No sentido de encerrar a campanha eleitoral de forma alegre, decidimos reproduzir, com a devida vénia, a saborosa crónica de Daniel Abrunheiro, inserida no semanário O RIBATEJO de hoje.
FALA O MEU VIZINHO
(Domingo é outra vez dia de eleições batráquicas. Jornada cívica de engolir sapos locais, por assim dizer. Eis o testemunho do meu vizinho sobre a efeméride.)
Ainda não sei se vou lá botá-los ou não. Já fizemos a vindima, mas há muita azeitona para varejar. Se a mulher não tossir e a motorizada também não, somos mas é capazes de ir ao crico à maré baixa da Foz. De caminho compra-se uns frangos assados ou assim. Tenho meio pinhal de lenha para resolver com o meu cunhado Zé Quim, pode ser que no domingo a gente se resolva amigos-amigos. Falta-me uma saca de vinte quilos de sal para o porco. Preciso de um bocado de enxofre. A água-pé, em baixo na loja, dá outro cheiro à bancada de maçãs. Também se um gajo não for lá botá-los no domingo, ficam lá os mesmos à mesma. Melhor se calhar é ir mesmo ao crico, sempre dou um passeio de mota com a bicicleta e vemos o mar e assim. Terça-feira tenho de resolver com o meu cunhado Zé Quim o despejo da fossa. Não há saneamento, a gente desenrasca-se. Novembro, na festa da capela, a sardinha da matança é melhor que a de Agosto porque é mais magra. Ainda não britaram o caminho da escola, isto das politiquices ou mete manilhas de amigos-amigos ou está tudo lixado. A minha bicicleta diz que faltava mas era um que mandasse nas coisas sem estar sempre a ser preciso gastar domingos o botá-los lá. Eu nem lhe respondo porque ando sempre a pensar naquilo do meio pinhal de lenha. O nosso mais velho agora deu-lhe que quer ir para os comandos para depois ser gêéneérre. O mais novo não quer fazer nada a não ser andar com o boné virado para trás e as calças caídas a ver-se o elástico das cuecas e meio rego do cu. Ainda não foi este ano que acimentei a adega.
As cascas dos cricos ficam engraçadas coladas em coração numa tábua para pôr na parede da cozinha.
(Também não sei se vou lá botá-los domingo. Tenho enxofre a mais.)
Nota final: Mesmo que esteja muito enxofrado, como o autor da crónica, vá votar ! Ir ao crico (berbigão) não é solução, porque estamos bem longe do mar e há muita poluição. Seja prudente ! Mais vale ir votar do que sujeitar-se a apanhar uma diarreia !
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