segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Portugal e a crise económica: comparações



Ilustrações copiadas do L'EXPRESS nº 3142, de 21/09/2011

A imprensa internacional de referência tem pelo menos uma vantagem: graças aos seus recursos humanos e materiais, consegue fazer jornalismo que não está ao alcance da comunicação social dos pequenos países, como Portugal. L'EXPRESS, por exemplo, tem uma tiragem média da ordem dos 400 mil exemplares, contra 140 mil do EXPRESSO. E no jornalismo como no resto, não há milagres. A qualidade paga-se.
Nestes quadros, elaborados com dados fornecidos pela União Europeia, temos em primeiro lugar a dívida pública em 2010 e em % do PIB.  Pior do que nós, a Grécia, que está mesmo na corda bamba; a Itália, que beneficia do facto de ser um dos países fundadores do então Mercado Comum Europeu; a Bélgica, idem, além de sede das instituições da UE; e a Irlanda que é um país anglo-saxónico, característica que ajuda muito na área da finança internacional. E cujo problema foi bancário e não de dívida pública.
No 2º quadro, verifica-se que, apesar do nosso enorme défice, afinal estamos na média europeia, em matéria de despesa pública, embora acima da Alemanha, da Itália ou do Luxemburgo. Consequência da nossa tradicional megalomania, que nos leva a ser excessivamente generosos, mas sempre com os dinheiros alheios. Como demonstra o quadro seguinte, onde surgimos com uma percentagem de cobrança de impostos superada por 7 outros países, que estão economicamente muito melhor.
O último quadro carece de uma explicação mais detalhada, para ser plenamente entendido. O que é importante, posto que comprova uma situação nunca antes evocada, pelo menos em Portugal. Comecemos pelo esclarecimento. A preto, a dívida pública de cada país, em % do PIB (Produto Interno Bruto). A vermelho, a percentagem dessa dívida detida por investidores estrangeiros. A Torneira indica a taxa de crescimento económico de cada país em 2010. O gráfico fornece um resposta fundamentada à pergunta "Afinal porque é que alguns países são atacados pelos "mercados", quando há outros em pior situação em termos de dívida pública?" É o caso, por exemplo, do Japão, em crise há 20 anos, que apesar de uma dívida pública percentualmente mais do dobro da portuguesa, não é alvo dos especuladores.
A resposta dada pela ilustração é que tal atitude dos mercados se deve aos detentores da dívida pública. Quase todos japoneses no caso do Japão, quase todos estrangeiros no caso português, metade/metade no caso grego. Conclusão: o nosso problema afinal não reside só ou sobretudo na dívida pública. Resulta sobretudo do facto de sermos um país de pelintras. Com muita basófia mas poucos euros...para comprar dívida pública. Que é como quem diz, para poupar. A acreditar na demonstração ilustrada, os tempos que aí vêm vão ser mesmo muito agrestes. Ai vão vão! Sobretudo para alguns autarcas, habituados ao império dos sentados e a gerir farturas...

2 comentários:

Unknown disse...

Bom post mas... resta saber qual a fiabilidade dos dados.
Bem sei. São dados da CE.
Terão os alemães e os franceses dito tudo? Há quem ache que não e que o valor oculto, vai lá vai...

Anónimo disse...

Saúdo com alegria o seu regresso aos comentários em Tomar a dianteira.
Dado o seu interesse e perante a sua legítima dúvida, esclareço que os três primeiros quadros têm como fontes o Eurostat e o INSEE, equivalentes europeu e francês do nosso INE. Quanto ao último, foi elaborado a partir de dados dos bancos de investimentos FERI e NATIXIS, da OCDE e do EUROSTAT.
Tudo boa gente, como se vê.