sexta-feira, 4 de março de 2011

UMA AMPLA E MAGNÍFICA JANELA DE OPORTUNIDADES

"Descentralização interrompida, Regionalização moribunda"

"Crónica de seis anos perdidos"

"Seguir as mudanças de humor e de convicções do primeiro-ministro está a tornar-se numa missão desgastante. O exemplo mais recente dessa atitude é a Regionalização, bandeira que o secretário-geral dos socialistas tem empunhado sempre que lhe dá jeito. José Sócrates amanheceu regionalista convicto; pela tarde decidiu pensar melhor no assunto; à noitinha deu um desgosto aos regionalistas e matou definitivamente a ideia.
Na apresentação da moção política que vai levar ao congresso do PS, José Sócrates avisou que "não estão reunidas as condições para a realização do referendo sobre a Regionalização nesta legislatura". Para isso, aquele que é chefe do Governo desde 2005, invocou "circunstâncias económicas e políticas". Ao mesmo tempo, e antecipando as críticas que inevitavelmente surgirão dentro do seu próprio partido, a moção argumenta com a "definitiva derrota da ideia", caso se ensaiasse um novo processo referendário, como sucedeu em 1998. E aponta algumas medidas para atenuar as consequências políticas dessa decisão de "enterrar" a Regionalização. Uma delas abre a porta à possibilidade de eleição directa dos titulares dos órgãos políticos das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto. Curiosamente, ou talvez não, essa era uma solução que o PSD em devido tempo defendeu e que, até à manhã do passado sábado, foi liminarmente rejeitada pelo próprio José Sócrates.
Há neste processo coisas espantosas, que merecem ser devidamente assinaladas. E a primeira delas é que José Sócrates liderou um Governo de maioria absoluta durante quatro anos. Quatro anos de "quero, posso e mando". Quatro anos em que o primeiro-ministro submeteu o país e o Parlamento à sua vontade férrea, com as consequências que estão à vista. Quatro anos em que José Sócrates defendeu a Regionalização quando lhe deu jeito, mas em que não avançou um centímetro na intenção de regionalizar o país.
Vale a pena relembrar, por isso, que em 2009 o líder socialista defendeu a Regionalização no enceramento das jornadas parlamentares do seu partido, apresentando-a como uma "reforma indispensável e urgente no sentido do desenvolvimento e da maturidade democrática". Palavras, muitas. Mas, actos concretos, absolutamente nenhum. E, como consequência desse tacticismo, a bandeira da Regionalização foi arrumada algures entre a sede do Rato e a residência oficial de S. Bento.
Em 2005, quando José Sócrates e o PS assumiram a governação, encontraram em plena aplicação um modelo de descentralização administrativa gizado pelo PSD. Com efeito, dois anos antes o Governo de Durão Barroso fez aprovar uma Lei-Quadro das Áreas Metropolitanas que apostava em agregar municípios "através do reforço e dinamização do associativismo autárquico", sendo transferidas para as novas entidades competências anteriormente exercidas pelos próprios municípios, pelos governos civis e pela administração central.
Com a intenção de promover e aprofundar as relações institucionais e de complementaridade entre autarquias territorialmente contíguas, estabeleceram-se três modelos: grandes áreas metropolitanas, comunidades urbanas e comunidades intermunicipais. A fórmula era simples e, como a prática demonstrou, funcionava bem. Os municípios passaram a associar-se numa base voluntária, assumindo a obrigação de permanecerem na área que escolhessem por um período mínimo de cinco anos. Além disso, perspectivava-se que, com o decurso do tempo e com o aprofundamento das relações entre os municípios que as integravam, essas áreas viessem a substituir os distritos como círculos eleitorais, e que os presidentes daquelas grandes áreas viessem a ser eleitos.
Pessoalmente, sempre entendi que o País não precisava de uma nova classe política que seria inevitavelmente criada e alimentada pela Regionalização, razão pela qual tenho defendido que os órgãos destas grandes áreas deveriam resultar de uma eleição indirecta feita pelas autarquias.
O processo de descentralização que, com assinalável sucesso, se encontrava em curso em 2005, foi interrompido de forma abrupta por José Sócrates, em nome de uma Regionalização que prometia estar ao virar da esquina. Seis anos passados, impressiona a facilidade, a frieza e o despudor com que o secretário-geral do PS enterra o processo de Regionalização que tanto defendeu, ao mesmo tempo que se apropria das ideias dos outros.
Tal como já tinha sido o coveiro do processo de descentralização administrativa, José Sócrates surge agora como o coveiro da Regionalização. Têm pois inteira razão aqueles que o acusam de ser chefe de um Governo "nem-nem". Não faz, nem deixa fazer. Só que o dramático de tudo isto é que, uma vez mais, a factura das indecisões, da ligeireza e do tacticismo do primeiro-ministro será paga, não por ele, mas por todos os portugueses."

