domingo, 9 de agosto de 2009

A DESGRAÇA EM PLENA CIDADE




António Rebelo
Mesmo com muitos eleitores de férias, apesar da crise, as diversas forças políticas vão apresentando as suas propostas. Festivais, orquestras, pavilhões, escolas superiores, centros internacionais, etc. Tudo em grande. Entretanto, em plena cidade, a duzentos metros dos Paços do Concelho, um conterrâneo continua a pernoitar nas sentinas públicas de S. Gregório, preparando e comendo as suas refeições no alpendre da capela, cujo portal está obstruído por diversas bugigangas.
Quando por lá passei, eram quase 4 da tarde e o José Carlos, "Zé Bazaruco" para os velhos conhecidos, estava a almoçar, na companhia dos gatos. Sardinhas assadas com salada de tomate.
A esta hora? -"Ando com o sono trocado; tenho insónias. Nunca mais me resolvem o problema. Isto já dura há sete anos."
José Carlos herdou casas e terrenos na Estrada de Leiria, no gaveto da Estrada do Casal das Atalaias. Com visíveis dificuldades de inserção social, terá sido vítima de cidadãos com menos escrúpulos. Restava-lhe uma casa meio arruinada, que pouco a pouco foi tranformando em armazém de ferro-velho, com o produto das suas rondas aos contentores urbanos. Num processo nebuloso ainda por esclarecer, foi praticamente expulso de sua casa, que logo a seguir foi demolida e o terreno limpo. Ao que nos disse, o assunto continua em tribunal. Entretanto vai pagando o respectivo imposto municipal. Com se a casa ainda lá estivesse. Este ano pagou 51 euros e afixou o respectivo recibo debaixo do alpendre de S. Gregório. Provavelmente com a esperança de que o santo leia e lhe possa valer...
Então mas olha lá Zé; se te conseguissem um lugar ali nas antigas de instalações do Lar de S. José, devidamente arranjadas, ias para lá? "Eu vou para onde o tribunal me mandar; a câmara não; mas o tribunal vou. Se não me resolverem o caso vou outra vez lá pra cima; faço lá um barraco e já está. Os ciganos tamém fizeram barracos lá em baixo e ninguém lhes diz nada."
Entretanto, mesmo durante as férias, as promessas continuam. Pavilhões, escolas, festivais, museus, orquestras, etc. etc. Tudo em grande. E as antigas instalações do Lar de S. José, devolutas e ali tão perto. Somos realmente um povo muito solidário. Não haja dúvida!

15 comentários:

Anónimo disse...

No século XIX houve um escritor português, salvo erro Sampaio Bruno, que teorizou sobre os Brandos Costumes dos portugueses.
Disse ele que os portugues, onde se incluem os tomarenses, dobram a espinha aos poderosos e mal tratam os mais fracos.
Salazar apontava muito os Brandos Costumes dos portugueses.
O caso relatado neste post, bem como outros em Tomar, e pelo País fora, demonstra bem do nível civilizacional dos portugueses, e dos tomarenses.
Por que é que em França chamam aos portugues "les porc-au-gais?
Por que é que na Áfrco do Sul chamam aos portugueses os "sea kafir".
Por que é que na Turquia, e em lugares chamam aos portugueses de...?
Por que é que os Bascos, e não só, consideram os portugueses uma raça inferior?
Pela vida miserável cultivada pelos portugueses, e pelo seus Brandos Costumes.

Anónimo disse...

Não se deve criticar quando não se conhece toda a história. O homem, infelizmente é vítima de uma psicose.
Já o tentaram realojar, mas recusou.
Terão que ser tomadas outras medidas, com outro tipo de intervenção.
Há mais casos de pessoas em situações idênticas, que recusam a ajuda. preferem a rua ao conforto de uma simples casa. Somente porque estão doentes. Precisam de ajuda médica, psiquiatrica.
Mas é urgente tirá-lo dali, porque a situação tende cada dia que passa a piorar, com a inevitável acumulação de lixo.

ISM

Anónimo disse...

Para além do mais, por chocante que possa ser a visão deste homem na sua "vivenda", trata-se também dum caso de saúde pública.

O FANTASMA DAS CUECAS ROTAS

Anónimo disse...

O Governo criou o complemento para idosos.

Agora os especialistas em Segurança Social dizem: "Complemento de idosos é regressão social inaceitável" - in Jornal de Negócios de hoje.

DN de hoje: "Crise provoca aumento dos pedidos de idosos a câmaras".

São os portugueses no seu melhor, cruéis, destrutivos, e a andarem sempre para trás.

