domingo, 4 de outubro de 2009

OS ARTISTAS E OS RESPECTIVOS REPORTÓRIOS

Conforme já aqui foi referido, a iniciativa da Rádio Hertz com o conjunto dos cabeças de lista correu bem, como é costume dizer-se, mas não trouxe nada de novo. O formato escolhido, sem dúvida o mais confortável para os intervenientes activos, tal não permitia. A longa série de 28 monólogos de 5 minutos, separados por buchas circunstanciais de Sérgio Martins, umas excelentes, outras nem tanto, permitiu, não obstante, registar alguns detalhes, que reputamos com interesse para aqueles eleitores que fazem o favor de nos ler. Praticamente "em roda livre" durante cada intervenção, os candidatos sentiram que não era necessário pedalar, mas simplesmente aproveitar a descida, pelo que se limitaram a debitar alguns números dos seus respectivos reportórios, mais ou menos vastos. Demo-nos conta disso quando, intrigados com tanta descontracção e conscientes de que no próximo Domingo cada eleitor terá de votar, quer queira quer não, num lote de candidatos, a menos que decida votar branco ou nulo, resolvemos ouvir algumas partes das longas entrevistas por eles concedidas à mesma Rádio Hertz. Conforme já tínhamos suspeitado, ouvimos os mesmos temas, ditos com as mesmas frases, salvo raras excepções. Ou seja, o discurso está em geral bem estudado, mas é apenas isso. Um discurso e nada mais. O importante é ganhar. Depois logo se verá !
Manda a verdade dizer que nos pareceu claro, mais uma vez, haver uma diferença muito nítida entre os cabeças de lista praticamente reincidentes (Pedro Marques, José Vitorino, Corvelo de Sousa), e os restantes quatro. Aqueles voltam a apresentar, em geral, muitos temas já sufragados anteriormente de forma negativa. Agem como se entre 2005 e 2009 não tivesse havido uma gravíssima crise mundial, nem um considerável e evidente agravamento da crise local. Enquanto isso, os quatro estreantes (José Lebre, Ivo Santos, Bruno Graça, António Godinho) trazem algumas ideias novas, havendo até a situação insólita de Bruno Graça, representando uma força que tradicionalmente pensa sobretudo em nacionalizar a mais-valia, ser agora o único a propor o incremento da produção de riqueza a nível local. As voltas que o tio Álvaro deve dar no túmulo! Só falta mesmo Ivo Santos ousar alvitrar a nacionalização da banca... da Platex e da João Salvador!
Dito isto, que não é nada pouco, somos todavia forçados a constatar que nos parece não ter nenhum dos candidatos um projecto susceptível de nos permitir inverter a marcha para o abismo. Particamente, todos acham que terá de ser pelo turismo e pelo lado dos serviços. Porém, quando questionados sobre o modus operandi, cada qual limita-se a falar daquilo que sabe. Arquitectura e urbanismo para Lebre e Vitorino, Legislação adequada para Pedro Marques e Corvêlo de Sousa, Investimento privado para Ivo Santos, Mais investimento público em cultura e turismo, para Bruno Graça e António Godinho. É largamente insuficiente. Com o devido respeito, quer-nos até parecer que estão todos um pouco como aquele galego da anedota. Conta-se que, por volta de 1950, quando os galegos ainda se expatriavam para Lisboa e Porto, um deles foi pedir emprego a uma determinada pastelaria. O hipotético patrão perguntou-lhe o que sabia fazer, ao que o nosso homem respondeu que tudo. -Então também sabes fazer chá ?! Pois sei, patrão ! Então diz-me lá como é que se faz. Pega-se nuns grãozinhos castanhos, põem-se no moínho, dá-se à manivela, sai um pó castanho, põe-se no saco... Mas isso é café !!! Pois é patrão ! Mas afinal sabes fazer chá, ou não !? Sei sim, patrão ! Então explica-me lá como é ! Pega-se nuns grãozinhos castanhos, pôem-se no moínho, dá-se à manivela... Outra vez ??!! Mas isso é café ! Pois é patrão !
Assim parecem estar os candidatos. Concordam que há crise, que a crise é grave, que a situação é calamitosa e que se agrava aceleradamente a cada dia que passa, que é preciso fazer algo com urgência, mas continuam a debitar a mesma cantilena -mais o museu disto, mais o museu daquilo, mais a obra X, mais a obra Y, mais uma repartiçao aqui, mais outra acolá, e por aí adiante, como quem pretende (quiçá sem disso estar consciente) apagar o fogo da crise com a gasolina de mais despesas certas e permanentes, nitidamente sem qualquer hipótese de retorno à altura das necessidades. A continuar por tal caminho, o próximo elenco camarário será forçado não só a contrair novos empréstimos para pagar a fornecedores como até, a partir de certa altura, para assegurar as remunerações dos funcionários. Se houver quem conceda tais empréstimos, pois logo que tome posse, o futuro governo, pressionado pela UE a tomar medidas tendentes a reduzir o assustador défice público, anunciará severas medidas de austeridade. E até nem ficará descontente se alguma, ou algumas autarquias, sobretudo se lideradas pelo PSD, forem forçadas a declarar-se em estado de cessação de pagamentos. Será um excelente ensejo para moderar os tradicionais ímpetos sindicais, bem como os de todos aqueles cuja manifesta ignorância em economia os leva a pensar que o Estado possui uma máquina de fazer notas, pelo que basta pô-la a funcionar para resolver qualquer problema... Isto é que vai uma crise ! Exclamava Ivone Silva no século passado. Há certas coisas que quanto mais mudam, mais estão na mesma. Oh se estão ! Já em 1928, Salazar veio governar para resolver a crise das finanças públicas. Todos sabemos o que aconteceu a seguir...

1 comentário:

Pato Bravo Tomarense disse...

Senhor Rebelo li o seu post e faço minhas as suas palavras. Muitos parabéns pela sua clarividência perante a realidade ao que os nossos candidatos deveriam responder com mais humildade, respeito e verdade perante os cidadãos tomarenses.
Sei que é muito fácil estar deste lado mas é também muito claro para mim verificar que todos os candidatos mitigam e até tentam senegar a realidade presente. Os próprios desviam as atenções do eleitorado com agências de investimento, centros comerciais, hotéis e outras patetices e nenhum deles consegue explicar como vão tentar fazer tanto com tão pouco. Tenham vergonha e assumam senhores candidatos que nesta altura de vacas magras é muito bom ser vereador para alavancar os seus interesses pessoais. Esta é a minha leitura sobre as pretensões interesseiras dos candidatos daí haverem tantos anões para um só cadeirão mas eles não se importam de ajoelhar pois primeiro está a sua vida pessoal. Porém deixo que a bondade dos nossos eleitores no Domingo seja equivalente à bondade "altruísta" dos nossos sete candidatos pois ninguém está política se não melhorar o seu estado de bem-estar individual em favor do geral se o ambiente contextual for desfavorável... note-se! Quem disser o contrário é mentiroso mas está assim a nossa política... cheia de mentirosos que não conseguem falar verdade às populações pois a maximização dos votos justifica os meios usados. Por exemplo? As sete candidaturas apresentadas a escrutínio no dia 11 de Outubro em Tomar. O Presidente da Câmara manter-se-á mas desta vez não terá maioria absoluta e manda a boa educação que todos se entendem e aí eu quero ver se o farão a bem de Tomar. Os senhores eleitores que cenarizem o que farão as sete forças políticas pós-resultados eleitorais e às sete candidaturas devo realçar de que o "povo" pode ser ignorante mas não é burro. Depois veremos quem tinha razão.