segunda-feira, 10 de agosto de 2009

NA GEÓRGIA: ESTALINE PARA TURISTAS

José Estaline, numa pintura da época. Estilo "realismo soviético". O retratado foi idealizado, pois com aquela idade ainda não era marechal. E quando se promoveu ao posto máximo, o aspecto físico já era bem diferente. Ditames da época.
Uma das guias do Museu Estaline, visivelmente mais interessante (quanto a nós) que o patrono da casa onde trabalha, apesar do seu ar demasiado guloso.

Lembrados dos sarrabulhos em Santa Comba, por causa da estátua do Botas, da Praça do Botas, do Museu do Botas, ou da Casa do Botas, pareceu-nos útil reproduzir o texto seguinte. Útil para evitar que nos possam acusar de só falarmos de França ou dos USA, serve também para contentar alguns saudosistas do "Zé dos Bigodes", que ainda por aí há.
A CIDADE NATAL DO DITADOR ESTALINE TEM UM MUSEU PENSADO PARA AGRADAR A TODOS
"O museu dedicado a José Estaline (1878-1953) na sua cidade natal, Gori, sobreviveu à derrocada da URSS com a categoria de Museu Estatal da Geórgia, apesar dos dirigentes deste país renegarem o legado do seu famoso compatriota. Ainda assim, a novos tempos, novas perspectivas. Robert Maglakelidze, director da instituição desde há ano e meio, considera a sua tarefa como uma contribuição para "o fomento do turismo na Geórgia", aspirando a que todos os visitantes fiquem "contentes". "Dantes", disse-nos ele, "o museu exaltava a figura do líder. Agora centra-se na sua época."
"O grande chefe militar Estaline nasceu na cidade de Gori". Era esta a frase com que se começava dantes a visita da exposição, explica o director. Agora inicia-se com esta: "Há quem diga que Estaline foi um déspota; há quem diga que foi um tirano; há quem diga que foi um líder." A nossa guia, vestida com farda militar da época, recita com exactidão o novo texto preparado pelo seu director. "Aqui vêm os que gostam de Estaline e ficam contentes; vêm os que odeiam Estaline e também ficam contentes; e vêm o que não o conhecem ou são indeferentes a Estaline e ficam igualmente contentes", afirma Maglakelidz.
"A fórmula de tal êxito consiste em falar do fenómeno Estaline. ... ... A história do nosso fenómeno começa numa pobre casa de Gori", continua o director. E pelas explicações que a guia vai debitando, alguns visitantes podem até chegar a acreditar que foi o próprio Estaline o iniciador da destalinização.
No museu, o tesouro mais apreciado é uma colecção de objectos pessoais do ditador. Uma selecção de 25 desses objectos foi evacuada por Maglakelidze durante a guerra de Agosto de 2008. Conta-nos ele que, temendo que caísse alguma bomba sobre o museu, em 12 de Agosto formou-se uma comissão local, que embalou o mais precioso: um casaco, um cachimbo, uma caixa de cigarros Herzegovina Flor, as botas altas, um gorro, uma caneta e um recipiente no qual Estaline queimava os documentos secretos. Para não despertar a atenção, Maglakelidz apanhou um taxi com o tesouro metido numa caixa e dirigiu-se para Tbilissi, onde entregou a caixa a outra comissão especial, criada sob a égide do Ministério da Cultura. Em Setembro, quando se restabeleceu a normalidade, o director regressou a Gori com as relíquias, desta vez escoltado por dois carros da polícia com a respectivas sirenes a uivar. "Tudo pelo desenvolvimento do turismo, porque os turistas devem encontrar aqui os objectos pessoais de Estaline. Se em Gori não houvesse este museu de Estaline, os americanos já teriam fundado um. Por isso é melhor tê-lo aqui, na sua terra natal." Ainda assim, reconhece que a guerra de 2008 provocou uma acentuada descida de visitantes, cujo total foi de 19.000. Como o museu tem 44 funcionários, houve 432 visitantes por cada um. Consequências do "socialismo real".
Há igualmente uma loja, na qual se vendem os vinhos preferidos de Estaline, as camisas preferidas de Estaline, fotografias de Estaline e da casa onde nasceu Estaline, e livros sobre Estaline. Tudo pelo turismo."

