"Governo obriga todos os funcionários públicos a gozarem dez dias de férias sem vencimento"
"Centenas de polícias romenos desfilaram em protesto frente ao Ministério do Interior, contra as restrições orçamentais que ameaçam os seus empregos. "O ministério voltou-nos as costas e nós vamos fazer-lhe o mesmo", disse-nos um graduado que solicitou o anonimato. "Estou farto de gastar 20% do meu vencimento, de 250 euros mensais, para comprar o que nos falta nos serviços: papel, esferográficas, ratos e teclados de computador. E muitas vezes sou obrigado a usar o meu telemóvel pessoal em serviço. Dão-nos só 15 litros de gasolina por mês. Se calhar esqueceram-se que um carro da polícia serve sobretudo para patrulhar!" O descontentamento dos polícias está ao mesmo nível da crise que atinge a função pública romena. Enredado no turbilhão da crise económica, o país tem enormes dificuldades para lhe fazer frente. O governo foi forçado a adoptar medidas drásticas para reduzir as despesas. Assim, todos os funcionários públicos vão ser obrigados a "gozar" dez dias de férias sem vencimento, entre Setembro e Novembro. "Uma medida impopular mas que nos vai permitir economizar cerca de 360 milhões de euros, ou seja uma redução do défice igual a 3% do PIB", declarou-nos o ministro das finanças. Na passada segunda-feira, a Roménia comprometeu-se perante o FMI a reduzir um bilião de euros de despesas públicas em 2009, e mais 3 biliões em 2010. Nesse sentido, cerca de 140 mil funcionários públicos vão ser despedidos, para aliviar a pressão sobre os recursos orçamentais do estado.
A Roménia está num impasse que a obriga a pedir dinheiro no estrangeiro para conseguir pagar os vencimentos e as pensões de aposentação da função pública. Na passada semana, o país obteve autorização do FMI para afectar ao pagamento dos funcionários uma parte do empréstimo de 20 biliões de euros, obtido em Março junto do FMI,da UE e do Banco Mundial. A política incoerente do governo de coligação entre os democratas-liberais e os socialistas tem levado o país à ruina.
Antes da eleição presidencial, marcada para o fim do ano, as duas formações governamentais passam mais tempo a guerrear-se do que a governar. Após as negociações de adesão à UE, iniciadas em 2000, a Roménia conseguiu um grande desenvolvimento económico, com o crescimento de 8% do PIB em 2008. Este ano, porém, o recuo do PIB deve atingir os 8,5%, arrastando o país para uma recessão bastante severa. As medidas impostas pelo FMI para sanear as finanças públicas foram mal geridas pelo governo, que improvisou soluções com consequências desastrosas.
Os médicos denunciam uma penúria de medicamentos e a maior parte dos hospitais já não estão sequer em condições de assegurar as tarefas correntes. A verbas concedidas para a luta contra o cancro, a sida, a diabetes ou a hepatite estão esgotadas desde o final de Julho. "O governo está a brincar com o fogo", disse-nos o presidente da Associação dos Doentes Crónicos. "A situação é extremamente grave. Temos 2 mil doentes crónicos, cuja sobrevivência depende dos medicamentos. Como é que vamos explicar aos cancerosos que estão em lista de espera mas sem qualquer esperança? Se já nem as receitas médicas que lhes passam são reembolsadas..."
Neste contexto difícil, os romenos em geral estão cada vez mais chocados com os excessos de alguns políticos, num país onde a corrupção intitucionalizada é endémica. O presidente da câmara de Bucareste, a capital do país, que tenciona candidatar-se à presidência da república, vai gastar 700 mil euros do orçamento municipal para redourar uma vintena de relógios de torre."
Mirel Bran, Le Monde, Bucareste
Nota prévia, adaptação, tradução e nota final de A.R.
Nota final: A Roménia é igualmente membro da NATO e da CPLP. Aquela do presidente da câmara de Bucareste tencionar candidatar-se à presidência da república, e decidir mandar redourar os relógios das torres, bem como a crise crónica do país, levam -me a pensar que os romenos se calhar terão aprendido alguma coisinha connosco. Nunca se sabe!
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