Miguel Relvas, PÚBLICO, 03/03/11, penúltima página

Nota de Tomar a dianteira

O texto acima reproduzido é uma boa peça política, um útil guia para o futuro e permite antever uma magnífica janela de oportunidades para o concelho de Tomar, se os seus habitantes quiserem e souberem agarrar o futuro com ambas as mãos e muito empenhamento, sacudindo teias de aranha centenárias.
Boa peça política, porque critica de forma fundamentada, propondo soluções concretas e práticas, em parte já antes implementadas com algum êxito. Um útil guia para o futuro, pois embora não o afirme explicitamente, permite antever aquilo que o seu autor pretende construir, logo que para isso disponha de meios. Útil também porque torna mais claro o futuro de Miguel Relvas enquanto político: Homem de confiança do primeiro-ministro, número dois do futuro governo, Ministro de Estado, da Administração Interna e do Ordenamento do Território. E Presidente da Assembleia Municipal, que o coração tem sempre razões que a razão pura desconhece. 
Magnífica janela de oportunidades para o concelho de Tomar, não só porque Miguel Relvas já disse publicamente ser seu desejo passar aqui o Outono da vida, dando assim a entender que adoptou a terra gualdina como sua, mas também e sobretudo porque os tomarenses precisam de alguém bem situado "em Lisboa" para poderem, através dos seus eleitos locais, desenvolver projectos sectoriais pioneiros, integrados num amplo projecto  piloto, inovador a nível nacional, capaz de tornar possível, se cabalmente liderado, a mudança do sulco do declínio para o sulco do progresso e do sucesso. Para isso, no meu entender, Relvas é o homem certo no lugar certo, se houver adequada e atempada correspondência nabantina. Oxalá!!!

9 comentários:

Anónimo disse...

Gostei,
Niguel Relvas a falar do que conhece. E bem. Embora pela conversa pareça o Fernando Ruas.
AA

Anónimo disse...

Aos meus amáveis contraditores do costume, desta vez às 09:55 e 11:25

Como já muito bem sabiam de antemão, os vossos excelsos comentários, naquele habitual estilo de alto recorte literário e espesso fundo filosófico, foram parar ao caixote do lixo, vulgo SPAM, onde os fui ler para me divertir.
A um tenho todo o gosto em lembrar que continuar a criticar Cristo por se ter deixado crucificar entre dois ladrões, em vez de usar dos seus poderes de filho de Deus para se salvar, não leva senão à descrença. Mas se, ao invés, procurarmos soluções de futuro através da doutrina que ensinou, então o caso muda de figura, e muito.
Mais prosaicamente, Relvas errou no passado? Pois errou. E você, nunca errou?
Ao outro comentador lembrarei que a liberdade cívica engloba, como não podia deixar de ser, a liberdade de religião, a liberdade de opinião e a liberdade de expressão. Por conseguinte, se o agonia o facto de eu concordar com algumas posições de Relvas, do PSD, do CDS, do PS, do BE ou do PCP, tem você um excelente remédio: mude-se para um país que considere mais acolhedor e sem alimárias livres como eu.
Para ambos e mais uma vez: Se tiverem a hombridade de assinar cada qual a sua larada, como nome de gente, serão imediatamente publicadas. Apesar do fedor.

Anónimo disse...

O PSD nacional está nas mãos do infantário. Mas já foram...
As declarações feitas por Rui Rio (o preferido de Cavaco Silva para liderar o PSD), e as de Jorge Sampaio sobre a necessidade de comunhão entre as forças políticas é o recado de que Passos Coelho, Relvas e Cª já não servem para os planos das forças internacionais que mandam no país.
Também as críticas de Nogueira Leite, o Ministro das Finanças Sombra do PSD de Coelho, indicam que algo vai acontecer no PSD. Para já não falar no afastamento de Ângelo Correia, ex-patrono de Coelho.
Quanto à Regionalização... ela não avança, nem avançará, por causas internacionais, e porque não convém aos donos de Portugal. Miguel Relvas e os regionalistas vivem em paróquia, só que o mundo é mais vasto.
Miguel Relvas não conseguiu unir o PSD em Tomar e no Distrito, antes pelo contrário, e conseguia unir o partido a nível nacional ?
O infantário já foi. O PS está a recuperar nas sondagens. O Bloco Central está em formação sob a égide de Cavaco Silva e dos poderes internacionais, que sabem que a crise se vai aprofundar e muito em Portugal.
Não está já em discussão o corte de salários para a Função Pública no próximo ano ?
Onde é que está a ampla e magnífica janela de oportunidades ?
Zorro

Anónimo disse...

Para Zorro:

Bem diz o povo que "Não há pior cego que aquele que não quer ver". Aquilo que o seu comentário torna evidente é a nossa manifesta incapacidade enquanto povo para nos governarmos de modo aceitável, sem recorrer às esmolas do estrangeiro. Desde que aderimos à UE já houve milhares de janelas de oportunidade, que regra geral ou foram desperdiçadas ou mal utilizadas. Mesmo António Paiva soube aproveitar algumas dessas janelas mas, por falta de planeamento competente e atempado, acabou por arrastar o município para um endividamento excessivo, resultante de projectos e obras cuja utilidade e/ou oportunidade estão longe de ser evidentes.
Pois mesmo assim, os seus continuadores insistem em confundir cada oportunidade com uma espécie de maná, ou de bodo aos pobres. Se você acha que é esse o caminho...

