O PÚBLICO de hoje ocupa toda a sua página 24 com uma fotografia, a infografia acima e um texto assinado por Jorge Talixa sobre a previsível evolução negativa da população do distrito de Santarém. É o costume, na maior parte dos casos, em Portugal -duas ou três "pinceladas", uma foto em grande, um gráfico, e está feito. O jornalista julga ter cumprido a sua tarefa, o jornal julga ter cumprido a sua missão, e os leitores julgam ter sido informados. Procurando remediar, tanto quanto possível a situação, resolveu-se recorrer à mesma fonte -o Governo Civil de Santarém- tentando ir um pouco mais além.
Conforme se pode observar no gráfico, tem sido geral a diminuição da população residente, excepto nos concelhos de Benavente, Cartaxo, Entroncamento, Ourém e Barquinha. Se em relação aos dois primeiros o motivo de atracção é Lisboa e o novo aeroporto, no caso do Entroncamento e, sobretudo, da Barquinha, trata-se de casos evidentes de "arrabaldização" forçada. Incapazes de custear alojamentos dignos, próximos dos locais de trabalho, os trabalhadores por conta de outrem vão-se mudando para onde a habitação é mais barata e os transportes mais económicos, próximos e rápidos.
Já no caso de Ourém, a questão parece ser outra e ter muito a ver com Fátima e a proximidade das zonas industriais da coroa de Leiria.
De qualquer forma, ficar-se pelos movimentos populacionais é algo redutor quando não se tem em conta a mãe de todos os problemas humanos -a economia.
No caso do nossos distrito, fomos em busca de mais elementos e conseguimos encontrar. Na infografia acima, vemos que, já em 2006, no primeiro ano do mandato que agora terminou, no auge portanto da gestão de António Paiva, "um dos melhores presidentes de câmara do país", segundo Miguel Relvas, o município de Tomar estava muito bem situado entre os caloteiros da região. Ocupava o quinto lugar no campeonato das dívidas por liquidar a terceiros não financeiros, com 7 milhões 495 mil euros. É certo que sempre havia quatro piores. Porém, se por um lado, Santarém tem uma vez e meia a população de Tomar, e quase o dobro das freguesias (28 contra 16), por outro lado, não deixa de ser verdade que com o mal dos outros passamos nós muito bem, salvo em termos de solidariedade verbal.
No outro campeonato inter-autarquias -o dos empréstimos bancários- estávamos até em muito melhor posição, ocupando o terceiro lugar, com 21 milhões 890 mil euros, quase a par de Abrantes, com 22.192.ooo€ e de Santarém, com 23.791.000€. Fazendo as tais contas de merceeiro, tínhamos então, em Dezembro de 2006, os seguintes totais em dívida: Santarém 53 milhões e 71 mil euros; Abrantes 27 milhões, quatrocentos e oitenta e seis mil euros; Tomar 29 milhões, 385 mil euros. Os malandros dos autores das infografias ! Sempre a tentar prejudicar a terra nabantina ! Afinal, já em 2006, Tomar não era nada terceira na tabela das dívidas. Era segunda. E logo atrás da capital de distrito, que tem muito mais população ! Nada mau !
Vão-nos dizer que entretanto a situação melhorou, pois até já se pagaram as dívidas não bancárias. Nada mais falso ! A situação piorou e muito, porque pagar dívidas contraíndo novas dívidas à banca, aumenta consideravelmente os juros, e qualquer beócio o consegue fazer sem a menor dificuldade. Por conseguinte, tudo indica que, em 2009, cujos dados ainda não são do domínio público, mas não tardam, as coisas estão bem longe da tranquilidade.
No final daquele ano de 2006, já o chamado "serviço da dívida" consumia 3 milhões 526 mil euros anuais em Santarém e 2 milhões 472 mil euros anuais em Tomar. Ao conquistar a câmara scalabitana ao PS, Moita Flores viu-se logo a seguir na triste condição de ter de mendigar, junto da EDP, o pagamento antecipado das rendas dos próximos 25 anos. Foi a única forma engenhosa que encontraram para tentar saír do atoleiro, apesar de terem 63.630 residentes, contra apenas 41.951 em Tomar.
Quando a já popularmente designada "coligação das gamelas" encontrar ânimo para, (finalmente !) enfrentar a triste realidade económico-financeira da autarquia tomarense, vai ser o bom e o bonito. Ai vai vai ! E não podem esperar muito mais tempo, que o bicho autárquico tem um apetite fora do comum, pelo que, a partir de determinada altura, já nada haverá a fazer, a não ser solicitar a tutela governamental e os respectivos administradores, que são implacáveis. Para jardinistas já basta a Madeira !
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