sábado, 31 de outubro de 2009

UM GRAVE EMBUSTE NA AUTARQUIA

António Rebelo
Recapitulemos rapidamente a "matéria dada". 1 - O PS assinou um acordo de partilha do poder autárquico com o PSD, contra o qual me manifestei, por entender, designadamente, que foi uma jogada "no escuro". Na verdade, os eleitos socialistas não sabiam nem sabem realmente qual é a situação financeira do município. 2 - Um estudo recente, editado pelo governo civil de Santarém, mostra que a população tomarense começou a debandar a partir de 2001 (Ver Guardanapos digitais 2, de 28/10). 3 - Um outro estudo, igualmente editado pelo GCS, inclui um quadro demonstrando que, a partir de 2002, o município tomarense aparentemente duplicou as receitas, vindo a atingir, entre 1997 e 2006, uma variação positiva de 236%, de longe a mais alta do distrito. 4 - Numa conversa recente, um dos autarcas garantiu-me que os sucessivos orçamentos eram fidedignos, que 90 % das despesas eram investimentos e que as dívidas correspondiam a um ano de receitas. 5 - Contra-argumentei que dívidas correspondentes a um ano de receitas poderão ser razoáveis, desde que as receitas não sejam empoladas, tal como os investimentos serão aceitáveis se fonte de retornos transaccionáveis, o que não é o caso, nem nas receitas nem nos investimentos.
Ignorava então, aquando da referida conversa, que houvera já uma auditoria oficial, cujos resultados o município acatou, conforme ofício 668/PR/CC, de 24 de Maio, cumprindo-se assim a obrigação de contraditório. Nestas condições, como cidadão eleitor, julgo ser meu dever denunciar, aqui e onde julgar conveniente, o que no meu entender configura um caso de grave embuste, cujos objectivos estratégicos continuam por determinar. Com efeito, os auditores imputam à edilidade tomarense o "Sistemático empolamento orçamental da receita de capital no quadriénio 2005/2008", com taxas de execução de receitas de 52% em 2005, 55% em 2006, 64% em 2007 e 61% em 2008. Isto significa que há, entre os actuais eleitos, quem tenha mentido deliberadamente e por omissão, bem como dado ordens a pelo menos um funcionário, sujeito ao dever de obediência, no sentido de incluir em documentos oficiais elementos que sabia serem falsos. Tudo com o objectivo táctico de induzir em erro as instâncias superiores e iludir os munícipes pagadores de taxas e impostos. Isto porque, sendo as referidas taxas uma resultante dos investimentos e estes função das receitas de capital, quanto mais vultuosas estas foram, mais o serão aquelas. Sucedeu, porém, o imprevisto -os auditores descobriram a artimanha. Porque se é humano enganar-se num ano em cerca de 50%, enganar-se quatro anos seguidos em mais de 35% em cada ano, só pode ser intencional. E quem assim procede deliberadamente, não tem dignidade para desempenhar funções autárquicas, seja ele quem for.
Dado que, conforme escrevem os auditores, "Não existem evidências no sentido de, ao longo de cada ano, a divisão financeira prestar ao executivo municipal informação detalhada (crédito bancário, leasing, dívida comercial, etc.) sobre o nível de endividamento da autarquia", a oposição e o actual presidente podem muito bem estar isentos de culpa. Mas o certo é que alguém prevaricou e reincidiu, tudo de forma grave. Com que intuito ? Dar cobertura ao passado ? Evitar modificações demasiado evidentes ?
Cabe agora à Assembleia Municipal, cujo presidente já recebeu cópia do relatório de auditoria, debater o assunto e apurar responsabilidades, se assim o entender. Ao executivo compete proceder no sentido de informar devidamente os cidadãos eleitores. Quanto ao PS local, cujos eleitos também já receberam cópia do relatório, só lhe resta uma decisão séria -denunciar o recente acordo, alegando que na altura desconheciam a verdadeira situação da autarquia, e requerer oficialmente uma auditoria mais ampla. Se assim não agirem, passarão a integrar o chamado grupo dos embusteiros, na qualidade de cúmplices. E a próxima consulta eleitoral é já ali adiante, dando de barato que o acordo possa durar até lá. Mas como a procissão ainda agora começou a saír da igreja...

5 comentários:

Anónimo disse...

