade para a estabilizar apesar das medidas gravosas já adoptadas, e sobretudo no fraco crescimento económico, a partir de agora negativo, em virtude da inevitável recessão provocada pela ditas medidas de austeridade.
7 - Em Tomar, a situação é também desesperada, tudo levando a supor que a relativa maioria mantém a calma apenas por ainda não ter consciência da tragédia que provocou, ao resolver continuar com as grandes obras paivinas, quando era imperioso ter entrado em regime de drástica poupança, logo a partir do início do mandato, tendo em conta não só a enorme dívida global, a aumentar ao ritmo de mais de um milhão de euros mensais, mas também e sobretudo a previsível indemnização compulsiva à ParqT.
8 - Acumulados todos os erros económicos possíveis, com a complacência da oposição e sem que se vislumbrem as vantagens daí resultantes, resta aguardar a travessia da parte mais funda e com maior corrente do caudaloso rio. Refiro-me à necessidade de encontrar no mínimo aprovação prévia pela Assembleia Municipal e posterior concessão por uma entidade bancária de um empréstimo da ordem dos 10 milhões de euros = 2 milhões de contos. Com a economia local a definhar a olhos vistos de dia para dia, o que significa cada vez menos receitas para autarquia, quem vai conseguir pagar e quando? Alguém na autarquia saberá mesmo para onde caminhamos? Tenho as minhas dúvidas.
1 comentário:
Em Tomar a situação é desesperada para quem? Para os politiquilhos que infectam o nosso ambiente, cujos ordenadinhos pingam de Lisboa com a relularidade dum relógio suiço, ou das centenas e centenas de desempregados que se viram arrastados para essa situação, e que agora vagueiam por aí de pasta na mão à procura de carimbos que lhes mandam recolher no Centro de Emprego, sem solução à vista e sem alternativas?
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