terça-feira, 27 de outubro de 2009

O DEVER DE INTERVIR E DE INCOMODAR



Há dois anos, obteve grande sucesso (nove edições em poucos meses) um pequeno livro de Medina Carreira e Ricardo Costa, intitulado O DEVER DA VERDADE (Medina Carreira e Ricardo Costa, O dever da verdade, Editora D. Quixote, Setembro 2007, 135 páginas, 13,95€). Logo na apresentação, Manuela Ferreira Leite (Exactamente ! A actual presidente do PSD) previne os leitores: "Não nos devemos deixar iludir pelo tom aparentemente desiludido que o Dr. Medina Carreira costuma utilizar nas suas exposições. De facto, o seu olhar atento e o permanente impulso para intervir, corporizados neste livro, mostram à evidência que continua a acreditar na possibilidade de um futuro melhor, sem o que há muito já teria desistido. ... ... O facto de não se dar por vencido é a melhor prova de que não se conforma com o que vê, porque acredita que é possível fazer melhor. Este livro é uma lição para os que, embora reconhecendo os erros cometidos, e as dificuldades que se prevêem, não querem desistir do futuro do país."
Segue-se uma centena de páginas, sob a forma de perguntas curtas e respostas longas, em estilo ligeiro e acutilante, nas quais se passa em revista a (tristérrima) situação do país.
Dois anos passados, Medina Carreira decidiu voltar à carga, desta vez questionado, e acompanhado na escrita, por Eduardo Dâmaso. (Medina Carreira e Eduardo Dâmaso, Portugal que futuro ?, Setembro 2009, Editorial Objectiva, 209 páginas, 13,95 €, na livraria do Modelo). O formato de perguntas e respostas continua o mesmo do livro anterior. O estilo, porém, já não é tão vivo. Notam-se aqui e além o cansaço, a descrença, a desilusão, o desencanto, perante problemas velhos e relhos. Alguns velhos de séculos. A educção, a justiça, a saúde, a segurança social, a corrupção e por aí adiante, tudo chagas a corroerem a nossa frágil democracia que, por nos ter sido oferecida de bandeja, não é activamente defendida por ninguém. É assim como os dinheiros do estado -todos julgam ter direito a ela, sem necessidade de qualquer contrapartida. Só porque nasceram aqui. Por isso convirá meditar, antes e/ou depois de ter lido (ou decidido não ler) o livro, no aviso sibilino que vem na contracapa: "Para Medina Carreira a "economia" portuguesa é o primeiro, o mais grave e o mais difícil de todos os nossos problemas actuais. A democracia de 1976 poderá soçobrar se os responsáveis políticos não souberem enfrentar e vencer, em tempo útil, a doença que mina profundamente a nossa economia."
Numa terra praticamente com a corda ao pescoço, tanto na economia como no resto, que bom seria se, pelo menos, os eleitos urbanos cá da Nabância tivessem a pachorra e a capacidade necessárias para ler e entender estes dois livros. E agir em consequência, claro ! Reconhecer a ignorância e aceitar ouvir os outros, é o primeiro passo para ir aprendendo qualquer coisinha...

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