Concordo com o título" Um grave embuste". A confirmar-se o que relata como materia constante do relatório, não percebo como é que ficou tudo calado, pois a decisão de não contestar o relatório, deveria ter sido analisada em reunião de câmara.
È absolutamente necessário que os Tomarenses se mobilizem para exigir as explicações que lhes são devidas, exigindo que o assunto seja agendado para a próxima reunião pública da Assembleia Municipal.
Sugeria que um grupo de Tomarenses liderasse um movimento de campanha de mobilização de cidadãos para que a cidade assista ao questionar (nas intervenções do público)as respostas que têm para nos dar os agora reeleitos, com responsabilidades em tal embuste!
O movimento TPL do Arquitecto Lebre, poderia ser um deles...
Enfim faça-se qualquer coisa, mas não fiquemos calados, como carneiros perante o açougue!

Sebastião Barros disse...

Esteja absolutamente seguro de que tudo o que já mencionei faz efectivamente parte do relatório em causa. Há uma cópia integral do mesmo aqui em Tomaradianteira, trazida por mão amiga da nosa terra, a quem muito agradecemos. É com gestos assim que ficamos a saber quem são realmente os que se preocupam com os problemas locais e procuram lutar, legalmente e de forma pacífica, pelo progresso da comunidade tomarense.
Como recompensa pela sua sua participação, aqui vai, com muito gosto e em primeira publicação, mais uma observação constante do citado relatório, que vale o seu peso em ouro: "AS CONTAS DO MUNICÍPIO DE TOMAR ATÉ AO EXERCÍCIO
CONTABILÍSTICO DE 2007 INCLUSIVE, NÃO FORAM OBJECTO DE CERTIFICAÇÃO POR UM REVISOR OFICIAL DE CONTAS." (página 10/39 do relatório final).
É caso para citar o saudoso Fernando Pessa -"E esta hein !?!?"
Quem nos garante que as contas apresentadas são mesmo o retrato escrito da realidade autárquica ? Se são mesmo, qual o motivo da sua não certificação por quem tem capacidade legal para o fazer ?
Sobre a sua ideia da resposta dos tomarenses, julgo que não devemos ter muitas esperanças. Como sempre tem acontecido, estão-se nas tintas para estas coisas. Em todo o caso, estarei na próxima sessão da Assembleia, salvo motivo de força maior. Se houver público interessado e em número suficiente...

Anónimo disse...

Concordo com a caracterização que faz dos Tomarenses. Alheiam-se de tudo.
Mas há situações inconcebíveis!!!E esta é uma delas! Obrigado pela deferência da informação complementar que aqui forneceu.
Contas sem revisão legal???
E quem as aceitou assim? A Assembleia aceitou-as???È ilegal. Não pode. E votou-as???É ilegal, não pode.
Acho que o Custódio Ferreira tem razão quando acusou a Divisão Financeira (Carlos Carrão)de ter as facturas de Fornecedores, por lançar, dentro de caixotes...para não aumentar a dívida contabilizada da Câmara! Além de outras implicações, isto é fraude contabilistica. Mas também na altura, assisti, aparvalhado, que ninguém se indignou e tudo se passou como se fosse normal.
Gostaria de ter acesso ao relatório. Vou pedi-lo, ao abrigo do Código do Procedimento Administrativo. Esse é um documento obrigatoriamente público. Tem que ser cedido a quem o peça.
Mas sei que na Câmara a filosofia do acesso publico a documentos é coisa que não existe.
No entanto, vou continuar a acompanhar este assunto, com o maior interesse.
Também conto estar na próxima Assembleia Municipal.

Sebastião Barros disse...

Pode solicitar o relatório, que está em CD Rom, ao abrigo do artigo 5º da Lei 46/2007 de 24/08, o qual estabelece que "Todos, sem necessidade de enunciar qualquer interesse, têm direito de acesso aos documentos administrativos, o qual compreende os direitos de consulta, de reprodução e de informação sobre a sua existência e conteúdo."
Cumprimentos e Boa Sorte !

Anónimo disse...

A diferença é que em Tomar, poucos foram assistir á posse do novo executivo e em outros concelhos, grandes salas desses concelhos, se encheram para as pessoas assistirem, ás posses nem foram nos edifícios das câmaras por serem pequenas.
Em Tomar o único Partido (PS) com real capacidade de ser alternativa, após mais uma derrota apressou-se a partilhar os benefícios do poder, para interesse dos próprios, esquecendo o concelho e os seus votantes, que tinha votado noutro projecto, noutra gente. Foi como se todos tivessem votado PSD. E no Miguel Relvas para presidente da Assembleia Municipal.
É perder tempo……