RECORTES DA IMPRENSA DE HOJE

O leitor já teve a ocasião de ler nestas colunas o posição do EXPRESSO e do EL PAÍS, sobre o alegado convite feito pela chancelerina Ângela Merkel a José Sócrates, que para o periódico espanhol mais não foi afinal que uma convocatória de aceitação obrigatória. Entretanto o jornal EL MUNDO, igualmente espanhol mas mais à direita, também referiu o projectado encontro, na sua edição de ontem.  Aqui vai a tradução integral.

"MERKEL CHAMA SÓCRATES A CAPÍTULO"

"Na quarta-feira fará exame ao dirigente luso sobre a implementação das medidas de austeridade"

"O primeiro-ministro português José Sócrates vai prestar contas à chancelerina Merkel, quarta-feira às cinco da tarde, hora taurina por excelência. Tudo indica que será convenientemente bandarilhado, de forma a permitir à Alemanha aperfeiçoar a faena em Bruxelas. Muito simplesmente, em Berlim não estão dispostos a permitir que o BCE continue a comprar dívida tóxica dos países da zona euro, pelo que Merkel tenta activar um mecanismo para o evitar. Para isso tem de conseguir que Portugal baixe a cabeça, corra para a capa e solicite quanto antes a ajuda europeia.

O governo alemão continua a negar publicamente que queira pressionar Portugal. A frase que vão repetindo é que os portugueses "estão a fazer o trabalho de casa". No entanto, as intervenções pontuais do BCE no mercado da dívida, para evitar que o país entre em incumprimento, tem causado insónias em Berlim. Os mesmos funcionários germânicos, nunca se esquecem de acrescentar um lamento: "embora todos saibamos que o problema da dívida não se resolve com mais dívida".

No passado dia 21, a dívida portuguesa esteve uma vez mais na eminência de sofrer uma paragem cardíaca, o que foi evitado pelo BCE  com um choque de 771 milhões de euros, o que eleva para 77 mil milhões o volume de títulos adquiridos desde o início do programa de compras. O excesso de liquidez no sistema, provocado por tais operações, ronda já os 45 mil milhões de euros, o que levou a revista alemã de economia Wirtschafts Woche a sair esta semana com uma capa alarmante: "SOS Inflação!"

Com os analistas alemães à beira de um ataque de nervos, os títulos portugueses a 7,5% e após ter conversado na passada semana com o primeiro-ministro grego George Papandreu, a quem prometeu ter  em consideração o alongamento do prazo para a devolução do empréstimo internacional à Grécia, Merkel decidiu chamar para consulta o primeiro-ministro português, que apenas algumas horas depois respondeu, dizendo ter tudo pronto para a deslocação a Berlim. Enquanto em Espanha a imprensa se refere a Merkel como "a professora", em Portugal são mais directos e chamam-lhe "a chefa".

Na ordem do dia oficial para o encontro constam como temas a abordar o Conselho Europeu Extraordinário de 11 de Março, o Conselho Europeu Ordinário de 24 e 25 de Março, bem como a utilização do Fundo Europeu de Estabilização Financeira para ajudar de forma mais profícua os países com dificuldades. Todavia, conforme confirmava recentemente à Reuters uma fonte bem colocada em Bruxelas, "a Alemanha está preocupada com a capacidade de Portugal para se financiar, pelo que participou aos seus parceiros a necessidade de que Lisboa solicite a ajuda internacional em Abril".

Apesar disso, Sócrates continua a resistir, argumentando que o défice português já passou de 9,3% para 7,3% em 2010, o que torna possível o objectivo de 4,6% em 2011, de forma a alcançar os 3%, estabelecidos pela Comissão Europeia, em 2012. Acontece porém que quanto a argumentos, os de Merkel são  muitos claros e certamente que os vai explicar a Sócrates com a mesma frieza com que soube ir impondo as suas reformas precisas à Grécia e à Espanha. O objectivo é que em 11 de Março os chefes de governo cheguem a Bruxelas com a caneta na mão e prontos a fazer a sua assinatura numa nova arquitectura económica europeia, desenhada à alemã. E é se querem dinheiro de Berlim!"

Como o leitor decerto já terá concluído, o fosso entre a versão do nosso primeiro-ministro e a realidade, é mais largo que o estuário de Tejo. O costume.

Descendo do nivel europeu e nacional para o regional e local, esta notícia do i  de hoje mostra que há cidadãos eleitores com muito mais sorte do que outros. Em Leiria, pelo menos, sempre vão sabendo o que se pretende fazer, com a antecedência necessária para que haja participação dos cidadãos, apoiando ou discordando. Aqui pelas margens do Nabão, além das obras faraónicas e inúteis, continua tudo no segredo dos deuses. O que não admira. Quem na cidade antiga mandou suprimir os passeios onde os havia, colocando-os onde nunca os houve, ou acabar com o trânsito e com o estacionamento  na Corredoura, que é larga, mas não nas ruas mais estreitas, só pode dormir mal, que os pesadelos não perdoam.

Também a nivel regional e local, parece-me que este cidadão abrantino tem toda a razão, com especial incidência nos candidatos a próximas eleições, sobretudo autárquicas. Para procurar evitar a vergonha das últimas, com todos a garantirem que tinham projectos para Tomar, quando afinal... era só paleio de ocasião. E ganância quanto baste para lutar por um lugarzito à beira da gamela alimentada pelos contribuintes, mesmo que para tanto seja necessário vender a alma ao diabo...ou associar-se com os adversários, mesmo sem qualquer base escrita minimamente séria e coerente. Ou facilitando com atitudes ínvias votações lamentáveis.