DEFENSOR DE CAUSAS PERDIDAS: RELVAS 1 - TOMARENSES 0

Um comentador acha que "Os seus leitores interessados esperam a crónica sobre a Assembleia Municipal." Outro interroga e responde: "Para quando o comentário ao que assistiu na Assembleia? Os leitores merecem esse esforço." Perante isto, vamos à tarefa, com a alegria habitual. Parafraseando De Gaulle, "Acabamos de perder uma batalha, mas ainda não perdemos a guerra."

Para usar uma expressão corriqueira na política portuguesa, correu muito bem o projectado ajuntamento de tomarenses na sessão da Assemblei Municipal. Correu muito bem para Miguel Relvas, na qualidade de orientador técnico, bem como para todos os outros eleitos sentados à mesa do orçamento. À hora regimental, verificou-se que faltava o representante do CDS, o vereador Pedro Marques, o vereador Vitorino...e os cidadãos tomarenses indignados. No Salão Nobre éramos pouco mais de meia-dúzia.

Constatando o triunfo, Miguel Relvas mudou de semblante. Passou a alardear satisfação e sorriso de circunstância, naquela postura de pater famílias ufano e condescendente perante a sua numerosa prole. Tão intimamente contente que a dada altura até se embrulhou no discurso, comentando que julgou tratar-se de "Uma acção redutora das despesas dos gastos." Acontece a todos, mas como língua pátria, temos de reconhecer que é assaz peculiar.

Além do evidente triunfo conseguido, a confirmar, se necessário fosse, que os tomarenses, no essencial, continuam iguais a si próprios, não esquecendo nem aprendendo nada, revelando assim que a inteligência nunca foi nem é uma das suas principais qualidades, Miguel Relvas tinha e tem outros motivos de íntimo contentamento. Basta ler a peça supra, d'O MIRANTE de ontem. Sempre são mais de 40 mil euros mensais, em média. De tal jeito que até custa a perceber o que mantém o nosso presidente da AM na política tomarense e nacional. Ou será que é mesmo por causa da política que...? Tanta obra, tanta obra, todas mais ou menos graúdas, devem ter certamente alguma explicação, já que a utilidade para os cidadãos nem sempre é evidente...

Sobre a sessão da Assembleia, conforme tinha sido dito previamente, não havendo cidadãos em número suficiente para fundamentar uma intervenção em nome do eleitorado, dei corda aos sapatos e regressei a penates. Estive no salão nobre pouco mais de meia-hora. Deu para constatar, além da evidente falta de comparência dos tomarenses, que tem havido grandes mudanças nesta pobre terra. Tal como em todos os outros sectores, também na Assembleia Municipal os instalados se foram expandindo. De tal forma que, onde há vinte anos havia 75 cadeiras para o público, e ainda sobrava muito espaço, agora, com a mesma superfície, mal lá cabem 15 cadeiras destinadas à assistência, num canto sem luz natural nem ventilação adequada. É mais uma habilidade, além da convocatória para horas laborais, da grelha de tempos e da entrada por portas escusas, para afastar os potenciais interessados.

Indo à substância, tratava-se apenas de despachar assuntos correntes e cumprir calendário. A lei impõe um certo número de reuniões anuais do órgão, pelo que mal parecia não as efectuar. Nestas condições, convoca-se para o último dia do prazo legal, combina-se tudo previamente, fazem-se umas intervenções para armar aos cucos e fingir que, vota-se e está feito. Os eleitores que vão chatear outros, que nós temos mais que fazer. "Deixem-nos trabalhar!"

Do lado da oposição, vão-se fazendo umas intervenções, assim tipo carreira de tiro, para ficar a constar da acta e poder depois ser transcrito eventualmente na imprensa local. Sobretudo para "apresentar serviço". Nada de substancial.

Neste ambiente deletério, qualquer observador atento e imparcial nota que nem uns (a transitória maioria) nem outros (as oposições), perceberam ainda que o paradigma mudou. Que nunca mais o futuro será igual ou sequer parecido com o passado. Que os nossos filhos e netos vão viver pior do que nós. Que os empregos vitalícios serão cada vez mais raros. Que os salários vão baixar. Que o desemprego vai aumentar. Que a insegurança tende a a agravar-se. Que os tomarenses ou mudam de mentalidade, ou mudam de terra, ou estão lixados, com lixa da mais grossa.  Que, que, que, que...

Erram portanto os que continuam a cuidar que vamos ter melhorias, que a crise vai passar. Quando muito, haverá cidades onde as coisas serão menos graves do que noutras. Mas para isso é preciso coragem, sentido de antecipação, planeamento atempado e rigoroso, projectos sólidos e muito trabalho. Como sempre, mergulhados querqueiram, quer não, no caudaloso rio da evolução, que ninguém consegue parar, os que sabem nadar vão-se safando. Os outros vão na corrente. Paz às vossas almas, tomarenses! Lá nos encontraremos! Mas eu irei pelos meus próprios meios, pela margem do tal rio caudaloso.