domingo, 16 de agosto de 2009

DÍVIDAS, CLUBES E FESTAS

Tal como prevíamos, o nosso texto sobre a decisão camarária de honrar as dívidas dos Tabuleiros de 2003, mas não as do União de Tomar, desencadeou alguma polémica. Não é surpreendente, numa terra cujos habitantes sempre conviveram bastante mal com a verdade, que o mesmo é dizer com a realidade.
Um dos nossos contraditores, de modo aliás perfeitamente correcto, reprova-nos o facto de termos comparado clubes com clubes e associações com associações, após termos dito que não se pode comparar o que não é comparável. É claro que mantemos a nossa posição, pois não há comparação possível entre uma festa multicentenária, cujo mordomo é escolhido pela população e pela autarquia, que arrasta centenas de milhares de forasteiros, implica mais de um milhar de participantes, e distribui comida aos mais necessitados; com um modestíssimo clube desportivo, que algumas vezes nem honrado chega a ser, como nos casos em que gastou as verbas cobradas para entregar ao fisco.
Há depois a questão dos serviços prestados à cidade, que é obviamente ridícula. Por essa via ainda hoje a autarquia estaría a subsidiar os descendentes do rei D. Manuel, por causa da Janela.
Estamos enganados? Façam o favor de o demonstrar de forma convincente e sem vãs tentativas de enviesar a questão.
O nosso colega Nabantia também reagiu, o que é natural. "Quem não se sente, não é filho de boa gente." Dito isto, não nos parece que tenha assumido uma posição sustentável, mesmo em termos de direito consuetudinário. Na verdade, tendo em conta o manifesto aval da autarquia e da população a cada mordomo da Festa Grande, por um lado; e o facto de cada comissão das festas responder apenas por si, por outro lado; caso a câmara não assumisse, enquanto representante legal e legítima da população, o papel de avalista e, quando necessário, de susbstituta do devedor, chegaria a altura em que ninguém venderia fosse o que fosse a crédito, para a comissão de festas em funções. O contrário é que seria de estranhar. E como se poderia então realizar a festa da cidade?
Falando de amigalhaços e de dívidas de primeira e de segunda, entra-se no domínio da subjectividade e da crítica política, visando outros objectivos, certamente nobres, mas que pouco ou nada têm a ver com a objectividade e o esclarecimento da verdade, que devem nortear sempre quem procura informar, tendo em vista um futuro mais promissor para todos. Afinal, é ou não verdade que o Campomaiorense se dissolveu quando disputava a primeira liga e os Nabeiros lhe retiraram o apoio? É ou não verdade que a autarquia de Campo Maior, que financia parcialmente as Ruas Floridas, a Festa dos Tabuleiros deles, também se recusou a acudir ao clube da terra? A ilusão desportiva é algo de muito bonito, desde que se tenha sempre em conta que "quem não tem dinheiro, não tem vícios".

7 comentários:

Rebélésco disse...

Por este andar quando eu não pagar os impostos devidos, irei pedir um subsídio (?)à Câmara de Tomar e andarei a comer à custa do Zé Povinho!!!Tantas fábricas que fecham, porque não há-de fechar também o União de Tomar? O que seria correcto era saber quem são os causadores de tamanha "falência". Nem as contas do Festival Anual de Cerveja aparecem.Porquê? Será que para alguns ditos dirigentes desportivos (do futebol) não existe o deve e haver?
A ver vamos, como diria o cego...

Anónimo disse...

