segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Especialistas em realidade virtual...


O Boletim Informativo da autarquia publica, na edição de Outubro, esta bela e velha fotografia aérea do conjunto monumental Castelo/Convento. Foi obtida nos saudosos tempos em que a sapata (alambor) das muralhas ainda não se tinha transformado em matagal, por evidente falta da adequada limpeza. Trata-se portanto agora de mera realidade virtual,  ao estilo do Sócrates das farturas. Quem lá for não tem maneira de ver o que a foto mostra. Mesmo de avião ou helicóptero.

A foto aérea serve de introdução a esta bela prosa camarária, que além de nos levar a uma realidade virtual (já lá iremos), é por assim dizer uma espécie de bosta. Exemplo acabado de estilo pacóvio, usado  por lambe-botas sem vergonha nem arte. Repare-se: "Arqueóloga de formação, a directora do Convento de Cristo guiou uma visita com jornalistas..." Trata-se de capciosamente instilar no leitor a ideia de que a referida  senhora é que sabe e que os outros não passam de curiosos desprovidos de qualquer credibilidade. Convém por isso mostrar a realidade como ela é: A - A senhora é apenas directora temporária do Convento, uma vez que não foi nomeada por concurso público, como manda a lei; B - Será arqueóloga competentíssima, mas é licenciada em História e não conhece Tomar, pois desembarcou aqui à meia dúzia de meses, vinda da Fortaleza de Sagres, que como se sabe tem tudo a ver com os templários e os seus castelos; C - Tal como os senhores autarcas, acha que os arqueólogos são os únicos autorizados a falar de achados arqueológicos com autoridade. Mas parece-lhe muito natural guiar visitas, apesar de não ter qualquer habilitação legal para o efeito, como de resto bem sabe; D - O Alambor agora à vista não resulta de qualquer escavação feita por arqueólogos, mas de uma lamentável "escavacação" causada justamente por falta de adequada preparação prévia e subsequente acompanhamento arqueológico da obra. As coisas são o que são e não aquilo que convém.


Como claramente mostra esta fotografia, tirada ontem, o paleio do texto camarário, a tal realidade virtual, não tem qualquer relação com o avanço da obra. Se tivesse havido imediata interrupção do estaleiro e dadas instruções ao projectista para rever o desenho do muro de contenção de terras, como é dito na prosa capciosa, não teríamos agora estes troços de muro, que mais tarde ou mais cedo terão de ser demolidos, com os inerentes custos. Há até uma curiosidade: A maior parte do muro já edificado está até em zona onde nunca fora necessário qualquer contenção do talude até aparecerem os abundantes fundos europeus...




Quanto a "articulá-lo [o projecto] deixando à vista o troço do alambor encontrado", como é dito no texto mentiroso, cheira a solução de recurso, tipo remendo, que não convence ninguém. A ilustração supra mostra a muito provável localização do resto do alambor (ponteado vermelho) e os troços do muro em betão já existentes (tracejado vermelho). Não é preciso ser nenhum génio, nem arqueólogo de prestígio ou não; basta conhecer razoavelmente o castelo e o convento para intuir, tendo em conta as actuais construções, que o dito alambor ou sapata vai entroncar na actual fachada norte, um pouco à esquerda da Portaria Filipina. Nestas condições, já vedado pelo betão, teremos um alambor numa espécie de quintal só para as visitas? Se assim for, não se esqueçam de acrescentar um daqueles cagatórios em madeira, que existiram nos logradouros em Portugal até meados do século passado. Para que os visitantes possam aliviar-se, homenageando assim os autores da ideia das obras e de semelhante projecto...

7 comentários:

FUNICULIN disse...

Mas que bosta deixou essa técnica superior da carreira técnica superior do IGESPAR,I.P. em Sagres? Quem quiser ter a resposta é somente perguntarem ao Município de Vila do Bispo. Ou então poderão perguntar em Campo Maior pelo estudo efectuado da sequência estratigráfica e artefactual do povoado calcolítico de Santa Vitória.
Tem de facto tudo a ver com o Convento de Cristo além das vastas(!) publicações onde nenhuma tem nada comum com as terras de Tomar.
Não admira que o regime de substituição dessa directora tenha sido despachado também por uma directora de departamento de gestão em substituição.

RUI GONÇALVES disse...

Boas tardes,
De quem a autoria do traçado conjuntural do Alambor no mapa publicado?

RUI GONÇALVES disse...

Obrigado

Anónimo disse...

O traçado conjectural do alambor é meu. Resulta de variadíssimas leituras e observações atentas no local, desde há mais de 50 anos. Caso haja interessados, terei todo o gosto em explicar no local os factos em que me baseio para assim conjecturar.

RUI GONÇALVES disse...

Achei muito curioso o traçado conjectural do alambor que desenha junto à Charola. Estou em crer não ter visto até hoje semelhante hipótese mas teria todo o interesse conhecer melhor os argumentos e os motivos. Falaremos um dia sobre o tema. Não sou de Tomar pelo que não posso marcar para já uma visitinha ao local consigo mas não há-de faltar oportunidade.
Abr
Ps: Porque não um post sobre o tema?

Anónimo disse...

Julgo que não adiantaria muito um texto sobre o traçado norte e poente da muralha templária, com o respectivo alambor, pois o assunto é demasiado complexo, pelo que o mais prático é mesmo uma explicação nos locais, com uma planta à frente. E mesmo assim não é nada fácil. Basta dizer que o duo Lacerda Machado - Garcez Teixeira "localizou" a Porta da Traição no sítio onde se encontra agora a entrada da sacristia filipina (20 na planta publicada).

RUI GONÇALVES disse...

Não há como ver no local os argumentos, isso é verdade. Sim de facto essa dupla localiza a designada porta da traição a norte, todavia sem nos adiantar como chegaram a essa ideia pelo que me lembro.
Abr