domingo, 2 de agosto de 2009

TURISMO DE QUALIDADE???

EL PAÍS de sábado, o1/08/09
MAIS UM TRISTE EXEMPLO
Em Portugal transformou-se num chavão corriqueiro, usado a torto a direito pelos políticos, com intuitos eleitoralistas, o conceito de turismo de qualidade, ou turismo cultural, como o melhor para cada concelho e para o país em geral. Quem assim pensa ou finge pensar, ignora ou faz de conta que ignora alguns aspectos da realidade, que é sempre conveniente ter em conta. Antes de mais, a circunstância de os turistas de qualidade, salvo raríssimas excepções, nunca serem os primeiros a visitar qualquer destino. Só o fazem depois de obtidas informações convergentes e convincentes, geralmente veiculadas pela imprensa, pelos guias especializados, pelos operadores, pelos vendedores das agências de viagens e pelos turístas mais afoitos e/ou menos exigentes, que vieram antes -os "routards" em francês, "trotamundos" em espanhol, "mochileiros" ou "caracóis" em português.
Significa o que antecede que, quem primeiramente estabelece o "padrão turístico" de determinado país, são os turistas mais modestos. O chamado "turismo de pé descalço", depois transformado em "turismo de massas". Ocorre até, paradoxalmente, que muitos "mochileiros" são gente muitíssimo bem instalada na vida, com excelentes ordenados e elevada formação académica que, enquanto são solteiros e/ou jovens, gostam de mudar de estilo durante as férias, o que torna as coisas ainda menos simples.
Todos estes turistas afoitos, ricos ou menos abonados, transmitem depois a amigos e conhecidos, directamente ou via internet, em fóruns especializados, as suas impressões de viagem. É com base em tais informações, caso sejam maioritariament favoráveis, que mais tarde virão os tão desejados turistas de qualidade, para o apregoado turismo cultural.
Infelizmente para todos nós, a imagem de Portugal, em termos de "padrão turístico", como país receptor, não é nada boa. É claro que os turistas estrangeiros, quando interrogados pelos jornais, rádios ou televisões, dizem sempre estar a gostar muito, que é tudo muito bonito e a comida excelente. São pessoas bem educadas e foi assim que lhes ensinaram. Há até um adágio francês segundo o qual "Nunca se deve falar de cordas em casa de enforcados." Porém, quando em conversa com outros turistas, sobretudo com compatriotas ou gente que usa a mesma língua materna, abrem-se: Não há grande qualidade nem boas maneiras, o trânsito é geralmente perigoso, há roubos, a comida é demasiado gorda e demasiado salgada, os empregados hoteleiros e os de mesa carecem em geral de formação adequada, a sinalização é geralmente má, os guias existentes são poucos, caros e de qualidade desigual, a limpeza urbana deixa muito a desejar, etc. etc. etc. Quanto a Tomar, convém ainda acrescentar o mau acolhimento e a manifesta falta de hospitalidade de alguns tomarenses, que parecem ter o rei na barriga, bem como a inexistência de parque de campismo capaz.
Perguntarão alguns leitores como é que conseguimos saber tudo isto. Sem trairmos as fontes, podemos dizer que em geral falamos com os visitantes, lemos publicações especializadas, compramos guias Routard e frequentamos ocasionalmente um ou outro fórum. Mas por vezes nem é necessário ter grande trabalho. O exemplo que encima este artigo foi retirado do periódico espanhol EL PAÍS, de ontem.
O jornalista especializado esteve na Pousada de Santa Isabel, em Estremoz, com quartos duplos a partir de 130 euros/noite, pequeno almoço e IVA incluídos. Não se pode dizer que seja barato, para uma pequena cidade de província, sem grandes atracções turísticas ou outras, num país europeu, mas da grande periferia. Ampliando a ilustração, constata-se que o visitante espanhol diz bem ou muito bem das instalações, dos móveis, da decoração e da paisagem circundante, mas nada sobre a comida. E quando se tratou de classificar, numa escala de um a dez, Arquitectura, Decoração, Conservação, Conforto, Casas de Banho, Ambiente, Pequeno almoço, Atendimento, Sossego e Instalações, atribuiu um máximo de dois 8, quatro 7, três 6 e um 3 para o pequeno almoço. Ter-lhe-ão servido bolotas? Pouco interessa. O importante é que, com tal nota, não voltará decerto àquela pousada. E dela afastará muitos potenciais clientes que terão lido a sua opinião crítica, ou que com ele falarão. É mais um triste exemplo do triste estado em que estamos. Mais grave ainda, porque a referida pousada é gerida por um grupo privado, o grupo Pestana. Oxalá tomem providências urgentes em termos de oferta alimentar, porque um 3 para classificar o pequeno almoço servido, é mau demais. E ainda houve a sorte de Fernando Gallardo, o autor da crítica, nada ter escrito sobre a comida em geral. Caso contrário...

