quarta-feira, 14 de outubro de 2009

MUDAR DE ASSUNTO PARA RESPIRAR UM POUCO

Le Monde, com dados do Ministério da Educação francês
Fazemos uma pausa nas questões locais, para respirar e ganhar alento, que o que aí vem é bem sombrio.
Dado que vários professores, de todos os graus de ensino, fazem o sacrifício de ler este blogue com alguma regularidade, parece útil tentar situar-nos em relação à Europa além-Pirinéus. Tanto mais que o anterior ano lectivo foi bastante agitado, por causa de um primeiro-ministro arrogante e de uma ministra da educação obstinada e sádica. Ou não terá sido bem assim ?
Em França há todos os anos dois concursos de recrutamento para professores do 3º ciclo do básico e do ensino secundário, aos quais podem apresentar-se os titulares de pelo menos um mestrado (master 1) na especialidade à qual concorrem. Ao mais difícil, a agregação, só se apresentam geralmente os fora de série, que pretendem transitar mais tarde para a docência no ensino superior. Os titulares da agregação, os chamados agregados, fazem menos horas semanais e têm vencimentos mais elevados que todos os outros.
O outro concurso, relativamente mais fácil, constitui a via de entrada na docência para mais de 65% dos professores do secundário. É o CAPES (Certificado de aptidão para o professorado do ensino secundário). Relativamente mais fácil do que a agregação, mas ainda assim de um nível que não está ao alcance da maioria. Como se pode ver na ilustração acima, e será abordado mais adiante, com no mínimo três provas escritas anónimas e iguais em todo o país, seguidas de pelo menos duas orais, a selecção é duríssima. Julgamos não haver necessidade de traduzir o quadro, pois as disciplinas são semelhantes às nossas. Quanto aos números, da esquerda para a direita, temos primeiro os inscritos, a seguir os que realmente se apresentaram às provas escritas, depois os admitidos às provas orais e finalmente os que foram aprovados e mais tarde recrutados como professores titulares, que ganham menos e fazem mais horas semanais que os agregados, mas são mais bem pagos que os não titulares e fazem menos horas que eles.
Eis uma reportagem do Le Monde datado de hoje, 14/10, no seu "Dossier Educação".

"CAPES -MUITOS CANDIDATOS E MUITOS ESFORÇOS MAS POUCOS ESCOLHIDOS
Muito selectivo, o concurso que abre as portas do ensino secundário exige um alto nível de preparação, desfasado em relação ao verdadeiro exercício da profissão docente"

"Pus entre parêntessis um ano da minha vida para preparar o CAPES. Durante nove meses trabalhei no mínimo oito horas por dia. E nem uma única vez, entre Setembro de 2008 e Julho de 2009, saí à noite ou me levantei mais tarde." Lauranne Bassoul, 23 anos e recentemente aprovada no CAPES de Letras Modernas (Francês e Literatura Francesa), confessa que, caso tivesse chumbado, "não teria certamente a coragem necessária para voltar a fazer o mesmo sacrifício".
O CAPES, que é a base do recrutamento da maioria dos docentes do secundário (66,5% dos professores titulares em 2008/2009 tinham o CAPES), é igualmente um concurso muito selectivo que exige uma preparação opressiva, realidade que nem sempre é reconhecida por todos. Numa altura em que se debate a revalorização da profissão docente, há quem tenda a esquecer que as portas das EB 3 e do secundário não se abrem tão facilmente como por vezes se pensa.
Este ano apresentaram-se 37.810 candidatos para apenas 5.494 vagas nos diversas disciplinas ou grupos disciplinares. No cômputo geral de todas as especialidades, cada candidato dispunha portanto de menos de 15% de hipóteses de aprovação final. Menos do que a percentagem de admitidos no exame do final do primeiro ano de medicina (Em França, para respeitar a igualdade republicana dos cidadãos, não há número clausus na admissão ao primeiro ano de medicina, mas sim uma prova muito selectiva no final do ano.), no entanto conhecido pela sua extrema selectividade (apenas 16,8% de aprovações em 2008).Tanto mais que, se algumas disciplinas do CAPES pouco procuradas têm percentagens de admissão mais favoráveis (150 lugares para apenas 440 candidatos, em Letras Clássicas (Grego e Latim), a maior parte são muito menos acessíveis. Em Filosofia houve este ano 1122 candidatos mas apenas foram aprovados 72."

(Continua)

Sem comentários: