domingo, 23 de outubro de 2011

Paranóia e esquizofrenia...

Foto Rádio Hertz

A RÁDIO HERTZ continua a desenvolver um esforço meritório na abordagem dos problemas políticos locais, por meio de crónicas, notícias e debates. Nestes há até uma novidade absoluta em Tomar: um programa de debate quase exclusivamente feminino. Só o moderador é que destoa. É macho, no bom sentido do termo. Das três intervenientes, uma pertence ao executivo (Graça Costa, dos IpT) e as outras duas à Assembleia Municipal (Rosa Santos (PSD) e Anabela Freitas (PS)). Tive o gosto de conversar com as representantes do PS e do IpT, no âmbito do programa "À mesa do café", pelo que posso testemunhar tratar-se de cidadãs com raciocínio escorreito, discurso estruturado e visão própria da sociedade em que vivem. Quanto a Rosa Santos, apenas posso dizer que, representando no parlamento local o partido maioritário, terá certamente as suas qualidades, pois caso contrário teria sido preterida.
Ciente do antes exposto, tenho o hábito de ler os excertos do programa em que participam, que em boa hora a Hertz reproduz por escrito . Desta vez fiquei estupefacto, ao constatar que as três simpáticas eleitas resolveram abordar nem mais nem menos que as medidas de austeridade. Não em virtude das opiniões expostas, que essas foram tipo pescada. Antes de o ser já o eram. Qualquer ouvinte atento já esperava o apoio de Rosa Santos, tratando-se do governo do seu partido, bem como as críticas de Anabela Freitas e Graça Costa, aposicionistas a nível nacional e local, com destaque para esta última, ex-militante laranja destacada. O que me surpreendeu e entristeceu foi o evidente surrealismo da coisa.
Explicando melhor. Num país onde até o Presidente da República acaba de demonstrar que padece de calos infectados na carteira, ao criticar implicitamente o governo, acusado de falta de equidade fiscal, por lhe ir sacar (como a todos os outros funcionários públicos e pensionistas) 4 ordenados nos próximos dois anos, mas deixando os privados em paz. Numa terra em que praticamente todos os eleitos padecem de paranóia, sentido-se perseguidos sempre que algum cidadão resolve dizer-lhes frontalmente a verdade. Com uma autarquia a endividar-se de dia para dia, sem qualquer plano tendente a alterar tão desastrosa realidade. Sem perspectivas fecundas, Rosa Santos, Anabela Freitas e Graça Costa resolveram entreter-se a dissertar sobre as medidas de austeridade adoptadas e a adoptar pelo governo.
Como é do conhecimento geral, a lei eleitoral portuguesa concede aos partidos o monopólio da apresentação de candidaturas a nível nacional. Os deputados eleitos dependem portanto das suas formações, só respondendo perante quem os elegeu se assim o entenderem. E geralmente assim não entendem, por ser muito mais confortável. O  que significa que praticamente não adianta debater problemas nacionais por essa província fora, visto que essas opiniões não têm, nem virão a ter, qualquer peso em S. Bento, neste caso sem porta aberta. É lamentável, mas é o que temos. Em termos políticos, cada eleito só come as especialidades que ajudou a cozinhar.
Mesmo a nível local, as exigências legais para os independentes que pretendam candidatar-se são de tal monta, que praticamente os forçam a tornar-se líderes de mini-partidos locais. Nem só a nível geográfico somos excêntricos em relação à Europa que decide. Ainda assim, circunstâncias há em que faria todo o sentido discutir e chegar a consensos operativos à escala local. É desde o início do mandato o caso tomarense. A oposição oficial (PS+IpT) é maioritária no executivo e na Assembleia Municipal. O que teoricamente lhe permitiria bloquear todas as iniciativas laranja com que não concordassem. Pois não senhor! Nem pensar nisso é bom! Ódios e rivalidades impedem que as duas formações se entendam ou se venham a entender, com a relativa maioria a esfregar as mãos de contentamento.
Conscientes da sua impotência, mesmo a nível local; transformadas sistematicamente em jarrões chineses, decerto para aliviar, as três autarcas resolveram desta vez derivar para a discussão de assuntos fora do seu âmbito de actuação. Foi de tal modo evidente esse desfasamento de escala, que Graça Gosta, socióloga de formação, até arranjou maneira de regressar às origens. Expressou a sua preocupação ante o aumento galopante de maleitas da área psiquiátrica na cidade, no concelho e na região. O que não a devia surpreender, por ser certo e sabido que, insistindo em dizer uma coisa e fazer outra, constatar que tudo muda à nossa volta,  de forma cada vez mais acelerada, ou negar as evidências, só pode provocar maus resultados. Geralmente uma visão subconsciente fracturada e disjuntiva, vulgarmente conhecida por esquizofrenia.
Enquanto isto, em Tomar, o défice agrava-se a cada dia que passa, mas os autarcas continuam a agir de forma panglossiana: vai tudo bem no melhor dos mundos possíveis. Nem austeridade nem vontade de a implementar. E a oposição assobia para o lado...ou resolve debater problemas nacionais. Faz-me lembrar aquela situação bem conhecida do século XVI. Enquanto na Península Ibérica a igreja debatia, para apurar se os índios tinham ou não alma, na América agora Latina, os seus naturais eram vitimados aos milhares, pelas doenças europeias, pela guerra e pelo trabalho escravo. E só o castelhano Frei Bartolomeu de Las Casas se insurgia contra tal situação.
Não sou frade nem me chamo Bartolomeu, mas começo a sentir-me na pele daquele ilustre eclesiástico... Porque será?