20 comentários:

Anónimo disse...

Convém esclarecer que é numa escala de 0 a 10.

3 é mau resultado para os pequenos almoços, mas isso deve ser de fácil resolução.

Anónimo disse...

Grande produção Sebastião. Mais um bom trabalho. Os portugueses dizem que vão especializar-se em turismo, mas a qualidade do sector deixa muito a desejar.

Os profissionais de turismo, com cursos pagos pelos portugueses, vão para Espanha, Andorra, França, Suiça e outros lugares, onde, segundo um ex-Secretário de Estado do Turismo, ganham mais, trabalham menos, e são tratados com mais dignidade: os portugueses tiram a dignidade a tudo.

Sou frequentador de Pousadas há muitos anos, antes e depois da privatização. As experiências recentes dizem-me que a alimentação perdeu a tradicional qualidade nas Pousadas, antes, quando eram do Estado, todo o serviço era melhor.

Quanto a Tomar, o turismo não existe, os que falam de turismo têm uma visão muito pequena do sector. Os políticos ao fecharem o Parque de campismo demonstraram que estão fora da realidade e não têm senso.

Um viajante por todo o mundo.

Anónimo disse...

Faz falta um parque de campismo em Tomar.

Mas não concordo com a re-abertura do parque nas antigas instalações.
Parece-me que congestiona o trânsito no centro da cidade. Talvez algures nos arredores da cidade, perto de alguma aldeia, se pudesse montar algo com mais condições.

Qual é a vossa opinião?

Mariana disse...

Fico irritada quando ouço dizer que nós somos os piores em tudo.

Começamos por ser os melhores do mundo em cravar a faca no nosso próprio peito.

Se estamos atrasados no turismo, é porque desenvolvemos uma enorme capacidade para abandalhar. E no caso concreto da nossa cidade, para deixar aprodecer os edificios.

Ao nível da nossa cidade, temos pessoas capazes na área do turismo.
Sei que existe um professor muito capaz no IPT que sugeriu um projecto para a Câmara em Tomar, e não foi aceite.

O mal é que na nossa terrinha, onde se tem feito o culto da mediocridade, se misturam simpatias/antipatias politicas e familiares com questões profissionais.

E assim andamos.

Anónimo disse...

Há cerca de 2 meses, um amigo meu disse-me que ia a Tomar e pediu-me uma referência para almoçar bem. Indiquei-lhe o Bela Vista, um restaurante bem situado, junto ao rio, e servem lá um bom cabrito.

Dias depois telefonou-me e desatou a dizer mal, que o tinha enganado. Viu a ementa cá fora, lá estava o cabrito, achou o preço meia doze barato (8,50 E) e sentou-se na sala. O cheiro insuportável a marisco levou-o a tentar a esplanada e sentou-se. Pediu o cabrito e o empregado sugeriu-lhe uma sopa que estava morna e requentada. Comeu duas colheres de sopa. Veio o cabrito e não comeu nada. A pessoa em questão é assim para o exigente, diga-se a verdade, e queixou-se também do pessoal.

Mas o "Bela Vista" já não é um restaurante de referência em Tomar?

Anónimo disse...

Em Tomar existem dois projectos de envergadura, com campos de golf planificados.

Acredito nesses projectos.

Anónimo disse...

Eco turismo em Tomar!

Por aí deveríamos ir!!!

Sebastião Barros disse...

Tudo deve ser de fácil resolução, incluindo os maus governos e as más gestões autárquicas. O pior é que nunca mais se resolvem tais problemas. Se fossem difíceis, se calhar...
É ponto assente entre os investigadores competentes que os portugueses gostam mais da façanha, da proeza, do acto heróico. A monotonia da vida quotidiana não é a sua especialidade. Basta ver como se fardam os bombeiros e os chefes da protecção civil. Parecem combatentes das forças especiais.

Anónimo disse...

os espanhois, antes de fazerem publicidade ao turismo português, fazem ao deles(que lhes dá emprego a eles)

Sebastião Barros disse...

Se fosse essa a intenção, não teriam cá mandado o seu repórter especializado. Não lhe parece?

Anónimo disse...

Para Mariana:

É claro que não somos os piores em tudo. Nem lá perto! Mas que nos esforçamos cada vez mais nesse sentido, parece não haver grandes dúvidas. Digamos que estamos para aí a meio da tabela de classificação dos especialistas em abandalhamento. Já não é mau! Tanto mais que vamos certamente melhorar muito a curto prazo. Pelo caminho que as coisas levam...

Anónimo disse...

Eco turismo:

recuperação da margem do nabão

realização de ciclovias ao longo da margem do nabão

a tal aldeia pedagógica nem é má ideia (a quinta pedagógicada fundação de serralves está engraçada)

Anónimo disse...

Noutros tempos fiz a Europa toda em parques de campismo. Quando o parque de Tomar foi inaugurado afirmei que ele estava ao nível do que melhor existia na Europa.

