domingo, 25 de outubro de 2009

AS DECLARAÇÕES E OS FACTOS

Do recente acordo local PSD/PS consta, a dado passo, este trecho: "Esta partilha de responsabilidades, frontal e anti-dogmática, inicia uma nova página na gestão do município nabantino, levando ambos os partidos a uma contínua discussão e harmonização dos seus programas, atenuando divergências, tendo em conta prioridades ... ...na prossecução dos interesses colectivos."
Anti-dogmático, talvez; frontal o acordo não foi. Na realidade foi negociado, logo a seguir ao acto eleitoral, por Miguel Relvas e Luís Ferreira, caudilhos cada um do seu partido. A provar que assim foi, Luís Ferreira publicou no seu blogue, logo a 15 de Outubro, que ia iniciar mais um ciclo, durante o qual imperaria a "Lei do silêncio". Na altura tal mensagem pareceu algo enigmática. Agora é límpida como água de rocha. Se ainda não havia acordo, como é que ele já sabia que ia entrar num novo ciclo, durante o qual se remeteria ao silêncio ?Nestas condições, as actuações de Luís Vicente e de Hugo Cristóvão não passaram de meras fantochadas, tendo como objectivo principal tentar ludibriar o eleitorado. É triste, mas é assim.
Há mesmo, no excerto acima, a confirmação implícita de uma mera "operação gamelas". Na verdade, se é questão de "uma contínua discussão e harmonização dos seus programas, atenuando divergências, tendo em conta prioridades", qual é realmente a utilidade do acordo subscrito ? Nada abstava, antes tudo apontava para isso mesmo -o debate caso a caso, a negociação permanente e o voto subsequente, sem necessidade de qualquer compromisso prévio. Tanto mais que Pedro Marques, por parte dos IpT, já garantira anteriormente estar fora de causa o derrube do executivo, salvo em caso de situação realmente caótica. Assim sendo, a coligação PSD/PS representa apenas uma garantia para o PSD de que pode continuar a contar com uma maioria no excutivo e na assembleia municipal, ambos dirigidos de facto por Miguel Relvas e António Paiva. Vamos ter, portanto, a continuação da agora cada vez mais evidente caminhada tomarense rumo ao abismo. Para o PS, as vantagens são igualmente de índole exclusivamente pessoal. José Vitorino e Luís Ferreira instalam-se à mesa do orçamento municipal, o mesmo acontecendo, a nível bem mais modesto, com Zeca Pereira (em representação da velha guarda ?) e mais dois ainda não revelados. Além do que poderá vir a seguir...
Puro entre os puros, ingénuo quanto baste, Hugo Cristóvão optou por ficar de fora, tendo até já desabafado, em privado, que começa a estar cansado. A ver vamos se vai para director do Centro de Formação Profissional, do Centro de Emprego, ou se continua pacatamente no ensino.
Pelas bandas dos IpT, Pedro Marques, ouvido por Tomar a dianteira, lá foi ironizando com os interesses pessoais -"Diziam que defendíamos interesses pessoais, e afinal..." Confirmou ter sido contactado por Corvelo de Sousa, (mas com ar de mero pró-forma), a quem declarou não estar interessado em coligações ou outro tipo de compromissos, por entender que "quem ganha deve governar e quem perde deve ser oposição". Esclareceu também que os IpT não iriam de modo algum para dentro do poço, junto com o PSD. Para o futuro tenciona manter o movimento activo, tendo em vista os próximos actos eleitorais, "com ou sem Pedro Marques".
E teremos amanhã, a partir das 17 horas, nos Paços do Concelho, a cerimónia de investidura dos recém-eleitos. Lá estaremos, que uma boa comédia nunca se deve perder, sobretudo quando os actores julgam estar a representar uma epopeia.

3 comentários:

templario disse...

Sinceramente não consigo entender porque um partido vencedor com maioria relativa não deva procurar coligações para governar; o mesmo para um partido, segundo na votação, não deva aceitar e negociar a gestão da autarquia em coligação.

Todas as considerações e especulações podem ser feitas; na minha opinião os dois partidos fizeram o que devia ser feito e se forem sérios e responsáveis, lucrarão os munícipes.

Este acordo revela maturidade e responsabilidade para com os eleitores. Só é de lamentar que os INDEP's não tenham feito parte deste acordo.

Pensamentos soltos disse...

Não sei qual será a razão então da coligação, então o eleito executivo não sabe governar com maioria relativa? Afinal de contas estão la todos para conversar, isto de se juntarem é outra questão, uma questão de numeros.

Sebastião Barros disse...

"E se forem sérios e responsáveis..." Infelizmente, caro contraditor, a história nunca se fez nem se faz com SES. Caso contrário, poderíamos dizer, igualmente que "SE a batalha de Aljubarrota fosse hoje..."
O que, no meu entender, está implícito no seu comentário é o constante desejo português de harmonia, de unanimidade. Exactamente aquilo que, pretensamente, tivemos durante 48 anos. Primeiro com a União Nacional, depois com a ANP. Os resultados são conhecidos, se não de todos, pelo menos dos mais velhos e mais conscientes. Porque a harmonia e o unanimismo nunca são saudáveis para a democracia. O normal é a divergência, o debate, o compromisso, e por aí adiante. Neste caso da já chamada "coligação das gamelas", o problema nem são propriamente as ditas, posto que cada um tem todo o direito de ganhar a sua vida, desde que o faça nos estritos limites da lei, como por enquanto ainda sucede. O problema é a salada humana e programática daí resultante. Por dois motivos principais. Em primeiro lugar, porque o PSD vem habituado a 12 anos de total autocracia, ou poder absoluto, durante os quais pôde cometer as piores barbaridades com total impunidade. Só agora alguns membros da ex-oposição começam a confessar que a maior parte das candidaturas aos fundos europeus nem sequer foram às reuniões do executivo. Agora com o prévio acordo tácito do PS, está-se mesmo a ver o que aí vem...
Em segundo lugar, uma coligação realmente necessária, o que não é de modo algum o caso, faz-se na base de compromissos devidamente escritos e do conhecimento público. Não com uma página de blábláblá genérico, do tipo "Esta partilha de responsabilidades, frontal e anti-dogmática..." Partilha de que responsabilidades ? Haverá partilha de responsabilidades que não seja frontal ? Anti-dogmática em relação a que dogma ou dogmas ? O da hipotética virgindade do Gualdim Pais, de quem se não conhece descendência ?
Para agravar este imbróglio gamélico, sabe-se perfeitamente, e já aqui foi escrito vários vezes, que os dois signatários, PSD e PS, estão ao mesmo nível. Em termos de ideias, projectos ou programas, susceptíveis de nos livrarem do presente atoleiro, um não tem nada e o outro nada tem.
Voltaremos a falar neste assunto dentro de um ano, se assim o entender.