Anónimo disse...

Esta situação é um caso de Polícia e de internamento em Psiquiatria.

Uma vergonha para uma Ciodade do Sec.XXI.

Anónimo disse...

O último comentador está mais preocupado com o mau aspecto ou o caso social em si?

O FANTASMA DAS CUECAS ROTAS

Sebastião Barros disse...

Caso de polícia, não creio. O cidadão em causa não faz mal a minguém, nem provoca desacatos.Internamento em psiquiatria também não me parece o mais indicado, ao fim de tantos anos. Talvez se lhe resolvessem o litígio por causa da casa...e lhe dessem guarida decente. Na área urbana, onde sempre viveu e salvaguardando a liberdade individual que tanto preza.
Não seria melhor irmo-nos habituando a respeitar as diferenças, quando se trata de estilo de vida e não está em causa qualquer comportamento à margem das leis?

Anónimo disse...

Caso de Polícia e internamento psiquiátrico para uma questão humana e social, para uma questão de Direitos Humanos?
Os Brandos Costumes dos portugueses.
Já agora proponha a lobotomia.
A lobotomia, que deu o Nobel ao Egas Moniz, é hoje considerada pela nova psiquiatria de prática fascista, vejam o filme "Voando sobre um ninho de cucos"

Anónimo disse...

Estou convencido que se o Sousa fosse ciganmo já tinha o priblema resolvido.
Além disso existem casas vagas e recuperadas pela câmara no bairro 1º de Maio porque é que nuna o alojaram lá?
Se fosse cigano teria todas as mordomias que a câmara habitualmente dá.

Anónimo disse...

Talvez não fosse despropositado questionar a distinta Vereadora Srª Drª Rosário Simões sobre o dossier do caso deste cidadão e de outros (p. exº o Rogério Brilhante) e designadamente sobre o destino dado às propostas para o realojamento deste (e de outros) cidadão(s), que o Pedro Marques e o Rosa Dias há muito (imenso, até) tempo apresentaram e o executivo da Câmara aprovou por unanimidade.
Certamente ficaria(m) supreendidos(s) com a(s) resposta(s) (desculpas) e comprovaria(m) a absoluta inércia dessa responsável executivaneste problema!

Anónimo disse...

Nem de propósito. Hoje, o canal Odiseeia da TV Cabo passou, às 21 horas, um programa intitulado "O Lobotomista", a história de um médico americano que descobriu um livro de Egas Moniz sobre as experiências do médico português e o método da lobotomia. É chocante.
Foi uma tortura. Uma barbaridade. Condenada pela comunicação social e pela comunidade médica mundial.Mas deu o primeiro Prémio Nobel a um português, Egas Moniz, que era Iberista.
O Iberismo é a lobotomia colectiva.
A lobotomia pretende criar mortos vivos, sem alma e submissos.

Anónimo disse...

Pois é, oh autor do post anterior, já alguma vez viveste com doentes psiquicos? Talvez fosses mais ponderado nas tuas observações.
Experimenta e talvez aches mais graça ao Egas Moniz!

O maluquinho de serviço

Anónimo disse...

Resposta ao "maluquinho de serviço" (!?). A utilização desta identidade demonstra, não maluquice, mas falta de senso.
O Egas Moniz não é para ter graça.
É reconhecido em todo o mundo que o método da lobotomia é cruel e não resolve nada, antes pelo contrário.
Todos nós convivemos diáriamente com doentes psíquicos, tu és exemplo disso. Tu próprio te apresentas como "maluquinho de serviço".
Não tens graça, nem divina, nem de piada.
Não vou por aí!

Sebastião Barros disse...

Agradecia-se que regressassem quanto antes ao tema em debate, evitando o mais possível fulanizar as questões, como quase sempre acontece, aqui em Tomar e um pouco por todo o país, quando não se sabe argumentar de outro modo.

Sebastião Barros disse...

Os tópicos principais para o debate são: José Carlos Sousa, sentinas públicas, lar de S. José com a parte urbana devoluta, serviços sociais da autarquia, casa demolida e respectiva questão jurídica. Fugir daqui é tentar iludir a população, na mira de obter dividendos políticos.
A solução só pode ser uma, no nosso entendimento. Resolução do contencioso agora na justiça e abrigo digno para o José Carlos, que ele aceite expressamente. Será assim tão difícil? Ou a vontade não é nenhuma da parte de quem aufere um vencimento para cuidar deste e de outros problemas do mesmo tipo (Cavalo de Pau, Rogério da Rua Nova, Velhotes da Estrada de Leiria)?