Pilar Bonet, correspondente de El País em Gori - Geórgia
Título, nota prévia, tradução e adaptação de A. R.
Fotos AFP

11 comentários:

Anónimo disse...

Também é bom não esquecer que foi sob a liderança de Estaline que o nazi-fascismo foi esmagado na Europa.

Restou apenas um exemplo para amostra durante cerca de 40 anos: o de Salazar. Fiquemos por aqui.

Anónimo disse...

Você está um bocado baralhado! Deve ser do calor! Então e em Espanha? Então e nos países da Cortina de Ferro? Então e o Pacto de Varsóvia? O que foram?
Ou será que o seu conceito de fascismo apenas se estende à direita?

Anónimo disse...

Comungando da posição do anónimo das 19:50, julgo ser conveniente acrescentar que quem realmente venceu os alemães foram os americanos. Sem eles e sem o material militar que forneceram aos europeus, designadamente ao exército vermelho, Hitler teria provavelmente vencido.

Sebastião Barros disse...

Eu não disse, logo antes de fazer a tradução, que ainda havia por aí uns saudosistas, ferrenhos admiradores do "Grande Pai dos Povos"?!

Anónimo disse...

A ditadura em Espanha resulta da mais feroz guerra civil europeia dos últimos dois séculos em torno da definição de regime: República/monarquia, esta apoiada pelo bloco nazi-facista. Tudo bem, também era.

Posteriormente, nos chamados países da Cortina de Ferro, surge um fenómeno novo como força de poder, que se chama social-fascismo. Tentou implantar-se em Portugal e ainda tenta.

A questão de Estaline é muito complexa de avaliar. Os que tomaram o poder após a sua morte estiveram contra Estaline, é certo. Criaram um regime Social-fascista. E deste sairam os actuais líderes da Rússia. E o que são eles? Fascistóides. É muito complexo...

No âmago de tudo isto, muito complexo, está a contradição entre a exploração do homem pelo homem, entre o capital e o trabalho. A luta de classes.

Há quem queira fazer crer que já não tem sentido falar em luta de classes, que elas já não existem.

Os crimes que Estaline cometeu para defender a primeira revolução socialista da História, dizem os teóricos, deveram-se a ele se ter convencido (erradamente) que na urss as classes tinham sido eliminadas.

Estaline é odiado e com razão pelos grandes representantes do capital. Na SGMundial, para além do bloco nazi-fascismo, também as grandes potências ocidentais esperaram que Hitler esmagasse a urss e como isso não aconteceu procuraram depois apoiar forças no interior da urss que levou a uma terrível guerra civil.

Estaline e a revolução eram o alvo a abater. E foram abatidos. Crimes indescritíveis de um lado e doutro.

Contudo, penso eu, os ideais do socialismo estão vivos e fortes pelo mundo inteiro.

A questão de Estaline é complicada como o caraças.

Anónimo disse...

Esqueceram o Pacto Germano-Soviético que dividiu a Polónia ao meio?
Esqueceram o Pacto Churchill-Mussolini que preconizava a divisão do sul da França entre os dois?
Esqueceram o acordo Churchill-Stalin, no fim da guerra, onde se fez a divisão dos Balcãs entre os dois, e que em consequência desse acordo, os comunistas gregos, à beira de tomar o poder, foram dizimados, e o seu líder, quando se refugiou junto de Stalin, foi assassinado?
Quem ajudou a formar o Partido Nazi e foi sua vítima?
Esqueceram que os membros das Brigadas Internacionais que lutaram na Guerra Civil de Espanha foram presos e mortos Na Russia e na Europa de Leste de Stalin?
Esqueceram que Mao Tze Tung só conquistou o poder na China depois de romper com a estratégia errada de Stalin?
Estratégia errada de Stalin que já permitira aos alemães invadir a URSS e causar 22 milhões de mortos.
A 2ª Guera Mundial não tão simples quanto o diz a propaganda, há mais, muito mais. Por que é que Portugal e Espanha não entraram na Guerra?

