DOIS CASOS DE SUCESSO

A conhecida e confrangedora falta de cultura da esmagadora maioria da população tomarense; o problema ainda mais grave dos labregos que se julgam cultos; a permanente patranha, difundida por quase todos os políticos locais; tudo isto amalgamado, resulta em situações equívocas, prejudiciais para a comunidade tomarense. Uma dessas situações, já aqui bastas vezes mencionada, é a manifesta alergia à critica, qualquer que seja a sua origem, forma ou gabarito. Está tudo muito bem até que se trate de criticar os outros, com ou sem razão, com ou sem calúnia. Quando nos toca, alto lá! Eu não mereço isso! Nem reconheço a quem quer que seja categoria para o fazer!

Neste ambiente deletério, solidificou-se a ideia, errada e nefasta, de que Tomar a dianteira existe apenas para dizer mal. Que os seus administradores só gostam da má língua, pelo que nunca falam dos êxitos locais. A realidade, porém, é que até nos dói a alma de cada vez que somos forçados pelos factos a malhar de alto a baixo, sem dó nem piedade. Acreditem que, como a qualquer outro ser humano, julgamos nós, ser-nos-ia muito mais agradável difundir os sucessos, os êxitos, as façanhas, as vitórias locais. Mas onde estão uns e outras?

Por ser tão raro por estes lados ter a ocasião de louvar em vez de condenar, é como imensa alegria que desta vez escrevemos sobre dois grandes êxitos locais.

Um já é conhecido desde a recente publicação dos rankings nacionais das ecolas dos ensinos básico e secundário, não lhe tendo sido, todavia, dado o devido relevo. Como devia ser do conhecimento geral, mas está longe de ser, em cada país há regiões que lideram, que levam as outras a reboque, e outras sem liderança, que são rebocadas e vivem praticamente à conta das primeiras. Nos países do hemisfério norte, tal fenómeno é particularmente evidente com a Lombardia, em Itália, a Flandres, na Bélgica, ou a Catalunha/País Basco, em Espanha. Há igualmente a evidência de que em geral as regiões costeiras são mais desenvolvidas e dinâmicas do que as dos interior.

Em Portugal é relativamente consensual que a região a norte do Mondego reboca e tende a sustentar economicamente o resto do país. Basta recordar as tonitruantes e habituais declarações de Pinto da Costa sobre os mouros, que não são assim tão "bimbas" como parecem... Na verdade, o norte tem muito mais clubes de futebol federados do que o resto do país. E quem tem força, tende a servir-se dela. Igualmente aceite sem grandes discussões, é o facto de haver uma faixa costeira, -algarvia, e entre Setúbal e Viana do Castelo-, que lidera, reboca e atrai população. Foi pois com muita alegria que se constatou, nas duas ilustrações acima, (excelentes trabalhos de "geomática", publicados pelo EXPRESSO), que o nosso concelho faz parte das regiões liderantes ou rebocadoras, tanto no ensino básico, como no secundário. Temos assim que, graças ao esforço de pais, encarregados de educação, funcionários auxiliares, alunos e professores, por enquanto ainda não perdemos o comboio do progresso. Os nossos alunos e professores continuam integrados nos pelotões de vanguarda. Oxalá assim continuem, pois vai depender deles o futuro desta terra.

Outro êxito local é a tradicional Feira das Passas, obra de muitas gerações, desde há mais de 400 anos, em boa hora transferida para o seu local natural -a Praça frente aos Paços do Concelho. Com pouco material, alguma boa vontade e escassa publicidade, atraiu mais uma vez milhares de compradores, tanto tomarenses (sobretudo, como é natural), mas igualmente visitantes. De tal forma que a data oficial da sua realização é amanhã, mas nesta altura já há vários vendedores ocasionais que esgotaram o que tinham para negociar. Mais uma prova evidente de que os eventos com qualidade, genuinidade, autenticidade,  -de preferência com muita idade-, se não forem abastardados, podem render muito dinheiro. 

Faltou, mais uma vez, o trabalho a montante. Os encorajamentos à dinamização local da agricultura biológica, ao gosto pelo trabalho, às actividades artesanais na área agrícola, ao retorno à terra, afinal. Lá havemos de chegar, com tempo, saber e paciência. Porque afinal é com a Feira das Passas (apesar da usurpadora e moderna Feira nacional dos frutos secos, em Torres Novas, este ano com menos gente do que a nossa), o Congresso da Sopa, o Nabão, os Tabuleiros, o Convento, o Castelo, a Mata e os Pegões que vamos de ter viver e de nos desenvolvermos economicamente. A teta do Estado está a secar. Definitivamente. Estamos cada vez mais na fase do cada um para si e Deus para todos. Onde quem não souber nadar, nem quiser aprender, acaba por morrer afogado, mais cedo ou mais tarde. Culpando os outros, é claro.