Cantoneiro da Borda da Estrada disse...

O artigo do dr. Miguel Relvas tem destinatários bem definidos, não tem nada a ver com Tomar e os tomarenses nem com os portugueses em geral, é expressamente dirigido aos gangues regionalistas do PSD, encabeçados no Porto pelo iberista LFMenezes (& Companhia) e o "Remexido" M. Bota no Algarve (exemplos), decorrente do movimento pró Rui Rio que alastra nas bases sociais-democratas (tenho que dizer assim...) por todo o país contra esta direção do PSD de que faz parte MRelvas; soube a pouco a promessa do antiregionalista PPCoelho de que lhes ofereceria de presente uma região-piloto, tal como tinha feito Santana Lopes no seu tempo de capitão das tropas do PSD. Rui Rio, para os amansar e arregimentar,e enervar a concorrência, anda há dois anos a "aprender" a ser regionalista, com cursos, seminários, conferências no Porto, etc., e mesmo assim mostra vacilações... Parece que ficou tudo esclarecido no recente encontro no Porto entre Rui Rio e António Costa do PS. Esta posição de Sócrates foi engendrada nesse encontro. E o pessoal, tal como os bandos épicos, desde que lhes cheire a esbulho ou despojos, atira-se com grande algazarra de piques em riste atrás do chefe de melhor perfil de comando para alcançar a vitória final: Portugal a retalho.

Como a regionalização não tem sentido num país histórica e culturalmente antiregional, caíu o Santana, caíu o LFMeneses, cairia por aí José Sócrates (o PSD bem o quis puxar para esse terreno para lhe inflingir pesada derrota) e vai cair PPCoelho e MRelvas antes das próximas eleições legislativas. Porque foi essa a casca de banana que Sócrates lançou para dentro do PSD, para obrigar antiregionalistas como MR a vir proclamar, como neste artigo, que "José Sócrates surge agora como coveiro da regionalização". Limpimho, tudo certinho e direitinho. E Sócrates continua a ser regionalista... E o Dr. Miguel Relvas trincou o isco com todos os dentes. E nunca haverá regionalização em Portugal. E PPCoelho/MRelvas não vão chincar o poder.

A perder terreno, Relvas e Pedro vão-se alinhar cada vez mais com essas camarilhas, justificando o levantamento do Velho PSD, com ferroadelas de MFLeite, a mão gélida do Professor Cavaco Silva, o Santana a ir para o Sporting e o Pacheco Pereira a injetar o seu veneno letal de antiregionalista e anti-PPCoelho/MRelvas.

José Sócrates foi muito sábio com a decisão de amandar a regionalização para as calendas gregas.

Por isso o panegírico a MRelvas do Dr. Rebelo, na parte final, parece-me desenquadrado, não condiz com a pessoa, mesmo que garanta o seu Outono... em Tomar ou local sagrado de culto quando o herói Miguel Relvas, seguramente por erro, equívoco ou desconhecimento, for levado para o Olimpo dos deuses nabantinos. Mais certo é ter lá lugar o Dr. António Rebelo.

E não é que o meu Zézito está a subir nas sondagens outra vez!

Anónimo disse...

Para Cantoneiro da Borda da Estrada:

Que bela análise, infelizmente mais do domínio dos sonhos que da realidade. Como bem dizia o Cunha Rego, "as coisas são o que são e não aquilo que gostaríamos que fossem". Com o tempo acabaremos por concluir quem tem razão. Julgo que antes dos tabuleiros haverá alguns solavancos a nível nacional, com o Zèzito a calçar os patins, passando a suplente para os próximos 15 anos. É a vida, exclamará o camarada Vitorino (o de Lisboa, que o daqui nunca diz essas piadas).

Anónimo disse...

António Rebelo,

Explique-me lá umas coisas:
Ainda é PS?
O Relvas deu-lhe a volta?
Foi só a partir da entrevista ou já era encantamento não assumido?
Acha que o Relvas tem muitas ou poucas responsabilidades no estado a que Tomar chegou?
É que estou baralhado com este seu (aparentemente)súbito deslumbramento.

R.Grácio

Anónimo disse...

O artigo de Relvas não conta absolutamente nada.

Está de ver, que já não é respeitado dentro do PSD e muito especialmente dentro do grupo parlamentar.

Muitos no PSD, já perceberam que a dupla Coelho/Relvas está de passagem e que convém encontrar melhor, para em 2013 conseguir retirar a vitória a Sócrates.

Anónimo disse...

"
Muitos no PSD, já perceberam que a dupla Coelho/Relvas está de passagem e que convém encontrar melhor, para em 2013 conseguir retirar a vitória a Sócrates.
"

Talvez se enganem...
Lembram-se do velho provérbio que diz que "uma mentira dita repetidas vezs tende a tornar-se verdade".
Ainda pode ser que os detractores de hoje tenham que engolir alguns sapos e em 2013 venham prestar vassalagem ao senhor dos Passos!