O parque no centro da cidade é uma mais valia, quem fez ou faz campismo (diferente de montar barraca)sabe disso.

O parque onde estava não congestiona o trânsito, porque este é diminuto, e porque os verdadeiros campistas e viajantes deixam os carros no parque e andam a pé ou de transportes públicos.

O sonho de um campista é ter um parque situado como o de Tomar. O que congestionará o trânsito na cidade será um Forum no mercado.

O verdadeiro campista aspira à felicidade, os políticos e os consumistas não.

Anónimo disse...

Aos Domingos (e até à semana) percorram os concelhos em redor de Tomar e questionem porque os tomarenses vão almoçar à Cristina em Rio de Moinhos, à Tia Alice e outros em Fátima, à Locomotiva em Ourém (posse de um ex-sócio da Marisqueira), ao Malho em Alcanena, e a outros restaurantes. Por que é que não almoçam em Tomar?

Anónimo disse...

Um campo de golfe consome por dia tanta água como uma cidade de 15000 habitantes. Olhem para Espanha e vejam os problemas que ali se estão a gerar; os espanhóis ainda hão-de tirar a água dos rios aos portugueses, que ficarão todos contentes.

Sob os campos de golfe há três posições:
1 - a racional: o excessivo gasto de recursos leva à sua rejeição.

2 - a irracional: construção dos campos por motivos de lucro (se os houver, em crise será difícil).

3 - a revolucionária: quanto pior melhor; teria alguma piada ver os tomarenses com falta de água?

O Fantasma Revolucionário

Anónimo disse...

Ai agora estes meninos são contra os campos de golfe? Coitadinhos, devem ser da aldeia e gostar de jogar à malha. Enfim, gente como vocês impede o progresso !

Anónimo disse...

Gostava de saber o que é que o autor do texto entende por "turistas de qualidade"?

Sebastião Barros disse...

Nos meios universitários que se dedicam ao estudo e investigação sobre turismo, parte-se sempre do conceito teórico turismo de massa/turismo de elite, de luxo ou de qualidade. Tal separação é, na prática, óbvia. O pior vem depois.
É óbvia porque opõe o turismo de multidão, popular, barato,de pouca qualidade, dos 3 SSS (Sun, sand, sex), ao turismo para cidadãos de elevado poder de compra, que em princípio ficarão mais dias, viajarão pelo interior e gastarão muito mais em cada dia de estada.Infelizmente, a partir destas generalidades, as coisas complicam-se singularmente. Por um lado, qualquer turista procura sempre a melhor relação preço/qualidade,ou seja, obter o máximo pelo seu dinheiro, entendendo-se este máximo como um misto de quantidade e de qualidade.
Por outro lado, os tais turistas de elite, de luxo ou de qualidade são cada vez mais raros, não só porque quem tem meios procura mudar de ambiente durante as férias,o que os leva quase sempre para lugares exóticos, mas também porque nenhum governo conseguiu, até agora, atrair tal tipo de turismo e as infraestruturas existentes no nosso país, salvo raras excepções, não são em geral boas opções em termos da tal relação qualidade/preço. Falta formação, experiência, requinte, distinção, savoir-faire. Há excesso de autosuficiência, basófia, arrogância, ignorância, tacanhez. E quando algum responsável proclama que pretende atrair o turismo de qualidade, está apenas a usar mais um "chavão" eleitoralista.
É pena, mas é assim.

Anónimo disse...

Insuficiente a definição de turismo de qualidade.


No turismo de qualidade inclui-se o turismo de negócios, ou seja, aqueles que circulam pelo mundo a comprar e vender ou a investir.


Como Tomar não quer empresas de qualidade, mas apenas artesanato, não beneficia do turismo de negócios.

Os turistas abastados gastam mas nem sempre significam turismo de qualidade.

Os portugueses, por exemplo, tendem a escolher viagens para o Terceiro Mundo, com tudo incluído, porque ali se sentem superiores aos desgraçados que ganham uma miséria: os portugueses ainda têm quem esteja abaixo deles, por enquanto... Os portugueses escolhem o Brasil, Cabo Verde e as Caríbas por causa dos preços e da língua. Naquelas paragens os portugueses parecem ser abastados, mas não o são.

O viajante por todo o mundo

Anónimo disse...

Vê, lá está o parolo do Rebelo a deitar abaixo os comentários de que não gosta!
Faz-lhe falta uma leitura de QUALIDADE só possível em alguns pasquins franceses.
QA propósito ó Rebelo, estás sempre a atirar para cima da mesa os teus conhecimentos (?!!!) de francês! Só demonstras o quanto atrasado estás! Então ainda não percebeste que o francês há muito foi ultrapassado pelo inglês (finais dos anos 70) e mais recentemente pelo espanhol? O francês é cada vez menos usado no quotidiano, homem!
Acorda, lava a cara e vai passear a tua barrigona!