sábado, 24 de outubro de 2009

UM SENHOR INCÓMODO

UM SENHOR INCÓMODO é o título de uma longa entrevista de Medina Carreira, hoje publicada na Revista Única do EXPRESSO. Agora com 78 anos, o ministro das finanças de Mário Soares, no 1º governo constitucional, já não tem necessidade de praticar a autocensura, uma arte em que os portugueses são exímios. Por nos parecer de grande interesse, tendo em conta a presente situação nacional e tomarense, transcrevemos a seguir as passagens por nós consideradas mais significativas. Omitimos as perguntas, sempre que supérfluas para o cabal entendimento das respostas.

"Move-me o facto de ser cidadão de um país pobre, pouco educado, sem a percepção disso, e que não sai da cepa torta. Por ser assim, escolhe dirigentes que não são os mais aconselháveis para o ajudar a saír do lodo em que está metido."
"Têm medo de si ? Não é de mim, é dos números. Mexer em números, com rigor, dá trabalho. Os políticos e a gente que se serve disto usam o país como uma mangedoura."
"Revoltado estou agora com o que se passa. As nossas escolas são fábricas de analfabetos. No meu tempo, os alunos com a 4ª classe davam menos erros do que alguns ministros agora. A escola, hoje, é mais uma das falsificações do regime. O ensino é uma farsa para apresentar estatísticas. ... ... Os professores têm de ser avaliados para se saber se sabem do que ensinam. Salazar liquidou duas gerações e a democracia está a liquidar quatro. ... ... Os analfabetos que dirigiram a Educação depois da revolução é que foram os culpados."
"Ainda é amigo de Mário Soares ? Trabalhei muito com ele. Para Mário Soares, uma pessoa que sabe fazer contas de somar, é esquisito. Gosto muito dele. É um homem a quem Portugal deve muito, sobretudo naquele período agitado dos anos 70. ...É um homem notável. E, como todos os homens notáveis, tem alguns defeitos notáveis. ...É um homem que despreza as realidades económicas. Um defeito enorme para um político dos nossos tempos. Acha que os números são coisas para merceeiros."
"O socialismo e a social-democracia são hoje fraudes completas. O Louçã é um social-democrata armado em revolucionário, o Jerónimo disfarça um pouco, Sócrates, Ferreira Leite e Paulo Portas são todos sociais-democratas. Mas, simplesmente, não há social-democracia sem dinheiro." ...
"Nunca me assumi como treinador, nem sequer de bancada. Aquilo que quero é tentar levar as pessoas a perceber os caminhos que trilham, fazer um pouco de pedagogia. Fazê-las entender que estão a ser burladas. O país não pode continuar a ser dirigido por trafulhas."
"...Precisávamos em Belém de meio Cavaco e meio Soares. Uma mistura dos dois bichos. ... ...A ponderação, o rigor, o conhecimento dos problemas de economia e finanças de Cavaco. E o golpe de asa, a capacidade de intervir com oportunidade, de Soares. Era o Presidente ideal. ...Não ! Manuel Alegre não serve para Presidente da República. Se o país quer acelerar o seu trambolhão, então é pôr o Alegre em Belém e o Louçã em S. Bento. Em seis meses, o país encontrava-se com a sua verdade."... ...
"...O que me entristece é ter-se tranformado o 25 de Abril nesta piolheira política."
"O que saiu das eleições de 27 de Setembro não permite fazer um governo capaz. A situação financeira é muito complexa, o desemprego é enorme e o endividamento é extremo. Perante este cenário, qualquer pessoa com juízo não está para ser ministro. É de presumir que se escolha gente que ainda não viu em que situação o país está."
"Não temos dinheiro para sermos benfeitores à custa do dinheiro alheio. Isto vai acabar entre 2015 e 2020. Desde 2000 que a economia estagnou. As despesas sociais cresceram três vezes mais que a economia. Se não invertermos esta tendência, isto acaba mal." ... ...
"A escola inclusiva é uma vigarice. Põem lá a tropa toda. Como todos somos diferentes, há uns que querem estudar e outros não. Há uns que são capazes e outros não. Quem não aprende não faz sentido lá estar. ... ...A falha de Salazar não foi na qualidade, foi na quantidade. Agora a falha é na qualidade. ...Não é mantê-los lá a dar coices que se nivelam. ... Isto de todos serem iguais é uma trafulhice." ...
O que pensa do novo treinador, Jorge de Jesus ? Se é verdade o que vocês jornalistas andam a dizer, parece que ele é um homem que põe aquela tropa a trabalhar. E eu aprecio sempre quem põe o pessoal a trabalhar."
"Detesto fantochadas. ...Quando aparece o Sócrates na televisão eu mudo de canal. Para espectáculo, vou ao circo."
"A ladroagem em Portugal atinge hoje uma dimensão que não tinha há vinte anos."

Depois não venham lastimar-se, alegando que ninguém se deu ao trabalho de vos avisar...

2 comentários:

Pato Bravo Tomarense disse...

Está a ver senhor Rebelo porque é que não lhe ligam nenhuma em Tomar?
A classe dirigente tomarense ainda é mais trafulha e incompetente que a que governa o país e por isso o senhor Rebelo e... se me permite... eu próprio... somos como que gente incómoda. Percebe agora? Mas o mais importante disto tudo é que não nos resignaremos perante tantos patetas. Life goes on!
O povo ignorante é que tem culpa: vota sempre nos mesmos trafulhas.

Sebastião Barros disse...

Já há mais de 40 anos que julgo ter percebido o essencial sobre o comportamento sócio-político da maioria dos meus conterrâneos. E já há mais de 20 anos, quando deixei de ocupar o meu lugar na bancada do PS da Assembleia Municipal, e me remeti ao silêncio, foi por constatar que não adiantava gastar cera com ruins defuntos.
Lamentavelmente, em mais de 25 anos, a sociedade tomarense não mudou. Estarão certamente convencidos, como os islamitas, que a realidade, o mundo, também não mudam. Com diz o conhecido social-democrata Vasco Graça Moura, "hão-de ter um lindo enterro."
Se após ter passado tanto tempo calado, em termos de comunicação social, resolvi recomeçar com a escrita, foi apenas para tentar arejar ideias e dar que fazer ao cérebro. Quando apresentei a minha candidatura interna no PS, fi-lo somente, como também já aqui expliquei várias vezes, para que depois ninguém pudesse acusar-me,respeitando a verdade, de ser um mero treinador de bancada.
No meu entender, houve sempre e continua a haver, entre mim e os meus conterrâneos, um enorme equívoco -Eles estão convencidos de que não precisam de mim para nada; eu é que preciso deles.Como bom tomarense, filho neto e bisneto de tomarenses, penso exactamente o mesmo, mas às avessas -não preciso dos tomarenses para nada; eles é que precisam de mim. A generalizada fraca capacidade cabeçal é que ainda não lhes permitiu sequer entender isso.(Desculpem a manifesta arrogância, mas se não sou eu a agitar o pântano, quem o fará ?)