Meu caro Rebelo.
Eu não comparei a Festa dos Tabuleiros com o União de Tomar. Cada um tem a sua função, mas ambos podem ajudar à afirmação do nome de Tomar.
Do Unão de Tomar não se pode dizer que "algumas vezes nem honrado chega ser". A honra é um valor e uma virtude humana.
Face ao que se passou com a Festa de 2003 pode-se dizer que ela algumas vezes nem honrada chega a ser?
Eu disse que qualquer Festa do Espírito Santo é religiosa (religa a comunidade), logo, social, e também económica e política. O Rebelo confirma isso quando diz que ela distribui comida aos mais necessitados - digo eu: mas-só num dia, e o resto do tempo? da sua organização que serviços são prestado ao concelho (e não só à cidade)?
O clube não está a prestar serviços à cidade, e pretende viver do concelho, muito bem. Mas, como eu escrevi, tal reflecte a fraqueza da vida política de Tomar, e reflecte o erro que foi permitir que o União servisse de trampolim para carreiras políticas.
A minha análise abrangeu a Festa dos Tabuleiros e o União num contexto de Tomar em crise. Porque é que o vosso enfoque só recaiu sobre o União?
Não sou sócio do União, crítico muito a sua gestão, como crítco a organização da Festa dos Tabuleiros, como crítico a vida política e económica em Tomar. Ver só um dos aspectos da vida tomarense é pobreza, ou interesses não divulgados.
É um facto que o Campomaiorense caiu como diz, mas olhe para o Sporting da Covilhã, em queda após o fecho do sector industrial na região, mas a renascer por causa de uma nova polítca da autarquia da Covilhã.
Considera que as Ruas Floridas de Campo Maior são equivalentes à Festa dos Tabuleiros em Tomar? Mas, a Festa de Tomar não é única no mundo? Não é por isso que a querem registar?
O União de Tomar não se devia limitar ao futebol, mas sim a muitos outros desportos, alargando a sua intervenção na região, o que exige que a Fénix renasça das cinzas. Também a Festa dos Tabuleiros não se pode limitar a um desfile, nem ao bodo, nem a um período de 4 anos, exige-se mais, muito mais. Assim como Tomar não se pode limitar a uma vida de definhamento.
"Quem não tem dinheiro, não tem vícios", muito bem. Ora, como Tomar não tem dinheiro, nem procura criá-lo, não pode ter vícios. Sendo assim, o existir e o viver podem vir a ser um vício para Tomar.
Os serviços prestados à cidade (só à cidade?) nunca são ridículos. Diga-me, nas últimas décadas, que serviços têm os tomarenses prestado à cidade, ao concelho, ao País, e à Humanidade?
Felicito-o porque este debate civilizado só é possível neste blog, mas não em mais lado algum em Tomar. Bem haja.

SAMURAI

Sebastião Barros disse...

Para o Samurai:
Agradecemos as suas amáveis referências e vamos fazendo votos (e figas!) para que possamos continuar a debater neste blogue, de forma cidadã, durante largo tempo. Oxalá!
É fora de qualquer discussão que as Ruas Floridas de Campo Maior não têm qualquer comparação com a Festa Grande de Tomar. Salvo num aspecto: são as melhores que eles lá fazem, tal como acontece aqui connosco e com os tabuleiros. Foi o que se procurou escrever, se calhar mal.
Das suas outras observações resultam vários pontos de consonância com aquilo que defendemos, ou procuramos defender. Naturalmente que num mundo em mudança cada vez mais acelerada, as pessoas, as instituições e as várias realizações humanas terão de ir mudando igualmente. Infelizmente, aqui em Tomar, é-se levando para o futuro aos puxões e aos empurrões, mas sempre com os olhos postos no passado. Como se fosse possível voltar atrás. Ainda mais grave: na sua obstinação doentia, muitos continuam persuadidos de que quanto mais isto muda, mais está na mesma. Aparentemente assim acontece. Porém, olhando com mais cuidado...
Julgamos que as próximas autárquicas, nas quais teremos uma série de coisas que acontecem pela primeira vez,poderá haver surpresas. Algumas forças vão constatar que afinal não têm, ou já não têm, qualquer base social de apoio. A partir daí, muita coisa poderá melhorar.
Para concluir por agora, concordamos inteiramente consigo sobre a questão do dinheiro e dos vícios. Apenas acrescentamos que, na falta de riqueza, há duas maneiras de a conseguir, subtraí-la a outros (legalmente, é claro) ou resolver-se finalmente a produzi-la. Estamos à espera de quê?

Sebastião Barros disse...

Face a determinados comentários, que por enquanto nos abstemos de comentar, informamos que o que está em causa é a posição camarária em relação às dívidas dos tabuleiros de 2003 e as do União de Tomar. Ninguém por aqui pensou alguma vez em tentar o que quer que seja contra o União de Tomar ou qualquer outra instituição tomarense. Estamos muito mais interessados em lutar contra a parvoíce, o que nem sempre é fácil. O mundo do futebol nem sempre é um bom exemplo de educação, correcção, cortesia ou fraternidade. Infelizmente.
Adiciomalmente, informamos que tomar a dianteira não é nenhuma tasca e que tudo faremos no sentido de evitar que o venha a ser.

Anónimo disse...

"...de forma cidadã..."
Gostei da frase! Será um galicismo?

Sebastião Barros disse...

Está agora muito na moda pelas bandas de Paris e Bruxelas.Na vertente francesa = citoyenne. Pareceu-me a mais adequada para o contexto, uma vez que se trata, para cada um, de honrar ou manchar os seus direitos e deveres de cidadania. Ou não será para isso que somos todos cidadãos, mesmo os que não nasceram nem vivem nas cidades?

Anónimo disse...

Há algum tempo atrás circulava eu por uma rua quando fui abordado por um caboverdeano, que me disse:
- "Cidadão, pode-me informar onde fica tal?
Respondi: - "Cidadão, fica ali ao virar da esquina".
Um diálogo engraçado impossível de ocorrer entre os zombies portugueses.
O termo cidadão sempre esteve em voga, excepto entre os portugueses, porque eles não sabem o que é a cidadania, por muito que a ensinem na escola.