TUDO É MUITO RELATIVO...

Têm aparecido por aqui (e serão sempre acolhidos como merecem), uns comentários afirmando que somos anti-Louçã, anti-Bloco de Esquerda. E até que temos ódio ao erudito cidadão. Nada mais longe da verdade factual. Na nossa humilde opinião, o que se passa é que alguns dos ex-marxistas-leninistas-estalistas-trotsquistas-maoistas (???) adoram criticar duramente os outros, quase sempre procurando colocar-se numa posição de auto-proclamada superioridade moral, mas mostram-se alérgicos a qualquer crítica, sobretudo quando fundamentada, a eles ou aos seus queridos líderes, incluindo o "senhor bispo".

A ilustração acima, retirada do PÚBLICO, visa demonstrar que no fim de contas estamos muito bem acompanhados, e que tudo é muito relativo...

Uma outra tendência muito generalizada é a de criticar o primeiro-ministro Sócrates, não só pelo erros que comete (e tem cometido bastantes, na nossa humilde opinião), mas também e sobretudo porque gosta de preparar minuciosamente as suas intervenções públicas. Recordamo-nos de ter dito uma vez, em tom de desabafo: "Dizem que tenho tido sorte. Eu é que sei o trabalho que me dá ter sorte." Pois os eleitores em geral acham que é tudo demasiado encenado, que Sócrates não é natural, que há um ar de realidade de plástico, ou artificial.

Para todos esses críticos, e repetindo que o actual primeiro-ministro nem sempre tem governado bem para o nosso gosto, aqui vai uma amostra de como as coisas acontecem alhures. Desta vez em Itália, para não dizerem que se anda sempre a falar de França.

Sobre o primeiro-ministro Berlusconi e o seu estilo, os portugueses pensam que já tudo foi dito. Mas não é o caso. Estão naquela posição incómoda assinalada por um pensador alemão: "Quando se sabe pouco, só se têm certezas; quando se sabe um pouco mais, só se têm dúvidas". Cuidam que não é o vosso caso? Então façam o favor de ler com atenção. Se vos aprouver, claro! "Assim nasceu o "berluscoptimismo", segundo a palavra inventada pelo sociólogo britânico Stephen Gundle, citado por Marco Belopoliti, no seu recente ensaio O Corpo do Chefe. É a manipulação do tempo: Em vez das tensões em relação ao futuro, típicas das ideologias dos anos 60 e 70, o modelo berlusconiano propõe o êxtase do presente, um hedonismo do bem-estar, do consumo e do conforto. E tudo com um sorriso.

Com o rosto cuidadosamente coberto de "fond de teint", coroado de implantes capilares, tornado mais alto por sapatos de grandes saltos e rastos compensados, constantemente seguido por um autêntico batalhão de maquilhadoras, Berlusconi, simultaneamente masculino e feminino, obedece rigorosamente às regras do "star-system": Nunca se apresentar sem estar devidamente produzido. Até exige que os operadores de imagem coloquem nas câmaras, como se fossem preservativos, uma em cada, meias de nylon, para atenuar as rugas. O homem é realmente um maníaco da comunicação..."

D.S. e V. L. www.lexpress.fr
Tradução de A.R.

É certo que um exagero não justifica outro exagero, nem o primeiro-ministro italiano nos parece um exemplo a imitar seja por quem for. Mas permite-nos constatar que, afinal, quando comparado com alguns dos seus homólogos, Sócrates não passa de um menino de coro. Ou aprendiz de feiticeiro. Tudo é muito relativo, dependendo do grau de informação dos cidadãos.