7 comentários:

Virgílio Lopes disse...

Senhor Rebelo,amigo e admirador indefectível de S.Miguel Relvas,

Muito apreciaria um seu comentário ao vídeo que encontrará em :


http://www.publico.pt/Política/vasco-lourenco-alerta-que-poder-foi-tomado-por-bando-de-mentirosos-1517770


Cordialmente,

Virgílio Lopes

Anónimo disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

Parabéns Dr. Rebelo!

Despertou-me hoje a curiosidade de verificar o número de seguidores do seu blog e são já 69!!!

Nos último ano quase duplicou!

Longa vida ao Dr. Rebelo e ao Tomar a Dianteira!

Anónimo disse...

Para Virgílio:
Não percebo porque deveria comentar um vídeo com declarações do sr.coronel Vasco Lourenço. Primeiro porque se trata apenas de uma opinião, como milhares de outras. Segundo porque não estou a ver qual a sua relação com Tomar. Terceiro porque as opiniões de Vasco Lourenço não equivalem a palavra de evangelho. Valem o que valem. Merecem respeito, mas isso não significa que com elas se deva concordar.
Quanto às minhas amizades, com deve saber, nunca confundi relações pessoais com opções políticas. Não seria agora que iria começar. Dou-me bem com toda a gente, mesmo com cidadãos cujas opções políticas diferem das minhas. Também nunca me considerei moralmente superior aos outros, lá porque não partilham as minhas referências societais.

Anónimo disse...

Para Cantoneiro:
Bem haja pelo seu simpático comentário. Vou procurar continuar a fazer o melhor possível, sempre em prol da nossa terra.
Posto que parece apreciar dados estatísticos, eis mais alguns sobre Tomar a dianteira, segundo o contador automático da Google: Mês com mais audiência - Maio 2011, com 15.659 visualizações de páginas. Mensagem mais lida de sempre - "Simplesmente lamentável", 21AGO11, 1064 visualizações; "Cartas de amor... ...", 14ABR10, 605 visualizações; "Agrava-se o problema... ..." 26AGO11, 270 visualizações.

Cordialmente,

António Rebelo

Virgílio Lopes disse...

Ó Sr. Rebelo!

Viu a "árvore" e não viu a "floresta" ou leu mal o que escrevi?

Muito apreciaria um seu comentário ao VÍDEO que encontrará em...

Admitindo que,por qualquer razão,não chegou ao tal VÍDEO,dou-lhe outro acesso :

http://www.youtube.com/watch?v=gNu5BBAdQec


Sem complexos de superioridade ou de inferioridade.
Cordialmente,

Virgílio Lopes

Anónimo disse...

Para Virgílo:

Visto e revisto o que me recomendou,continuo a não perceber onde quer chegar. Importa-se de explicar qual é a floresta da qual, na sua opinião, eu apenas vi a árvore?
Antecipadamente grato,

António Rebelo

Virgílio Lopes disse...

Sr. Rebelo,

Trocado "por miúdos":

"ÁRVORE" - intervenção de Vasco Lourenço.

"FLORESTA" - AS MENTIRAS de Passos Coelho que indignaram Vasco Lourenço.

Disponha.

Cordialmente,


Virgílio Lopes