Killofer - Le Monde
Quem tem a pouca sorte de poder aceder unicamente aos meios de comunicação social portugueses, fica geralmente com uma ideia muito peculiar do que vai pelo mundo, em sectores que fazem igualmente parte da nossa realidade quotidiana. Hoje, por exemplo, li no PÚBLICO, as reivindicações do presidente da Conferência portuguesa de reitores, que são seis: Ordenamento da oferta; racionalização da rede de instituições (lá se vai o IPT ?); política de financiamento; clarificação do conceito de autonomia; revitalização do processo de avaliação; maior aproximação entre sistema universitário e científico.
Numa entrevista ao citado jornal, Seabra Santos, Reitor da Universidade de Coimbra, afirmou a dado passo: "Para quem argumenta que o país não tem recursos para investir no superior, eu digo que enquanto o país não investir no superior não terá recursos para coisa nenhuma." Não há dúvida que está bem dito. Falta demonstrar que seja verdade.
Nem de propósito, igualmente hoje, li no LE MONDE, na primeira página - "Inquérito sobre os proletários da universidade: 21 anos de escolaridade, docentes a 1500 euros por mês"
"Têm 21 anos de escolaridade. Doutoramento e mais além. São docentes universitários provisórios. Sem estatuto nem garantias. "Docentes não permanentes", diz o ministério da educação. Quantos são ? Talvez mais de 20.000. A administração pública não tem números exactos. Remuneração mensal média -1500 euros. E todavia sem eles, sem esta "mão de obra" do ensino superior, as universidades não conseguiriam funcionar normalmente. Mas a universidade em geral é um mundo de castas, extremamente penoso para todos os que, sejam eles tão sábios como competentes, não possuem o estatuto de titulares. Contratados, sem estatuto de funcionários, sem lugar no quadro ou permanente, vão tapando os buracos aqui, ali e além, consoante as necessidades efémeras. Porque para estes proletários das universidades, a contratação é sempre temporária, precária, e o salário miserável. O LE MONDE efectuou um inquérito sobre os "fora de casta" das universidades francesas.
Neste começo de Outubro, as universidades retomam as suas actividades com uma interrogação que a todas preocupa: O movimento contestatário que o ano passado bloqueou várias instituições, entre Fevereiro e Maio, vai recomeçar? Trata-se de contestar a autonomia universitária e a reforma do estatuto dos docentes-investigadores. A ala mais militante do referido movimento ainda não desistiu." Le Monde, 06/10/09, página 1.
Tudo isto em França, que os portugueses continuam a considerar um país rico e liderante. Em todo o caso, com um nível cultural e de vida superior ao nosso. Que dirão a isto os nossos contestatários, bem instalados nos seus lugares vitalícios ? E os que se queixam dos "salários de miséria" de 500 a 800 euros, mas nem chegam a ter sequer 15/16 anos de escolaridade? Que já foi tudo mais fácil ? Pois lá isso foi, mas o tempo nunca volta para trás.
Sem comentários:
Enviar um comentário