Anónimo disse...

Deixemos Estaline na urss da primeira metade do séc. XIX. Nós estamos no início do séc XXI. Em Portugal. Num país que nem a verdadeira revolução burguesa ainda fez. É um disparate estarmos a discutir esta questão, como o é trazê-la aqui. E eu entrei nela.

Nós temos pouca experiência sobre revoluções. A bem dizer só as conhecemos indirectamente, pelos livros e de um lado e de outro, a verdade, muita dela, é amputada.

Muitos de nós quisemos fazer uma revolução a sério em Abril, tivémos esse sonho, esse ideal, essa ambição. O povo disse não, o que ele queria era a democracia, reenquadrar-se na Europa, acabar com a guerra colonial, escolher por voto. E hoje quer mais democracia, mais seriedade.

Quem se comporta na sua prática política como se Portugal fosse hoje a urss, ou é muito mau ou anda a sonhar, a brincar às revoluções. Eu também fui dos que sonhei. Mas o povo é quem mais ordena.

Anónimo disse...

Deve ler-se:na primeira metade do séc. XX.

Anónimo disse...

WEM TOMAR: PAIVA PARA TURISTAS

E porque não inventar um doce, à base de casca de laranja, logo amargo, a que fosse atribuído o nome de "paiva"?
Um dos postos de venda podia ser a recepção do talvez-vá-abrir-mas-não-se-sabe-quando Parque de Campismo...

Anónimo disse...

Para o anónimo das 22H37.

Aceito em parte a sua afirmação. Mas o que realmente venceu os alemães e decidiu a II Guerra Mundial foi o fiasco da campanha da Rússia onde Hitler apostou tudo e tudo perdeu. As tropas mal alimentadas e sobretudo mal fardadas. No inverno mais rigoroso de sempre os exércitos alemães, mal alimentados porque a logística falhou completamente uma vez que o solo das estepes russas eram um imenso lamaçal, estavam equipados com fardas de Verão com o suplemento de um capote insificiente para os -55º e ventos cortantes a soprar a 100 Kms. Existem relatos de mercado negro entre os soldados, imagine-se, de folhas de jornal, que os soldados colocavam no corpo entre a pele e a roupa. Apesar da escassez de comida e da fome lancinante, 2 ou 3 folhas de jornal eram obtidas a troco de refeições. O escritor alemão de origem norueguesa Sven Hassel, que percorreu a frente russa lembra isso nas suas memórias.
Teorizava o ministro Speer que um exército mal alimentado combate melhor por assim os soldados descarregam a raiva no adversário. Só que cerca de 1 milhão de soldados alemães (Wermacht, esquadrões disciplinares e Juventude Hitleriana) morreram de frio. Para além desses mais de 800.000 morreram em acção de guerra directa.
Esta foi a grande razão da derrota hitleriana, porque após a fracassada campanha russa os generais de Hitler nunca mais conseguiram restabelecer o poderio germânica, quer em meios físicos quer em meios humanos.
A machadada final foi dada pelos norte-americanos que entraram na guerra na zona europeia porque os U-Boat alemães começaram a afundar a marinha mercante americana.

O FANTASMA DAS CUECAS ROTAS

Anónimo disse...

Por fim, no assalto final a Berlim, e 3 dias antes da rendição, Hitler atirou para a frente de combate velhos de 70 anos tirados à força de suas casas e crianças de 11 anos arrancados às mães dos bunkers de protecção contra os bombardeamentos aéreos. Isto vem minuciosamente explicado numa obra "Die letzte Tage".
Os russos varreram a cidade a lança chamas. Saquearam tudo o que puderam. Capturavam civis alemães a quem diziam "tic-tac" após o que os executavam. Queriam relógios de pulso. As mulheres eram invariavelmente violadas e esquartejadas de seguida. As crianças eram reunidas em caves de prédios em ruínas para onde atiravam bombas de fósforo.

O FANTASMA DAS CUECAS ROTAS