sábado, 3 de outubro de 2009

UM SUCESSO PARA A RÁDIO HERTZ

O programa em directo com todos os cabeças de lista para a Câmara de Tomar, iniciativa da Rádio Hertz, foi um verdadeiro sucesso. (Dado que somos geralmente considerados do contra, do bota-abaixo e do descontentamento permanente, podemos agora louvar, sem que nos suspeitem de qualquer caviloso conluio.) Sala cheia, gente sorridente, via-se bem que cada candidato trouxera as suas tropas de apoio, em maior ou menor número.
Dado que há no vale nabantino muitas mentes de estilo manuelino, avançamos já com os pormenores mais curiosos, de índole estatística. Havia um candidato de casaco e gravata (Corvelo de Sousa, devido certamente ao cargo que ocupa), um de blusão, um que tirou o casaco, um sem meias e um de sapatilhas. Os restantes estavam em mangas de camisa.
A mesa de moderação foi liderada por Sérgio Martins, que agiu com acerto e alguns traços de brilhantismo. Sorteados os lugares dos candidatos na mesa, o acaso mostrou-se sábio, como por vezes acontece. Tivemos assim, da direita para a esquerda, no sentido público - mesa, dois candidatos do PS (Vitorino e Pedro Marques, um que já foi, outro que é agora), dois integrantes da auto-designada boa sociedade tomarense (Corvêlo de Sousa e José Lebre), um isolado empresário (Ivo Santos) e os dois únicos políticos de gabarito, que até já foram da mesma organização política, nos idos de 70/80 ( Bruno Graça e António Godinho).
Iniciada a função, cedo se percebeu que os candidatos estavam descontraídos, mas que apesar disso a assistência não ia ter direito a quaisquer novidades. Isto porque o formato escolhido revelou, logo a abrir, os seus evidentes limites. Conceder a cada interveniente sucessivos períodos de 5 minutos de antena, redundou não num debate, como anunciado no cartaz (ver acima), mas numa série de quatro monólogos para cada candidato, entrecortados por "separadores", geralmente felizes, de Sérgio Martins. Político muito calejado, o candidato do Bloco de Esquerda foi lesto a denunciar tal situação. Sem qualquer resultado prático.
Decorrida a primeira hora e meia (dois monólogos de cada interveniente), foi anunciado um intervalo de 15 minutos (naturalmente para a Rádio Hertz poder cumprir os chamados compromissos publicitários), e a existência de um beberete. As bebidas não alcoólicas, os bolos, os croquetes e as carnes frias estavam uma maravilha. Pena é que não haja todos os dias iniciativas destas. Podia não se aprender grande coisa de política, mas sempre se poupava no jantar, o que nestes tempos de crise... Além desta evidente simpatia para com a assistência e candidatos, a conhecida rádio local mostrou-se igualmente credível na área técnica, trocando sucessivamente vários microfones, sempre que tal se revelou necessário. Numa terra onde, regra geral, as coisas ou correm bem ou correm mal, os técnicos da Hertz agiram com elevados padrões de profissionalismo, que aqui se assinala com muito gosto.
Quanto aos candidatos, seria fastidioso detalhar aqui as 4 intervenções de cada um, bem como algumas "buchas", mais ou menos oportunas. Na próxima semana tencionamos dizer o que pensamos do programa e da actuação de cada um durante a campanha, indicando igualmente o nosso sentido de voto. Tal como fizemos para as recentes legislativas. Até lá, limitamo-nos a destacar que cada um dos cabeças de lista, eventualmente sem de tal se dar conta, usa dois registos de discurso. Na sua área de competência, fala de dentro para fora. Nas áreas que manifestamente não domina, fala de fora para dentro. Temos assim, regra geral, intervenções de dentro para fora por parte de José Lebre e José Vitorino, quando abordam questões de arquitectura e urbanismo; de Corvêlo de Sousa e de Pedro Marques, quando "em defesa das respectivas causas"; de Ivo Santos, ao tratar de empresas, gestão e negócios; de Bruno Graça no âmbito produção cultural e das colectividades; e finalmente de pedagogia, ensino e animação, no caso de António Godinho.
Nas restantes matérias, parece-nos manifesta a falta de convicção profunda, sobretudo na área que melhor dominamos. Ao falarem de turismo, todos os candidatos o fazem em sentido inverso ao acima indicado, ou seja de fora para dentro. Os seus discursos soam a improviso e a ponto de vista de turista com parca experiência e pouco mundo. Ouvem-se até, de quando em quando, algumas enormidades, que só a boa educação cívica nos impede de detalhar.
Resta a questão do formato escolhido pela Rádio Hertz, manifestamente nada adequado para os tempos que correm, como já foi referido anteriormente. Palpitando que já estarão a pensar "E qual é a sua alternativa ?", aqui vai ela. Com um tal número de candidatos, a alternativa óbvia e mais conveniente para os organizadores, a assistência e os ouvintes, teria sido sortear, alguns dias antes, os sucessivos debates "mano a mano" de 40 minutos, todos seguidos mas intervalados de 10 minutos. Teríamos assim 3 debates, seguidos de um 4º e último, entre o candidato que ficou sem adversário designado aquando do 1º sorteio, e um dos 6 restantes, naturalmente também sorteado, uma vez que teria de participar em dois debates. Haveria também um sorteio para cada um dos moderadores, que seriam idealmente em número igual ao dos candidatos. Como é evidente, todo esse processo e os seus resultados seriam atempadamente dados a conhecer aos ouvintes, através da rádio e da imprensa. E poderiam até, eventualmente, associar-se à rádio concorrente. Estão a ver que não era nada difícil ?

Sem comentários: